Fiat Idea ELX 1.4
Confesso que o segmento das minivans para mim é um mistério. Não na origem; quando elas surgiram, com a Renault Espace e a Chrysler Grand Caravan, O propósito era óbvio: carros grandes que podiam acomodar uma quantidade maior de passageiros e de bagagem sem, com isso, se tornarem microônibus ou vans de carga adaptadas. Por isso MINIvans, e não vans completas como, por exemplo, uma Sprinter.
Até aí, tudo bem. Existe um segmento da população com necessidade de carregar uma parcela maior da mesma população dentro do carro de uma vez só: marido, mulher, três filhos ou mais, sogros e sogras, tios e tias, papagaio e aí por diante. O Top gear chama as minivans de “people carriers”, carregadores de pessoas, o que explica tudo. Muito bem.
Mas aí encolheram as minivans (mini-minivans?) e elas passaram a levar cinco passageiros e bagagem (em algumas, pouca bagagem, como na Meriva). Ora, vamos combinar que se é pra levar cinco pessoas apenas, e bagagem, por que não uma perua? Os marqueteiros convenientemente deixaram as peruas esquecidas por um tempo, mas nós entusiastas lembramos delas com saudade. Para quem curte dirigir, a perua é o compromisso ideal entre o envolvimento e o transporte de pessoas e bagagem. Além disso, muitas vezes são mais bonitas do que até os sedãs e hatches dos quais derivam (Fielder e Corolla, Xsara Break e Xsara hatch, Mégane Grand Tour e Mégane sedã). Algumas minivans têm, de fato, mais espaço interno que as peruas equivalentes, embora essa não seja a regra. O que acaba diferenciando mesmo são os mimos que algumas minivans têm (mesinhas nos bancos, espelho para ver o banco de trás, saída separada do ar-condicionado), mas que as peruas também poderiam ganhar.
Com esta análise, a Idea faz sentido? Não. Ela deve ser encarada como um hatch com mais espaço interno, tipo um Fox, e não propriamente como uma minivan. Levar três atrás na Idea é forçar a amizade, bem como o porta-malas de 380 litros, pouco maior que o de um hatch médio como Focus ou Astra.
Isto estabelecido, a Idea é um carro bastante agradável. Chama a atenção logo de cara o espaço para a cabeça, que chega a ser absurdo. Outro ponto notável é a abundância de porta-trecos, com lugares para colocar absolutamente todas as tralhas – a Idea é um daqueles carros que convidam você a fazer do automóvel uma segunda casa, cheia de badulaques.
Essa altura toda causa uma certa estranhez no design, pois o carro é excessivamente alto em relação ao comprimento e principalmente à altura – é fácil notar a quantidade de linhas horizontais nas laterias com a função justamente de disfarçar a altura, mas os vidros entregam. Por este aspecto, é estranha, embora acertada em todos os outros detalhes: grupo óptico frontal, traseiro, retrovisores, maçanetas.
Internamente, a Idea é cheia de boas soluções. As maçanetas que abrem as portas estão nos próprios descansos de braço, nem melhor nem pior que os nas portas, mas diferente. Aproveitando a altura do teto, existe um console na extensão do retrovisor interno, com dois porta-óculos, luz interna dianteira e traseira, e um útil espelho para verificar o que acontece no banco de trás – o console é tão interessante que faz pensar duas vezes antes de optar por uma Idea com teto solar, que por motivo óbvios vem sem o acessório.
Mas é frustrante a semelhança com a linha Palio, num grau ainda maior que o que acontece entre Corsa e Meriva. O plástico das portas é igual, o tecido (áspero e desagradável) das portas e bancos é igual, o volante (horroroso, tanto esteticamente quanto em pega – só o salva o fato de ser grosso), a manopla do câmbio e do freio de mão. O console central é em plástico pobre, com destaque negativo para os controles de temperatura e ar condicionado, que não são saltados o suficiente para uma pega correta com os dedos, e ainda são revestidos de um plástico horroroso. É, na verdade, um Palio minivan.
Isso não é de todo ruim. Os bancos são ótimos, envolventes e com apoio lombar e lateral correto. Os pedais têm ação leve (e progressiva, no caso do freio, algo muito bem-vindo em relação ao freio binário que assola a família Palio) e, principalmente, a suspensão muito bem acertada, que mantém estável um carro com excesso de altura e, ao mesmo tempo, filtra adequadamente as irregularidades do piso – embora, pelo perfil do Idea, pudesse ser mais macia. A dirigibilidade como um todo é bastante agradável, pois a única grande diferença entre conduzir o Idea e um carro não-minivan é a altura do banco, que entrega uma ampla visão do trânsito (é bem mais alto que a média dos carros), mas ao mesmo tempo obriga os pés a descerem mais que o desejado para alcançar os pedais, algo bem minivan. O volante tem o peso adequado em manobras e o câmbio segue a receita Fiat de não ser ótimo mas não comprometer.
Além disso, conta com a farta dotação de equipamentos de tecnologia que a Fiat tem sido pródiga em agregar. Computador de bordo é um deleite, assim como o controle MyCar de algumas funções do veículo. De resto, Direção hidráulica, vidros e travas elétricas são de série, o que permite ter uma Idea bem equipada agregando apenas o ar-condicionado – isso tanto no caso da ELX quanto da HLX, que também inexplicavelmente vem sem o equipamento.
Antes de falar em desempenho, quero entrar numa polêmica. Recentemente a revista Quatro Rodas agregou um Punto ELX 1.4 à sua frota de longa duração e, ao medir seu desempenho em pista, concluiu que o carro tinha a mesma aceleração de um Celta 1.0: de 0 a 100 km/h em 14,9 segundos. Embora o resultado em si não seja um mistério - O motor VHC do Celta funciona bem em altos giros, como em “esgoelá-lo” numa aceleração desse tipo, enquanto o 1.4 da Fiat é bem pacato – é um pouco preocupante para um carro que deveria ter uma reserva de desempenho bastante significativa em relação a um Celta. O Idea, equipado com o quase mesmo motor do Punto (na verdade um sem as modificações, portanto com 80 cv e 12,4 kgfm de torque, ao invés dos 86 cv e 12,5 kgfm do Punto), é bastante agradável de conduzir na cidade, pois o motor sobe de giro fácil e as relações de marcha são muito bem calculadas, imprimindo ao carro um desempenho bastante satisfatíorio, ainda que limitado se você realmente exigir do carro. É uma sensação totalmente diferente de um Celta, onde a todo momento o motor está em altos giros, incomodando, ou então sem entregar potência. A vantagem dos 1.4 é ampla nesse sentido, em que pese a igualdade dos números de 0 a 100 km/h. Isto posto, o Idea é bem adequado para a cidade, com respostas rápidas e um dirigir que, se não é esportivo, pouco fica a dever para os carros da mesma classe.
O que levanta a questão? E o Idea como minivan? Não presta. Em primeiro lugar, o espaço no banco traseiro é adequado no máximo para dois adultos e uma criança. O porta-malas de 380 litros consegue, com alguma engenharia, satisfazer 4 pessoas, e só. Carregado, o Idea 1.4 sofre bastante, o que completa a total inadequabilidade (acho que inventei uma palavra nova) do produto como minivan. Como carro normal, possui um amplo espaço interno e um porta-malas adequado, sendo assim bem mais interessante.
No entanto, o preço do Idea foge da categoria Palio e atua entre os compactos premium e mesmo entre os hatches médios. Para ficar dentro de casa, o Punto oferece uma condução tão agradável quanto, um espaço interno similar (menos em altura), melhor acabamento e um desneho irrepreensível pelo mesmo preço. O Focus, então, é mais espaçoso atrás e muito mais bem acabado e gostoso de dirigir. O Idea fica, portanto, sem sentido: não consegue ser uma minivan e, como automóvel, perde para os concorrentes. É um bom produto, mas sem aplicação prática. Se você tem R$ 46 mil na mão, e espaço não é um problema, vá de Focus, Astra, Polo ou Punto, nessa ordem. Se espaço é uma questão, vá de Palio Weekend.
Estilo 7 – Alta demais pelo porte do carro. Com essa ressalva, é bem bonita sim, com atenção nos detalhes. Em relação à italiana, ponto positivo pela troca das luzes de direção âmbar por transparente, e ponto negativo pela ausência dos repetidores laterais dos piscas.
Imagem – É a menos minivan das minivans, ou seja, tem a capacidade de parecer mais esportiva e jovial do que Meriva, Picasso e Scénic, decididamente carros de família (a Zafira, apesar do tamanho, ainda consegue ser bastante jovem). Ainda assim, está aquém do ar jovem e esportivo que muitos carros procuram. É igualmente feminina ou masculina. Passa a impressão de uma pessoa que se preocupa com a família (pequena) e moderna.
Acabamento 3 – Fraco. Está na média em relação ao carro que deriva, o Palio, mas a 46 mil reais é necessário entregar um pouco mais. Os plásticos são rígidos, em especial no console central, e os botões não têm nada de especial em seu funcionamento. O tecido das portas é bastante áspero. A montagem, no entanto, agrada, sem rebarbas ou peças mal encaixadas. No geral, incomoda a semelhança demasiada com a família Palio.
Posição de dirigir 6 – É boa, em que pesem as pernas direcionadas para baixo, conforme obrigado pelo banco de altura acima da média. Manopla de câmbio maior do que deveria, e volante de material inadequado e sem apoios definidos para as mãos. O banco, no entanto, é excelente. A regulagem de altura do banco e do volante permite encontrar uma boa posição – o ajuste de profundidade não faz falta.
Instrumentos 6 – Traz o básico, mas com uma grafia apertada e difícil de visualizar. Merecia um paniel mais espaçoso. A iluminação em laranja é requintada. Traz ainda luz de reserva do tanque flex, nem sempre presente. Leva a nota do Palio 1.8 HLX, que compartilha o mesmo painel.
Itens de conveniência 7 – Vem bem-equipada, em que pese a falta do ar-condicionado. Destaque para as regulagens do sistema My Car e o computador de bordo.
Espaço interno 4 – Depende. Se for pensada como um compacto derivado do Palio, é bom, em especial para a cabeça. Mas, dentro da proposta de minivan, fica muito aquém do esperado, ao não levar três adultos atrás com conforto, tanto pela falta de largura quanto de espaço para as pernas.
Porta-malas 6 – Maior que a dos compactos e até que o da Meriva (por 15 litros), mas ainda assim aquém da proposta minivan. Ao menos a base de acesso é baixa e facilita carregar e descarregar.
Motor 8 – Um dos destaques. Tem bom torque desde baixas rotações, sobe fácil de giro e não é de vibrar muito. Não entrega grandes doses de potência, mas leva o carro com disposição, ajudado em muito pelo câmbio bem acertado. É ainda por cima econômico, embora o peso jogue contra.
Desempenho 7 – Está longe de ser um canhão, mas satisfaz dentro da proposta. O uso em estrada é mais temerário, em especial carregado. Mais uma inadequação à proposta de minivan.
Câmbio 7 – Engates pouco precisos, curso um tanto longo, anel-trava da ré desnecessário. É, no entanto, macio. As relações de marcha casam à perfeição com o motor, sem que para isso seja necessário apelar para altos giros em velocidades de estrada (3700 rpm a 120 km/h, embora elevado, é condizente com o tamanho do motor).
Freios 6 – Páram o carro sem sustos, em que pesem os discos na traseira. Ao menos têm boa progressividade, algo incomum na família Palio.
Suspensão 8 – É destaque pelo acerto, que supera bem as irregularidades do piso e ainda consegue entregar estabilidade em um carro alto. Poderia ser mais macia pela proposta.
Estabilidade 6 – Não é carro para se jogar em curvas em alta velocidade, mas o carro surpreende ao se pensar na altura do centro de gravidade. Melhor do que se esperaria de uma minivan.
Segurança passiva 1 – Não tem ABS, nem airbag, nem ao menos o cinto de segurança de 3 pontos para o do quinto passageiro - num carro que se diz minivan... A Fiat oferece air bag e ABS a preço promocional de 3 mil reais, o que já é um começo.
Custo-benefício 4 – Complicado se falar em benefício. O que se espera de benefício? Como já falei, existem opções melhores em espaço interno, porta-malas, acabamento, desempenho, esportividade. Na seara, o Ideal perdeu-se, pois não assume seu lado minivan (e nem poderia, dado o tamanho), mas também não é um hatch. Então os benefícios são difíceis de mensurar. Por R$ 46 mil, você leva um carro com um bom acerto de suspensão, amplo espaço interno (para 4 pessoas), porta-malas adequado e alguns equipamentos. O Focus é melhor em tudo, exceto nos equipamentos. A Palio Weekend, mesmo com a suspensão molenga, é melhor em porta-malas e equivalente em espaço interno. O Punto é mais jovial e mais bem acabado. A Idea está longe, mas muito longe de ser um carro ruim. Mas, assim como certas bandas e cantores até afinados que existem por aí, mas não disseram a que vieram.
Até aí, tudo bem. Existe um segmento da população com necessidade de carregar uma parcela maior da mesma população dentro do carro de uma vez só: marido, mulher, três filhos ou mais, sogros e sogras, tios e tias, papagaio e aí por diante. O Top gear chama as minivans de “people carriers”, carregadores de pessoas, o que explica tudo. Muito bem.
Mas aí encolheram as minivans (mini-minivans?) e elas passaram a levar cinco passageiros e bagagem (em algumas, pouca bagagem, como na Meriva). Ora, vamos combinar que se é pra levar cinco pessoas apenas, e bagagem, por que não uma perua? Os marqueteiros convenientemente deixaram as peruas esquecidas por um tempo, mas nós entusiastas lembramos delas com saudade. Para quem curte dirigir, a perua é o compromisso ideal entre o envolvimento e o transporte de pessoas e bagagem. Além disso, muitas vezes são mais bonitas do que até os sedãs e hatches dos quais derivam (Fielder e Corolla, Xsara Break e Xsara hatch, Mégane Grand Tour e Mégane sedã). Algumas minivans têm, de fato, mais espaço interno que as peruas equivalentes, embora essa não seja a regra. O que acaba diferenciando mesmo são os mimos que algumas minivans têm (mesinhas nos bancos, espelho para ver o banco de trás, saída separada do ar-condicionado), mas que as peruas também poderiam ganhar.
Com esta análise, a Idea faz sentido? Não. Ela deve ser encarada como um hatch com mais espaço interno, tipo um Fox, e não propriamente como uma minivan. Levar três atrás na Idea é forçar a amizade, bem como o porta-malas de 380 litros, pouco maior que o de um hatch médio como Focus ou Astra.
Isto estabelecido, a Idea é um carro bastante agradável. Chama a atenção logo de cara o espaço para a cabeça, que chega a ser absurdo. Outro ponto notável é a abundância de porta-trecos, com lugares para colocar absolutamente todas as tralhas – a Idea é um daqueles carros que convidam você a fazer do automóvel uma segunda casa, cheia de badulaques.
Essa altura toda causa uma certa estranhez no design, pois o carro é excessivamente alto em relação ao comprimento e principalmente à altura – é fácil notar a quantidade de linhas horizontais nas laterias com a função justamente de disfarçar a altura, mas os vidros entregam. Por este aspecto, é estranha, embora acertada em todos os outros detalhes: grupo óptico frontal, traseiro, retrovisores, maçanetas.
Internamente, a Idea é cheia de boas soluções. As maçanetas que abrem as portas estão nos próprios descansos de braço, nem melhor nem pior que os nas portas, mas diferente. Aproveitando a altura do teto, existe um console na extensão do retrovisor interno, com dois porta-óculos, luz interna dianteira e traseira, e um útil espelho para verificar o que acontece no banco de trás – o console é tão interessante que faz pensar duas vezes antes de optar por uma Idea com teto solar, que por motivo óbvios vem sem o acessório.
Mas é frustrante a semelhança com a linha Palio, num grau ainda maior que o que acontece entre Corsa e Meriva. O plástico das portas é igual, o tecido (áspero e desagradável) das portas e bancos é igual, o volante (horroroso, tanto esteticamente quanto em pega – só o salva o fato de ser grosso), a manopla do câmbio e do freio de mão. O console central é em plástico pobre, com destaque negativo para os controles de temperatura e ar condicionado, que não são saltados o suficiente para uma pega correta com os dedos, e ainda são revestidos de um plástico horroroso. É, na verdade, um Palio minivan.
Isso não é de todo ruim. Os bancos são ótimos, envolventes e com apoio lombar e lateral correto. Os pedais têm ação leve (e progressiva, no caso do freio, algo muito bem-vindo em relação ao freio binário que assola a família Palio) e, principalmente, a suspensão muito bem acertada, que mantém estável um carro com excesso de altura e, ao mesmo tempo, filtra adequadamente as irregularidades do piso – embora, pelo perfil do Idea, pudesse ser mais macia. A dirigibilidade como um todo é bastante agradável, pois a única grande diferença entre conduzir o Idea e um carro não-minivan é a altura do banco, que entrega uma ampla visão do trânsito (é bem mais alto que a média dos carros), mas ao mesmo tempo obriga os pés a descerem mais que o desejado para alcançar os pedais, algo bem minivan. O volante tem o peso adequado em manobras e o câmbio segue a receita Fiat de não ser ótimo mas não comprometer.
Além disso, conta com a farta dotação de equipamentos de tecnologia que a Fiat tem sido pródiga em agregar. Computador de bordo é um deleite, assim como o controle MyCar de algumas funções do veículo. De resto, Direção hidráulica, vidros e travas elétricas são de série, o que permite ter uma Idea bem equipada agregando apenas o ar-condicionado – isso tanto no caso da ELX quanto da HLX, que também inexplicavelmente vem sem o equipamento.
Antes de falar em desempenho, quero entrar numa polêmica. Recentemente a revista Quatro Rodas agregou um Punto ELX 1.4 à sua frota de longa duração e, ao medir seu desempenho em pista, concluiu que o carro tinha a mesma aceleração de um Celta 1.0: de 0 a 100 km/h em 14,9 segundos. Embora o resultado em si não seja um mistério - O motor VHC do Celta funciona bem em altos giros, como em “esgoelá-lo” numa aceleração desse tipo, enquanto o 1.4 da Fiat é bem pacato – é um pouco preocupante para um carro que deveria ter uma reserva de desempenho bastante significativa em relação a um Celta. O Idea, equipado com o quase mesmo motor do Punto (na verdade um sem as modificações, portanto com 80 cv e 12,4 kgfm de torque, ao invés dos 86 cv e 12,5 kgfm do Punto), é bastante agradável de conduzir na cidade, pois o motor sobe de giro fácil e as relações de marcha são muito bem calculadas, imprimindo ao carro um desempenho bastante satisfatíorio, ainda que limitado se você realmente exigir do carro. É uma sensação totalmente diferente de um Celta, onde a todo momento o motor está em altos giros, incomodando, ou então sem entregar potência. A vantagem dos 1.4 é ampla nesse sentido, em que pese a igualdade dos números de 0 a 100 km/h. Isto posto, o Idea é bem adequado para a cidade, com respostas rápidas e um dirigir que, se não é esportivo, pouco fica a dever para os carros da mesma classe.
O que levanta a questão? E o Idea como minivan? Não presta. Em primeiro lugar, o espaço no banco traseiro é adequado no máximo para dois adultos e uma criança. O porta-malas de 380 litros consegue, com alguma engenharia, satisfazer 4 pessoas, e só. Carregado, o Idea 1.4 sofre bastante, o que completa a total inadequabilidade (acho que inventei uma palavra nova) do produto como minivan. Como carro normal, possui um amplo espaço interno e um porta-malas adequado, sendo assim bem mais interessante.
No entanto, o preço do Idea foge da categoria Palio e atua entre os compactos premium e mesmo entre os hatches médios. Para ficar dentro de casa, o Punto oferece uma condução tão agradável quanto, um espaço interno similar (menos em altura), melhor acabamento e um desneho irrepreensível pelo mesmo preço. O Focus, então, é mais espaçoso atrás e muito mais bem acabado e gostoso de dirigir. O Idea fica, portanto, sem sentido: não consegue ser uma minivan e, como automóvel, perde para os concorrentes. É um bom produto, mas sem aplicação prática. Se você tem R$ 46 mil na mão, e espaço não é um problema, vá de Focus, Astra, Polo ou Punto, nessa ordem. Se espaço é uma questão, vá de Palio Weekend.
Estilo 7 – Alta demais pelo porte do carro. Com essa ressalva, é bem bonita sim, com atenção nos detalhes. Em relação à italiana, ponto positivo pela troca das luzes de direção âmbar por transparente, e ponto negativo pela ausência dos repetidores laterais dos piscas.
Imagem – É a menos minivan das minivans, ou seja, tem a capacidade de parecer mais esportiva e jovial do que Meriva, Picasso e Scénic, decididamente carros de família (a Zafira, apesar do tamanho, ainda consegue ser bastante jovem). Ainda assim, está aquém do ar jovem e esportivo que muitos carros procuram. É igualmente feminina ou masculina. Passa a impressão de uma pessoa que se preocupa com a família (pequena) e moderna.
Acabamento 3 – Fraco. Está na média em relação ao carro que deriva, o Palio, mas a 46 mil reais é necessário entregar um pouco mais. Os plásticos são rígidos, em especial no console central, e os botões não têm nada de especial em seu funcionamento. O tecido das portas é bastante áspero. A montagem, no entanto, agrada, sem rebarbas ou peças mal encaixadas. No geral, incomoda a semelhança demasiada com a família Palio.
Posição de dirigir 6 – É boa, em que pesem as pernas direcionadas para baixo, conforme obrigado pelo banco de altura acima da média. Manopla de câmbio maior do que deveria, e volante de material inadequado e sem apoios definidos para as mãos. O banco, no entanto, é excelente. A regulagem de altura do banco e do volante permite encontrar uma boa posição – o ajuste de profundidade não faz falta.
Instrumentos 6 – Traz o básico, mas com uma grafia apertada e difícil de visualizar. Merecia um paniel mais espaçoso. A iluminação em laranja é requintada. Traz ainda luz de reserva do tanque flex, nem sempre presente. Leva a nota do Palio 1.8 HLX, que compartilha o mesmo painel.
Itens de conveniência 7 – Vem bem-equipada, em que pese a falta do ar-condicionado. Destaque para as regulagens do sistema My Car e o computador de bordo.
Espaço interno 4 – Depende. Se for pensada como um compacto derivado do Palio, é bom, em especial para a cabeça. Mas, dentro da proposta de minivan, fica muito aquém do esperado, ao não levar três adultos atrás com conforto, tanto pela falta de largura quanto de espaço para as pernas.
Porta-malas 6 – Maior que a dos compactos e até que o da Meriva (por 15 litros), mas ainda assim aquém da proposta minivan. Ao menos a base de acesso é baixa e facilita carregar e descarregar.
Motor 8 – Um dos destaques. Tem bom torque desde baixas rotações, sobe fácil de giro e não é de vibrar muito. Não entrega grandes doses de potência, mas leva o carro com disposição, ajudado em muito pelo câmbio bem acertado. É ainda por cima econômico, embora o peso jogue contra.
Desempenho 7 – Está longe de ser um canhão, mas satisfaz dentro da proposta. O uso em estrada é mais temerário, em especial carregado. Mais uma inadequação à proposta de minivan.
Câmbio 7 – Engates pouco precisos, curso um tanto longo, anel-trava da ré desnecessário. É, no entanto, macio. As relações de marcha casam à perfeição com o motor, sem que para isso seja necessário apelar para altos giros em velocidades de estrada (3700 rpm a 120 km/h, embora elevado, é condizente com o tamanho do motor).
Freios 6 – Páram o carro sem sustos, em que pesem os discos na traseira. Ao menos têm boa progressividade, algo incomum na família Palio.
Suspensão 8 – É destaque pelo acerto, que supera bem as irregularidades do piso e ainda consegue entregar estabilidade em um carro alto. Poderia ser mais macia pela proposta.
Estabilidade 6 – Não é carro para se jogar em curvas em alta velocidade, mas o carro surpreende ao se pensar na altura do centro de gravidade. Melhor do que se esperaria de uma minivan.
Segurança passiva 1 – Não tem ABS, nem airbag, nem ao menos o cinto de segurança de 3 pontos para o do quinto passageiro - num carro que se diz minivan... A Fiat oferece air bag e ABS a preço promocional de 3 mil reais, o que já é um começo.
Custo-benefício 4 – Complicado se falar em benefício. O que se espera de benefício? Como já falei, existem opções melhores em espaço interno, porta-malas, acabamento, desempenho, esportividade. Na seara, o Ideal perdeu-se, pois não assume seu lado minivan (e nem poderia, dado o tamanho), mas também não é um hatch. Então os benefícios são difíceis de mensurar. Por R$ 46 mil, você leva um carro com um bom acerto de suspensão, amplo espaço interno (para 4 pessoas), porta-malas adequado e alguns equipamentos. O Focus é melhor em tudo, exceto nos equipamentos. A Palio Weekend, mesmo com a suspensão molenga, é melhor em porta-malas e equivalente em espaço interno. O Punto é mais jovial e mais bem acabado. A Idea está longe, mas muito longe de ser um carro ruim. Mas, assim como certas bandas e cantores até afinados que existem por aí, mas não disseram a que vieram.
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