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Mostrando postagens de 2020

Mais sobre os carros caros do Brasil

A Autoesporte acaba de soltar um levantamento que dialoga perfeitamente com o que publicamos no último post. Vale a pena ler: https://autoesporte.globo.com/mercado/noticia/2020/11/carro-novo-e-caro-seus-pais-e-avos-pagavam-mais-ainda-para-andar-de-gol-basico-e-fusca-inseguro.ghtml Porém, queremos fazer um contraponto. É verdade que o Onix de hoje em dia não se compara em termos de tecnologia ao Fusca. Aliás não se compara ao Gol G4 de 2010, que era pelado de tudo. Porém, também não se compara a tecnologia e eficiência dos meios de trabalho. O Fusca de 1960 era um carro que praticamente estreava a fábrica nova da VW em São Bernardo, que começara a montar Fusca e Kombi há muito pouco tempo – a inauguração oficial da planta foi em 18 de novembro de 1959. Então todo o maquinário, funcionários, terceirizados, fornecedores, tudo era muito novo e tudo isso seria pago com o lucro obtido com a venda do carro. E mesmo o Fusca não sendo um primor de tecnologia, não era defasado para 1

Porque carro é tão caro no Brasil?

O Brasil é um país pobre. Paupérrimo, pobre de marré. Porque a gente esquece disso quando fala sobre carros.   Em 1972, o Fusca atingiu o ápice de vendas. Foram 252.209 unidades comercializadas no ano, nas versões 1300 e 1500.   A família Dodge V8 (Dart, Gran Sedan, Magnum, Charger) ao longo de DOZE ANOS, vendeu cerca de 100 mil carros. Os Ford Landau, menos de 78 mil ao longo de TREZE ANOS. O Maverick passou pouco de 100 mil.   Pega o Opala, paixão nacional. Um milhão de unidades, só que de 1968 a 1992, ou seja, VINTE E QUATRO ANOS.   Esse é o abismo.   Em janeiro de 1973, um Fuscão 1500 saía, em valores atualizados, por R$ 86 mil. O 1300 deveria ser pouco menos que isso. Então avançamos muito, porque esse valor hoje permite comprar um Onix LTZ 0km, com motor turbo e uma série de equipamentos. Lembre que mesmo em 1973 o Fusca já era defasado, sem ventilação interna, freios a tambor, itens que já apareciam nos concorrentes.   Mas nós passamos por um período

Teste: Toyota Corolla XEi 2.0 16v 2016

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Já faz tempo que pensamos em escrever algo sobre o reinado absoluto do Corolla entre os sedãs médios. 2013 foi o último ano em que as vendas do rival Civic superaram o Toyota. Desde então tem sido de lavada, com o Corolla vendendo mais que o dobro. A nosso ver, o Civic sofreu uma tempestade perfeita. Gráfico de vendas por ano: Sofreu talvez não seja a palavra ideal, porque o primeiro fator causador da tempestade está ali, no mesmo teto: o HR-V, lançado em março de 2015. Um excelente SUV compacto, sucesso absoluto de vendas desde o início. Se por um lado trouxe novos compradores para a Honda, por outro lado claramente canibalizou as vendas do Civic, ao oferecer a carroceria “da moda” com atributos comparáveis aos do sedã, como bom porta-malas, bom espaço interno e motorização adequada. Não que a Honda esteja reclamando: usou a plataforma do Fit para criar um SUV compacto com preços similares aos do Civic, que tem construção bem mais cara. É bem plausível que a margem de lucro do HR-

Um país sem esportivos

Muito boa avaliação do Daniel Messeder , que é um dos veteranos da imprensa automobilística e com isso preserva uma qualidade de avaliação e de texto que se perde nos mais novos e principalmente nos YouTubers. A melhor parte é a avaliação da ausência de mercado para hatches esportivos no Brasil. 500 Abarth, DS3, 208 GT, todos tiveram vida curta. O Punto T-Jet e o Golf GTI cumpriram seus ciclos de vida como produtos. Hoje sobramos com o venerável Sandero RS (quanto mais o tempo passa, mais gostamos dele) e o Polo GTS. Daniel comenta que a VW tem total ciência dos atributos que o Polo GTS deveria ter para ser um esportivo mais puro e entusiasta. Começa comentando a possível importação do Polo GTI, que viria a preço de Golf GTI. Depois, comenta a ausência de teto solar e câmbio manual, ambas rebatidas pela VW com um argumento simples: não vai vender. É verdade. Nossa posição, como entusiastas, é extremamente fraca. Não conseguimos gerar volume de vendas para essas versões. Precisamo

Ford Territory: o que achamos

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ASSUSTADORA a repercussão negativa do lançamento do Ford Territory. Não tem uma avaliação cujos comentários não sejam esmagadoramente negativos. A coisa está tão absurda que até no LINKEDIN o pessoal se deu ao trabalho de se expor numa rede profissional para descer a lenha. Olha, fazia tempo que não víamos tanta negatividade com um carro novo. A Ford pediu né. Puta merda. Decisão bosta em cima de decisão bosta. Fechou a fábrica de São Bernardo do Campo. Tirou o Focus de linha. Tirou o Fiesta. Tirou o Fusion. Tirou a Ranger flex. Basicamente só fez cagada, e ficou com uma linha de produtos no Brasil menor que a Chery, ainda mais que Edge ST e Mustang são somente decorativos. Qualquer boa vontade que fosse possível ter com a empresa caiu por terra. E aí você nota o carinho que muitos brasileiros tinham com a Ford, lembrando com saudosismo de Landau, Maverick, Escort, Corcel. Capital reputacional que os gênios ali jogaram fora. Com tudo isso, vem o Territory. De origem chinesa, é um

Novo Corolla: o que perdemos e o que ganhamos

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Até os anos 80, as dificuldades tecnológicas e especificidades de cada país inviabilizavam a criação de um carro mundial, que fosse vendido nos quatro cantos do globo com mínimas alterações. A ideia tomou corpo nessa década e um dos primeiros exemplos foi o projeto J, que conhecemos aqui como Chevrolet Monza e que também teve uma carreira de sucesso na Europa, foi vendido no Japão como Isuzu e, se não foi tão bem sucedido assim nos Estados Unidos, ao menos foi oferecido por vários anos. As tentativas seguiram e talvez o melhor exemplo seja o Mondeo, cujo próprio nome já mostra sua aspiração global. No início estava disponível somente na Europa e alguns países da América Latina, porém com o passar dos anos se tornou um produto verdadeiramente global e de altíssimo volume; a última geração do Fusion que tivemos no Brasil era um dos Fords mais vendidos nos EUA e também na Europa, onde ainda se chamava Mondeo. Parte do motivo do sucesso do Mondeo/Fusion era sua capacidade de s

Teste: Volkswagen Jetta Comfortline 250 TSI Flex

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A história do Jetta no Brasil é distorcida. Aqui, fala-se em Jetta e imediatamente vem à mente um sedã esportivo, com dirigibilidade exemplar e desempenho superior. Na geração Mk5, recebemos a versão com o belíssimo motor 2.5, “meio motor de Lamborgini Gallardo”, com um ronco maravilhoso e um desempenho muito bom. Na comparação com o Fusion da época, ficava claro como o Jetta era a versão superior de um sedã médio, enquanto o Fusion era um sedã grande com preço surpreendente. Não eram comparados em porte, nem em espaço interno, embora o fossem em equipamentos e potência. Na geração Mk6, o que lembramos é do espetacular Highline, ou 2.0 TSI, com o desempenho do Golf GTI que só teríamos anos depois. Era superativo: 0 a 100 em 7,3s, 238 km/h de velocidade máxima. E isso acompanhado de uma carroceria maior, mais espaçosa, levando gente no banco de trás com dignidade. Mas nessa geração nós tivemos uma experiência do que é o Jetta na verdade: um bom sedã, pacato, para le

Ganância sem fim

Estávamos começando a esboçar um post sobre o ridículo que são as montadoras aumentando preço na quarentena, quando tropeçamos neste artigo. https://jornaldocarro.estadao.com.br/onboard/preco-do-carro-no-brasil-foge-da-logica/ Fomos ávidos ler o conteúdo para embasarmos nosso post, porém infelizmente o que encontramos foi um monte de groselha e bobagem, o autor trazendo fatos que são irrelevantes para a discussão em si. Digno dos piores momentos da QR editada pelo dublê de fotógrafo e defendendo o Peugeot 206,5, que já entrou pra história como o momento mais vergonhoso e risível daquela revista – e que atualmente está muito melhor, como já reconhecemos aqui várias vezes. Vamos ao artigo e a nossos comentários: Em praticamente todos os segmentos de mercado, uma queda acentuada de vendas significa uma corrida para fisgar o cliente novamente. A ação inicial é sempre dar descontos, seguidos por facilitação na aquisição do produto. Na indústria automotiva brasileira, a pr