Teste: Volkswagen Jetta Comfortline 250 TSI Flex
A história do Jetta no Brasil é distorcida. Aqui, fala-se em Jetta e imediatamente vem à mente um sedã esportivo, com dirigibilidade exemplar e desempenho superior.
Na geração Mk5, recebemos a versão com o belíssimo motor 2.5,
“meio motor de Lamborgini Gallardo”, com um ronco maravilhoso e um desempenho
muito bom. Na comparação com o Fusion da época, ficava claro como o Jetta era a
versão superior de um sedã médio, enquanto o Fusion era um sedã grande com
preço surpreendente. Não eram comparados em porte, nem em espaço interno,
embora o fossem em equipamentos e potência.
Na geração Mk6, o que lembramos é do espetacular Highline, ou
2.0 TSI, com o desempenho do Golf GTI que só teríamos anos depois. Era
superativo: 0 a 100 em 7,3s, 238 km/h de velocidade máxima. E isso acompanhado
de uma carroceria maior, mais espaçosa, levando gente no banco de trás com
dignidade.
Mas nessa geração nós tivemos uma experiência do que é o Jetta
na verdade: um bom sedã, pacato, para levar a família de A a B. Era o Jetta
2.0, vulgo Santanão. Ele é alvo de deboche na Internet até hoje, o que só
reforça como o Jetta tem uma imagem distorcida no Brasil.
Aí quando a VW lançou o Jetta Mk7, a indignação foi geral: “o
carro perdeu o brilho”, “não tem versão esportiva”, e tome bordoada até o GLi
aparecer. O lineup do Jetta hoje condiz muito mais com o que o sedã é na
verdade: um people mover para famílias, muito competente e concorrente de
Corolla e Civic. Não é um Golf GTi com bunda.
Quando você enxerga o Jetta com a perspectiva correta, as
versões “normais” ganham apelo. Ok, a 2.0 aspirada da geração anterior
realmente deixava a desejar, mas as atuais com o 1.4T são outra coisa.
A versão que testamos é uma que tinha tudo para ser um
fracasso de vendas. Não tem o apelo do bom preço da versão de entrada (cujo
preço se mantém em 99.000 e com descontos, ao contrário de todos os outros
carros), e nem os equipamentos diferenciados da R-Line, como painel digital e
cruise control adaptativo. Porém, graças a uma estratégia de vendas agressiva,
acaba por ser a mais comum na rua.
E bote comum nisso. Tá cheio de Jetta na rua. Ou seria
Virtus? Mesmo nós, que gostamos de carro e sabemos diferenciar versões pelos
frisos, ao vermos um Jetta Mk7 pela primeira vez, achamos que era um Virtus. A
semelhança entre os dois é muito exagerada. Nós gostamos de um family face, mas
aí exagerou tanto que ambos perderam identidade. A maneira mais fácil de
diferenciar é pela janela traseira: no Jetta não há coluna.
Esquecendo o Virtus, é um design típico VW com alguns
elementos marcantes. O perfil lateral é elegante, com os balanços corretos, e a
traseira traz elementos de alguns Audis. Já a frente nos pareceu exagerada na
grade. À noite é bem mais bonito por conta da iluminação em LED (mas não acenda
os faróis de neblina, que têm lâmpadas halógenas, assim como os piscas
dianteiros).
Por dentro, a sensação é que pediram para o desenhista do
interior do Polo e Virtus fazer “igual, só que maior”. Aí quando viram o
produto acabado notaram que ficou muito simples e por isso melhoraram o
acabamento. Essa pegada VW de linhas muito retas e angulosas não é do nosso
gosto; não tem curvas, que são orgânicas e trazem suavidade. Somos críticos do
posicionamento das saídas de ar centrais, muito baixas, e do desenho entre o
multimídia e o banco do passageiro, uma curva meio sem sentido. Mas os encaixes
são perfeitos e os materiais são bons na frente, com plástico emborrachado no
topo do painel e nas portas. Detalhes como iluminação em LED nas maçanetas
internas e na região dos pés na frente agradam. À frente do câmbio há bom
espaço para objetos. Nota negativa para o botão do controle dos faróis, muito
simples.
Atrás infelizmente o padrão de acabamento é Gol G4. Plástico
duro em tudo, com metal aparente. Ao menos o couro é perfurado, que ajuda no
calor.
A posição de dirigir é excelente, com amplos ajustes do
volante e do banco. Nomalmente achamos os pedais dos VWs muito próximos ao
banco, neste caso achamos bom. O cluster é típico VW, que consideramos
excelente, com a graduação do velocímetro privilegiando as baixas velocidades. A
tela central do computador de bordo está uma geração atrasada, mas é
competente. Só o fundo vermelho que não faz sentido e mais atrapalha que ajuda.
O espaço interno é muito bom, levando dois adultos atrás com
amplitude para pernas e cabeça. O túnel central é pouco pronunciado.
Infelizmente não há saída de ar no console central (há na região dos pés), o
que é comum no segmento. O porta-malas é absurdo, 510 litros, chega a ponto de
se perguntar se tudo isso é realmente necessário. O acabamento é razoável,
porém os pescoços de ganso roubam bastante espaço.
A lista de equipamentos é o que hoje podemos chamar de “padrão”,
com os itens mais comuns porém sem diferenciais – hoje em dia muito conectados
a assistências de direção. Há seis air bags, ABS, ar dual zone, direção
elétrica, vidros, travas e retrovisores elétricos (sem rebatimento porém), chave
presencial, iluminação quase full-LED, retrovisor interno fotocrômico, controle
de cruzeiro, computador de bordo muito completo, start-stop, seletor de modos
de condução e teto solar opcional. Tem tudo o que um carro da categoria
precisa, porém sem itens mais exclusivos como na R-Line.
O multimídia é o topo de linha VW (antes do Nivus), e é
provavelmente o melhor do mercado. Responde prontamente, os gráficos são
bonitos, os recursos são amplos, há muitas configurações para o carro – inclusive
a cor do LED decorativo interno, que você vai experimentar todos e deixar no
branco para combinar com o das maçanetas internas que não muda de cor – e o
Apple Car Play e Android Auto funcionam perfeitamente. Só não gostamos da mania
de alguns botões só aparecerem ao se aproximar a mão da tela. Você fica lá
olhando pra ver se tem a opção que quer e quando vai encostar para mudar a tela
a opção aparece. É um tanto bizarro.
O motor 1.4T, agora sob a alcunha de 250 TSI, é o burro de
carga da linha VW e equipa do Polo à Tiguan, e em todos exibe a mesma suavidade
de funcionamento, desempenho brilhante e quase total ausência de lag. É hoje um
motor ainda moderno, cuja popularização só vai melhorar a disponibilidade de
peças e aceitação em todos os cantos do Brasil. No Jetta ele é casado com a transmissão
Aisin de 6 marchas epicíclica, que também equipa diversos carros da VW e de
outras marcas.
O casamento com o motor é bom. Motores turbo de baixa
capacidade, quando associados a uma caixa DSG, tendem a exacerbar o lag, e a
falta de conversor deixa a condução desagradável. A VW aprendeu a lição e na
Tiguan usa uma calibração de DSG bem mais suave. Para o Jetta, o uso de câmbio
om conversor permitiu ainda mais suavidade, e o carro usa o conversor como se
fosse uma embreagem.
O seletor de modos de condução tem quatro níveis: Eco,
Normal, Sport e Individual, para escolha individual de parâmetros para direção,
câmbio, resposta do acelerador e ar-condicionado.
A nosso ver, esse tipo de seleção só faz sentido mesmo quando
envolve rigidez da suspensão, um item bem mais caro. Como está, as mudanças não
são suficientes para transformar o carro. O modo Sport funciona bem, com peso
correto da direção e respostas mais ariscas, com o câmbio retendo marchas.
O modo Eco agradou bastante especialmente numa condição
específica que é trafegar a baixa velocidade na cidade em ruas residenciais e
poucas avenidas. As mudanças são suaves e o carro normalmente sai em segunda
marcha deslizando o conversor, o que elimina um certo tranco da mudança de
primeira para segunda. Só é desagradável quando se exige mais do acelerador,
que resulta em giros porém não em velocidade devido ao deslizamento.
O modo Normal faz mais sentido para quem pega mais avenidas e
trechos de estrada.
Porém, irrita o fato de o carro usar sempre o modo Normal ao
ligar. Você desliga o carro em Eco; ao ligar ele está no Normal, embora o display
do modo de condução indique Eco.
Em compensação, o start-stop é muito bom. Mal se nota e as
partidas são instantâneas.
A suspensão é padrão McPherson na dianteira e eixo de torção
na traseira, com uma calibração bastante macia que mais uma vez reforça a ideia
do Jetta como sedã pacato.
Tudo somado, é um carro extremamente agradável de guiar, que
ignora valetas e asfalto degradado, roda calmo, silencioso, com direção macia,
tudo para uma condução tranquila.
Ao andar mais forte, existem duas opções. A primeira é simplesmente
carcar o pé no acelerador. O Jetta não gosta muito. O câmbio demora a reduzir
(se estiver em Eco, nem reduz) e só aí o motor acorda. Ainda falta evolução
tecnológica para motores pequenos turbinados entregarem a prontidão de um aspirado,
embora assim que o turbo entre o carro vá de com força.
A outra maneira é avisar o Jetta que você vai andar forte.
Coloca o modo Sport, câmbio no Sport, e aí o 1.4 é posto para girar e entrega
um desempenho muito convincente, que se não é esportivo com certeza é superior
à média e mais que suficiente para ultrapassagens e condução na estrada. Embora
de calibração macia, a estabilidade entregue pela suspensão é exemplar; após um
pouco de inclinação, o Jetta “firma” e vai. Só não vai muito por conta dos
pneus voltados à economia, que cantam muito cedo e deixam bastante a desejar
nesse aspecto. Quem arrancar essa porcaria fora e sapatar uns belos Michelin
terá outro carro.
Tudo somado, é um carro muito agradável, macio quando se quer,
mas que sabe andar forte, e que se beneficia de um excelente espaço interno,
multimídia e iluminação em LEDs. Faz falta algum diferencial a mais de
tecnologia, acabamento com desenho e materiais melhores e, principalmente,
design mais exclusivo. Quem comprar fará ótimo negócio, porém veja bem se não
vale economizar para levar o de entrada ou investir a diferença no R-Line.
Estilo
5 – Não é feio. A grade da frente é exagerada. Mas é que realmente parece um
Virtus.
Imagem
– “A concessionária VW pagou mais na troca do que Honda e Toyota”
Acabamento
6 – Bom na frente, porém sofrível atrás. Embora perfurado, o couro dos bancos
poderia ser melhor.
Posição
de dirigir 9 – Gostamos bastante da amplitude dos ajustes, foi fácil vestir o
carro.
Instrumentos
9 – Cluster funcional e bonito, computador de bordo completo.
Itens
de conveniência 8 – Tem o que seria “básico”
na categoria e pouca coisa mais. Ganha ponto extra pelo multimídia.
Espaço
interno 10 – Muito bom na frente e atrás. O quinto passageiro sofre um pouco.
Porta-malas
8 – Cavernoso, porém o acabamento deixa a desejar e as dobradiças são gigantes.
Motor
9 – Econômico e potente ao mesmo tempo, com confiabilidade cada vez maior.
Desempenho
8 – Satisfaz plenamente e traz segurança. Só deixa a desejar no arranque pós-kickdown.
Câmbio
7 – Trocaríamos todos os modos de condução por uma calibração de mas alto
nível. Mas é suave e usa bem o conversor para ajudar na pegada em baixa
rotação.
Freios
9 – Disco nas quatro rodas com pedal de boa resposta.
Suspensão
10 – Somos fãs dessa “fase macia” da VW, agrada muito no dia a dia sem deixar a
desejar numa muito eventual tocada esportiva.
Estabilidade
7 – Vai muito bem, mas os pneus reclamam se forem mais exigidos. Estão aquém do
conjunto.
Segurança
passiva 10 – Seis airbags, isofix, controle de tração, estabilidade, frenagem e
um projeto moderno.
Custo-benefício
7 – Esta versão fica meio perdida, porém é interessante se pouco mais cara que
a de entrada.
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