Novo Corolla: o que perdemos e o que ganhamos



Até os anos 80, as dificuldades tecnológicas e especificidades de cada país inviabilizavam a criação de um carro mundial, que fosse vendido nos quatro cantos do globo com mínimas alterações. A ideia tomou corpo nessa década e um dos primeiros exemplos foi o projeto J, que conhecemos aqui como Chevrolet Monza e que também teve uma carreira de sucesso na Europa, foi vendido no Japão como Isuzu e, se não foi tão bem sucedido assim nos Estados Unidos, ao menos foi oferecido por vários anos.

As tentativas seguiram e talvez o melhor exemplo seja o Mondeo, cujo próprio nome já mostra sua aspiração global. No início estava disponível somente na Europa e alguns países da América Latina, porém com o passar dos anos se tornou um produto verdadeiramente global e de altíssimo volume; a última geração do Fusion que tivemos no Brasil era um dos Fords mais vendidos nos EUA e também na Europa, onde ainda se chamava Mondeo.

Parte do motivo do sucesso do Mondeo/Fusion era sua capacidade de se adaptar ao mercado em que era comercializado. Na Europa havia uma versão fastback, apreciada por lá, bem como motores a diesel; os equipamentos também divergiam entre o velho e o novo continentes.

É interessante que o Corolla nunca vêm à mente quando falamos em carros globais, este que deveria ser o principal representante desta escola, ao ser o carro mais vendido do mundo há alguns anos. A nosso ver, isso se deve à abordagem extremamente flexível que a Toyota tem com o nome. Os Corollas vendidos em diferentes países podem ser tão distantes entre si que é difícil justificar a utilização do mesmo nome – exceto por facilitar a tarefa de seguir sendo “o carro” mais vendido no mundo.

O Corolla que temos no Brasil é bastante diferente do que é vendido no Japão, onde é bem menor para cumprir com rígidas regulações sobre tamanho externo. No resto do mundo, a Toyota adapta uma arquitetura básica com ampla fleixibilidade, oferecendo nos EUA um visual mais agressivo e jovem – pois lá é carro de entrada – e no resto do mundo um visual mais sério, que combina mais com a missão de sedã executivo que o Corolla tem em países de menor poder aquisitivo.

Porém, além dessas alterações grandes, o que mais pode ser alterado num Corolla entre os mercados? Estávamos buscando informações sobre o Corolla para complementar um teste que será publicado em breve, e nos deparamos com um vídeo mostrando um Corolla Altis vendido nas Filipinas. Ficamos fascinados com a quantidade de detalhes que podem ser alterados entre os mercados e mesmo entre versões. É como se houvesse um gigantesco menu global e cada filial da Toyota nos diferentes países escolhesse como quer compor o seu carro, levando em conta as preferências locais e também o preço final. É talvez a abordagem mais madura no que se refere a carro global: mantenha um cerne parecido, porém permita muitas adaptações.

Esta primeira imagem mostra três escolhas importantes.


Primeiro, notem o multimídia não flutuante e a presença da “tv de tubo” no topo do painel, aquela cobertura plástica que foi odiada por absolutamente todos os jornalistas que testaram o carro, inclusive nós. A versão filipina justifica esta cobertura, pois utiliza uma multimídia mais simples e com tela menor.

Segundo, notem que o carro filipino permite desligar os faróis – a alavanca conta com a posição zero, que foi suprimida da versão brasileira. E isso porque o carro filipino testado possui faróis full LED. Seria interessate entender porque a Toyota suprimiu essa função tão simples? Talvez pensando em segurança, para reduzir a incidência de motoristas dirigindo por aí com os faróis desligados à noite, “enganados” pelo painel aceso.

Terceiro, vejam que o Corolla Altis filipino usa o painel da versão híbrida brasileira. Porém, como é movido somente por um motor a combustão, o lado esquerdo é ocupado por um conta-giros, ou invés do monitoramento da energia como é no modelo híbrido. Isso mostra que a Toyota poderia ter utilizado este painel, mais moderno, nas versões do Corolla brasileiro movidas somente a combustão, porém optou por um painel mais simples e mais barato que, se até faz sentido no Corolla GLi, fica totalmente fora de contexto no modelo Altis que já beira os 140 mil reais.


Esta segunda imagem mostra o Corolla com freio de mão eletrônico e função auto hold, que assumidamente foi suprimida pela Toyota do Brasil por questão de custos. Embora lamentemos a ausência da tecnologia, ao menos fica claro que o Corolla com esse recurso não ganha mais espaço no console central, pois o porta-copos, que é deslocado para a direita em nosso modelo, no filipino fica centralizado e aparenta ser do mesmo tamanho. Uma das vantagens de adotar o freio de mão eletrônico é liberar espaço no console central, e aparentemente a Toyota não quis ou não pôde incorporar essa característica.


A terceira foto mostra a saída de ar para o banco traseiro, outra ausência lamentável do Corolla brasileiro. Notem que é uma saída simples – não permite ajustar a ventilação, como o C4 Pallas já permitia lá na época dos dinossauros. Ficamos imaginando o quanto a Toyota do Brasil economiza em não oferecer algo tão simples por aqui. Sem dúvida, pesou o fato que quase nenhum dos sedãs médios vendidos aqui oferece esse recurso. Se a concorrência não tem, diminui a pressão para que o Corolla tenha.


Esta foto mostra um item de utilidade duvidosa, mas muito charmoso: uma cortina retrátil para reduzir a incidência de raios solares. Entendemos que seria útil no Brasil, país tão ensolarado quanto as Filipinas, porém também entendemos que não é um item ao qual os brasileiros estão acostumados e muitos poderiam nem perceber que o carro tem esse equipamento.

Outro item de destaque no Corolla filipino, excluído pelo Toyota brasileira do nosso Corolla, é a iluminação interna com LEDs decorativos, nas portas dianteiras, porta-copos e porta-objetos à frente do câmbio, mais ou menos como é oferecido no Jetta. Mais um ponto de economia de centavos que não parece realmente ser necessária. Ou seria proposital, com vias de ser oferecido quando do face-lift? Veremos.

Porém é preciso ser justo e notar que outros pontos do Corolla brasileiro parecem ser superiores aos da versão filipina. A forração interna bicolor (lá é somente preto); o multimídia mais avançado; o pacote safety sense com ACC e Lane Watch; ar bizona; e o principal e mais gritante: o motor lá é um 1.6 16v de 121 cv, que desaparece perto do 2.0 de 177 cv oferecido aqui. E os preços são equivalentes: estamos considerando o Corolla Altis V, que custa 1,2 milhão de pesos filipinos, equivalentes a 130 mil reais, próximos ao pedido pelo nosso Corolla Altis 2.0.

Sem dúvida, existem muitos outros itens “na prateleira” que compõem pequenas diferenças entre carros vendidos em diferentes mercados, e essa espécie de cardápio já mostra como as montadoras sabem exatamente todos os itens que vão e não vão colocar num modelo. Muito antes de criticarmos, a montadora já escolheu excluir aqueles pontos, por diversos motivos. Às vezes os clientes não sentem falta, em outras criticam bastante. No caso do próprio Corolla, a absurda ausência de iluminação nos botões da porta, corrigida já no ano-modelo seguinte. Porém, muitos outros são solenemente ignorados – e, do jeito que o Corolla vende, a Toyota não vê grandes motivos para ceder.

Claro que se, se os ”””””””especialistas””””””” das fabricantes fossem apaixonados por automóveis, colocariam absolutamente todos os equipamentos e recursos disponíveis. No entanto, como sabemos, quem trabalha em fabricante não gosta de carro.

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