Novo Corolla: o que perdemos e o que ganhamos
As tentativas seguiram e talvez o melhor exemplo seja o
Mondeo, cujo próprio nome já mostra sua aspiração global. No início estava
disponível somente na Europa e alguns países da América Latina, porém com o
passar dos anos se tornou um produto verdadeiramente global e de altíssimo
volume; a última geração do Fusion que tivemos no Brasil era um dos Fords mais vendidos
nos EUA e também na Europa, onde ainda se chamava Mondeo.
Parte do motivo do sucesso do Mondeo/Fusion era sua
capacidade de se adaptar ao mercado em que era comercializado. Na Europa havia
uma versão fastback, apreciada por lá, bem como motores a diesel; os equipamentos
também divergiam entre o velho e o novo continentes.
É interessante que o Corolla nunca vêm à mente quando falamos
em carros globais, este que deveria ser o principal representante desta escola,
ao ser o carro mais vendido do mundo há alguns anos. A nosso ver, isso se deve
à abordagem extremamente flexível que a Toyota tem com o nome. Os Corollas
vendidos em diferentes países podem ser tão distantes entre si que é difícil
justificar a utilização do mesmo nome – exceto por facilitar a tarefa de seguir
sendo “o carro” mais vendido no mundo.
O Corolla que temos no Brasil é bastante diferente do que é
vendido no Japão, onde é bem menor para cumprir com rígidas regulações sobre
tamanho externo. No resto do mundo, a Toyota adapta uma arquitetura básica com
ampla fleixibilidade, oferecendo nos EUA um visual mais agressivo e jovem –
pois lá é carro de entrada – e no resto do mundo um visual mais sério, que
combina mais com a missão de sedã executivo que o Corolla tem em países de
menor poder aquisitivo.
Porém, além dessas alterações grandes, o que mais pode ser
alterado num Corolla entre os mercados? Estávamos buscando informações sobre o
Corolla para complementar um teste que será publicado em breve, e nos deparamos
com um vídeo mostrando um Corolla Altis vendido nas Filipinas. Ficamos fascinados
com a quantidade de detalhes que podem ser alterados entre os mercados e mesmo
entre versões. É como se houvesse um gigantesco menu global e cada filial da Toyota
nos diferentes países escolhesse como quer compor o seu carro, levando em conta
as preferências locais e também o preço final. É talvez a abordagem mais madura
no que se refere a carro global: mantenha um cerne parecido, porém permita
muitas adaptações.
Esta primeira imagem mostra três escolhas importantes.
Primeiro, notem o multimídia não flutuante e a presença da “tv
de tubo” no topo do painel, aquela cobertura plástica que foi odiada por absolutamente
todos os jornalistas que testaram o carro, inclusive nós. A versão filipina
justifica esta cobertura, pois utiliza uma multimídia mais simples e com tela
menor.
Segundo, notem que o carro filipino permite desligar os
faróis – a alavanca conta com a posição zero, que foi suprimida da versão
brasileira. E isso porque o carro filipino testado possui faróis full LED. Seria
interessate entender porque a Toyota suprimiu essa função tão simples? Talvez pensando
em segurança, para reduzir a incidência de motoristas dirigindo por aí com os
faróis desligados à noite, “enganados” pelo painel aceso.
Terceiro, vejam que o Corolla Altis filipino usa o painel da versão
híbrida brasileira. Porém, como é movido somente por um motor a combustão, o
lado esquerdo é ocupado por um conta-giros, ou invés do monitoramento da
energia como é no modelo híbrido. Isso mostra que a Toyota poderia ter
utilizado este painel, mais moderno, nas versões do Corolla brasileiro movidas
somente a combustão, porém optou por um painel mais simples e mais barato que,
se até faz sentido no Corolla GLi, fica totalmente fora de contexto no modelo Altis
que já beira os 140 mil reais.
Esta segunda imagem mostra o Corolla com freio de mão eletrônico
e função auto hold, que assumidamente foi suprimida pela Toyota do Brasil por
questão de custos. Embora lamentemos a ausência da tecnologia, ao menos fica
claro que o Corolla com esse recurso não ganha mais espaço no console central,
pois o porta-copos, que é deslocado para a direita em nosso modelo, no filipino
fica centralizado e aparenta ser do mesmo tamanho. Uma das vantagens de adotar
o freio de mão eletrônico é liberar espaço no console central, e aparentemente
a Toyota não quis ou não pôde incorporar essa característica.
A terceira foto mostra a saída de ar para o banco traseiro,
outra ausência lamentável do Corolla brasileiro. Notem que é uma saída simples –
não permite ajustar a ventilação, como o C4 Pallas já permitia lá na época dos
dinossauros. Ficamos imaginando o quanto a Toyota do Brasil economiza em não oferecer
algo tão simples por aqui. Sem dúvida, pesou o fato que quase nenhum dos sedãs
médios vendidos aqui oferece esse recurso. Se a concorrência não tem, diminui a
pressão para que o Corolla tenha.
Esta foto mostra um item de utilidade duvidosa, mas muito
charmoso: uma cortina retrátil para reduzir a incidência de raios solares.
Entendemos que seria útil no Brasil, país tão ensolarado quanto as Filipinas,
porém também entendemos que não é um item ao qual os brasileiros estão
acostumados e muitos poderiam nem perceber que o carro tem esse equipamento.
Outro item de destaque no Corolla filipino, excluído pelo
Toyota brasileira do nosso Corolla, é a iluminação interna com LEDs
decorativos, nas portas dianteiras, porta-copos e porta-objetos à frente do
câmbio, mais ou menos como é oferecido no Jetta. Mais um ponto de economia de
centavos que não parece realmente ser necessária. Ou seria proposital, com vias
de ser oferecido quando do face-lift? Veremos.
Porém é preciso ser justo e notar que outros pontos do
Corolla brasileiro parecem ser superiores aos da versão filipina. A forração
interna bicolor (lá é somente preto); o multimídia mais avançado; o pacote safety
sense com ACC e Lane Watch; ar bizona; e o principal e mais gritante: o motor
lá é um 1.6 16v de 121 cv, que desaparece perto do 2.0 de 177 cv oferecido
aqui. E os preços são equivalentes: estamos considerando o Corolla Altis V, que
custa 1,2 milhão de pesos filipinos, equivalentes a 130 mil reais, próximos ao
pedido pelo nosso Corolla Altis 2.0.
Sem dúvida, existem muitos outros itens “na prateleira” que
compõem pequenas diferenças entre carros vendidos em diferentes mercados, e essa
espécie de cardápio já mostra como as montadoras sabem exatamente todos os
itens que vão e não vão colocar num modelo. Muito antes de criticarmos, a
montadora já escolheu excluir aqueles pontos, por diversos motivos. Às vezes os
clientes não sentem falta, em outras criticam bastante. No caso do próprio
Corolla, a absurda ausência de iluminação nos botões da porta, corrigida já no
ano-modelo seguinte. Porém, muitos outros são solenemente ignorados – e, do
jeito que o Corolla vende, a Toyota não vê grandes motivos para ceder.
Claro que se, se os ”””””””especialistas””””””” das fabricantes
fossem apaixonados por automóveis, colocariam absolutamente todos os
equipamentos e recursos disponíveis. No entanto, como sabemos, quem trabalha em
fabricante não gosta de carro.
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