De carros, economia e política
Ontem tive acesso à lista das 500 maiores e melhores empresas, segundo a revista Exame. Não preciso ficar aqui discorrendo sobre a credibilidade desta ação – vocês verão a quantidade de ações de marketing, baseadas neste ranking, que serão veiculadas a partir de agora.
Enfim, as três maiores montadoras do país registraram quedas significativas em comparação ao ranking de 2001 (este reflete 2002). VW caiu da 3ª para a 6ª posição, a GM da 6ª para a 10ª e a Fiat da 15ª para a 17ª. As colocações levam em conta o volume de vendas, e a crise do setor mostra o encolhimento das empresas. O relatório da Anfavea aponta o mês de junho como o pior mês de junho em 10 anos, e a situação não parece melhorar.
Luís Perez, editor por muitos anos do caderno de Veículos da Folha de S. Paulo, comentou em sua mais recente coluna no BCWS sobre a mania que os brasileiros têm de manter o carro “zerado”. “Na Europa”, ele diz, “um carro batido vai continuar batido. Enquanto estiver rodando, está bom. No Brasil, gasta-se salários e mais salários para consertar amassadinhos e riscos”. Isso é verdade, pelo menos entre a população brasileira masculina que tem um salário (e que, quando não gasta em consertos, gasta em tuning).
Juntando as informações: mesmo com toda essa paixão e volúpia por carros, o brasileiro está comprando menos automóveis. A crise chegou ao cerne. Não estamos mais falando de supérfluos, que é o caso dos carros, embora a paixão por eles esteja profundamente enraizada. As vendas com comida caíram. O tal do “espetáculo do crescimento” ainda não veio.
As montadoras se especializaram em criar versões cada vez mais baratas e despojadas. Muitos especialistas defendem a criação do verdadeiro carro popular. E o que é um Mille a R$ 13 mil? 4 mil dólares? A solução não é baratear os produtos, mas aumentar a renda. Diminuir o arrocho de impostos para que as empresas possam crescer, ganhar mercado nacional e internacional, e contratar.
Nas décadas de 20 e 30, o crescimento vertiginoso de Alemanha, Itália e União Soviética, governados por ditaduras, em oposição à crise que passavam os EUA levou muitos pensadores políticos a decretarem o “fim da democracia” como um regime antiquado e hostil ao crescimento e defendendo os governos chefiados por um homem só. Chegamos a um paradoxo: hoje, quem viveu a época da ditadura no Brasil não pode nem ouvir falar em perda da democracia. Quem vive a época da recessão pensa com carinho no crescimento do país sob Getúlio e Geisel. Hoje em dia muita gente trocaria a liberdade em discussões políticas por um salário no final do mês.


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