Ford EcoSport, finalmente
Conheci o EcoSport num evento montado pela Ford na Hípica de Santo Amaro. Até então, já havia cansado de ver fotos do jipinho sob o nome de projeto Amazon, mas confesso que ele não havia chamado minha atenção – de um modo geral, esses modelos camuflados pouco me interessam. Pude ver o veículo sem disfarces no Salão do Automóvel mas, infelizmente para ele e felizmente para mim, eu estava bem na frente do stand da Ferrari quando um cara de muita sorte ligou a Enzo (até onde eu sabia, isso era proibido no Salão) e deu duas aceleradas. O leitor há de concordar comigo, o restante do evento ficou muito sem graça.
Então, minha apresentação real ao EcoSport foi na Hípica. Lugar cheio, mas não lotado, de clientes selecionados (conhecidos no jargão das colunistas sociais como “gente bonita”) e uns dez EcoSports, para todos os gostos. Água, café e refrigerante à vontade, além de relógios para os convidados (muito bonitos, não aquelas porcarias de plástico que costumam vir de brinde) e garrafas esportivas de água para os amigos dos convidados – meu caso.
O Test Drive em si era pobre. O visitante deveria escolher um dos carros, pois só teria uma oportunidade de guiar. Como eles ficavam rodando, não era possível fazer uma análise: apenas pedir pelo modelo. Meu amigo Rodrigo não teve dúvidas e chutou a jaca longe: pediu para testar o 2.0 16v completo, ou seja, mais de R$40 mil em EcoSport. O percurso era idiota: uma volta ao redor da hípica, na terra, mas tão suave que uma Lamorghini não teria problemas. Além disso, como os EcoSport estavam sempre em comboio, a sua velocidade não era limitada apenas pelo funcionário da Ford, mas também pela tia que guiava o carro na sua frente. Para desgosto de meu amigo, que é piloto de rali quase profissional, o funcionário daquele EcoSport era dos mais chatos – e adquiriu uma nova cor de palidez quando Rodrigo fez uma curva a 90º derrapando as rodas traseiras entre duas árvores.
Então, vamos às minhas impressões como passageiro no banco de trás do Ford EcoSport 2.0 16v branco. O espaço é bom. Não tanto para as pernas, mas ótimo para a cabeça. Os materiais são rústicos, mas não são o desastre que a imprensa apregoa. Aquele carro tinha couro, que faz uma colaboração inestimável ao conforto e ao acabamento. Os panéis das portas são bem desenhados. O banco poderia ser algo mais envolvente, mas isso sacrificaria ainda mais o 5º passageiro.
E então fui dirigir. Resolvi pegar o modelo que deve responder pelo maior número de vendas, o 1.6 XLT, o mais luxuoso. Também é o que me aparenta possuir a melhor relação custo/benefício. E lá fui eu testar se o venerável Zetec RoCam de 1,6 litro e 98 cv teria força para impulsionar os 1.100 kg do mini-SUV. E digo: o motor é mais do que suficiente para um desempenho agradável. Não é um esportivo, mas sobe ladeira.
No dia, tive uma sorte dupla. Primeiro, o funcionário que estava com o carro que eu peguei era um garoto que não estava nem aí para os chefes. Segundo, peguei o carro mais bonito da Hípica. Era preto, filmado, com as rodas de liga-leve e vários apetrechos, todos preto fosco – estribo, quebra mato, rack no teto e capa do estepe externo. Ficou com muita cara de carro de moleque.
O rodar do carro é irrepreensível. A suspensão é firme e demonstra vontade contra pequenos obstáculos, ao mesmo tempo que é confortável. A altura de rodagem propicia uma excelente visão, sem comprometer o centro de gravidade. Não é um 4x4 todo terreno, mas é apto a estrdas de terra para sítios e até caminhos mais difíceis, como a pista da direita da avenida Ibirapuera. Pedais macios, bem colocados, uma alavanca de câmbio longa, mas de engates precisos, fáceis e com uma excelente manopla. A direção tem respostas rápidas e é ergonômica – embora a pega seja áspera por causa do uso do mesmo plástico que reveste o painel. Este tem a visão um tanto confusa dos marcadores digitais de combustível e temperatura. Já que estamos na lista e defeitos, resta acrescentar a luz interna, de pouca inspiração (defeito comum nos Ford recentes), a disposição dos comandos de faróis, setas e limpadores (nada contra, mas são os mesmos desde a segunda geração dos Fiesta, em 96) e o mais grave: a tampa de papelão e feltro do porta-malas, que não só é fonte inesgotável de ruídos como fica solta: não pode ser presa à porta como é nos hatchbacks pois a porta do EcoSport abre para o lado, e não para cima. O funcionário justificou dizendo que aqueles carros eram modelos pré-série, que vieram direto da Bahia para o evento. Outro dia, entrei num que estava à venda em uma concessionária e o tampão era exatamente o mesmo. São detalhes que não tiram os muitos méritos do carro em outros quesitos. Recentemente, guiei uma Chevrolet Blazer e, diante do EcoSport, parece o carro dos Flintstones.
Carro novo, moderno, diferente, solitário num nicho promissor de mercado. Já tem mais de 2 meses de espera nas concessionárias num mercado abertamente em crise. Uma ótima opção.
Os preços refletem o mercado. R$ 32 mil no 1.0 SC, R$ 36 mil no 1.6 básico e R$ 42 mil no 2.0 16v (um foguetinho, de acordo com os testes, capaz de 0-100km/h em menos de 10s). Competem com as versões inferiores dos carros do comparativo “hatchback”, mas são segmentos bem distintos. A versão 2.0 acho um tanto cara pela pobreza interior; os motores menores dão conta do recado. Gastar R$ 38 mil num EcoSport XLT 1.6 completo (sem o airbag do passageiro para manter a geladeirinha) é interessante.

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