Reconhecimento de verdade

Já comentei diversas vezes aqui sobre o Top Gear, o melhor programa de TV do mundo. É o automobilístico mais famoso, e cerca de 500 milhões de pessoas o assistem ao redor do mundo, seja na BBC ou pela internet. É raro ver um carro comum passar por ali; o que os apresentadores do programa normalmente testam são Laborghinis, Ferraris, Aston Martins. Eles conseguiram reunir um McLaren F1 e um Veyron para um teste, e isso já mostra a competência do programa.

Na edição deste domingo, a trupe prestou uma homenagem à montadora que fez o maior número de grandes carros na história que, na opinião deles, é a Lancia. Desconhecida da maioria dos brasileiros, a Lancia é uma montadora italiana fundada em 1906 e comprada pela Fiat em 1969. Sempre teve a inovação como destaque, e foi a primeira fabricante a vender um carro usando monobloco, caixa de câmbio com cinco velocidades, motor V6, motor com compressor e turbo... Os carros da Lancia ganharam 10 vezes o campeonato mundial de rali, sendo que seis vezes com o inesquecível Lancia Delta Integrale, um demônio com a cara do nosso Gol quadrado. O carro é tão reverenciado que entrou no GT5, talvez o game mais famoso e importante relacionado a automóveis.

Mas, afinal, o que levou o Top Gear a escolher a Lancia? Aqui não se pode pensar em influências escabrosas, como a Fiat pagando por isso: a BBC é estatal, mantida com dinheiro dos contribuintes britânicos. O que levou a Lancia a aparecer com destaque por mais de 30 minutos no programa automobilístico mais assistido mundialmente foi um fato muito simples: eles constroem bons carros.

Em sua época de ouro, a Lancia não fazia compromissos. Não era essa porcaria que vemos hoje, "vamos fazer um carro mais ou menos". A Lancia não lançava um carro metadinha. A Lancia buscava sempre o melhor. Carros lindos, inovações técnicas, luxo e refinamento no mesmo pacote. A Lancia nunca faria um Agile, não toleraria um motor 2.0 com 120 cv, não faria quatro remodelações estéticas na mesma plataforma sem substituí-la, não usaria as portas do carro anterior num novo carro. Nenhuma dessas PALHAÇADAS seria aceita pela Lancia. E por isso que ela ganhou 30 minutos de exposição no programa de TV automobilístico mais famoso do mundo. Esse seria o sonho de qualquer assessoria de imprensa, de qualquer relações públicas, que a Lancia ganhou pela qualidade e pelo não-compromisso com a mediocridade de seus carros.

Hoje a Lancia é a marca de luxo do grupo Fiat, mais ou menos o que a Lincoln é para a Ford. Seus carros são plataformas Fiat com uma carroceria diferente e mais luxo no interior. Renega totalmente o seu passado, renega o que a tornou famosa.

E, infelizmente, o que a levou à falência.

Aparentemente, no capitalismo maluco de hoje, não há mais lugar para um Lancia Stratos, mas sim para o Fiat Palio.

Comentários

Paulo disse…
Um belo comentário para uma bela marca (bela antigamente, bem entendido...) Mas faltou mencionar que eles jamais fariam um modelo com uma suspensão como a do Sentra SL : por demais dura -uma verdadeira carroça !
Kleberson Silva disse…
Só para complementar, o Lancia Delta (em diversas versões) já existia no GT4...

Postagens mais visitadas deste blog

Comparativo: Celta Life 1.0 VHC x Palio 1.0 Fire

Teste: Nissan Livina S 1.8 automática

Gol G4 com interior de G3