Fiat Punto ELX 1.4 Flex


Fui ver o danado. E já digo logo de cara: desde o lançamento do Vectra (de segunda geração), em 96, eu não via um carro tão bonito. Alguns me conquistaram depois de algum tempo, como o Golf antes da reestilização medonha e o primeiro Astra sedã. Mas o Punto é realmente muito bonito. O pior ângulo, se é que isso cabe, é a frente. Os faróis e a grade afunilados podem parecer estranhos. No entanto, as laterais são exemplares e a traseira é uma aula de como se colocar lanternas na parte superior sem estragar o conjunto – algo que a Fiat demonstrou ser de sua competência na Marea Weekend.

Alguns detalhes cativam: o formato da maçaneta; o local das luzes de ré; as luzes dianteiras de neblina; o espelho oriundo da lataria e não dos vidros.

Por dentro, vários pontos de destaque: o maior deles é sem dúvida o volante, de uma pega simplesmente perfeita. É muito bom mesmo sem a forração de couro. O banco segue a tradição Fiat de bancos amplos e bem projetados – estive bem apoiado em todo o tempo. O desenho dos painéis das portas é também sensacional. A manopla do câmbio é também muito agradável, desta vez uma bem-vinda quebra na recente tradição Fiat de manoplas enormes. O quadro de instrumentos é bonito, em especial o aro cromado que envolve velocímetro e conta-giros. Um defeito, no entanto, é o pequeno tamanho dos instrumentos. Um detalhe charmoso é a indicação de 2500, 3500, 4500 rpm no tacômetro.

No entanto, ao contrário do exterior, por dentro o Punto deixa claro sua origem econômica. O plástico que cobre o painel de instrumentos é de uma simplicidade de doer. O tecido dos bancos na versão ELX é também bem pobre e áspero. O porta-luvas superior, não disponível em veículos com air bag, tem uma abertura de tampa muito pequena. O porta-copos dianteiro é inútil para levar algo que não latinhas, dado sua base pequena e a pouca altura livre.

Um olhar treinado, todavia, encontra qualidades. O revestimento melhora nos plásticos das portas e também no que envolve as colunas. Plástico emborrachado na alavanca do freio de mão, nos puxadores das portas e nos botões de acionamento do ar-condicionado, esta uma qualidade que sempre admirei no Focus. Os bancos dianteiros têm bolsos porta-revistas atrás e também pequenas bolsas nas laterais, úteis para levar canetas.

No entanto, a qualidade mais admirável no interior é a sensação de qualidade apresentada pelo produto. As portas fecham com um sonoro “clunk”, todos os botões e alavancas têm acionamento suave, com a resistência na medida certa, e nenhum deles faz barulho de plástico barato.

O carro avaliado veio com três defeitos que talvez possam ser creditados àquela unidade específica. O primeiro, o porta-luvas tradicional não fechava direito; era necessário usar muita força. O segundo, a portoinhola do tanque de combustível não fechava – rodou entreaberta. O terceiro, os espelhos retrovisores externos não estavam bem fixados na base, o que não só dificultava o ajuste, mas fazia com que eles tremessem em cada arrancada. Os defeitos são tão simples de serem notados pelo time de qualidade que ou devem ser creditados àquela unidade específica ou realmente o carro não tem solidez alguma.

Em se considerando as dimensões do carro, o espaço interno é muito bom. Os passageiros da frente ficam muito bem e, embora falte largura atrás, a distância entre o banco dianteiro, regulado para uma pessoa de 1,80m, permitia que uma outra de mesma estatura sentasse atrás. Médios apertados, como o Golf, não fazem nada muito melhor do que isso. O porta-malas é pequeno, um fatpor agravado pelo uso de estepe de tamanho similar às rodas, o que cria um “ressalto” no fundo. Péssimo para levar cargas grandes, que podem ficar mal apoiadas.

A receita consagrada de suspensão, utilizada no Punto e na vasta maioria dos carros à venda hoje no Brasil, do Celta ao Vectra, não traz surpresas. A calibragem é adequada, tendendo levemente à dureza – algo bem-vindo após anos de suspensões muito moles nos Palios. O fato do carro vir calçado em pneus significativos, 195/60 R15, colabora bastante para a tração e estabilidade. A direção é leve em manobras, embora pudesse utilizar uma relação mais direta. O câmbio é apenas correto, e poderia ser dispensado o anel-trava da marcha a ré.

Preciso confessar que não esperava grandes coisas do Punto em termos de desempenho. Pois o danado aprontou uma boa. O carro é surpreendentemente ágil e sente pouco os efeitos do ar-condicionado ligado. Claro, o melhor do desempenho vem em altas rotações, mas é exatamente para isso que o pequeno 1.4 foi feito, e ele sobe de giros rápido. O torque, embora não abundante, é perfeitamente adequado. As relações de marcha contribuem bastante para essa sensação geral de desempenho. O 1.8 deve ser mesmo exuberante. Arrisco-me a dizer que o Punto 1.4 fica pouco, ou nada a dever em termos de desempenho em relação aos médios 1.6, 307 e Golf – o Focus num patamar ligeiramente superior.

A Fiat tem adotado em seus carros equipamentos e opcionais muito interessantes, que realmente destacam-se em relação à pasmaceira do segmento. Enquanto uma ótima plataforma como a do Focus tem pouquíssimos opcionais (ou se compra a versão Ghia, super completa, ou uma GLX com uma gama ridícula de opcionais), o Punto tem diversos interessantes. Em primeiro lugar, o destaque vai para o Blue & Me, que liga seu carro ao seu telefone celular via sem fio e inclusive lê mensagens de texto, incluindo carinhas. O carro testado não tinha o opcional, mas é algo do qual a imprensa tem falado bem. Outro destaque vai para o bom preço combinado de air bag e ABS, R$ 2.900, embora falte a opção de freios a disco na traseira. O teto solar Skydome, embora tenha o mérito de incluir a traseira (e isso faz muito sentido numa minivan como a Idea), é exagerado para o Punto. Seu custo é proibitivo (acima de 5 mil reais). Um teto solar tradicional, pela metade do preço, seria muito mais interessante.

A opção do ar digital por apenas mil reais também é bastante válida. Por outro lado, a Fiat adota uma política interessante de equipar apenas a versão Sporting com rodas de liga leve de série. Compradores que não ligam para o equipamento podem levar para casa as versões ELX e HLX com calotas e pneus do mesmo tamanho. Outro ponto positivo é a tecnologia embarcada – o sistema My Car de regulagem de parâmetros, como manter os faróis acessos ao se desligar o carro ou o aviso de velocidade – e o computador de bordo, de série em absolutamente todas as versões. Este é um grande mérito da Fiat.

Por tudo isso, o Punto é um dos grandes lançamentos da indústria no Brasil este ano. Design arrojado, bastante conteúdo e, ao mesmo tempo, uma base mecânica confiável. As versões 1.4, começando em 38 mil, são muito atraentes em custo benefício. A HLX 1.8 a 44 mil também é interessante, embora agregue pouco a mais em relação ao 1.4. Já o Sporting custa caro, 52 mil, mas vem com um pacote muito avançado de equipamentos e, além disso, é carro de nicho.

Estilo 10 – Um dos carros mais bonitos à venda no Brasil hoje.

Imagem – Nova categoria. Com imagem, quero exemplificar a sensação que o carro transmite e, acreditem, é por conta disso que se compra tanto Prius nos EUA – e não pela sua economia de híbrido. O Punto é nitidamente um carro jovem, ligeiramente mais indicado para rapazes do que garotas. Transmite uma mensagem de arrojo e esportividade. É, no entanto, um caror pequeno. Nesta categoria não há notas.

Acabamento 8 – Poderia ser melhor. Existem boas e más surpresas. Puramente neste critério, o Polo é melhor.

Posição de dirigir 9 – Uma ressalva: não há um apoio definido para o pé esquerdo. De resto, pedais macios e centralizados, e um volante de agradecer aos deuses.

Instrumentos 7 – O básico. O painel é bonito graças às molduras cromadas, mas peca pelo tamanho dos dials de velocímetro e conta-giros.

Itens de conveniência 10 – O básico já vem com os mais importantes – ar, direção, travas e vidros elétricos dianteiros – e ainda acrescenta computador de bordo, algo raro. Dentre os opcionais, uma lista extremamente atraente.

Espaço interno 9 – Nota difícil. É muito bom para a categoria – daí a nota alta – mas as versões mais caras podem competir com carros médios, e aí a comparação complica.

Porta-malas 5 – É, aqui não tem jeito. Está na média dos pequenos, mas é bem menor que o de um médio. O fato do estepe formar um ressalto no assoalho do porta-malas complica ainda mais.

Motor 9 – Silencioso, girador, esperto, e ainda por cima econômico. Não tem o maior torque do mundo, mas levou o pesado Punto muito bem.

Desempenho 7 – É um canhão? Não, está longe de ser. É um 1.4 como se deve, um pouco mais pesado que 206 e Palio, mas que não faz feio. Pode-se extrair números adequados, se trabalharmos bem com o câmbio.

Câmbio 6 – Em que pese a evolução da manolpa, os engates e cursos seguem apenas corretos. É um grande passo à frente em relação à imprecisão de Celta e Clio, por exemplo, mas ainda deixa a desejar em relação a 206 e às referências Fox / Golf / Civic em termos de precisão, curso curto e engates das marchas. Anel trava da ré totalmente dispensável – embora não me incomode.

Freios 7 – Pararam o carro sem sustos. Se, por um lado, o ABS é bem-vindo como opcional acessível, é uma pena ele não ser desvinculado do air bag. Além disso, o tambor na traseira deveria ficar restrito às versões 1.4. Na Sporting então é um descabido.

Suspensão 6 – Super bem calibrada, com um tempero esportivo. A nota baixa se deve, mais uma vez, pelo conceito antiquado do eixo de torção na traseira.

Estabilidade 9 – Muito boa, ajudada pelos pneus largos pelo porte do carro. É um grande passo à frente em relação ao Palio molenga.

Segurança passiva 7 – Um no cravo e um na ferradura. É excelente ao oferecer bolsas infláveis laterais e cortinas. No entanto, tudo é opcional.

Custo-benefício 9 – Melhor nas versões 1.4; a HLX e a Sporting, no entanto, agregam conteúdo que pode compensar o espaço menor em relação aos médios. Se você leva muita gente e muitas coisas, teu negócio é o Logan. Mas, se você anda sozinho na maior parte das vezes, que tal trocar espaço por estilo? Sem piadas com o Stilo hein...

Comentários

Thiago A. disse…
Olá Dubstyle. Parabéns pelo site. É bastante isento e informativo. Leio ele bastante.

Pretendo comprar um carro usado ( seria o meu primeiro carro) custando no máximo 30 mil reais. Pesquisei bastante vários modelos e cheguei aos seguintes carros: Fiat Punto HlX 1.8, Peugeot 307 Sedan ou Hatch, Ford Focus GHIA 2.0 hatch, Audi A3, Renault Mégane, Volkswagen Bora e o "risos" Astra ( eu recebi essa recomendação de amigos sobre ele e colocaram que justamente seu motor jurássico seria barato e fácil de manter, além de que as oficinas tem facilidade em lidar com ele, já que os profissionais dessa área em grande maioria não são qualificados para lidar com motores mais complexos)

Quais desses carros possuem as melhores realções de manutenção (mais baratas e fáceis) e seguro ?
Dubstyle disse…
Thiago,

Vá de Focus. É o mais divertido e não vai quebrar o orçamento.
Thiago A. disse…
Vlw pela resposta, Dubstyle.
Mas equanto ao Punto e o 307 ? São veículos de manuntenção difícil e seguro alto ? Ou nesse quesito, ele são próximos do Focus ?

Abraço

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