Lebensraum (ou Harder to Breathe)

Navegando a esmo pelo site da TIME, entrei num ensaio fotográfico que busca mostrar ao Homer Simpson médio como é a vida nesse país tão estranho que é o Irã. Enquanto alguns fatos ainda soam esquisitos, como uma modelo desfilando uma roupa tradicional – burqa -, ou seja, coberta da cabeça aos pés, ou um ônibus no qual as mulheres são confinadas à traseira, outros foram propositadamente clicados com o objetivo de aproximar a vida destes iranianos com o que é considerado vida normal no mundo ocidental.

Uma das fotos mostrava um jovem iraniano vestido como absolutamente qualquer colega seu do mundo ocidental – calça jeans, camiseta justa com estampas, cabelo cuidadosamente bagunçado – conversando com uma jovem iraniana dentro de... um jipe Toyota. E não era um Bandeirante, não. A foto mostrava apenas um pouco do interior, mas o acabamento em couro caramelo e a maçaneta cromada denotavam ser um carro razoavelmente luxuoso, bem comparável à nossa Hilux SW4.

Paralelamente a isso, participei há pouco tempo de um fórum onde se discutia tecnologias para o futuro. Surpreendeu-me a quantidade de pessoas que gostaria que os carros se movessem em alta velocidade, guiados eletronicamente, com distâncias mínimas entre eles. “Eu poderia ler o jornal ou tomar café no caminho”, diziam.

Até que um sujeito perspicaz perguntou: então, qual é a grande diferença entre isso e o transporte público? Espaço pessoal. Individualidade. Essas foram as respostas. O carro funciona ainda como uma extensão do espaço pessoal, da própria casa, em um ambiente hostil. O transporte público, necessariamente, te expõe.

E é aí que entra o iraniano. Ele estava utilizando este espaço pessoal no último volume, saindo com uma garota num país onde o espaço público é segregado e severamente vigiado. Ali, dentro daquele Toyota, o aiatolá é ele – pelo menos se ninguém espiar pela janela.

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