Teste: Chevrolet Captiva 2.4
Já fazia bastante tempo que queríamos colocar as mãos numa Captiva. Muito mesmo, desde o lançamento. Infelizmente só conseguimos agora, e como vocês sabem a GM matou a versão interessante do carro, equipada com o V6 3.6, e deixou para nós o 4 cilindros Ecotec de 184 cv, somente a gasolina. Então vamos com esse mesmo.
A
Captiva foi por muitos anos a tábua de salvação da linha GM. Ela chegou ao
Brasil em 2008, por volta do ápice da crise da empresa. Você visitava uma
concessionária Chevrolet no Brasil e a visão era mais horripilante do que notes
do terror do Playcenter. Celta, Classic, Astra em final de carreira, o Vectra
Mk3 que não serviu pra nada, S10 e Blazer com trezentos anos, o negócio era uma
barbaridade. O único que segurava a onda era o Corsa, e mesmo assim inferior à
concorrência.
Nisso
chega a Captiva (ou “o” Captiva, tanto faz, aqui no M4R não ficamos enchendo
com isso). Motor V6, design atraente, bem equipado, suspensão moderna. Se você
fosse um fã incondicional da Chevrolet, era o único carro zero da marca
possível de se ter. E aqui no M4R ficamos um bom tempo dizendo que era o único
Chevrolet que valia a pena, até a linha ser preenchida com novos projetos como
Onix, Sonic e Cruze.
Sempre
gostamos do desenho dela, pois é um carro grande que não parece gordo, com cara
de baleia (pense numa Freemont). O acerto do desenho é tamanho que não se nota
que é o mesmo há SETE anos, no que também ajuda o fato de terem sido poucas as
vendidas no Brasil desde então.
O
interior também é muito bom, no que contribui o fato de ser um projeto global.
Carros pensados para países em desenvolvimento ou que não sejam de luxo no
mercado norte-americano costumam ter acabamentos sofríveis. Como a Captiva
originalmente tinha vistas também à Europa, a coisa melhorou um pouco. Os topos
das portas são emborrachados, assim como parte do acabamento no painel, e os
botões e alavancas têm a firmeza correta. O esforço interno de design também
conta, com bons detalhes como as cinco saídas de ar cromadas. O couro dos
bancos também é muito bom, embora tenha perdido em elegância quando a GM
eliminou as opções de interior cinza e bege pelo todo preto.
A
lista de equipamentos é farta, porém com algumas ausências sentidas. São de
série seis airbags, ABS, freio de mão elétrico, faróis de neblina, controles de
estabilidade e tração, monitor de pressão nos pneus, rodas 18” com pneus 235/55
(infelizmente não está mais disponível a opção de rodas cromadas), direção
regulável em altura e profundidade (era só altura nos primeiros modelos), ar
monozona, computador de bordo, cruise control (que indica a velocidade
selecionada no painel), função “eco” para economia de combustível, retrovisor
interno fotocrômico, partida remota, teto solar, sistema de entretenimento
MyLink, aquecimento nos bancos dianteiros e controle elétrico sem memória no do
motorista. Muito completo e nota-se que a GM foi resolvendo algumas ausências
sentidas, como a regulagem de altura do volante, computador de bordo e teto
solar, que não estavam disponíveis antes. Em mais alguns anos quem sabe eles
resolvam a ausência de sensores de estacionamento (!!!!), maçanetas externas
cromadas ou na cor do veículo, direção elétrica, e uma chave com os comandos
integrados.
O
espaço é digno de nota, pois num SUV com comprimento de um sedã médio
acomodam-se cinco pessoas sem aperto (quatro ocupantes vão bem confortáveis). O
porta-malas decepciona pela capacidade informada de 383 litros, mas são
completamente utilizáveis por ser um espaço bem aproveitado. A sensação ao ver
o porta-malas na vida real é de algo bem maior, condizente com ao menos 450
litros.
Empurrando
a Captiva está um 4 cilindros 2.4 com 184 cv a 6.700 rpm e 23,3 m.kgf a 4.900
rpm, com injeção direta e somente a gasolina. Como os números mostram, é um
motor excelente para um Cruze Super Sport, nem tanto para um SUV de 1.742 kg.
Com características giradoras, ele sofre para carregar todo esse peso e precisa
de giros altos para desempenhar. Na condução da cidade isso mal se nota: existe
potência disponível em baixos giros suficiente para o dia-a-dia, mas o peso se
faz notar na exigência de desempenho. Na estrada, foram comuns reduções de
marchas que levaram o motor acima dos 4 mil giros para retomar velocidade de
100 para 120 km/h, por exemplo.
O
comportamento do motor é o que se espera da combinação de um 4 cilindros
girador a um câmbio automático de seis marchas e um SUV bastante pesado. Aqui
dá pra entender porque o V6 foi o primeiro oferecido no Brasil e que ele
realmente faz falta. Não que a Captiva 2.4 seja insatisfatória do ponto de
vista do desempenho (aliás o Renegade 1.8 inaugurou uma nova categoria de
“desempenho insatisfatório”), e inclusive o motor 2.4 é atual e gostoso de
fazer girar, mas a V6 deveria ser uma delícia, com muito mais potência e torque
– além do ronco muito superior.
O
câmbio é um epicíclico de seis marchas sem muitas novidades. Trocas manuais só
podem ser feitas por um botão na alavanca, e para isso a alavanca precisa estar
em M, posição logo após o D – na maioria dos câmbios é onde fica o S. Os botões
não funcionam quando o câmbio está em D. As trocas em D são suaves mesmo quando
se exige desempenho, o que permite uma condução bastante tranquila e reduz a
necessidade do uso manual. O cálculo de rotações foi bom, permitindo bons 2 mil
giros a 120 km/h, e as reduções para 5ª e 4ª extraem o desempenho do motor
quando solicitado.
A
suspensão é moderna, com multilink atrás e uma calibração que concilia o
elevado peso com uma estabilidade razoável e conforto que se espera de um carro
com essa proposta. Os freios são a disco nas quatro rodas e a “mordida” do
pedal de freio é muito boa, com ação pronta e sem ser esponjoso.
Embora
seja um SUV, a Captiva é essencialmente urbana, especialmente nessas versões
com tração somente na dianteira. E é surpreendentemente baixo, principalmente
se considerarmos um SUV. Chegamos a raspar a parte de baixo da dianteira numa
saída de garagem. Tudo bem que a rampa parecia um abismo, mas em nenhum momento
achamos que um SUV teria dificuldades.
Antes
de falarmos de preço, convém relatar nossa experiência ao acessarmos o site da
Chevrolet. Sempre fazemos isso nos testes, para confirmar listas de
equipamentos e dados técnicos como potência, torque e peso. Normalmente, a
maneira mais fácil de fazer isso é utilizar a ferramenta “monte o seu”, na qual
selecionamos o carro e ai verificamos os dados.
Algumas
vezes é uma experiência de dar nos nervos, como nas muitas vezes que o
configurador da Volks deu problema.
Neste
caso, quando clicamos na Captiva, aparecem os dados do carro e um espaço na
página com os dizeres: “Saia com seu carro novo por um preço menor do que você
imagina”. E já tem um botão para falar com a área de vendas.
Depois,
quando aparece o valor do carro na seção do “monte o seu”, logo abaixo vem um
outro banner dizendo “preço negociável nas concessionárias”.
Ou
seja, o preço sugerido da Captiva 0km é de R$ 111.090, mas já deu pra entender
que é somente o ponto de partida das negociações, certo? E também podemos ver
por aqui que a crise das montadoras tá braba mesmo, o que sempre é bom para
quem pode comprar.
E
não vamos esquecer que os caras da Chevrolet são bons de vendas. Já dizíamos
isso no teste
do Prisma em 2008!
Isto
posto, cabe um parênteses: a Captiva está em fim de linha e são poucas as
importadas para o Brasil; a GM gasta toda a cota do México com o Tracker.
Portanto, para aproveitar descontos vale achar uma concessionária que tenha
Captivas disponíveis; se for necessário encomendar, a negociação pode ir pro
buraco.
Falando
da relação entre carro e preço, quem levar um Captiva para casa terá um SUV
equipado, ainda bonito, bem-acabado, confortável e espaçoso. De má impressão
somente o motor inadequado para o peso, não na cidade, mas na estrada. Também é
preciso considerar que o carro está no final da vida útil e que o preço não é
tão acessível assim. Tudo somado, gostamos e seria um candidato para nossa
garagem.
Estilo
8 – Poucos carros continuam atraentes depois de sete anos sem mudanças. A
Captiva mostra um desenho muito feliz.
Imagem
– Não é carro para a molecada. Ao contrário de muitos SUVs, é tanto masculino
quanto feminino.
Acabamento
8 – Esmerado, com bons materiais e bons encaixes. Uma pena ter perdido o
interior em cinza claro.
Posição
de dirigir 10 – As regulagens do banco e do volante ajudam e, como em todo GM,
os pedais ficam bem afastados, do que gostamos.
Instrumentos
3 – Somente velocímetro, conta-giros e medidor de combustível no cluster, e uma
tela digital antiga com o computador de bordo. Aqui os sete anos se mostram.
Itens
de conveniência 9 – A lista de equipamentos é muito extensa e traz itens
surpreendentes, em que pese a ausência dos sensores de estacionamento.
Espaço
interno 9 – Amplo para quatro adultos, bastante bom para cinco.
Porta-malas
7 – Pequeno pela medição, mas acreditamos ser bastante utilizável na vida real
pelo formato.
Motor
9 – O motor em si é ótimo, girador. Mas é beberrão: não chegamos a 11 km/l na
estrada.
Desempenho
4 – Ponto fraco. O motor se esforça, mas o carro é realmente pesado. Na prática
é inferior a sedãs automáticos com motor 2.0.
Câmbio
6 – Se deixado em “D”, vai bem na gestão das seis marchas. Onde perde pontos é
pela pouca interatividade.
Freios
9 – Disco nas quatro rodas, boa mordida, passa confiança.
Suspensão
8 – Conceitos modernos e boa calibração.
Estabilidade
8 – Boa... para um SUV. O carro não tem pretensão de ser esportivo. Talvez
fizesse falta com o V6, mas com este motor está mais do que adequado.
Segurança
passiva 10 – Vem com seis airbags, mostrando pra Honda que somente quatro
airbags no HRV e mesmo assim na versão de topo é a economia mais porca do
mundo. E nem vamos falar do CRV e seu airbag duplo...
Custo-benefício
8 – Bom de guiar, espaçoso, bem equipado. Só é meio caro e pode ser difícil de
barganhar preço.
Comentários
A mesma está apresentando um defeito bastante incômodo... Quando paro em uma rampa moderada, estando com a marcha no "D", ao acelerar e forçar o motor e câmbio pra subir a rampa, as portas se destravam automaticamente, como se o câmbio fosse para o "P" é o carro desengata. Após eu tirar o pé do acelerador, as portas travam novamente e o cambio engata, dando um belo tranco na maioria das vezes... Hoje mesmo não consegui subir uma rampa, pois quando acelerava o câmbio desengatava e as portas destravavam. Coloquei no manual e aconteceu a mesma coisa. Isso já aconteceu com algum de vocês? Grato!