Infelizmente, os campeões de vendas
A
primeira conclusão a que se pode chegar sobre o primeiro lugar em vendas obtido
no Brasil pelo Fiat Palio e globalmente pelo Toyota Corolla é que a grande
maioria dos motoristas não está interessada em prazer ao dirigir.
O
Toyota suplanta o Focus como carro mais vendido do mundo. Realmente o Focus não
é mais a máquina de dirigir do entusiasta como era na primeira geração, mas
ainda assim é um carro gostoso e bem superior ao Corolla neste aspecto. São
carros vendidos em diversas configurações ao redor do mundo, e por isso a
comparação é difícil, mas alguns elementos ajudam neste raciocínio: o Focus
aposta em câmbio de dupla embreagem, o Corolla vai de CVT (conhecido por matar
as pessoas de tédio); o Focus mostra a precisão da suspensão traseira
multibraço, o Corolla fica na conformidade e baixo custo do eixo de torção; e o
Focus tem versões apimentadas que são desejo de entusiastas, algo que o Corolla
não tem desde que perdeu a tração traseira no início dos anos 80.
No
Brasil a comparação não é tão óbvia e nem tão fácil. Dizemos há tempos que o
Gol G5 é um dos compactos mais gostosos de dirigir, e os que rivalizam com ele
são Onix, HB20 e Ka; o Palio está distante dessa lista, com sua mistura de
suspensão mole, freios super reativos, câmbio ruim de engates e motores
letárgicos. Embora sejam construtivamente parecidos, e na verdade o Palio é
quem tem versão esportiva (a Sporting com o motor 1.6 16v), o resultado final
de dirigibilidade do Gol é muito melhor.
Outro
ponto a ser considerado é a enorme influência do Palio Fire nas vendas. De
verdade, é ele quem bate o bumbo, com 55% das vendas da linha Palio. Então é um
carro que vende pelo preço, dado que um Palio Fire é DEZ MIL REAIS mais barato
que o Gol de entrada (excluindo-se a versão “de emergência” Special, lançada no
apagar das luzes de 2014 para recuperar as vendas).
E
aqui nota-se uma consequência de uma decisão estratégica tomada lá atrás, algo
difícil de enxergar pela liderança estúpida que só mede seu valor pelo lucro de
cada trimestre (gente assim que quebrou a GM).
Quando
a Fiat planejou o substituto do Uno, o projeto 178 lançado em 1996 como Palio,
fizeram tudo certo: criaram uma plataforma bastante moderna, com bom
aproveitamento de espaço, para-brisa bastante inclinado, motor transversal,
espaço para o estepe deitado no porta-malas, e com isso tinham uma receita
básica para um compacto de longevidade.
A
Volks deitou nos louros. Note que a Fiat lançou o Uno no Brasil em 1984 e seu
substituto, o Palio, DOZE anos depois. É muita coisa. E a Volks, que lançou o
Gol em 1980 e só foi trocar de verdade a plataforma do carro em 2008, VINTE E
OITO anos depois (as geraçôes 2, 3 e 4 são variações sobre a mesma plataforma
problemática do Gol quadrado, com espaço interno restrito, direção enviesada e
motor longitudinal).
Então
hoje a Fiat tem uma plataforma já paga, extremamente barata, com a qual
consegue oferecer um compacto a baixo preço. A Volks aposentou a plataforma do
Gol quadrado e agora precisa amortizar o investimento feito no Gol G5. Se
tivessem tido a decência de lançar um compacto totalmente novo na época do Gol
bolinha, ao invés de requentar o que já existia, esse jogo hoje poderia ser diferente.
Isto
posto, o M4R aplaude de pé a decisão da Volks de fazer o up! no Brasil. Carro
de estrutura moderna, cinco estrelas no crash-test, bem construído, engenharia
bem feita. É caro, e por isso não vende tanto – e para entender porque não
vende tanto, por favor releia o primeiro parágrafo deste texto explicando que a
maioria dos motoristas não está nem aí para as qualidades intrínsecas do carro.
O up! roubou vendas do Gol, o que seria esperado, e o enfraqueceu na contagem
total.
Comentários
Claro que a vinda do Up! é infinitamente melhor, mas agora esse marketing do 'X anos na liderança' eles não tem mais.