Os poucos e bons projetos

A qualidade de um parque automobilístico é diretamente proporcional à quantidade de lançamentos de bons carros que acontecem no país. Para ficarmos no exemplo americano, as grandes de Detroit simplesmente desaprenderam a fazer carros a partir da segunda metade da década de 70, e ficaram mais de dez anos produzindo veículos horripilantes, com motores antigos, pouca potência e muito consumo, e um comportamento dinâmico digno de um queijo. Foi bem nesse período que as montadoras japonesas e alemãs se estabeleceram no mercado nos EUA, oferecendo produtos muito melhores, carros realmente novos e bons.

De maneira geral, um carro novo pode seguir dois conceitos: o da excelência ou o do conformismo. Um bom exemplo de excelência é o McLaren F1, um carro no início dos anos 90 que é respeitado ainda hoje pelos aficionados em velocidade. Ele não tinha compromissos: tudo ali era voltado ao desempenho máximo. O cofre do motor era revestido com ouro, mas não para ficar bonito; ouro é o metal que melhor dissipa calor.

A excelência, no entanto, não é privilégio de super carros. O Ka antigo é um bom exemplo. Um carro compacto, urbano, gostoso de dirigir, bem acabado, com um design único. Tanto é que durou, na forma original, mais tempo na Europa do que no Brasil. E é no velho continente que a briga histórica entre Golf, Focus e Astra pega fogo. A excelência é a arma utilizada pelos brigões para se manter no topo. O Golf IV, em 98, trouze acabamento digno de carros grandes para o segmento. O Focus, todo novo, contra-atacou com a suspensão traseira multilink, de comportamento inigualável, e que equipa os Golfs V e VI. O Astra veio furioso nesta última versão, com motores de até 270 cv na versão mais picante.

Temos bons exemplos de excelência no Brasil. Não dá pra negar, por exemplo, que o Civic atual é um grande passo evolutivo em relação ao anterior, como também é o Corolla. Os novos Gol e Fox são bem superiores aos antigos, assim como foi o novo Corsa em relação ao Corsa ovinho, ainda vendido na versão sedã, Classic.

E há a evolução por conformismo. Uma economia aqui, uma acolá, não há uma busca real em se fazer o melhor, e sim em fazer o mínimo necessário. Os novos Ka e Fiesta são dessa categoria, bem como todas as remodelações da linha Palio. Afinal, há quanto tempo a Fiat já não poderia ter colocado aqueles difusores de ar baixíssimos no topo do painel? O Golf 4,5 é outro exemplo clássico. E, claro, toda a linha GM.

Do Vectra II, ou B, perdeu-se o design único, o acabamento em veludo, a suspensão traseira multilink, e ficamos com um Vectra um pouquinho melhor que o Corolla anterior, hoje esmagado com prazer pelas potências japonesas.

E é isso que me mata, que me corrói em relação ao Agile. Não consigo admitir que pode ser bom um carro que foi projetado visando o conformismo, o mais ou menos. A suspensão não é a melhor da categoria. Nem o acabamento. Nem o comportamento. Nem o design. Nem nada.

Aliás, minto. O Agile é barato. Legal ser essa a qualidade do carro. Eu, como amante de automóveis, tô fora.

Comentários

Paulo disse…
Esse é o problema: enquanto houver consumidor desinformado -e fazendo questão de ser des-informado, dá no que deu: a GM não aprendeu nada com a "falencia" e os outros -não todos, ficam no conformismo...
Eu idem: tambem tô fora !
abraços.

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