Teste: Palio Fire Economy

Provavelmente o Palio foi o carro mais testado neste blog. É a sua quarta aparição, após os modelos ELX 1.4, HLX 1.8, e Fire. É também um bom carro-síntese da indústria automobilística brasileira nos últimos anos: após uma era de ouro, no final dos anos 90, com carros modernos, novos e atualizados, rolamos ladeira abaixo.

 

O Palio era um projeto da Fiat brasileira com a chancela da matriz na Itália, de código 178, para uma nova plataforma global de carros compactos. Era bem avançada para a época, característica marcada pelo pára-brisa bastante inclinado.

 

Após sucessivas plásticas, o Palio se tornou aquela senhora que não quer envelhecer: por baixo da plástica que deixa o carro ainda relativamente atual, esconde-se um conjunto antigo, apertado, desconfortável, em especialmente no que se trata do "chão" do produto.

 

Tive a oportunidade, há uns quatro anos, de guiar um Fiesta 1.0 2001, com motor Zetec – o modelo "gatinho", com a última frente antes do modelo novo. Já esperando a anemia típica dos 1.0, fui surpreendido por um carro valente, gostoso de dirigir. Mais do que isso, um carro cujo rodar remete a categorias superiores: andar naquele Fiesta, em termos de comportamento da suspensão, conforto, era como andar num compacto premium ou mesmo num médio. Um carro que tinha "chão", como se diz no jargão, que é bem assentado. Essa é uma das coisas que mais se nota ao dirigir um carro superior: o Mondeo, por exemplo, tinha bem mais chão que o Focus, que por sua vez é superior ao Fiesta. Alguns subvertem a classe, como Polo e Punto, que se assemelham mais a médios do que a compactos, e mesmo o Focus que hoje fica pouco a dever a carros do quilate de Citroën C5, Jetta e Fusion, por exemplo.

 

Essa foi a coisa que mais me chamou a atenção neste Palio. Apesar das melhorias no motor, ele continua sendo, na essência, um carrinho, como o Celta e o Gol G4. Os pedais e a direção são leves demais, os comandos parecem que vão quebrar (em especial as hastes de seta) e, principalmente, ele não parece bem assentado. Ultrapassar um caminhão na estrada torna-se uma aventura, não pela disposição do motor, mas pelo quanto o carro balança com a força do deslocamento do ar. Nas curvas, essa sensação soma-se à conhecida suspensão ultramacia do Palio, tirando toda e qualquer confiança do motorista. O resultado disso é que a condução nunca fica relaxada. Você está constantemente segurando a direção com firmeza, por medo que o carro vá desgarrar do nada. E, com isso, parece que você dirige um brinquedo, e não um carro de verdade.

 

É interessante como esta é uma característica dos Palios desde a segunda geração, assim como sempre foi do Celta, dos Clios 1.0 e passou a ser do Gol nas versões depenadas, como a bolinha que tivemos por muitos anos e também a G4 – melhorada em algumas versões pelo uso de rodas e pneus bem largos. E não duvido que o Ka seja assim hoje.

 

O Palio Economy tem a mesma cara do Palio de terceira geração, para muitos a mais bonita. Acho um desenho agradável, mas absolutamente cansado dada a quantidade incrível de Palios com essa mesma cara rodando por aí. O interior é pior ainda, pois remete ao Palio de segunda geração, e é na verdade o mesmo interior do Palio desde sempre, com sucessivas plásticas. É um interior velho, antiquado, cansado, enjoativo, monocromático. Mas não é de todo tuim: há uma boa quantidade de tecido nas portas e a parte logo abaixo das janelas é mais macia. O painel foi remodelado, vem com iluninação branca, de ótima leitura, e um grafismo exagerado e feioso – ao menos o indicador de temperatura do motor é analógico, como se deve, e não há conta-giros. Os comandos seguem à mão, graças à boa ergonomia já do primeiro Palio, e os vidros elétricos nas portas não parecem adaptações porcas como no Celta. O volante tem diâmetro e empunhadura adequados. Os pedais estão na altura correta e são macios até demais.

 

Achar a melhor posição de dirigir, no entanto, é complicado dado a falta de opções de regulagem do volante, que é fixo, e a um ajuste de distância do banco que tem um curso muito curto. Talvez para não acabar com o espaço no banco traseiro, o banco do motorista do Palio não recua o quanto deveria; a posição mais afastada do volante é adequada a motoristas com até 1,80m; mais do que isso e sentirão um aperto. Ao menos o ajuste de distância do Palio também sobe o banco ao se aproximar do volante; a solução do Gol é superior (ajuste de altutra do banco de série em todas as versões), mas o esquema do Palio é melhor do que nada.

 

O passageiro dianteiro também encontra pouco espaço, o que não se repete atrás. O problema nem é a altura do carro, mas sim a largura e o espaço para as pernas. Aqui, no entanto, cabe lembrar que o Palio é um carro compacto, e que carros compactos têm suas limitações. Diante das dimensões externas do modelo, o espaço interno é adequado. O mesmo vale para o porta-malas, desprovido de qualquer forração lateral, mas com local para puxar a tampa pelo lado de dentro.

 

Quem empurra o Palio Economy é um motor 1.0 renovado, com mudanças na taxa de compressão, coletores de admissão e escapamento, pistões e válvulas. Tudo isso para números impressionantes: 75 cv a 6250 rpm e 9,9 m.kgf de torque a 4250 rpm. São números dignos de motores 1.6 antigos. A unidade é suave e sobe fácil de giros, como é comum em motores 1.0. A diferença na prática, no entanto, não é tão sentida: a maior parte dessa potência e torque surge a rotações muito altas, inviáveis no uso diário. Numa aceleração pé no fundo até 100 km/h, por exemplo, o Palio vai surpreender e ser bem forte; no dia-a-dia, é muito parecido com o Palio anterior. Ainda assim, é bom saber que há uma reserva de potência em casos de ultrapassagem ou de maior exigência.

 

Os freios estão bem dimensionados para o carro e a suspensão é a familiar que já conhecemos do Palio: mole ao extremo, bastante confortável em pisos irregulares e que simplesmente aderna ao entrarmos em curvas mais rápidas. A segurança é nula, mas ABS e air bags estão na lista de opcionais, o que não se pode dizer de Celta e Gol G4.

 

O ponto nevrálgico deste teste, no entanto, era o econômetro. E aí, funciona mesmo?

 

Não.

 

A maneira mais econômica de se conduzir é utilizando o método torque. Em motores de ciclo Otto (basicamente todos os a álcool ou gasolina vendidos em nosso país), a equação é direta e muito simples: quanto menor a rotação do motor, menor o consumo. Um carro no qual você esteja de pé no fundo do acelerador, a 2000 rpm e 40km/h em 4ª marcha gasta menos combustível do que o mesmo carro em segunda, 3500 rpm e na mesma velocidade. Não é o que o econômetro indica: ele mostra um melhor consumo na segunda situação, o que é errado.

 

E até engraçado ver o ponteiro movendo-se freneticamente na condução diária, e sem dúvida a presença dele ali incentiva a dirigir economicamente. No entanto, com os motoristas conscientes de como é a verdadeira condução econômica, um conta-giros é infinitamente mais útil.

 

Ainda assim, é um carro econômico: a unidade avaliada, com menos de 3 mil km rodados, atingiu uma boa média de 10 km/l de álcool na estrada, com bastante uso de ar-condicionado.

 

Prós e contras pesados, o Palio segue como um dos compactos mais interessantes do mercado. Excluindo-se o novo Gol, ele tem de longe o melhor acabamento e os melhores bancos. O espaço interno é ainda muito bom e o motor novo ficou surpreendentemente forte e silencioso, mas com economia. O projeto é antigo e existem muitos nas ruas, mas o Palio ainda mostra a competência da Fiat no segmento compacto; não podendo arcar com um novo Gol, e se o Ka não atende suas necessidades, o Palio é o carro compacto a ser comprado.

 

Dez anos após o seu lançamento.

 

Estilo 6 – Não que o carro seja feio, longe disso, mas é que vemos tantos na rua, mas tantos, que ele não chama mais nenhuma atenção e, na verdade, ficou meio sem graça.

 

Imagem – Quem compra um Palio Economy? Jovens, idosos, homens, mulheres, pais, mães. Todo mundo. Que, evidentemente, não pode comprar uma BMW no lugar. Então o Palio é o carro da galera, da geral, das pessoas que têm bala para comprar um carro zero: um humilde Palio. Status aqui passou longe.

 

Acabamento 5 – Considerando apenas a categoria, a nota seria mais alta. Há tecido nas portas, e o revestimento dos bancos não é o pior do mundo. Mas a parte de trás dos bancos vem em vinil, o tecido das portas é áspero e duro, aplicado diretamente em cima do plástico, e existem rebarbas em maçanetas e peças internas. Não dá pra dar uma nota muito alta.

 

Posição de dirigir 3 – Difícil, sem ajuste nenhum no volante e com um ajuste longitudinal que tenta compensar a altura do banco, mas não é um ajuste de altura em si. Ao menos o volante está alinhado com os pedais e os comandos ficam à mão.

 

Instrumentos 4 – Ficou estranho esse painel. A leitura é confusa, e muitas vezes eu olhei para o econômetro na esperança de que fosse um conta-giros. Que, aliás, seria bem preferível. A iluminação em branco é bonita.

 

Itens de conveniência 2 – Vem de série com volante, rodas e bancos. Com ar-condicionado, e vidros e travas elétricos (a direção hidráulica é dispensável tamanha a leveza do volante), ainda mantém um preço razoável. A lista de opcionais é imensa, embora esperar por um desses com air bag duplo seja um bom teste de paciência.
 

Espaço interno 8 – É até surpreendente considerando-se as exíguas dimensões externas. Na frente é melhor do que atrás, mas o banco traseiro não é indigno.

 

Porta-malas 6 – Não é o maior do mundo, mas o acesso é fácil. Revestimento só no piso, o que é padrão nesta categoria.

 

Motor 10 – Ficou muito bom. É potente e em torque, emboa em rotações um tanto elevadas. É também suave, embora marulhento – culpa mais da falta de revestimento do que propriamente do motor. É um dos poucos 1.0, senão o único, que possui uma reserva de potência ao viajar por uma estrada. E ainda por cima econômico.

 

Desempenho 9 – Não é uma potência, mas o baixo peso do carro ajuda. Se bem conduzido, pode ter uma performance bem agradável tanto no dia-a-dia quanto andando esportivamente. Porém: como julgar desempenho num carro que tem "Economy" no nome?

 

Câmbio 6 – O câmbio do Palio foi surpreendente em 98, um dos primeiros Fiats a ter um câmbio agradável. Hoje ele é lugar comum, longe de ser especial, mas também não é péssimo. As relações poderiam ser mais longas para aproveitar melhor o motor.

 

Freios 9 – Este Palio não sofre do mal do freio binário, como outras versões. O carro freia muito bem. Uma pena ABS nos carros de entrada ainda ser sonho.

 

Suspensão 6 – Suspensão antiga e robusta, calibrada para extrema maciez. Os pneus finos e a própria leveza do carro, no entanto, não contribuem para um rodar agradável: é macio, mas falta chão.

 

Estabilidade 4 – O Palio aderna nas curvas como um bom Cadillac. Até vai bem e consegue contornar rápido, mas com ousadia do motorista e total desconforto dos passageiros.

 

Segurança passiva 3 – Vem com um elemento importante para a segurança dos passageiros: sorte. O resto – ABS, airbags - é opcional. Ao menos estão na lista de opcionais.

 

Custo-benefício 8 – É um dos carros de entrada mais dignos, com certeza à frente de Mille e Celta, embora pouco mais caro. Esquecendo-se o fato que carro no Brasil é muito caro, o Palio cobra um preço justo pelo que entrega e, nesta categoria, o fato dele ser um projeto antigo não chega a ser um grande demérito (lembrando sempre que o Celta deriva do Corsa de 94 e o Gol G4 do Gol quadrado de 1980, portanto o Palio é mais recente que ambos).

Comentários

André disse…
Nossa, fiquei até com medo de passar perto de um.

A melhor de todas foi "de série com volante, rodas e bancos"!!!!
T.G disse…
Apenas um comentário:

A informação que você passou, sobre a forma de economizar mais combustível ser girar menos o motor não é totalmente correta.

Quando se afunda o pé, a injeção injeta o máximo de combustivel que o motor é capaz de queimar. Desta forma, quando se abusa das baixas rotações, é necessário que o pé aperte um pouco mais o acelerador para atingir uma mesma velocidade ou mesmo mantê-la.

Hoje em dia, com o advento dos aceleradores eletrônicos (Esse Pálio tem) independente da relação marcha x rotação que você esta no carro, quando se afunda o pé, o corpo de borboleta irá apenas abrir o suficiente para permitir a entrada do maior volume de ar admissível para o motor na relação (RPM x volume de combustivel injetado) daquele momento.

Isso minimiza o efeito de afundar mais o pé em baixas rotações, mas mesmo assim, andar com a rotação excessivamente baixa não é sinômino de ecomonia, e sim de gasto excessivo de combustivel, além de forçar alguns componentes do carro, como coxins de motor e trabuladores de câmbio.

Como foi corretamente dito, a forma ideal para manter a economia dos motores é girar o motor sempre próximo a faixa de torque máximo do mesmo durante as acelerações(a ideia é que ele fará menos "força" para acelerar) e enquanto em velocidade constante, utilizar a marcha que permita manter o motor na melhor relação de rotação baixa e curso de acelerador pressionado.
Os câmbios CVTs, como do antigo Fit, funcionam dessa forma. Numa condução normal, o motor/câmbio ficam próximos da rotação de torque máximo e reduzem gradativamente a rotação quando em velocidade constante, mas nunca levam ao mínimo a rotação, pois levaria o motorista/motor a acelerar mais para manter a velocidade.

Obviamente que a teoria é sempre muito simples. Fatores como trânsito, uso de ar-condicionado e até o humor do motorista contribuem muito.

Abraços
Fernando Nappe disse…
Salve DUBSTYLE, como vai?

Seu blog é sempre uma ótima leitura, fazia tempo que eu não passava por aqui, e hoje fui surpreendido por esse teste que eu esperava ver por aqui a tempos, e como sempre, vc foi muito preciso em sua análise.
Eu tenho um Palinho desses (e escolhi ele depois de ler o seu blog :)) e tudo nele é exatamente como vc comenta. Como modelo de entrada, excluindo-se o novo Gol, ele é de longe e a melhor escolha, não há dúvidas. É um carrinho honesto, meio cansado já, é verdade, mas que ainda é consegue se sobresair em muitos detalhes. Ah! E esse motorzinho ficou realmente "nervosinho", tendo até mesmo sobra em alguns casos.

Abraço
Dubstyle disse…
Caro TG,

O método carga é explicado e provado neste link:

http://www2.uol.com.br/bestcars/servico/consumo-1.htm

Rotações muito baixas, abaixo de cerca de 1400 rpm, de fato danificam o motor e devem ser evitadas. Acima disso, a economia é atingida com acelerador aberto e rotação baixa.
Dubstyle disse…
Fernando,

Obrigado pela visita e curta muitos bons quilômetros com seu Palio!
Unknown disse…
1- Ciclo otto nao gasta mais acelerando fundo numa 4. marcha a 2.000rpm do que numa 2. marcha a 3.500rpm ?? Com certeza vc nunca teve um carro carburado, ou nunca viu um carburador guspindo combustivel pra fora com todo acelerador apertado, alta rotação ou baixa rotação, é o pé do motorista que manda no consumo. Ou entao, o freio motor do carro numa descida faz com que o carro gaste mais do que tivesse numa subida com rpm menor !! Iverossímel isso nao ? O ciclo do motor nao quer dizer nada tbm.

2- Afundar o pé numa rpm baixa, faz com que super-aqueça o motor, gaste mais, e force todo conjunto.

3- Um econometro no painel é muito mais util que um conta-giros. Pra que serve conta-giros na real ? Pra ver o ponteirinho subir e descer nas trocas de marcha ? Pilotagem de alta performance, onde nas trocas deve se casar o torque com a potencia talvez, só pra isso ! Ou vc olha pra ele a toda troca de marcha?
Conta-giros é bom, mas nao é mais importante que um econometro, que vc pode dosar o pé de acordo com a necessidade e contribuir com o meio-ambiente.

Seu blog é muito bom, mas algumas opinioes pessoais do autor devem ser dispensadas para agradar a todos. E falta de conheçimento tecnico.
Dubstyle disse…
Celo,

O método carga está explicado no link que enviei acima. E funciona para motores com injeção eletrônica e ciclo Otto, portanto não entendo a menção aos carburados.

Rotação excessivamente baixa de fato força o motor. Rotação simplesmente baixa, não.

E por fim, uma dica: falta de conhecimento é escrever conhecimento com cedilha.
disse…
Tenho um desse e nao o acho economico, faz em torno de 7,5 com alcool na cidade, e na estrada faz de 8,4 a 9, com gasolina de 11,4 a 11,9. Procuro andar sempre no verde e em baixas rotações sem forçar.
marcosadm disse…
Eu nao gostei desse econometro ja sei a muito tempo dirigir economizando e ter que ficar olhando para esse relogio maluco nao e comigo.
Anônimo disse…
Lembrando que o carro tem acelerador eletrônico, não tão comum nos populares e que ajuda muito ao tentar corrigir acelerações bruscas.
Gustavo disse…
Concordo plenamente quanto ao econometro. Antes de ler a materia ja dizia a mesma coisa: acho o conta-giros muito mais util que o econometro. Alem de "te conectar" muito mais ao carro e ser muitomais bacana na minha opiniao que o econometro, como disse um colega ae em cima, é terrivel acompanhar o econometro, muito mais atrapalha que ajuda, sinceramente, item completamente dispensavel.

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