Novo VW Gol
Dossiê novo Gol parte 1: Novo Gol x Gol G4
A Volks remodelou seu modelo de entrada. Está difícil, mas por um momento aqui vou tentar esquecer a absoluta roubalheira e falta de caráter demonstrado pelas montadoras no Brasil e concentra-me-ei no veículo em questão.
Só no M4R você encontra o dossiê completo sobre o novo Gol. Aqui não vamos ficar medindo milímetros de distância nas chapas do carro (alguém aí acha que realmente a distância MEIO MILÍMETRO maior entre as peças plásticas do painel é que fazia o Gol G4 mal-acabado? Façam-me o favor), mas vamos entrar fundo para dizer se o carro é bom mesmo. E para isso, nada melhor do que compará-lo a referências bem conhecidas.
Novo Gol x Gol G4
A primeira coisa a ser feita é verificar como o Novo Gol se sai diante de seu antecessor, o G4. Como já foi notado pelo BCWS e até mesmo pelo Marcelo Moura em seu blog na 4R, esta é na verdade a segunda grande mudança no Gol. A primeira, ocorrida em 1994, realizou diversas mudanças na plataforma e alterou completamente a carroceria, embora mantendo alguns elementos do primeiro Gol, aquele de 1980, ainda intactos. Portanto, se formos ser realmente chatos com isso, este Gol é o primeiro Gol totalmente novo desde 1980.
Isso mostra como a diferença para o modelo anterior é gritante. Pode não parecer tanto externamente, mas basta rodar 100 metros com o carro novo que o Gol G4 se torna inadmissível. É tudo uma questão de comparação. O Gol G4 é competitivo diante de outro projeto dos anos 80, o Uno, ou diante do Celta, uma versão piorada do Corsa que chegou no Brasil em 94. Mas nem se compara perto da plataforma PQ24, de Polo e Fox – não só atual, mas ainda em uso na Europa.
O que isso quer dizer na prática? Quer dizer que o acionamento dos pedais do Novo Gol é macio, a direção é mais precisa, o freio tem ação progressiva, o carro não levanta a frente em acelerações, você não precisa usar a força bruta para fechar a porta ou puxar o freio de mão – como levantei na avaliação do Gol G4. O carro ficou bem mais civilizado.
Estilo
Talvez a melhor qualidade do Gol G4. Não que fosse bonito, longe disso – é inferior ao G3, por exemplo. Mas, num carro realmente ruim, era um dos poucos quesitos nos quais o carro conseguia tirar nota acima de 5.
O Novo Gol é estranho. A frente abusa de elementos que fazem ela parecer mais larga do que é, e conseguem um efeito indesejado justamente assim: o carro parece largo demais. A traseira é sem inspiração, e a lateral é estranha, por conta do caimento das portas posteriores. Feio não é, mas bonito está longe de ser.
Neste ponto, o G4 é mais proporcional, embora também não atraia pela beleza. Como estilo é uma questão subjetiva, vale deixar cada um escolher qual deles é o melhor. Uma coisa eu digo: na época de seu lançamento, em 99, o Gol G3 deixou uma impressão bem melhor que ambos.
Acabamento
Aqui a comparação é pior do que bater na mãe. Sério, até o Uno tem um acabamento competitivo em relação ao G4. Provavelmente o pior carro já lançado pela Volkswagen em toda sua história no Brasil nesse quesito, com exceção do Fusca “pé-de-boi” dos anos 60. É ridículo, tudo feito de plástico áspero, tudo mal encaixado, tudo barulhento. Uma caverna tem um acabamento melhor.
Para piorar esse cenário, só se o novo Gol fosse entregue na chapa. Felizmente, não é o caso. Nem cabe aqui questionar se o acabamento melhorou – não tinha como piorar – mas se foi significativo. Pois bem; não.
O plástico das portas é rugoso igual. Numa falha flagrante, o pino da porta continua saindo de um buraco no revestimento. A parte superior do painel é igualmente rígida, e o volante segue na mesma (o volante do G4 é bom). Ao menos agora as portas têm apliques em tecido – atenção, isto TAMBÉM é opcional – e a parte central do painel evoluiu em materiais. O tecido dos bancos é igualmente pobre, e o curvim reina em todas as partes menos importantes – atrás dos bancos e nas laterais.
Putz, então está na mesma? Em termos de qualidade dos plásticos e tecidos, bem próximo, com a ressalva de que o interior novo é bem mais atraente. Mas onde o Novo Gol dá um banho é no acionamento dos comandos. Vamos desde já desmistificar a história de que os comandos do ar-condicionado são os melhores já vistos num carro nacional, como a 4R falou. São nada. Estão na média, e abaixo do que é a referência nesse quesito, a dupla Civic e Fit. No entanto, média já supera os comandos do antigo, muito moles e com aparência frágil – como ainda são no Ka e no Celta. Já o acionamento das alavancas de seta e limpadores de pára-brisa são sim outro padrão: a resistência e o material pode ser comparado ao existente no Golf.
Posição de dirigir
O Gol G4 carregava um defeito congênito que molestou todos seus antecessores: a posição enviesada de dirigir, com pedais e volante desalinhados. O Novo Gol corrige esse problema, um dos piores do Gol antigo. Além disso, as alavancas estão à mão, os pedais têm acionamento macio e o banco manteve-se no bom nível do utilizado no Gol G4.
Um senão que não parece ter in comodado muita gente é o pedal do acelerador muito próximo do túnel central. Ruim para quem usa tênis largos.
Além disso, o Gol continua com o bom hábito de oferecer ajuste de altura do banco de série, o que ajuda bastante a encontrar a melhor posição ao volante. O ajuste de altura e distância do volante, no entanto, é opcional.
Instrumentos
Aqui vale o mesmo citado pelo acabamento. Dono de um dos piores painéis da indústria nacional, o Gol G4 privilegia o velocímetro, com um medidor de combustível de tamanho adequado e um conta-giros, quando disponível, absolutamente ridículo. Medidor de temperatura, então, esquece.
O novo corrige esse erro. Quando disponível, o conta-giros é grande e complementa o painel. Se ausente, a solução de colocar um ponteiro de combustível gigante – já utilizada numa versão do Gol G3 com iluminação em vermelho – junto com o medidor de temperatura não é das mais elegantes. Por incrível que pareça, a referência aqui é a GM, que oferece painel completo em todos os Celtas e Classics. Além disso, a iluminação volta a ser azul, reintegrando o Gol à linha VW – Gol G4 e Fox têm iluminação branca, o que faz parecerem filhos bastardos na família VW, assim como o Santana, que morreu com o painel iluminado em verde.
Agora, é preciso tomar cuidado. Às vezes podemos nos empolgar com a comparação com o Gol G4 e esquecer do contexto do mercado atual. Assim como no caso do acabamento, aqui o Gol apenas volta à média. O Celta tem instrumentos bonitos, completos e bem-iluminados, inclusive com um grafismo mais interessante do que o da linha Gol. Já Palio e Ka ficam bem atrás, com seus instrumentos planos e sem graça.
Itens de conveniência
Esta categoria aparentemente não foi apresentada ao Novo Gol. E nem ao G4. A versão 1.0 vem com ajuste de altura do banco do motorista, ajuste de altura dos cintos de segurança dianteiros, ambos os pára-sóis com espelho, e só – além, claro, das coisas que nem merecem ser citadas, como “supercalotas” ou ajuste interno dos retrovisores.
Tudo, absolutamente tudo, é opcional. E isso será um problema, como veremos mais adiante em custo-benefício.
Em se considerando a lista de opcionais, no entanto, alguns méritos. O primeiro é voltar a oferecer air bag e ABS, algo que a simplificação havia cortado do G4. Outra coisa é oferecer itens de carros superiores, como o computador de bordo I-System (com um grafismo superior, aliás, ao usado no resto da linha, incluindo-se aí Jetta e Passat) e acionamento do som por teclas no volante – algo que o Polo não tem.
Essa olhada mais profunda na lista de opcionais mostra como a versão básica é pelada: entre os itens opcionais, encontramos:
- aquecimento
- cobertura do freio de estacionamento
- cintos de segurança laterais traseiros retráteis
- alças de segurança no teto (3)
- luz de cortesia com interruptor nas portas
- desembaçador do vidro traseiro
- porta-objetos nas portas
- revestimento das portas em tecido
- conta-giros
- antena de teto
Com um preço sugerido (MSRP para os americanos) de R$ 28.990, tá tudo muito caro.
Espaço interno
Aqui o Gol G4 também tinha um forte, dado seu porte amplo para o segmento. A nova geração mantém o entreeixos e a maioria das dimensões externas, embora pudesse se pressupor um aumento da cabine com o motor agora colocado transversalmente. Não é o que acontece. No geral, o espaço é muito parecido com o da geração antiga, sem ganhos expressivos. O que é bom, se considerarmos que Ka, Celta e mesmo Palio são mais apertados. Quem nada de braçada aqui são Clio e Corsa, ambos com um entreeixos significativamente maior.
Porta-malas
Outro ponto forte do Gol G4 mantido no atual. Com 285 litros de capacidade, ele é 55 litros menor que o do Civic, a comparação que todos gostam de fazer quando se trata de porta-malas pequeno. É de longe o maior do segmento, e ainda por cima vem num formato bastante aproveitável. O único senão fica para o acesso, um tanto alto – aqui o novo Ka é referência.
Falando em 55 litros, esta é a capacidade do tanque de combustível, a mesma do Golf. Algo muito bem-vindo, em temos de álcool e maior consumo. Este tanque ajuda o motorista a não precisar reabastecer com freqüência, algo crítico na família Corsa e seus 42 litros de capacidade, por exemplo. Mesmo Polo e Fox sofrem com 45 litros apenas. Ao utilizar a mesma platafiorma e ampliar seu tanque em 10 litros, a engenharia da VW está de parabéns por ter pensado no consumidor.
Motor
Comparando aqui os 1.0. O antigo era muito bom, suave e com um empuxo em médias rotações que cativa qualquer um. As vibrações no carro, presentes, mais se devem à falta de qualquer cuidado com sua absorção do que da unidade em si.
O Novo Gol 1.0 é complicado. O motor piorou? Não. Segue suave e sobre de giro fácil. Só que seu comportamento se assemelha mais agora às unidades Fire e VHC da concorrência do que o antigo. Isso é mais uma característica do que um problema. As respostas boas em média rotação – 3 a 4 mil rpm – agora aparecem acima de 4 mil, fazendo com que se precise esticar mais as marchas para obter um desempenho razoável. Não é um grande problema, dado que o motor gosta de girar e vibra pouco. Mas o que era uma agradável qualidade do 1.0 anterior agora perdeu-se.
Difícil dizer se o motor novo é mais econômico. O antigo não era muito, embora o novo tenha tudo para ser, dadas as melhorias em admissão e taxa de compressão sofridas recentemente. A mudança de posicionamento não altera a percepção ou sensações do motorista em relação ao motor.
Desempenho
Carro 1.0 é aquela coisa. Por mais que seja bom para a categoria, sempre fará falta. Ao lado de algumas partes do acabamento, o que mais desabona o Novo Gol 1.0 é a falta de potência do motor. Como a plataforma é boa, e o carro bem acertado, ficamos o tempo todo com a impressão que aquele carro deveria ser mais forte – e não é. Motoristas de Golf 1.6 têm essa mesma sensação. Não combina com o refinamento dos pedais e do câmbio.
Na frieza dos números, é provável que o Gol novo ande igual ou até mais que o G4. No entano, graças ao empuxo maior em médias rotações, o G4 aparenta ser mais ágil.
De qualquer modo, se operado o câmbio corretamente, o Novo Gol 1.0 oferece um desempenho adequado para a categoria, ainda que insuficiente e destoante do conjunto.
Câmbio
Em termos de suavidade e precisão, Honda, VW e Ford produzem caixas de câmbio manual anos-luz à frente da concorrência. Entre elas, a Ford e a unidade utilizada em Ka, Fiesta, Eco e Focus 1.6 (melhor neste último) perde ligeiramente para o famoso MQ-200 da VW (que, por ser argentino, pronuncia-se Eme-cú) que perde ligeiramente para os sistemas usados em Fit e Civic pela Honda.
As diferenças são milimétricas. Os compradores dos carros equipados com estas caixas de câmbio terão um prazer toda vem em que trocarem de marcha, dada a precisão e a suavidade em seu acionamento. A MQ-200 vem aplicada aos motores transversais 1.6 da VW, em Golf, Polo e Fox, e também no Fox 1.0. Chegou agora a toda família Gol.
Aproveitando que a análise é minuciosa, o câmbio no Gol 1.0 não é tão bom quanto o encontrado no Polo e Golf 1.6 (esses sim equivalentes). É ligeiramente mais rústico nos engates.
Isto posto de lado, é um avanço monumental em relação ao câmbio antigo, de engates bastante duros. O prazer em dirigir se transformou – antes, cada troca de marcha era um martírio. A melhora aqui é muuito significativa.
As relações de marcha, no entanto, seguem parecidas. São curtas, como usual nos carros 1.0, em demasia nas marchas mais altas. O novo Gol 1.0 obriga mudanças de marcha freqüentes, tanto pelas relações curtas quanto pela ausência de fôlego do motor em baixas rotações. Não é tanto problema, graças a um pedal macio da embreagem e ao câmbio já elogiado anteriormente. O antigo requeria algo menos de mudanças devido ao motor mais disposto em regimes médios, mas novamente não compensava a dureza da alavanca.
Que, por sinal, piorou. Sou fã das alavancas pequenas e curtas, próximas ao console. O console agora está mais baixo, o que obrigou uma alavanca alta. Não é um Fiesta, mas agora o Gol entrou na mesma seara da concorrência nesse quesito.
Freios
O Gol G4 tinha a peculiaridade dos freios binários, com atuação excessiva do servo. O novo é bem mais gradual e permite a modulação da frenagem. Além disso, o sistema mantém a eficiência e consegue parar o novo Gol em distâncias pequenas, assim como no antigo. Assim como a plataforma e a suspensão, o conjunto de freios parece superdimensionado para a versão 1.0, o que é uma coisa boa. Freio nunca é demais.
Suspensão
É preciso dizer aqui que a Volkswagen é muito fiel a seus conceitos de suspensão. Nenhum carro feito por ela sofre do mal da suspensão mole, algo que afeta muios Fiats por aí. É um universo composto por carros de suspensão dura, que vão desde um bom acerto entre conforto e estabilidade (Golf, Jetta) até uma suspensão realmente dura e desconfortável (Fox). O Polo fica no meio-termo, mais duro que o necessário porém sem incomodar. Já o Fox precisou “endurecer” dado seu centro de gravidade alto e a falta de refinamento de seu conjunto de suspensões.
Neste quesito em particular o novo Gol é mais semelhante ao G4 do que a Fox e Polo. O novo Gol utiliza o mesmo eixo de torção na suspensão traseira que o G4, enquanto a suspensão dianteira – ainda de conceito McPherson – vem da nova plataforma PQ25. Essa salada toda resultou num carro próximo ao Polo em comportamento, porém inferior. É mais duro e desconfortável, sem entregar mais em estabilidade. É, no entanto, melhor que o Fox. Num ranking de 0 a 10, sendo 0 o mais duro e 10 o melhor acerto entre conforto e estabilidade, o Fox seria 2, o Gol 5, o Polo 6, o Golf 8 e o Jetta 10.
Uma característica incômoda do G4 eram as “mergulhadas” da frente em freadas e empinadas em arrancadas, que mudavam o centro de gravidade do carro nessas situações e faziam com que o motorista perdesse o controle direcional. O Gol novo é satisfatório nesse quesito.
Uma pena aqui a VW não ter inovado de verdade e dotado o Gol de um comportamento irrepreensível, através de uma suspensão multilink na traseira. Evidente que é complicado pedir isso para a Volks, que enfrenta dificuldades na comercialização da linha Golf (a de verdade, não a aberração Golf 4,5 que temos aqui) lá fora por sua construção cara e elaborada (embora aqui no Brasil o Jetta vá bem obrigado, com margens de lucro estonteantes). Mas sempre é válido mencionarmos melhoras que poderiam ter acontecido. É importante não nos contentarmos com a média.
Estabilidade
O Gol é neutro em comportamento, com tendência a sair de frente. A plataforma e os pneus aro 14” estão muito além do que o motor 1.0 permite explorar, o que dá uma certa sensação de confiança. O carro é muito previsível como um todo, firme em curvas, bom de freio e de respostas. A direção não é tão boa em contar o que acontece com as rodas da frente, assim como Fox e Polo – o que mostra que a nova suspensão usada no Gol pode não ser tão boa assim.
É muito estável de maneira geral, mesmo com a motorização 1.6 permitindo maiores abusos. A maneira de chegar nisso, todavia, é através da velha receita de suspensão dura, e não refinamento.
O G4, apesar de tão duro quanto o novo Gol, era menos estável, permitindo muito mais inclinação da carroceria. Esse body roll é cobntrolado no carro novo, bem mais agradável.
Segurança passiva
Pontos por voltar a oferecer ABS e air-bag, mas de série mesmo, nem cinto retrátil atrás. O ponto de partida é o mesmo ruim do G4, sem iniciativas interessantes nesse sentido. Mesmo a oferta dos opcionais de segurança no novo Gol só vem complementar a iniciativa que começou no Punto e foi logo seguida pelo Polo, a de oferecer ABS e air bag duplo num pacote opcional com um preço mais palatável. Ainda assim, aparentemente estes itens só serão de série nos carros quando uma lei obrigar as montadoras a isso.
Custo-benefício
Aqui a porca torce o rabo. Para ficarmos exclusivamente na comparação deste post, o novo Gol tem cada centavo justificado diante do G4. A diferença entre ambos nas versões 1.0 básicas é de cerca de R$ 3 mil – mais de 10%, mas ainda pouco ao pensarmos o quanto o novo Gol evoluiu em termos de dirigibilidade e suspensão. Aqui não há dúvida que a Volkswagen evoluiu o carro de verdade e que o aumento dos preços é justificado.
Agora, o carro vale o que custa diante da concorrência? De uma maneira geral, o novo Gol está um patamar acima de Celta, Ka e Palios (tanto Fire quanto ELX), graças ao uso de uma plataforma pertencente a um segmento superior. É possível achar detalhes nos concorrentes que superem o Gol – o painel do Celta, a agilidade do Ka, o acabamento dos Palios – mas o Gol é consistentemente superior em diversos itens: comportamento, dirigibilidade, posição de dirigir, isolamento acústico, espaço interno.
Só que não podemos nos esquecer que o carro é bem pelado. A versão 1.0 completa, com A/C, direção, vidros e travas elétricas, supera os R$ 35 mil. Se a Peugeot cumprir a promessa de vender o 206,5 completo a esse preço, o novo Gol já terá um concorrente à altura. Além disso, este é o território dos carros 1.4, como o próprio 206,5, mas também Corsa e Palio, que já podem ser encontrados completos na faixa entre 37 e 38 mil.
Um pouco abaixo existe ainda o Corsa VHC, que usa uma plataforma no mínimo tão refinada quanto a do novo Gol e uma suspensão com um acerto melhor – embora peque no câmbio horroroso.
Por estas e por outras, a versão 1.0 parece um tanto deslocada. É melhor que os carros de entrada, mas é também mais caro. É tão bom quanto os compactos do nível superior, mas estes oferecem motorização 1.4. No final das contas, o Gol 1.0 é um carro superior com um motor de entrada.
Se puder arcar com a diferença – coisa pouca, R$ 3 mil – não titubeie e vá de Gol 1.6. Um motor que faz jus à plataforma, mais econômico (isso mesmo), muito mais agradável e que aí situa o Gol corretamente em relação aos seus rivais. A versão pelada, a R$ 32 mil, chega até a ser barata, embora não deva ser considerada de tão pobre que é. Mais equipado, o Gol 1.6 navega na faixa de 38 a 39 mil, onde é consistentemente superior a Corsa e Palio 1.4, embora mais caro.
Porém – tudo tem um porém – a Ford tem dois argumentos que congestionam a disputa. Um é o Focus 1.6 a R$ 40 mil com os mesmos equipamentos que o Gol. Em que valha toda a evolução do Gol, o Focus atual é ainda umas quatro vezes mais carro. Portanto, se o Gol ultrapassar a faixa dos R$ 37-38 mil e entrar no território do Focus, ele deixa de ser uma opção - pensando-se no carro e não no valor de revenda, evidentemente.
O outro argumento da Ford é o Ka. Sim, o Gol tem melhor conjunto e refinamento do que o compacto americano. Mas o Ka 1.0 completo custa menos de R$ 32 mil, diferença significativa para os R$ 35 mil pedidos no Gol (não me entendam mal. R$ 3 mil pagam o que o novo Gol evoluiu em relação ao G4, mas não sei se pagam a diferença para o Ka, que é muito melhor que o G4 de qualquer maneira). Além disso, por uma diferença ainda menor, R$ 1 mil, você leva para casa um Ka 1.6 completo – R$ 36 mil. Carro pior, mas com um motorzão e um belíssimo comportamento.
Fosse a Volkswagen um pouco menos gananciosa e precificado o Gol R$ 2 ou 3 mil reais mais barato, o carro seria imbatível. Caro desse jeito, deu argumentos para a concorrência. O carro é bom? É, bastante, uma grande evolução do G4. É melhor do que a concorrência? Em muitos aspectos sim, em outros não. Vale o que custa? Hm. Difícil essa.
A Volks remodelou seu modelo de entrada. Está difícil, mas por um momento aqui vou tentar esquecer a absoluta roubalheira e falta de caráter demonstrado pelas montadoras no Brasil e concentra-me-ei no veículo em questão.
Só no M4R você encontra o dossiê completo sobre o novo Gol. Aqui não vamos ficar medindo milímetros de distância nas chapas do carro (alguém aí acha que realmente a distância MEIO MILÍMETRO maior entre as peças plásticas do painel é que fazia o Gol G4 mal-acabado? Façam-me o favor), mas vamos entrar fundo para dizer se o carro é bom mesmo. E para isso, nada melhor do que compará-lo a referências bem conhecidas.
Novo Gol x Gol G4
A primeira coisa a ser feita é verificar como o Novo Gol se sai diante de seu antecessor, o G4. Como já foi notado pelo BCWS e até mesmo pelo Marcelo Moura em seu blog na 4R, esta é na verdade a segunda grande mudança no Gol. A primeira, ocorrida em 1994, realizou diversas mudanças na plataforma e alterou completamente a carroceria, embora mantendo alguns elementos do primeiro Gol, aquele de 1980, ainda intactos. Portanto, se formos ser realmente chatos com isso, este Gol é o primeiro Gol totalmente novo desde 1980.
Isso mostra como a diferença para o modelo anterior é gritante. Pode não parecer tanto externamente, mas basta rodar 100 metros com o carro novo que o Gol G4 se torna inadmissível. É tudo uma questão de comparação. O Gol G4 é competitivo diante de outro projeto dos anos 80, o Uno, ou diante do Celta, uma versão piorada do Corsa que chegou no Brasil em 94. Mas nem se compara perto da plataforma PQ24, de Polo e Fox – não só atual, mas ainda em uso na Europa.
O que isso quer dizer na prática? Quer dizer que o acionamento dos pedais do Novo Gol é macio, a direção é mais precisa, o freio tem ação progressiva, o carro não levanta a frente em acelerações, você não precisa usar a força bruta para fechar a porta ou puxar o freio de mão – como levantei na avaliação do Gol G4. O carro ficou bem mais civilizado.
Estilo
Talvez a melhor qualidade do Gol G4. Não que fosse bonito, longe disso – é inferior ao G3, por exemplo. Mas, num carro realmente ruim, era um dos poucos quesitos nos quais o carro conseguia tirar nota acima de 5.
O Novo Gol é estranho. A frente abusa de elementos que fazem ela parecer mais larga do que é, e conseguem um efeito indesejado justamente assim: o carro parece largo demais. A traseira é sem inspiração, e a lateral é estranha, por conta do caimento das portas posteriores. Feio não é, mas bonito está longe de ser.
Neste ponto, o G4 é mais proporcional, embora também não atraia pela beleza. Como estilo é uma questão subjetiva, vale deixar cada um escolher qual deles é o melhor. Uma coisa eu digo: na época de seu lançamento, em 99, o Gol G3 deixou uma impressão bem melhor que ambos.
Acabamento
Aqui a comparação é pior do que bater na mãe. Sério, até o Uno tem um acabamento competitivo em relação ao G4. Provavelmente o pior carro já lançado pela Volkswagen em toda sua história no Brasil nesse quesito, com exceção do Fusca “pé-de-boi” dos anos 60. É ridículo, tudo feito de plástico áspero, tudo mal encaixado, tudo barulhento. Uma caverna tem um acabamento melhor.
Para piorar esse cenário, só se o novo Gol fosse entregue na chapa. Felizmente, não é o caso. Nem cabe aqui questionar se o acabamento melhorou – não tinha como piorar – mas se foi significativo. Pois bem; não.
O plástico das portas é rugoso igual. Numa falha flagrante, o pino da porta continua saindo de um buraco no revestimento. A parte superior do painel é igualmente rígida, e o volante segue na mesma (o volante do G4 é bom). Ao menos agora as portas têm apliques em tecido – atenção, isto TAMBÉM é opcional – e a parte central do painel evoluiu em materiais. O tecido dos bancos é igualmente pobre, e o curvim reina em todas as partes menos importantes – atrás dos bancos e nas laterais.
Putz, então está na mesma? Em termos de qualidade dos plásticos e tecidos, bem próximo, com a ressalva de que o interior novo é bem mais atraente. Mas onde o Novo Gol dá um banho é no acionamento dos comandos. Vamos desde já desmistificar a história de que os comandos do ar-condicionado são os melhores já vistos num carro nacional, como a 4R falou. São nada. Estão na média, e abaixo do que é a referência nesse quesito, a dupla Civic e Fit. No entanto, média já supera os comandos do antigo, muito moles e com aparência frágil – como ainda são no Ka e no Celta. Já o acionamento das alavancas de seta e limpadores de pára-brisa são sim outro padrão: a resistência e o material pode ser comparado ao existente no Golf.
Posição de dirigir
O Gol G4 carregava um defeito congênito que molestou todos seus antecessores: a posição enviesada de dirigir, com pedais e volante desalinhados. O Novo Gol corrige esse problema, um dos piores do Gol antigo. Além disso, as alavancas estão à mão, os pedais têm acionamento macio e o banco manteve-se no bom nível do utilizado no Gol G4.
Um senão que não parece ter in comodado muita gente é o pedal do acelerador muito próximo do túnel central. Ruim para quem usa tênis largos.
Além disso, o Gol continua com o bom hábito de oferecer ajuste de altura do banco de série, o que ajuda bastante a encontrar a melhor posição ao volante. O ajuste de altura e distância do volante, no entanto, é opcional.
Instrumentos
Aqui vale o mesmo citado pelo acabamento. Dono de um dos piores painéis da indústria nacional, o Gol G4 privilegia o velocímetro, com um medidor de combustível de tamanho adequado e um conta-giros, quando disponível, absolutamente ridículo. Medidor de temperatura, então, esquece.
O novo corrige esse erro. Quando disponível, o conta-giros é grande e complementa o painel. Se ausente, a solução de colocar um ponteiro de combustível gigante – já utilizada numa versão do Gol G3 com iluminação em vermelho – junto com o medidor de temperatura não é das mais elegantes. Por incrível que pareça, a referência aqui é a GM, que oferece painel completo em todos os Celtas e Classics. Além disso, a iluminação volta a ser azul, reintegrando o Gol à linha VW – Gol G4 e Fox têm iluminação branca, o que faz parecerem filhos bastardos na família VW, assim como o Santana, que morreu com o painel iluminado em verde.
Agora, é preciso tomar cuidado. Às vezes podemos nos empolgar com a comparação com o Gol G4 e esquecer do contexto do mercado atual. Assim como no caso do acabamento, aqui o Gol apenas volta à média. O Celta tem instrumentos bonitos, completos e bem-iluminados, inclusive com um grafismo mais interessante do que o da linha Gol. Já Palio e Ka ficam bem atrás, com seus instrumentos planos e sem graça.
Itens de conveniência
Esta categoria aparentemente não foi apresentada ao Novo Gol. E nem ao G4. A versão 1.0 vem com ajuste de altura do banco do motorista, ajuste de altura dos cintos de segurança dianteiros, ambos os pára-sóis com espelho, e só – além, claro, das coisas que nem merecem ser citadas, como “supercalotas” ou ajuste interno dos retrovisores.
Tudo, absolutamente tudo, é opcional. E isso será um problema, como veremos mais adiante em custo-benefício.
Em se considerando a lista de opcionais, no entanto, alguns méritos. O primeiro é voltar a oferecer air bag e ABS, algo que a simplificação havia cortado do G4. Outra coisa é oferecer itens de carros superiores, como o computador de bordo I-System (com um grafismo superior, aliás, ao usado no resto da linha, incluindo-se aí Jetta e Passat) e acionamento do som por teclas no volante – algo que o Polo não tem.
Essa olhada mais profunda na lista de opcionais mostra como a versão básica é pelada: entre os itens opcionais, encontramos:
- aquecimento
- cobertura do freio de estacionamento
- cintos de segurança laterais traseiros retráteis
- alças de segurança no teto (3)
- luz de cortesia com interruptor nas portas
- desembaçador do vidro traseiro
- porta-objetos nas portas
- revestimento das portas em tecido
- conta-giros
- antena de teto
Com um preço sugerido (MSRP para os americanos) de R$ 28.990, tá tudo muito caro.
Espaço interno
Aqui o Gol G4 também tinha um forte, dado seu porte amplo para o segmento. A nova geração mantém o entreeixos e a maioria das dimensões externas, embora pudesse se pressupor um aumento da cabine com o motor agora colocado transversalmente. Não é o que acontece. No geral, o espaço é muito parecido com o da geração antiga, sem ganhos expressivos. O que é bom, se considerarmos que Ka, Celta e mesmo Palio são mais apertados. Quem nada de braçada aqui são Clio e Corsa, ambos com um entreeixos significativamente maior.
Porta-malas
Outro ponto forte do Gol G4 mantido no atual. Com 285 litros de capacidade, ele é 55 litros menor que o do Civic, a comparação que todos gostam de fazer quando se trata de porta-malas pequeno. É de longe o maior do segmento, e ainda por cima vem num formato bastante aproveitável. O único senão fica para o acesso, um tanto alto – aqui o novo Ka é referência.
Falando em 55 litros, esta é a capacidade do tanque de combustível, a mesma do Golf. Algo muito bem-vindo, em temos de álcool e maior consumo. Este tanque ajuda o motorista a não precisar reabastecer com freqüência, algo crítico na família Corsa e seus 42 litros de capacidade, por exemplo. Mesmo Polo e Fox sofrem com 45 litros apenas. Ao utilizar a mesma platafiorma e ampliar seu tanque em 10 litros, a engenharia da VW está de parabéns por ter pensado no consumidor.
Motor
Comparando aqui os 1.0. O antigo era muito bom, suave e com um empuxo em médias rotações que cativa qualquer um. As vibrações no carro, presentes, mais se devem à falta de qualquer cuidado com sua absorção do que da unidade em si.
O Novo Gol 1.0 é complicado. O motor piorou? Não. Segue suave e sobre de giro fácil. Só que seu comportamento se assemelha mais agora às unidades Fire e VHC da concorrência do que o antigo. Isso é mais uma característica do que um problema. As respostas boas em média rotação – 3 a 4 mil rpm – agora aparecem acima de 4 mil, fazendo com que se precise esticar mais as marchas para obter um desempenho razoável. Não é um grande problema, dado que o motor gosta de girar e vibra pouco. Mas o que era uma agradável qualidade do 1.0 anterior agora perdeu-se.
Difícil dizer se o motor novo é mais econômico. O antigo não era muito, embora o novo tenha tudo para ser, dadas as melhorias em admissão e taxa de compressão sofridas recentemente. A mudança de posicionamento não altera a percepção ou sensações do motorista em relação ao motor.
Desempenho
Carro 1.0 é aquela coisa. Por mais que seja bom para a categoria, sempre fará falta. Ao lado de algumas partes do acabamento, o que mais desabona o Novo Gol 1.0 é a falta de potência do motor. Como a plataforma é boa, e o carro bem acertado, ficamos o tempo todo com a impressão que aquele carro deveria ser mais forte – e não é. Motoristas de Golf 1.6 têm essa mesma sensação. Não combina com o refinamento dos pedais e do câmbio.
Na frieza dos números, é provável que o Gol novo ande igual ou até mais que o G4. No entano, graças ao empuxo maior em médias rotações, o G4 aparenta ser mais ágil.
De qualquer modo, se operado o câmbio corretamente, o Novo Gol 1.0 oferece um desempenho adequado para a categoria, ainda que insuficiente e destoante do conjunto.
Câmbio
Em termos de suavidade e precisão, Honda, VW e Ford produzem caixas de câmbio manual anos-luz à frente da concorrência. Entre elas, a Ford e a unidade utilizada em Ka, Fiesta, Eco e Focus 1.6 (melhor neste último) perde ligeiramente para o famoso MQ-200 da VW (que, por ser argentino, pronuncia-se Eme-cú) que perde ligeiramente para os sistemas usados em Fit e Civic pela Honda.
As diferenças são milimétricas. Os compradores dos carros equipados com estas caixas de câmbio terão um prazer toda vem em que trocarem de marcha, dada a precisão e a suavidade em seu acionamento. A MQ-200 vem aplicada aos motores transversais 1.6 da VW, em Golf, Polo e Fox, e também no Fox 1.0. Chegou agora a toda família Gol.
Aproveitando que a análise é minuciosa, o câmbio no Gol 1.0 não é tão bom quanto o encontrado no Polo e Golf 1.6 (esses sim equivalentes). É ligeiramente mais rústico nos engates.
Isto posto de lado, é um avanço monumental em relação ao câmbio antigo, de engates bastante duros. O prazer em dirigir se transformou – antes, cada troca de marcha era um martírio. A melhora aqui é muuito significativa.
As relações de marcha, no entanto, seguem parecidas. São curtas, como usual nos carros 1.0, em demasia nas marchas mais altas. O novo Gol 1.0 obriga mudanças de marcha freqüentes, tanto pelas relações curtas quanto pela ausência de fôlego do motor em baixas rotações. Não é tanto problema, graças a um pedal macio da embreagem e ao câmbio já elogiado anteriormente. O antigo requeria algo menos de mudanças devido ao motor mais disposto em regimes médios, mas novamente não compensava a dureza da alavanca.
Que, por sinal, piorou. Sou fã das alavancas pequenas e curtas, próximas ao console. O console agora está mais baixo, o que obrigou uma alavanca alta. Não é um Fiesta, mas agora o Gol entrou na mesma seara da concorrência nesse quesito.
Freios
O Gol G4 tinha a peculiaridade dos freios binários, com atuação excessiva do servo. O novo é bem mais gradual e permite a modulação da frenagem. Além disso, o sistema mantém a eficiência e consegue parar o novo Gol em distâncias pequenas, assim como no antigo. Assim como a plataforma e a suspensão, o conjunto de freios parece superdimensionado para a versão 1.0, o que é uma coisa boa. Freio nunca é demais.
Suspensão
É preciso dizer aqui que a Volkswagen é muito fiel a seus conceitos de suspensão. Nenhum carro feito por ela sofre do mal da suspensão mole, algo que afeta muios Fiats por aí. É um universo composto por carros de suspensão dura, que vão desde um bom acerto entre conforto e estabilidade (Golf, Jetta) até uma suspensão realmente dura e desconfortável (Fox). O Polo fica no meio-termo, mais duro que o necessário porém sem incomodar. Já o Fox precisou “endurecer” dado seu centro de gravidade alto e a falta de refinamento de seu conjunto de suspensões.
Neste quesito em particular o novo Gol é mais semelhante ao G4 do que a Fox e Polo. O novo Gol utiliza o mesmo eixo de torção na suspensão traseira que o G4, enquanto a suspensão dianteira – ainda de conceito McPherson – vem da nova plataforma PQ25. Essa salada toda resultou num carro próximo ao Polo em comportamento, porém inferior. É mais duro e desconfortável, sem entregar mais em estabilidade. É, no entanto, melhor que o Fox. Num ranking de 0 a 10, sendo 0 o mais duro e 10 o melhor acerto entre conforto e estabilidade, o Fox seria 2, o Gol 5, o Polo 6, o Golf 8 e o Jetta 10.
Uma característica incômoda do G4 eram as “mergulhadas” da frente em freadas e empinadas em arrancadas, que mudavam o centro de gravidade do carro nessas situações e faziam com que o motorista perdesse o controle direcional. O Gol novo é satisfatório nesse quesito.
Uma pena aqui a VW não ter inovado de verdade e dotado o Gol de um comportamento irrepreensível, através de uma suspensão multilink na traseira. Evidente que é complicado pedir isso para a Volks, que enfrenta dificuldades na comercialização da linha Golf (a de verdade, não a aberração Golf 4,5 que temos aqui) lá fora por sua construção cara e elaborada (embora aqui no Brasil o Jetta vá bem obrigado, com margens de lucro estonteantes). Mas sempre é válido mencionarmos melhoras que poderiam ter acontecido. É importante não nos contentarmos com a média.
Estabilidade
O Gol é neutro em comportamento, com tendência a sair de frente. A plataforma e os pneus aro 14” estão muito além do que o motor 1.0 permite explorar, o que dá uma certa sensação de confiança. O carro é muito previsível como um todo, firme em curvas, bom de freio e de respostas. A direção não é tão boa em contar o que acontece com as rodas da frente, assim como Fox e Polo – o que mostra que a nova suspensão usada no Gol pode não ser tão boa assim.
É muito estável de maneira geral, mesmo com a motorização 1.6 permitindo maiores abusos. A maneira de chegar nisso, todavia, é através da velha receita de suspensão dura, e não refinamento.
O G4, apesar de tão duro quanto o novo Gol, era menos estável, permitindo muito mais inclinação da carroceria. Esse body roll é cobntrolado no carro novo, bem mais agradável.
Segurança passiva
Pontos por voltar a oferecer ABS e air-bag, mas de série mesmo, nem cinto retrátil atrás. O ponto de partida é o mesmo ruim do G4, sem iniciativas interessantes nesse sentido. Mesmo a oferta dos opcionais de segurança no novo Gol só vem complementar a iniciativa que começou no Punto e foi logo seguida pelo Polo, a de oferecer ABS e air bag duplo num pacote opcional com um preço mais palatável. Ainda assim, aparentemente estes itens só serão de série nos carros quando uma lei obrigar as montadoras a isso.
Custo-benefício
Aqui a porca torce o rabo. Para ficarmos exclusivamente na comparação deste post, o novo Gol tem cada centavo justificado diante do G4. A diferença entre ambos nas versões 1.0 básicas é de cerca de R$ 3 mil – mais de 10%, mas ainda pouco ao pensarmos o quanto o novo Gol evoluiu em termos de dirigibilidade e suspensão. Aqui não há dúvida que a Volkswagen evoluiu o carro de verdade e que o aumento dos preços é justificado.
Agora, o carro vale o que custa diante da concorrência? De uma maneira geral, o novo Gol está um patamar acima de Celta, Ka e Palios (tanto Fire quanto ELX), graças ao uso de uma plataforma pertencente a um segmento superior. É possível achar detalhes nos concorrentes que superem o Gol – o painel do Celta, a agilidade do Ka, o acabamento dos Palios – mas o Gol é consistentemente superior em diversos itens: comportamento, dirigibilidade, posição de dirigir, isolamento acústico, espaço interno.
Só que não podemos nos esquecer que o carro é bem pelado. A versão 1.0 completa, com A/C, direção, vidros e travas elétricas, supera os R$ 35 mil. Se a Peugeot cumprir a promessa de vender o 206,5 completo a esse preço, o novo Gol já terá um concorrente à altura. Além disso, este é o território dos carros 1.4, como o próprio 206,5, mas também Corsa e Palio, que já podem ser encontrados completos na faixa entre 37 e 38 mil.
Um pouco abaixo existe ainda o Corsa VHC, que usa uma plataforma no mínimo tão refinada quanto a do novo Gol e uma suspensão com um acerto melhor – embora peque no câmbio horroroso.
Por estas e por outras, a versão 1.0 parece um tanto deslocada. É melhor que os carros de entrada, mas é também mais caro. É tão bom quanto os compactos do nível superior, mas estes oferecem motorização 1.4. No final das contas, o Gol 1.0 é um carro superior com um motor de entrada.
Se puder arcar com a diferença – coisa pouca, R$ 3 mil – não titubeie e vá de Gol 1.6. Um motor que faz jus à plataforma, mais econômico (isso mesmo), muito mais agradável e que aí situa o Gol corretamente em relação aos seus rivais. A versão pelada, a R$ 32 mil, chega até a ser barata, embora não deva ser considerada de tão pobre que é. Mais equipado, o Gol 1.6 navega na faixa de 38 a 39 mil, onde é consistentemente superior a Corsa e Palio 1.4, embora mais caro.
Porém – tudo tem um porém – a Ford tem dois argumentos que congestionam a disputa. Um é o Focus 1.6 a R$ 40 mil com os mesmos equipamentos que o Gol. Em que valha toda a evolução do Gol, o Focus atual é ainda umas quatro vezes mais carro. Portanto, se o Gol ultrapassar a faixa dos R$ 37-38 mil e entrar no território do Focus, ele deixa de ser uma opção - pensando-se no carro e não no valor de revenda, evidentemente.
O outro argumento da Ford é o Ka. Sim, o Gol tem melhor conjunto e refinamento do que o compacto americano. Mas o Ka 1.0 completo custa menos de R$ 32 mil, diferença significativa para os R$ 35 mil pedidos no Gol (não me entendam mal. R$ 3 mil pagam o que o novo Gol evoluiu em relação ao G4, mas não sei se pagam a diferença para o Ka, que é muito melhor que o G4 de qualquer maneira). Além disso, por uma diferença ainda menor, R$ 1 mil, você leva para casa um Ka 1.6 completo – R$ 36 mil. Carro pior, mas com um motorzão e um belíssimo comportamento.
Fosse a Volkswagen um pouco menos gananciosa e precificado o Gol R$ 2 ou 3 mil reais mais barato, o carro seria imbatível. Caro desse jeito, deu argumentos para a concorrência. O carro é bom? É, bastante, uma grande evolução do G4. É melhor do que a concorrência? Em muitos aspectos sim, em outros não. Vale o que custa? Hm. Difícil essa.
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claudio pr