Teste: Hyundai HB20 Comfort Style 1.0
O HB20 é um caso curioso na história
do M4R, do qual falamos muito, mas dirigir que é bom, só agora. Falamos dele aqui, no
lançamento, e depois fizemos uma espécie de “primeiras
impressões”, só que sem andar. Quem quiser ter a visão completa do M4R
sobre o carrinho deve revisitar esses artigos.
Pois bem, agora dirigimos, então
vamos para o teste completo.
O HB20 é uma interpretação do i20
para o mercado brasileiro, daí o nome: Hyundai Brasil 20. O i10 é um
subcompacto concorrente do Spark, que testamos recentemente, e o i20 é a aposta
entre os compactos antes dos hatches médios, categoria do i30. A Hyundai partiu
do i20 e fez adaptações para o mercado brasileiro.
Calma. Sabemos que a frase
“adaptações para o mercado brasileiro” causa calafrios. Normalmente ela vem
seguida de atitudes deploráveis, como acabamento mais simples, redução de
equipamentos, aumento desnecessário em rodas, e tudo o que estamos infelizmente
acostumados. Não foi o caso do HB20. A Hyundai pegou um Gol, desmontou,
analisou de cima a baixo como só os pacientes orientais conseguem fazer, levou
este aprendizado para aplicar na base do i20 e chegou num resultado descrito em
uma palavra: sensacional.
Falamos diversas vezes aqui no M4R
que quem chega depois tem obrigação de fazer melhor, e bem melhor, de forma a manter-se competitivo mesmo após as alterações e face-lift da concorrência que fatalmente virão. Exemplo positivo: o novo
Golf, que demorou anos-luz para substituir o 4,5, mas quando veio arregaçou o
mercado e envelheceu a concorrência toda em cinco anos O Golf é competitivo frente ao novo Cruze que nem lançado foi.. Exemplo negativo: o
falecido Vectra, que mirou no Corolla da época e menos de um ano depois apanhou
do Civic renovado e depois mais ainda do novo Corolla.
O HB20 é um exemplo positivo. Difícil
falar isso agora que ele já é figurinha carimbada, mas lembramos que na época
do lançamento os compradores enfrentaram longa espera para ter o seu.
Um dos principais motivos foi o
design, que aplicou de maneira correta e comedida o conceito de linhas fluidas
num modelo compacto, levando inclusive em consideração certo conservadorismo do
consumidor brasileiro médio. Basta olhar as linhas do i10 e i20 para ver como a
Hyundai poderia ter sido bem mais ousada. O HB20 tem o mérito de ser facilmente
distinguido da concorrência (diferentemente de Onix e Ka que parecem o Gol),
com personalidade, modernidade, num desenho equilibrado e balanceado. E vamos
além: é desenho que mostra preocupação com curvas e arestas que em outros
carros são eliminados por questão de preço. Para ser melhor só se eliminassem a
moldura de metal ao redor das janelas das portas, fica feio nos carros de cor
clara.
Dentro a Hyundai preparou um interior
sem nenhuma grande novidade, mas uma execução de dar gosto. Nesta categoria não
vamos ver materiais macios, então a sensação de qualidade superior vem da
precisão nos encaixes e do uso de plásticos de texturas variadas, que o HB20
combina com maestria. A versão avaliada, Comfort Style, tem inclusive apliques
cromados em partes do interior que conferem elegância e distinção. Aqui a dica
de melhoria seria fugir da mesmice monocromática do preto e adotar ao menos
cinza claro em alguns lugares, algo que o Onix faz bem.
O cluster oferece boa visibilidade
para velocímetro e conta-giros, e no centro um pequeno display digital mostra
temperatura e nível de combustível. Preferimos ponteiros, mas a solução não
compromete. Logo abaixo o display traz os dados do computador de bordo e dos
hodômetros. A iluminação é numa espécie de branco azulado, seria mais elegante
se fosse somente em branco, mas como está não é ruim.
Combina com o sistema de som simples
(impressionante como as grandes telas mudaram o ambiente dos carros. Hoje os
carros sem esse tipo de sistema multimídia imediatamente ficam com cara de
“anos 90”), porém funcional ao trazer bluetooth, entrada USB, CD e o básico que
o motorista precisa. Comandos do telefone e do volume se repetem no volante,
detalhe simpático. Vamos lembrar que as versões de entrada de carros caros como
Corolla e Fit não têm esses comandos...
A acomodação no banco (de tecido simples
e áspero) é muito boa. Vale o que sempre dissemos: banco bom não precisa de um
milhão de regulagens. O volante é ajustável em altura e profundidade (e pensar
que tem gente economizando nesses ajustes... né Duster?) e rapidamente
encontramos uma posição de dirigir das melhores já vistas em carros de tração
dianteira, com espaço suficiente para as pernas e um volante mais perto do
peito, como gostamos. Ajuda muito os pedais leves e de curso curto, um leve
comando do pé esquerdo e a embreagem já chegou no final do curso, uma delícia.
Bem diferente das embreagens da Volkswagen que para chegar no final do curso é
necessário tirar visto e cruzar três fronteiras.
E vamos aproveitar então para falar
logo do ponto alto do carro, que nos surpreendeu: a tocada. No HB20 temos um
volante de diâmetro e espessura corretos, com leveza na cidade e precisão na
estrada, apesar de ser um sistema somente hidráulico. Temos um câmbio que entra
para o panteão dos grandes manuais, junto com Honda e Volskwagen. Uma alavanca
baixinha e de curso justo, dá pra mudar marchas usando somente o pulso, lembra
a tocada dos Subaru Impreza STI de antigamente (sem sacanagem, é bom mesmo). Os
pedais excelentes como já falamos. O HB20 é um carro de prazer ao motorista,
sorriso no rosto, a engenharia aplicada à dirigibilidade é sensacional mesmo. É
daqueles carros que dá vontade de acordar mais cedo e dar uma volta com ele,
nem precisa ser rápido, só para sentir essa excelência mecânica funcionando.
Se engana quem pensa que essa mágica
é quebrada pelo motor 1.0. Temos aqui um 1.0 dos modernos, três cilindros,
quatro válvulas por cilindro, 80 cv a 6 mil rpm e 10,2 m.kgf a 5 mil rpm, bloco
e cabeçote de alumínio, duplo comando no cabeçote, comando de válvulas
variável. Empurra muito bem o carro nas situações da cidade. Claro que na
aceleração em alta velocidade para ultrapassar vai faltar motor, especialmente
com o carro carregado, mas acreditamos que se você se vê com frequência nessa
situação já optou por um carro com motor maior. E é daqueles motores que dá
gosto explorar, pois sobe liso de giros e em alta tem um ronco muito gostoso.
Não vamos dizer que parece o do 911 como já falaram por aí, mas vamos dizer que
é mais agradável que muito 4 cilindros por aí.
Em termos de equipamentos a versão
Comfort Style entrega praticamente tudo o que se precisa, com ar, direção,
trio, alarme, banco (ou melhor, assento) do motorista com regulagem de altura,
chave canivete (a chave é muito bonita, com detalhes em cromado, algo que não
costumamos prestar atenção, mas que reparamos desta vez pela qualidade),
computador de bordo, Bluetooth, faróis de neblina dianteiros e roda de liga
leve. E vamos além: a versão Comfort, de entrada, fica devendo praticamente só
o trio elétrico: por 6 mil reais a menos é uma boa opção. Uma pena os 1.0 não
poderem ser equipados com a boa central multimídia das versões superiores, ao
menos de fábrica. E um revestimento em couro de fábrica de bancos e volante
seria bem-vindo, para evitar a aspereza do volante de plástico e do tecido original.
O espaço interno está na média.
Motoristas mais altos acabam comprometendo o espaço para pernas de quem vai
atrás, por isso quem roda com quatro adultos com frequência deve procurar algo
maior como um Sandero. Mas na frente é muito bom e atrás é mais do que adequado
para crianças e jovens.
A suspensão não foge ao esquema
tradicional de eixo de torção atrás, com calibração bastante adequada. Passamos
por um asfalto bastante irregular e não ouvimos nenhum ruído inesperado, e as
reações ao volante e de conforto eram as que se esperava. Não há dureza
excessiva e nem maciez que deixe o carro molenga. E sentimos segurança nas
velocidades mais altas, com o carro bem plantado no chão.
O porta-malas leva 300 litros, na
média do segmento, e tem boa aparência, com tudo forrado, e bom formato,
bastante prático.
Saímos da avaliação animados,
empolgados mesmo, mensando inclusive no HB20 como “driver’s car”, o carro de
prazer ao motorista, mesmo sendo 1.0. É a mesma filosofia do Subaru BRX:
limites baixos, leve, motor pequeno, para prazer em baixas velocidades. O HB20
não foi planejado para isso, mas ao final torna-se um brinquedo interessante.
O preço está inserido na média dos
compactos, e a versão de entrada é tentadora por R$ 38 mil – que vem com
Bluetooth segundo o site da Hyundai. Se não vier, não recomendamos. A avaliada,
que tem melhor aspecto interno e externo, sai por R$ 45 mil, algo já mais
salgado. Temos dificuldade filosófica em ver carros 1.0 por R$ 50 mil, mas
aparentemente é a realidade brasileira.
Ao final, passado o susto dos preços,
temos no HB20 um carro surpreendentemente bom, que deve ser considerado por
quem gosta de dirigir e pensa num compacto seja como carro para uso geral ou
mesmo como city car.
Para mais fotos, visite o excelente álbum de UOL carros aqui.
Estilo
9 – Muito bom, talvez o melhor da categoria.
Imagem
– Jovem, para ambos os sexos, mas não discrimina os mais velhos. Carros dessa
categoria devem combinar com todos.
Acabamento
7 – Não há plásticos macios e o tecido é ruim, mas as montagens e texturas
agradam.
Posição
de dirigir 10 – Das melhores já vistas.
Instrumentos
8 – Poderia ter mostradores analógicos para tudo e o velocímetro em escala
maior. Ainda assim, agrada bastante. É painel de carro maduro, diferentemente
do que vemos no up! por exemplo.
Itens
de conveniência 8 – Vem com quase tudo de série desde a versão básica, mas
atrelar trio elétrico a versões superiores foi sacanagem.
Espaço
interno 7 – Na média da categoria, atrás é razoável para cabeças e pernas.
Porta-malas
8 – Adequado, bem revestido.
Motor
9 – Bastante moderno, girador, ronco gostoso. Continua sendo um 1.0 aspirado,
mas dentro destas limitações, é uma delícia.
Desempenho
7 – Vai muito bem na cidade, na estrada sofre um tanto.
Câmbio
10 – Exemplo de maciez, precisão, manopla pequena.
Freios
8 – Discos na frente e tambores atrás são suficientes para o peso e proposta,
com o ABS obrigatório.
Suspensão
9 – Gostamos do balanço entre conforto e estabilidade. Os pneus têm boa altura,
o que ajuda.
Estabilidade
7 – Não levamos ao limite, mas o comportamento é bom, neturo, mais do que
suficiente para o motor e a proposta.
Segurança
passiva 8 – Tem os airbags de série, fixação isofix e top tether para cadeirias
infantis, bem adequado.
Custo-benefício
9 – Achamos caro, mas é mais culpa do mercado do que da Hyundai. Fora isso,
gostamos bastante e é a escolha do entusiasta no segmento.
Comentários
Apanhou do Civic renovado (veio depois) e mais ainda do novo Corolla (veio depois também). Não teriam esses dois a obrigação de fazer melhor também, segundo a premissa no seu texto? Nenhuma surpresa, então...