Teste: Audi A3 Sedan 1.8T Ambition
Considere o A3 Sedan a porta de
entrada para o mundo premium das marcas automotivas. De todas que compõem este
seleto grupo – Audi, BMW, Jaguar, Land Rover, Mercedes, Volvo, e as menos
representadas no Brasil como Alfa Romeo e Cadillac – o A3 Sedan é a proposta
válida mais acessível.
Bom, depois de um parágrafo desses
algumas explicações são necessárias. Falamos em proposta válida pois as poucas
opções menos caras têm restrições como usabilidade de carros: o Audi A1 é o
melhor exemplo: é um carro muito interessante, mas requer abrir mão de espaço
interno e porta-malas. Não colocamos a MINI na lista pois verdadeiramente
“premium” eles não são, uma pegada muito mais design e esportividade. E depois,
os MINI realmente interessantes (leia-se potentes) são mais caros que o A3
Sedan. E o A3 Hatch custa a mesma coisa.
E aí cabe outra pergunta: porque BMW,
Mercedes, Jaguar e Volvo não habitam essa faixa? A Volvo tinha uma proposta
assaz interessante com o C30, o hatch derivado do Focus Mk2 com aquela porta
traseira de vidro inesquecível. Aí depois optaram por consolidar tudo no meio
hatch meio perua V40, que é um carro bacana porém mais caro, circulando na
faixa dos R$ 120 mil. A Jaguar fazia parte da Ford até pouco tempo, e os chefes
americanos optaram por deixa-la somente com os sedãs grandes de alto luxo e os
esportivos, possivelmente para não gerar concorrência com os Ford mais caros. Agora
que está com os indianos da Tata a coisa mudou de figura e já chegou ao mercado
o XE, uma sinalização da Jaguar às camadas “menos favorecidas”. Mas para chegar
na faixa que estamos falando seria necessário dar ainda mais um passo na
direção dos carros mais baratos. Cabe ainda lembrar que Volvo e Jaguar estão
agora nas mãos de grupos controladores chineses e indianos, o que levanta
dúvidas quanto à real robustez e refinamento destes automóveis nas peças e
partes não percebidas pelo motorista. Na Volvo já temos relatos de peças menos
robustas que têm levado a quebras e problemas de acabamento impensáveis em
Volvos de 5-10 anos atrás. A ver como isso progride.
A BMW caminha nesta direção a passos
muito lentos. Vai sair em breve um BMW de tração dianteira – heresia suprema –
que deve brigar nessa faixa. Hoje o BMW mais acessível é a série 1, com aquela
dianteira caolha mais feia do que bater na mãe. Aparentemente o fantasma do
Chris Bangle retornou momentaneamente. E a Mercedes honestamente perdeu a mão
nos carros de entrada, tanto o A quanto o B são seriamente sem graça, e
juntamente com a C sofrem do mal do absolutamente pavoroso “iPad” no painel,
como que alguém em sã consciência aprova um trem daqueles?
A Audi já foi certeira. Aproveitou-se
da irmandade com a VW para utilizar a platafirma MQB como base, reduziu as
proporções do A4 e rapidamente saiu com um sedãzinho muito interessante e
inclusive mais bonito do que o irmão maior. Encaixou nele powertrains já
existentes e rapidamente ocupou um segmento no qual as outras patinam.
O design segue o padrão Audi,
indiscutivelmente moderno, e no A3 tem um dos melhores representantes em termos
de proporção das formas e elegância dos detalhes como as lanternas em LED. Não
tem a beleza arrebatadora de um A5 cupê, nem é o propósito, mas é dos sedãs
mais bonitos. O que pode ser incômodo para alguns é o tal do “family face” que
faz todos os Audis meio parecidos e confunde A3 com A4 com A5, especialmente na
dianteira.
O interior é típico Audi, que tem
seguido um padrão extremamente minimalista, a ponto de a tela ser retrátil e os
botões no painel limitados a pouco mais de 10 (conte os botões no painel de um
Fiesta e você vai entender como isso é pouco). Ajudou o fato de a Audi já ter o
A3 Hatch na prateleira, foi só estender o acabamento interno. E, se a Audi é
conhecida na Europa por ter padrões de acabamento interno melhores que a
Mercedes, podemos começar a entender quão refinado é o habitáculo. Os plásticos
são todos macios ao toque, a textura é agradável, a iluminação indireta é muito
elegante e os botões têm aquela solidez de acionamento que muito apreciamos.
Isto posto, os plásticos da seção
inferior das portas são duros (maciez ali só nos série 5 / A5 em diante) e o
porta-mapas não tem revestimento, algo que seria de se esperar dado que o Golf
tem.
A lista de equipamentos merece uma
olhada extremamente atenta por parte do futuro comprador. Isto porque a Audi
atrela itens a versões de forma a, se não obrigar, incentivar fortemente o
interessado a fazer um upgrade em sua compra. Conhecemos mais de uma história
de uma pessoa interessada no A3 Sedan 1.4 básico e que fechou negócio no 1.8
mais completo – isso quando não levou um A4...
Vejamos: o A3 1.4 “de entrada”,
aquele que custa 99 mil na propaganda e 89 mil na vida real, vem com bancos em
tecido, roda 16”, não tem Bluetooth, nem paddle shift, nem cruise control. O
upgrade então é para a versão Attaction, no qual nancos em couro e cruise
control podem ser adicionados como opcionais, o Bluetooth é de série e a roda
continua 16”. O 1.8 “de entrada” vem com Bluetooth de série, cruise control e
sensor de estacionamento traseiro opcionais. O único realmente completo é o 1.8
Ambition, que tem ar bizona, teto solar, bancos esportivos em couro, sensor de
estacionamento traseiro, Bluetooth... e o cruise control não é nem opcional!
Claramente quem definiu o “pacote Brasil” para a Audi estava completamente
desorientado e por isso mesmo os interessados precisam verificar bem quais são
os itens que lhe agradam. Se cruise control for fundamental você não pode
comprar o topo de linha! Vale a pena clicar em A3 > Pacote Brasil no site da
Audi ou então entrar aqui
para ver as definições das quais estamos falando.
Aí cria-se aberrações do tipo um A3
1.4 com faróis de LED e xenônio, sistema start-stop, e sem Bluetooth, que um
Agile tem.
Isto posto, é bem provável que a
lista se racionalize com a fabricação no Brasil. Pelo menos esperamos...
O espaço interno é adequado,
lembrando que este é um sedã compacto. O comprimento total é reduzido, 4,45
metros, mas o entre-eixos é razoável com 2,63m. A altura que é
supreendentemente baixa, 1,41m. Pegando um Corolla para comparação, um carro
com bom espaço para os ocupantes, temos 4,62m de comprimento (17 cm a mais),
2,7m de entre-eixos (7 cm a mais) e 1,47m de altura, (6 cm a mais). Ou seja: o
espaço na frente é bom, mas rola um certo aperto para pernas de quem vai atrás.
E ocupantes com mais de 1,80m no banco traseiro vão sofrer: o teto é baixo e
obriga a deslocar o quadril para frente.
E realmente chama a atenção como o A3
é “baixinho”, chega a atrapalhar o acesso do motorista e leva a encontros
inconvenientes do para-choque dianteiro com valetas e rampas de garagem.
Uma vez acomodado, o motorista conta
com amplas opções de regulagem de altura e distância do volante (ajuste manual)
e do banco elétrico, inclusive lombar. Achamos o ajuste em distância do volante
mais amplo do que normalmente encontrado nos carros do Grupo VW, do que
gostamos bastante: permitiu adotarmos uma posição bem esportiva com as pernas
menos flexionadas e o volante mais próximo ao corpo.
A ergonomia é excelente, com todos os
comandos à mão, instintivamente no lugar onde procuraríamos. Nota especial para
os comandos das funções que aparecem na tela: não é feito na própria tela
(touch screen) como na maioria dos carros, mas sim por meio de um comando
giratório no console central, que é facilmente acionado e muito rápido de
mexer. Além disso, impede que a tela se suje com as marcas de dedos, algo muito
comum. O único senão fica para o comando de “voltar”, que é uma tecla separada
ao lado do botão giratório: seria melhor se a opção de “voltar” aparecesse nos
menus para ser acionada com a mesma tecla giratória.
O volante é revestido em couro de
ótimo aspecto e toque, e tanto a espessura do aro quanto o diâmetro são os
ideais. Comandos do som e dos menus do computador de bordo ficam nele. Os
bancos nesta versão são especiais, mais esportivos, com um apoio lateral
bastante presente. Senão fica para o pedal do acelerador, que poderia ser
pivotado no assoalho, e para o interior todo em preto: bonito, mas gostaríamos
de ver opção pelo cinza claro e pelo bege.
O cluster é típico do Grupo VW, com
iluminação em branco e o detalhe bastante esportivo de os ponteiros em repouso
apontarem para baixo. Detalhe que apreciamos é a escala maior no velocímetro
até 100 km/h. Os marcadores de temperatura e combustível são por LEDs brancos.
No centro está uma tela de boa
definição para o computador de bordo, horário, velocímetro digital, multimídia,
entre outros.
A lista de equipamentos, como
dissemos, é farta e estranha. A versão testada, 1.8 Ambition, vem com sete
airbags, ABS, controle de estabilidade e tração, ar bizona, faróis bixenônio,
faróis de neblina dianteiros e traseiros, banco elétrico do motorista (e lombar
do passageiro), computador de bordo, rodas 17”, sensor de chuva e luminosidade,
start-stop, ajuste do modo de condução, retrovisor fotocrômico, teto solar
elétrico panorâmico, Bluetooth e som com entrada USB e CD. A parte estranha:
cruise control simplesmente não está disponível. E o GPS é cobrado à parte por
valores superiores a R$ 10.000, por estar vinculado a uma espécie de “mousepad”
que reconhece entrada de caracteres desenhados com o dedo. Não tem o menor
cabimento; bem que podia ter um GPS comum de série.
O espaço interno é talvez o ponto
mais fraco do carro. Vai bem na frente, mas o espaço para cabeças atrás é
crítico. O espaço para pernas também não é grande coisa, e a situação é ainda
mais crítica nesta versão com os bancos esportivos dianteiros, que são mais
grossos que os tradicionais. Sem dúvida não é carro para quem transporta
adultos com frequência no banco traseiro. O porta-malas é razoável com 425
litros e as dobradiças pescoço de ganso têm encaixe reservado.
Empurrando o conjunto está um moderno
1.8 litro que apesar do bloco em ferro fundido tem tecnologias como quatro
válvulas por cilindro com variação de abertura e levantamento e injeções
indireta (para maior economia em cruzeiro) e direta (para maior desempenho)
combinadas. A potência declarada é de 180 cv de 5.100 a 6.200 rpm, chegando a
bem mais na vida real. O torque é de 25,5 m.kgf começando em 1.250 rpm até
5.000. O desempenho de acordo com a Audi é de 0-100 km/h em 7,3s e máxima de
235 km/h, empurrando 1.295 kg, razoavelmente leve para os padrões atuais.
Nota-se que é muito mais forte em
comparação a outro carro com potência parecida e câmbio de dupla embreagem, o
Focus. A versão sedã é consideravelmente mais pesada – 1.414 kg – e acelera de
0 a 100 km/h em 9,5s com o motor de 178 cv. Por aí dá pra perceber como a
potência declarada do Audi é isso mesmo, declarada, como em todos os motores
turbo do grupo VW.
Isto significa uma excelente
disposição no uso diário, com ampla reserva de potência e torque a qualquer
momento. Mesmo na estrada: a 120 km/h em sétima marcha o motor gira a
tranquilos 2.200 rpm e uma solicitação do acelerador é prontamente respondida
com aumento da velocidade sem necessidade de redução de marchas. Claro que um
kick down leva a até mais de uma redução e aí máximo desempenho. É daqueles
carros que chega a 180 km/h sem esforço algum.
Onde pode haver algum incômodo é ao
transpor valetas em baixa velocidade, sem a parada total do carro. Assim como
no Golf, o câmbio mantém a segunda marcha e existe uma leve hesitação antes do
turbo entrar. È mais questão do motorista estar mal acostumado com as respostas
rápidas do que propriamente baixa velocidade, mas pode incomodar quem enfrenta
muito essa situação no dia-a-dia.
O câmbio é o DSG de 7 marchas já
visto no Golf, com trocas instantâneas e incrivelmente suaves. Parte do ótimo
desempenho do A3 nas acelerações está nas relações mais curtas: a sétima marcha
é similar à sexta dos outros câmbios de dupla embreagem, o que leva a menor
redução de giros entre as trocas e portanto maior desempenho em aceleração. Em
condução tranquila, o Audi já está em 5ª marcha a 50 km/h, troca que os outros
câmbios só fazem a 60 km/h na mesma condição. Isso não quer dizer muita coisa
quando se está em D, e até favorece na questão das valetas mencionada acima,
mas deixa a possibilidade de trocas manuais (por aletas atrás do volante e pela
manopla) algo confusa: são muitas marchas.
O sistema de seleção de condução tem
as opções Efficiency, Comfort, Dynamic, Auto e Individual. A primeira busca a
maior economia de combustível possível, usando inclusive o sistema de
roda-livre em descidas. O Dynamic é o esportivo, que coloca o câmbio em S, endurece
o volante e deixa o acelerador mais abrupto. O Auto adapta-se ao modo de
conduzir do motorista, ao passo que o individual permite programar os modos de
forma independente. Sobre os ajustes, repetimos o que dissemos no teste da BMW
320i:
O pessoal que faz
esses ajustes precisa entender que se é pra mudar em 0,0001 o comportamento do
carro, nem precisa; agora, se puder mudar de suspensão de Landau para os dias
de passeio para suspensão de Lotus Elise para os momentos de acelerar, aí sim
começamos a ver vantagem. Do jeito que está é mais para contar pros amigos do
que qualquer outra coisa.
No geral o guiar do A3 é muito
gostoso, pelo conjunto de soluções modernas e bem-executadas, como a direção
com peso correto, o câmbio de trocas suaves, a pronta resposta do motor, o
acabamento e ergonomia excelentes, e com grande destaque o baixíssimo nível de
ruído interno. Mal se ouve o trânsito ao redor, bem como o motor abaixo de 4
mil giros – acima disso ele ganha um ronco muito agradável, esportivo até, que
gostamos.
A suspensão é McPherson na dianteira
e multilink na traseira, com a calibração que se espera de um carro alemão com
este nível de desempenho: é muito bem acertada, tendendo algo para o duro.
Longe de ser desconfortável em pisos irregulares, no entanto: a preocupação
nesse caso fica muito mais em não bater a frente ou o fundo do carro no chão,
que são bem baixos.
Os freios são altamente competentes e
a modulação do pedal é exemplar.
Vale a compra? Aí depende do gosto e
do bolso do comprador. O preço de tabela começou em R$ 116 mil no lançamento em
janeiro de 2014, subiu para R$ 130 mil pouco depois e agora, embora se mantenha
“oficialmente” neste patamar, as negociações e descontos obtidos nas revendas
permitem a redução para algo próximo do valor original.
Nesta faixa de preço, com este
conceito, O A3 Sedan não tem concorrentes. Como dissemos no começo, as outras
marcas premium ainda não chegaram lá. O único com valor parecido é a BMW 120i,
que oferece a tração traseira e motor semelhante, mas menos equipamentos e
porta-malas. E aquela frente horrorosa.
Então o que fecha a decisão do
comprador é a vontade de entrar no clube premium, e pela porta da frente, com
um belo automóvel.
Quem considerar as ofertas da
concorrência das marcas de grande volume poderá optar pelo VW Jetta TSI, que é
o mais próximo deste A3 em termos de proposta. É mais forte, mais equipado,
razoavelmente mais barato, igualmente bom de dirigir, porém menos refinado.
Outra opção váida é o Fusion Titanium, que é muito bom em desempenho, bem maior
e espaçoso, e superior em equipamentos.
Mas nenhum deles tem chance de ser
estacionado na porta do restaurante badalado pelo manobrista.
Estilo
9 – Não é um cupê de babar, mas dentre o que se pode fazer num carro três
volumes, é dos mais bonitos.
Imagem
– Não é para senhores vetustos, e não é para os muito jovens.
Acabamento
9 – Alto padrão, plásticos emborrachados, ótima montagem, detalhes charmosos
como LEDs nas maçanetas internas e no espaço para os pés. Vacilaram com o
carpete nos porta-mapas.
Posição
de dirigir 10 – Excelente, abarca diversos tipos físicos.
Instrumentos
10 – Painel completo, bonito, funcional, é exemplo.
Itens
de conveniência 8 – Consideramos os faróis bixenônio ou a falta de cruise control? Ficamos com 8, pois é um carro bem equipado.
Espaço
interno 6 – Tranquilo na frente, mas atrás fica mais difícil.
Porta-malas
8 – Bom, bem revestido, de bom formato.
Motor
10 – Uma joia: forte, econômico, e ainda por cima ronco instigante.
Desempenho
9 – É muito difícil achar quem ande na frente. Só os turbinados.
Câmbio
10 – Trocas imediatas, suaves. A 7ª poderia ser algo mais longa.
Freios
10 – Boa “mordida”, adequados ao desempenho.
Suspensão
9 – Calibração esperada de um alemão com esse desempenho.
Estabilidade
10 – O limite é muito superior ao do motorista comum. O testado veio com
Pirelli P7, que achamos duros: um com Michelin deve ficar melhor.
Segurança
passiva 10 – Sete airbags, fixações para cadeiras de criança, muito bom.
Custo-benefício
8 – Não é o foco de quem compra Audi, pois os critérios objetivos de
desempenho, equipamentos ou espaço podem ser atendidos com carros mais baratos.
No entanto, se considerarmos o preço para entrada no mundo Premium, aí a coisa
muda de figura.
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