Teste: Ferrari 458 Italia



O melhor esportivo de todos os tempos. 

E quem fala não é o M4R, mas sim diversas revistas e programas especializados, a começar pelo próprio Top Gear (antes do Jeremy Clarkson ficar maluco pelo Lexus LFA).

A 458 é a mais recente numa linhagem de Ferraris que ficam bem na porta dos restaurantes badalados e também nas pistas. Diz a lenda que Luca di Montezemolo, atual presidente da Ferrari, possuía uma 348 antes de ocupar o cargo. Aí foi apostar uma corrida num sinal contra um esportivo japonês de ¼ do preço e perdeu vergonhosamente. Então, ao ser chamado para presidir a empresa, foi cuidar para que isto nunca mais acontecesse. E, dizem, nunca mais aconteceu após a 355.

Fato é que a 355 de 1995 iniciou uma grande evolução dos Ferraris de 8 cilindros, dando saltos quânticos em melhorias de acabamento e comportamento. Dali para a 360 Modena, depois para a 430 e culminando na atual 458, tão boa que homenageia o país. E as Ferraris que homenageiam gente grande (como a Enzo de 2002) costumam ser coisa séria.

A 458 deixou de ser a opção “de entrada” da Ferrari com o lançamento da California, conversível de motor V8 e comportamento suave, dedicada aos americanos, como o próprio nome diz. A linha abriga ainda a FF, uma espécie de sucessora das Ferraris de 4 lugares, com tração nas quatro rodas e um desenho traseiro no mínimo polêmico, a F12, sucessora das Ferraris dois lugares de motor dianteiro, representantes da marca na categoria dos grã-turismo, e o superesportivo La Ferrari com quase 1000 cavalos.

É a que está há mais tempo à venda e não deve demorar muito até que a Ferrari apresente sua sucessora. Até lá, no entanto, os sortudos que entraram em contato com esta macchina têm à disposição um esportivo simplesmente perfeito.

A perfeição começa pelo desenho, esculpido pela Pininfarina e sem apelar para as polêmicas das Ferraris mais recentes. É equilibrada, agressiva e suave na medida certa, com vincos e reentrâncias que se justificam pelo fluxo de ar. Forma aliada à função. É uma das poucas Ferraris que fica linda em qualquer cor, não só no Rosso Corsa e Giallo Modena característicos. A Ferrari ressalta as atribuições dos adereços, como as saídas de ar próximas as faróis dianteiros, para extrair ar quente dos freios, e a grande dianteira móvel que atua como aerofólio em altas velocidades.




O interior é igualmente de tirar o fôlego, combinando carpete e couro de alta qualidade, com fibra de carbono e metais aplicados com bom gosto. É bem executado e luxuoso até, com um couro de ótima qualidade nos bancos e volantes, um carpete macio – lembrando, claro, que a missão da 458 não é ser luxuosa, atributo mais bem executado por Bentleys.

O espaço é surpreendentemente bom, em largura e altura, e os dois ocupantes vão muito confortáveis. Comandos à mão e pedais e volante com o peso certo, que não incomodariam num uso urbano. Obviamente ajuda muito o fato do câmbio ser automatizado e dispensar a embreagem. Em velocidades baixas aliás a 458 é muito dócil e tranquila de dirigir. A maior preocupação ficaria mesmo com os amigos do alheio.

O cluster é o tradicional das Ferraris mais recentes, com o conta-giros centralizado, dividindo o espaço com duas telas cuja informação pode ser programada. No teste não tivemos oportunidade de mudar as configurações, que na esquerda simulavam mostradores analógicos de temperatura de óleo e água e, na esquerda, um velocímetro digital.



Andando forte, é um carro que reclassifica as leis da física. E com uma diferença importante em relação à Gallardo cujo teste publicamos há pouco: a 458 faz tudo sem esforço. Um leigo poderia imaginar a Gallardo sendo mais dócil e mais fácil de andar rápido na pista, pois afinal a potência é parecida, mas na Lambo vai para as quatro rodas. E, na verdade, a Lambo é quem exige mais do piloto. É mais dura, ríspida, pesada, abrupta. A 458 é como uma sinfonia: tudo leve, tudo no lugar, tudo executado com perfeição. Não é à toa que o mundo elogia esse carro. Com uma condução limpa e surpreendentemente fácil, a 458 atingia ou mesmo superava os tempos de volta obtidos com suor dentro da Gallardo. 

Assim como a Gallardo, o atributo mais impressionante da 458 é a aderência em curvas. É possível vencê-las numa velocidade muito superior ao que seria considerado viável pelo motorista comum. Um cérebro que não está acostumado a conduzir carros com este nível de potência e aderência demora até se acostumar com as novas possibilidades que uma máquina destas permite. Diferentemente da Gallardo, no entanto, a 458 faz tudo suavemente. Movimentos suaves no volante. Pressão suave no freio. Na hora de acelerar, nada disso de plantar o pé. Aplicação gradual de potência até endireitar o volante e aí sim sentar a bota. Tudo isso sai de forma natural, como se 458 e piloto se tornassem um só, e o carro de alguma forma comunicasse ao piloto que é isso mesmo que ele deve fazer, e o piloto percebendo esta “alegria” resolve pilotar de forma cada vez mais refinada.

É muito dócil, mas não é um carro que avisa muito quando está próximo do limite. O limite é muito elevado e sem dúvida só pode ser explorado em pista, mas não duvide se ela for dócil num momento e repentinamente desgarrar no outro. Tirar os 5% finais de desempenho é coisa pra gente boa de pilotagem.

O propulsor é um V8 4.5 com 570 cv a 9.000 rpm e 540 Nm de torque a 6.000 rpm, e 80% deste total estão disponíveis a 3.250 rpm. O câmbio é automatizado de dupla embreagem e sete marchas, operado somente pelas aletas ao redor do volante. No console central ficam os botões para acionar a ré e o neutro. O ronco é típico Ferrari: bem agudo, parece um ronronar de gatos em marcha lenta, crescendo até se tornar um urro acima de 7 mil giros. O câmbio faz pleno uso desta faixa superior dos giros, com relações relativamente curtas entre si. Pilotar a 458 é especialmente excitante justamente pelas trocas de marcha mais frequentes, sem interrupção de potência, com punta-tacco automático nas reduções, e a música que sai do motor.

A suspensão é de braços duplos na dianteira e multilink atrás, ajudados por um sistema magnético que ajusta a rigidez dos amortecedores conforme o uso e a superfície. 

Com a soma dos detalhes, o que impressiona na 458 é o conjunto da obra. Direção de peso exato e extremamente comunicativa; freios de atuação imediata e forte; câmbio de trocas instantâneas; e um V8 espetacular, girador, de ronco inesquecível, e forte, muito forte. Acelerar uma numa pista é lembrar de porque esta invenção maluca chamada automóvel fez tantos apaixonados pelo mundo.



Estilo 9 – Os fãs dos carros mais arredondados e curvilíneos, como a própria 430, torcem o nariz. Mas é maravilhosa.

Imagem – O que é melhor em termos de imagem do que uma Ferrari? Nem um jatinho, muito mais caro, chega perto.

Acabamento 9 – Couro de ótima qualidade e muito bem aplicado, carpete felpudo, mas para luxo de verdade faltam coisas como Alcântara.

Posição de dirigir 10 – Regulagem elétricas para um guiar perfeito. Posição baixa, claro.

Instrumentos 10 – As duas telas reproduzem vários indicadores, mantendo um belo conta-giros tradicional no centro.

Itens de conveniência 8 – Trio elétrico, air bags, ar dual zone e não muito mais do que isso. Assim como a Gallardo, é um carro com outra proposta.

Espaço interno 6 – Bom em todas as direções para os dois ocupantes, e mesmo os bancos com intenso apoio lateral não incomodam os mais pesados.

Porta-malas 1 – Oi?

Motor 10 – Ferrari.

Desempenho 10 – Não entendeu? Ferrari.

Câmbio 7 – Sete marchas e dupla embreagem que definiu a questão de trocas rápidas e suaves em superesportivos.

Freios 10 – No mesmo alto nível do resto do conjunto.

Suspensão 10 – A calibração instantânea pelo fluido magnético permite certo nível de conforto até, mas não vamos esquecer que é um carro para as pistas.

Estabilidade 10 – O motorista primeiro precisa reprogramar o cérebro para entender o que é possível nas leis da física, e só depois vai começar a usar o potencial da Gallardo.

Segurança passiva 8 – Vem com os airbags de praxe. Mas é melhor não brincar com 570 cv. Não consegue, não desce pro play.

Custo-benefício 0 – Uma compra que não é justificável por qualquer aspecto racional. Ainda bem que existem pessoas que não ligam pra isso.



Comentários

Anônimo disse…
Por que não tira uma foto de sua autoria ao invés de postar fotos que se acha na internet? Coloque fotos com mais detalhes coisas que ninguém mostra...

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