Sobre futebol (off-topic)

Não vou comentar as vitórias brasileiras ou coisas gerais da Copa do Mundo, que a imprensa especializada tem feito de forma notável. Queria só aproveitar o ensejo para mencionar dois tópicos que têm sido abordados com uma certa frequência e para os quais gostaria de dar uns pitacos.

Copa de 94

A baixa média de gols desta Copa, em especial na primeira fase, tem trazido à tona a discussão de qual foi a pior Copa do Mundo de todos os tempos. As opiniões dos críticos costumavam ser unânimes em apontar a Copa de 90, mas agora tenho visto muita gente agredir a Copa de 94 neste aspecto.

A Copa de 94 foi simplesmente a melhor Copa do Mundo desde 1986 até hoje. A Copa de 2006 eu nem lembro, a de 2002 teve Coreia do Sul na semifinal graças ao apito amigo, a de 1998 teve o apagão brasileiro na final. A de 94 mostrou ao mundo inteiro grandes craques, como Stoitchkov e Lediakov na Bulgária (o gol de arrancada do Stotichkov contra o México foi algo simplesmente divino), Hagi na Romênia, com seus lançamentos de 50 metros que caíam exatamente no pé do companheiro de time, teve o goleiraço Preud’Homme, que fechou o gol belga e o Ravelli, goleiro sueco ainda melhor, em minha opinião. Teve gol do Milla com 42 anos, teve o Salenko fazendo cinco num mesmo jogo (coisa que o Cristiano Ronaldo não conseguiu fazer nem mesmo entrentando a incrível Coreia do Norte), teve gol do Maradona e depois doping, enfim, uma Copa absolutamente sensacional.

A imprensa canarinho tende a odiar a Copa de 94 pela atuação do Brasil, um time pragmático e sem criatividade que foi ganhando nos trancos e barrancos. Ora, faziam VINTE E QUATRO anos que a seleção não ganhava nada. Nesse período, Itália e Alemanha nos alcançaram, tornando-se tricampeãs, e a própria Argentina foi bi. E o Brasil, nada. Em 94, assim como já havia sido em 90, a alternativa era ganhar ou ganhar. Esse tempo sem vitórias era um fardo que precisava ser tirado da seleção. Entre jogar bonito e ser campeão, o que o país precisava ali era a segunda opção. Hoje, fartos com os cinco títulos e nossa dominância no assunto, agora sim podemos valorizar o futebol bem jogado.

E vou além: após assistir na íntegra o jogo que eliminou a seleção brasileira de 82, um time com uma tremenda empáfia, uma incrível falta de vontade de jogar, raça nenhuma, fico com a seleção de 94.

O que me leva ao segundo tema, a torcida pelo Uruguai.
Muitos brasileiros têm se pegado torcendo pela seleção celeste. Eu mesmo acabei torcendo mais por eles nas oitavas do que pelo Brasil, até pelo motivo do jogo do Uruguai ter sido bem mais parelho. O Uruguai tem a questão de ser o “underdog”, um azarão, um país maravilhoso de apenas 3,5 milhões de habitantes (um terço da população de São Paulo) que está felicíssimo com a boa atuação de sua seleção.

E é uma seleção que conta com homens de categoria na frente, que sabem jogar bola, mas que, principalmente, tem raça e vontade de jogar. Os uruguaios marcam como se não houvesse amanhã, dividem as jogadas como se seus ossos fossem de titânio, correm e acreditam em todas as bolas. É um comportamento totalmente diferente da empáfia da seleção brasileira, que parece só ter vontade de jogar após abrir o marcador. O abismo técnico entre as seleções acaba favorecendo a brasileira, que via de regra é muito melhor que as adversárias, mas aquela vontade de jogar, aquela coisa guerreira que a Brahma tenta impringir ao brasileiro (de forma completamente errada, que guerreiro o brasileiro nunca foi, vide Macunaíma), isso aí não cola. Já os Uruguaios jogam com a alma. E têm cativado a torcida.

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