Globalização de verdade
A erupção vulcânica na Islândia é a responsável pela paralisação de duas fábricas da Nissan nos Estados Unidos. Elas não conseguem montar os carros pela falta de um componente, um sensor pneumático feito na Irlanda, e embarcado em aviões para os EUA.
Tenho conhecidos que entendem de supply chain muito melhor do que eu, mas o que pude absorver nas andanças por aí é o seguinte: a eficiência de uma fábrica é medida pelo quanto ela consegue produzir, versus o quanto ela custa. São notórios os exemplos de que uma fábrica automotiva, hoje, produz 30% mais que há 40 anos com 30% menos gente. Menos gente é menos custo, mais produção é mais lucro.
Além de demitir gente, outro método de redução de custos é o que se convencionou chamar de just-in-time, ou “bem a tempo”, ou seja: as peças chegam à fábrica bem na hora de serem montadas. Assim, os pneus da Pirelli chegam à fábrica da Fiat em Betim bem na hora de serem colocadas nas rodas. Isso permite que a Fiat não mantenha um armazém enorme guardando pneus, o que incorre em custos de terreno, água, luz, empilhadeiras, pessoas, gestores de estoque, enfim.
Continuando a saga do corte contínuo de custos, outra opção é produzir componentes onde a mão-de-obra é mais barata. Esse conceito é de conhecimento mais generalizado: ao invés de você produzir os pneus você mesmo, você os compra de uma empresa especializada nisso que o faz com melhores custos, digamos a mesma Pirelli. Só que a Pirelli, ao invés de construir uma fábrica em Betim e contratar operários brasileiros sindicalizados que folgam no final de semana e trabalham 44 horas semanais, constroi uma fábrica em Guangzhou, emprega três turnos de chineses com salários de padrão comunista, e exporta esses pneus para todo mundo.
E nada contra a Fiat ou a Pirelli: todo mundo faz isso.
Esse ecossistema econômico, que já enriqueceu muita gente e, sejamos honestos, já barateou os custos de muita coisa que compramos, está sendo duplamente colocado em xeque. Em primeiro lugar, pela sustentabilidade do planeta: é uma produção de riqueza baseada no consumo e, ao passo que um certo padrão de vida deve ser atingido por toda a população do mundo, existe hoje em dia um padrão de consumo em algumas partes ricas do globo que já não é sustentável do ponto de vista da extração dos recursos. E, em segundo lugar, pelo próprio questionamento do lucro acima de tudo deste modelo capitalista, que a crise econômica fez o favor de expor: aparentemente, agora, mais é menos.
A erupção vulcânica mostrou a fragilidade de um modelo que depende do transporte, por mar, ar, ou terra, fatores sujeitos à intervenções da Natureza. Fossem os componentes produzidos nos EUA, e as fábricas da Nissan estariam firmes e fortes. Se alguma empresa tivesse investido no aeroporto de Dacar, no Senegal, os vôos dos EUA para a Ásia ou sul da Europa poderiam estar indo por lá.
Quem sabe, assim, a globalização assume um caráter realmente global e nós entendamos que a riqueza, a não ser que seja para todos, não tem como ser sustentável.
Tenho conhecidos que entendem de supply chain muito melhor do que eu, mas o que pude absorver nas andanças por aí é o seguinte: a eficiência de uma fábrica é medida pelo quanto ela consegue produzir, versus o quanto ela custa. São notórios os exemplos de que uma fábrica automotiva, hoje, produz 30% mais que há 40 anos com 30% menos gente. Menos gente é menos custo, mais produção é mais lucro.
Além de demitir gente, outro método de redução de custos é o que se convencionou chamar de just-in-time, ou “bem a tempo”, ou seja: as peças chegam à fábrica bem na hora de serem montadas. Assim, os pneus da Pirelli chegam à fábrica da Fiat em Betim bem na hora de serem colocadas nas rodas. Isso permite que a Fiat não mantenha um armazém enorme guardando pneus, o que incorre em custos de terreno, água, luz, empilhadeiras, pessoas, gestores de estoque, enfim.
Continuando a saga do corte contínuo de custos, outra opção é produzir componentes onde a mão-de-obra é mais barata. Esse conceito é de conhecimento mais generalizado: ao invés de você produzir os pneus você mesmo, você os compra de uma empresa especializada nisso que o faz com melhores custos, digamos a mesma Pirelli. Só que a Pirelli, ao invés de construir uma fábrica em Betim e contratar operários brasileiros sindicalizados que folgam no final de semana e trabalham 44 horas semanais, constroi uma fábrica em Guangzhou, emprega três turnos de chineses com salários de padrão comunista, e exporta esses pneus para todo mundo.
E nada contra a Fiat ou a Pirelli: todo mundo faz isso.
Esse ecossistema econômico, que já enriqueceu muita gente e, sejamos honestos, já barateou os custos de muita coisa que compramos, está sendo duplamente colocado em xeque. Em primeiro lugar, pela sustentabilidade do planeta: é uma produção de riqueza baseada no consumo e, ao passo que um certo padrão de vida deve ser atingido por toda a população do mundo, existe hoje em dia um padrão de consumo em algumas partes ricas do globo que já não é sustentável do ponto de vista da extração dos recursos. E, em segundo lugar, pelo próprio questionamento do lucro acima de tudo deste modelo capitalista, que a crise econômica fez o favor de expor: aparentemente, agora, mais é menos.
A erupção vulcânica mostrou a fragilidade de um modelo que depende do transporte, por mar, ar, ou terra, fatores sujeitos à intervenções da Natureza. Fossem os componentes produzidos nos EUA, e as fábricas da Nissan estariam firmes e fortes. Se alguma empresa tivesse investido no aeroporto de Dacar, no Senegal, os vôos dos EUA para a Ásia ou sul da Europa poderiam estar indo por lá.
Quem sabe, assim, a globalização assume um caráter realmente global e nós entendamos que a riqueza, a não ser que seja para todos, não tem como ser sustentável.
Comentários
O capitalismo, pelo andar da carruagem ainda vai mudar um pouco, pois caso contrário, implode ! E antes que os "pseudo-comunistas-de-plantão" abram a boca, já digo logo: comunismo já era (acabou com a URSS -que agora chama-se Russia -bem capitalista, por sinal...)