Descanse o pé

Resumindo de forma grosseira, existem quatro tipos de transmissão para automóveis no mundo. A mais comum é a manual, na qual o condutor seleciona as marchas através do câmbio e do auxílio de uma embreagem. Temos a automática, na qual um sistema complexo envolvendo um conversor de torque faz as trocas de marcha automaticamente. É mais antigo do que pensamos, tornando-se popular nos Estados Unidos já na década de 50 (a Cadillac parou de oferecer carros manuais antes dos anos 60 e só retomou a prática 30 anos depois). Temos ainda a CVT, que andava esquecida e que tivemos por aqui no Fit da geração anterior e no Sentra. Um grupo de polias adapta-se à velocidade e à abertura do acelerador, dando a impressão de marchas infinitas. E, por fim, existe o câmbio automatizado, um manual com operação eletrônica, dispensando o pedal da embreagem.

Todos têm suas vantagens e desvantagens. O manual é o mais eficiente, com menos perdas de tração e desperdício de combustível nas trocas de marcha. O automático é o mais confortável por trocar as marchas sem tranco, cobrando por isso um preço no consumo e também no desempenho do carro. O CVT tem uma montagem cara e não suporta potência e torque muito altos do motor. E o automatizado... o automatizado é o futuro, o caminho no qual todo mundo (Ferrari, Mercedes, Porsche) está convergindo.

O automatizado que temos aqui é um modelo mais simples, no qual o sistema de embreagem é acionado da mesma forma que num carro manual, como se fosse um “pé esquerdo eletrônico”. É errado dizer que o automatizado é mais bruto do que um câmbio manual: um sensor de movimento longitudinal acusaria índices muito próximos para os dois durante as trocas de marcha. O que realmente acontece é que, num carro com câmbio manual, o motorista e os passageiros sabem que virá uma troca de marcha, pelo movimento da alavanca, e instintivamente esperam o “tranco”. Num automatizado, não se sabe quando virá este movimento e, quando ele acontece, não estamos preparados.

Para sanar esta questão, os carros mais avançados usam um sistema de dupla embreagem, uma atuando nas marchas pares e outra nas ímpares. Assim, a próxima marcha está sempre “semi-engatada” e isso praticamente elimina os trancos, além de permitir trocas extremamente rápidas. Fôssemos um país evoluído e um mercado decente, já teríamos mais desses por aqui.

Enquanto isso, nos viramos com os automatizados de uma embreagem só. E posso dizer que a experiência com o Fox I-Motion nesse sentido foi bem positiva. Há um tranco, sim, na passagem de primeira para segunda. Pode-se reduzi-lo tirando o pé do acelerador ou mesmo se acostumando, mas essa não é a ideia de conforto que se espera de um câmbio desses. Nas outras passagens de marcha ou mesmo reduções, um acionamento bastante suave. E é um câmbio com respostas rápidas, um movimento na alavanca ou pressão nas aletas atrás do volante já resulta numa mudança, algo que não acontece no automático da PSA, por exemplo.

Em termos de conforto, nossos automatizados ainda são inferiores aos automáticos, ainda mais se considerarmos um bom automático como o 6 marchas da VW, da Ford ou o CVT da Nissan. Isso não os invalida como uma boa opção para quem quer descansar o pé esquerdo, especialmente em se considerando que os carros pequenos dificilmente têm o câmbio automático como opcional.

No entanto, ainda acho que mais carros pequenos deveriam ter câmbios automáticos (ou melhor ainda, CVTs) como opcionais. E acho que carros que se dizem de luxo, como o Linea, não podem oferecer somente a opção do automatizado, pelo menos não um com embreagem única. Enquanto não chegamos lá, os automatizados cumprem seu papel e são um tremendo alívio no trânsito pesado.

Comentários

Jarraum disse…
CVT temos os audi Multitronic tbm.
Sempre gostei de automáticos, mas nem sempre são oferecidos a carros ao alcance financeiro da maioria da população. Sabendo tbm que o fiesta (max) fabricado na Bahia é exportado para a argentina e para o méxico com a opção de cambio automático, porque raios não é oferecido no Brasil?
O blog está cada vez melhor, parabéns
Anônimo disse…
Fato é que comprei meu primeiro carro auto. Ele tem apenas 4 marchas, é verdade. Mas uma coisa é certa, nunca mais volto a ter um manual. O conforto que o auto te oferece é inacreditável.

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