O carro do Wolverine

Fui ver o Logan estes dias, ao vivo, como já deveria ter feito há algum tempo.

Para quem conhece o histórico do carro, assusta ver as soluções de redução de custo jogadas na sua cara tão agressivamente. A idéia de colocar a fechadura acima da manopla de abertura das portas e fazer retrovisores intercambiáveis é ridícula. Externamente, no entanto, o resultado é um carro mais propriamente diferente do que feio. Os vidros grandes e retilíneos são um grande problema, mas os desenhistas fizeram o melhor possível com o resto do carro. O resultado é um sedã que teria tudo para ser o mais feio do universo, e consegue, digamos, ser apenas o mais feio do país. Já é um avanço.

A grande qualidade apregoada do carro, o espaço interno, é realmente impressionante. Com o banco dianteiro ajustado para uma pessoa de 1,80m, uma pessoa atrás senta-se confortavelmente, ao contrário de qualquer hatch e sedã médio – Golf, Bora, Focus, Astra, Stilo, 307... A largura também é adequada, embora neste caso sem tanta distinção. O porta-malas é outro latifúndio, embora com o pior acabamento que já vi: parafusos à mostra no fundo, podendo rasgar malas, e as molas de acionamento das enormes dobradiças também ficam expostas.

Se o acabamento do porta-malas consegue inaugurar um novo nível de tosquice, internamente o carro é surpreendentemente bom. A qualidade dos plásticos e o encaixe das peças não fica a dever a nenhum Fiesta ou Celta, notoriamente os carros brasileiros com o pior acabamento, exceção feita ao Mille. O que me horroriza, no entanto, é que isto não é mérito do Logan – isto mostra que um carro com um acabamento assumidamente ruim consegue ser mediano no Brasil. Isto mostra a que nível de vergonha chegamos.

A posição de dirigir é correta, com um surpreendente ajuste de altura na unidade avaliada. O volante tem boa pega e o câmbio tem engates fáceis, ainda que um pouco longos – um grande avanço em relação aos câmbios absolutamente tenebrosos do Clio e da Scénic, os piores do Brasil. A Renault exagerou um pouco na confusão com os botões do ar-condicionado – o Mégane novo padece do memso mal – mas os outros comandos ficam bem acessíveis.

Não consegui dirigir o bruto por conta do péssimo atendimento da concessionária. Mais uma vez, a Renault me surpreende com a absoluta falta de preparo da sua rede. O Logan tem uma ótima qualidade de mercado, que é a de levar pessoas aos show rooms, e as concessionárias perdem oportunidades amesquinhando-se com poucos vendedores e atendimento mau caráter. Falta ainda muita percepção à maioria das montadoras que o atendimento na concessionária é absolutamente fundamental.

Se eu compraria um Logan? Não. E se eu tivesse família grande e restrições orçamentárias? Pode ser. A garantia de 3 anos é um senhor atrativo, embora a mecânica Renault não ganhe pontos no senso comum quanto a confiabilidade. Comprar um Logan é colocar, acima de tudo, o bolso à frente da emoção numa compra absolutamente burra do ponto de vista econômico: um carro. Um bem caro, que desvaloriza e custa dinheiro para ser desfrutado, nas contas de gasolina, manutenção e seguro. Então, se é pra economizar, andemos de ônibus. Carro é gasto, pessoal. Não tem jeito.

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