18 graus e meio

Recentemente li uma matéria num site americano sobre cinco opcionais absolutamente dispensáveis em carros novos. Alguns itens nem fazem sentido aqui, pois ainda levam alguns anos para chegarem à nossa realidade. Mas um chamou a atenção: ar-condicionado Bi-Zone (ou Dual Zone, ou qualquer outro nome proprietário). É o aparelho que permite que se regule temperaturas diferentes para motorista e passageiro.

É na verdade uma extensão de uma evolução do ar-condicionado digital de primeira geração, aquele que mantém uniforme a temperatura no carro como um todo. Existe um salto evolutivo palatável deste modelo para o ar-condicionado tradicional, que é a facilidade de se manter a mesma temperatura no carro sob diferentes condições externas: frio, calor, chuva, sol a pino. Assim como muitas inovações, ela serve mais para reduzir o trabalho que se teria regulando o termostato de um ar-condicionado normal (exceção feita ao do Palio, que só conhece dois estágios: frio polar ou ar super-quente vindo direto do bloco do motor). É o mesmo caso do sensor de luminosidade que acende faróis automaticamente – economiza o nem um pouco árduo trabalho de acender e apagar as luzes manualmente.

Em teoria, o ar Bi-Zone seria o mesmo salto evolutivo, ao permitir que pessoas normais andem no mesmo carro que estúpidos como eu, para os quais a faixa de temperatura ideal inclui algarismos negativos. Mas na prática, não é isso que acontece, e esse é o argumento da reportagem que li. Se o motorista regula sua temperatura para agradáveis 21 graus, e o passageiro para também agradáveis 23 graus, quem garante que o ar do carro não estará a igualmente agradáveis 22 graus? Um termômetro sensível poderia mensurar esta diferença e eu aposto um quilo de alimento não-perecível como a diferença de temperatura entre o assento do motorista e o do passageiro seria ínfima.

A recomendação do site para os americanos era para que, ao invés de escolher este opcional, optassem por assentos com aquecimento, estes sim capazes de aquecer dois corpos a temperaturas distintas.

Mas e aqui no Brasa, onde o sol já costuma se encarregar de fazer isto? As montadoras já apontaram a direção: ar digital, Bi-Zone ou não, é opcional de luxo, ou seja, utilizado para separar as versões de topo das menos equipadas. É assim no Vectra, no 307 e também no recém-chegado C4 Pallas. Não é um equipamento, portanto, essencial, mas sim um diferenciador que pode levar o consumidor dirigido por status a comprar uma versão mais cara.

A VW tinha uma abordagem bastante interessante: por um preço bem razoável, R$ 800, era possível equipar a linha Polo / Golf com o ar digital da empresa (desde que o carro original já tivesse ar condicionado, evidentemente). Desta maneira, escolher entre um ar condicionado normal, um digital e um Bi-Zone poderia ser apenas uma questão de gosto, assim como é, nos EUA, para alguns carros, optar entre um câmbio manual e um automático – não há diferença no preço.

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