Teste: Fiat Toro Freedom (Opening Edition) 1.8 16v AT6
A Toro não é Fiat.
Explicamos. Se você já teve contato com algum
carro da Fiat do Brasil, com exceção da Freemont, já deve ter alguma percepção
prévia de como é um carro da marca. Reações da direção, suspensão, freios,
acabamento e por aí vai. Existe uma coerência, notada em carros tão variados e
de épocas distintas quanto Uno, Palio Fire, Stilo, Idea, Punto e Marea.
Aí você entra na Toro, começa a dirigir e
nenhuma das referências Fiat vêm à tona. Nenhuma. A associação imediata e óbvia
é com o Jeep Renegade, com quem a Toro divide o motor, a plataforma e a fábrica
em Pernambuco.
Então é um Fiat com jeito de Jeep. Até o design
é muito mais relacionado com a Cherokee do que com qualquer coisa Fiat. E esse
é um daqueles casos nos quais um produto, digamos, mais básico, se beneficia
enormemente de compartilhar engenharia com um produto superior.
Um aspecto que a Toro traz da Fiat, que não é
relacionado ao produto, é a oportunidade de marketing. A Fiat foi muito feliz
aproveitando oportunidades como o segmento de aventureiros de fachada – com a
primeira Palio Weekend, ainda no século passado –, o dos carros turbinados e
mesmo o do segmento dos 1.0, embora as histórias de bastidores digam que este
tenha sido criado por ela, na verdade. A Toro aproveita o espaço criado com o
processo de gigantismo que afetou S10, Ranger e Hilux, que ficaram muito
maiores que as versões anteriores quando de suas reformulações lá por 2010.
Ficou um “buraco” entre as picapinhas como Strada e essas “full-size” para os
padrões brasileiros. Inclusive conhecemos um dono de S10 antiga que comprou uma
Ranger nova que não cabia na garagem, e acabou vendendo após pouquíssimo uso.
A Renault aproveitou a oportunidade para lançar
a Oroch, pioneirismo importante porém limitado devido à utilização da
plataforma e arranjos da Duster, veículo já em final de vida. A Fiat demorou
mais, porém apresentou um carro de ponta.
Chamar a Toro de bonita é uma questão de gosto.
A frente nos parece estranha a princípio, porém depois se acostuma. É
indiscutivelmente moderna, porém um estilo um tanto coreano, daqueles que
envelhece mal. Por enquanto ainda tem jeito de novidade. A frente é mesmo o
ponto alto, pois a lateral e a traseira não trazem grandes novidades. Na versão
de entrada, as rodas de 16 polegadas parecem muito pequenas, e a roda, embora
de liga leve, parece que foi propositalmente desenhada para ser feia e
estimular a troca pelas de 17 polegadas, muito mais vistosas.
Por dentro é um tanto conservadora, o que é bom
por um lado pois todos os comandos ficam convenientemente instalados. A posição
de dirigir é alta, e lembra algumas minivans pois os pedais estão mais embaixo
do que à frente, algo que se acostuma facilmente. O acabamento é todo em
plástico rígido, e os bancos vêm com tecido também pobre. O aspecto poderia
melhorar muito com pouco investimento. Não gostamos da conformação do banco: o
encosto pareceu pouco profundo, deixando as costas numa posição não natural. A
espuma poderia ser menos rígida.
O cluster é poluído. O velocímetro marca até
desnecessários 240 km/h, e com isso a faixa de utilização mais comum fica toda
apertada no canto esquerdo do mostrador. O marcador de combustível é composto
por barrinhas horizontais muito discretas, seria interessante algo mais
explícito para evitar que motoristas sejam pegos desprevenidos com falta de
combustível. O computador de bordo disponível na tela central monocromática é
um dos pontos altos do carro, especialmente para quem gosta, e herança direta
do jeito americano de fazer carros. Ali estão disponíveis informações sobre a
navegação, áudio, computador de bordo completo com duas medições, e velocímetro
digital (foi o que mais usamos devido ao velocímetro analógico apertado),
tensão da bateria, horas de funcionamento do motor, temperatura do
arrefecimento, do óleo do motor e da transmissão. Um festival de informações
pra quem gosta de carro.
O volante traz os comandos do computador de
bordo e do controlador de velocidade. Já os comandos do áudio ficam escondidos
atrás, algo bem pouco intuitivo e que requer costume. Isso é piorado pelo fato
de o multimídia não trazer botões físicos para funções como avançar faixa de
música, requerendo que se acesse a tela de áudio para simplesmente trocá-la.
O multimídia é dos mais simples, com tela de 5
polegadas cercada por uns botões gigantes dizendo pra você a todo momento: “a
tela podia ser maior, mas a Fiat não quis e vai fazer você conviver com essa
coisinha aqui”. Por algum motivo, na Toro testada o áudio ligava sempre
automaticamente ao dar partida no carro, dando alguns sustos quando entrava uma
rádio em volume alto. Mesmo desligando o rádio no botão Power, ao ligar o carro
o rádio ligava automaticamente de novo. É algo tão estranho que vamos atribuir
ao carro testado.
Vale lembrar ainda que testamos a versão
“Opening Edition”, que vem com algumas diferenças com relação à Freedom, uma
delas o multimídia “superior” (colocamos entre aspas pois quem já pegou um
multimídia realmente superior como o Sync da Ford sabe o que é um sistema bom).
A Toro oferece atualmente um pacote de opcionais chamado “Road”, que traz
muitos desses itens adicionais da Opening Edition, como ar bizona, som superior
e sensores de chuva e luminosidade.
O espaço interno é equivalente ao de um sedã
médio, com altura ampla e largura adequada. O espaço para pernas no banco traseiro
poderia ser maior, porém ocupantes de até 1,70 vão bem. Faltam porta-objetos: é
complicado acomodar carteira e celular sem usar o porta-copos.
A Fiat foi generosa na lista de equipamentos,
incluindo algumas amenidades que não víamos há tempos. Gostamos muito das luzes
de leitura individuais próximas às alças de teto traseiras, das entradas USB à
frente e atrás, do porta-óculos e do rebatimento elétrico dos retrovisores
automático ao fechar as portas. Também chamou atenção a operação silenciosa do
para-brisa. Além disso, equipamentos incluem ajuste de altura do banco do
motorista, altura e profundidade do volante, vidros, travas e retrovisores
elétricos, ar bizona (exclusividade da Opening Edition, a Freedom vem com ar
manual), air bag duplo, ABS, câmera de ré e sensor de estacionamento, controle
de tração, estabilidade, controlador de velocidade, direção elétrica, faróis de
neblina e faróis, para-brisa automáticos e retrovisor fotocrômico (só na
Opening Edition). Excetuando-se mais air bags, nenhum equipamento faz realmente
falta.
Bem, o que dizem que faz falta na Toro 1.8 é o
motor, certo? O 1.8 16v Fiat gera 139 cv a 5750 rpm e 19,3 m.kgf de torque a
3750 rpm, valores realmente modestos para uma picape desse tamanho e pesando
1619 kg.
Mais potência faz falta em uma situação
específica: quando você precisa de uma entrega rápida e poderosa de potência,
como ao fazer uma ultrapassagem com pouco espaço, ou aproveitar uma brecha para
acessar uma via de trânsito rápido. Como é padrão nos câmbios automáticos
atuais, a programação troca marchas a baixa rotação, visando economia de
combustível. Uma solicitação repentina de potência vai requerer que o câmbio
reduza provavelmente duas marchas para elevar o motor à faixa de maior
potência, acima dos 4 mil giros, e aí vem aquela entrega linear de potência que
não ajuda muito.
Só que, uma vez acostumado com a potência
disponível, dá pra usar a Toro adequadamente, basta se preparar. Vai precisar
de desempenho? Já coloca o câmbio em operação manual e sobe os giros. Vai sair
forte? Prepara o estol e soca o acelerador. Continua não sendo nenhum canhão,
mas não passamos aperto nenhuma das vezes. Quem está acostumado a dirigir
carros de baixa potência já até faz isso por instinto. Quem sair de um Golf GTI
com certeza vai reclamar da performance.
Teste:
Fiat Toro Carregada
Então fomos tirar a prova dos nove. Colocamos
cerca de 500 kg na caçamba – a carga máxima é 650 -, mais três adultos, e
pegamos a estrada. A diferença para a Toro vazia é mínima. Basta ter
consciência que você está dirigindo um carro pesado, e se valer do que
comentamos acima. Nas subidas, é nítido como a Toro perde velocidade fácil, e o
câmbio precisa recorrer à quarta marcha para manter velocidades de estrada. O
controlador de velocidade é um tanto permissivo: se a programação é 110 km/h,
por exemplo, ele permite que a velocidade caia para menos de 105 antes de
efetuar as reduções e acelerar para retomar a velocidade. Não é nada
insuportável, mas ganha tempo o motorista que antever essas situações e não
permitir que a velocidade caia tanto, inclusive reduzindo marchas
antecipadamente.
Ou seja, dirigir uma Toro, mesmo carregada, com
performance adequada é muito fácil, basta DIRIGIR DIREITO E NÃO FICAR NA PORRA
DO CELULAR. Garanto que você vai mais rápido do que o estúpido no Audi que acha
o WhatsApp mais importante que a estrada.
Além disso, o motor tem um ronco cativante,
gostoso mesmo de explorar os altos giros. A vedação sonora é muito boa, porém
acima dos 4 mil giros o ronco entra na cabine com força.
O câmbio é um seis marchas epicíclico de bom
padrão, no mesmo nível que os similares da GM e da VW, com o conversor de
torque garantindo agilidade nas saídas. A programação visa economia, mantendo
os giros baixos, o que é agradável na grande maioria das situações, com
execeção dos pedidos repentinos de potência como falamos. Não há programação
Sport, porém a Fiat de maneira muito sábia incluiu trocas de marcha pela
alavanca e principalmente por aletas atrás do volante. Não tem desculpa para o
motorista não reduzir uma ou mais marchas ao desejar potência, a aleta está ali
ao alcance dos dedos. Infelizmente a Toro Freedom perdeu as aletas, algo que
deveria ser revisto.
A Fiat adotou um arranjo de suspensão McPherson
na dianteira, e inovou adotando um multilink na traseira, sem apelar para o
eixo rígido comum em picapes ou um eixo de torção que impediria a adoção de
tração 4x4. Embora o multilink por si só não seja vantajoso, pois tem muito
carro com multilink e um acerto horrível (oi Civic antigo), a Toro parece
pertencer à mesma agremiação de carros de suspensão moderna e bem calibrada.
Carregada, parece um automóvel: irregularidades do piso são filtradas, o rodar
permanece confortável, na estrada ela fica firme no chão. Sem peso, ela
continua elegante: aumenta sim a transmissão de irregularidades, que ficam
porém num nível ainda bastante baixo, mantendo o conforto. O único senão é que
o início de curso nos parece um tanto mole, então supondo que você esteja
manobrando em baixa velocidade e freie de repente, ela afunda a frente ao
melhor estilo Landau, dá até uma chacoalhada. Se esse é o preço a se pagar para
ter excelência de calibração em todas as outras situações, ficou barato.
A estabilidade é de bom padrão para uma picape.
Não testamos com ela carregada – não faz sentido –, porém com ela vazia nota-se
uma inclinação lateral elevada, maior que de automóveis porém típica de
picapes. O maior impedimento a tomar curvas rápido, no entanto, são os pneus de
uso misto, que têm aderência menor que os exclusivos para asfalto e portanto
“abrem o bico” mais cedo.
A abertura da caçamba em portas basculadas para
os lados foi grande idéia da Fiat, pois permite abri-la em espaços menores e
também facilita colocar objetos no fundo da caçamba, na área próxima à cabine,
algo difícil em picapes altas e sem ressalto lateral para colocar os pés. A
abertura é feita por um botão atrás do logotipo da Fiat, que libera uma trava
elétrica. O outro lado é aberto por uma alavanca que se revela após a abertura
do primeiro lado. A unidade que avaliamos apresentou por duas vezes defeito
nessa trava elétrica, que abriu ao passarmos por pisos irregulares.
Tudo somado, nossa opinião sobe a Toro pode ser
facilmente resumida.
A Toro é a melhor picape cabine dupla à venda
no Brasil hoje.
Se você é dono de uma Ranger, S10, vai ali
tomar uma água antes de descer a lenha nos comentários. Vamos explicar.
Todas as picapes grandes sofrem de um mal: como
precisam carregar uma tonelada, a suspensão traseira é dura e castiga quem anda
nas cidades. Os bancos traseiros são via de regra excessivamente verticais e
incômodos. São muito grandes, o que atrapalha a dinâmica nas cidades. E, em
muitas versões, são pouco equipadas pelo que custam.
É claro que quem roda no interior, por exemplo,
sem restrição de espaço, ou tem necessidade de carregar muita carga, tem todo o
direito de comprar uma picape grande. Elas são também melhores no
fora-de-estrada radical, pelos ângulos elevados de entrada e saída.
A Toro tem muitos predicados: o guiar é o mais
parecido com o de um automóvel dentre todas essas picapes. A suspensão é de
outra categoria, tanto vazia quanto carregada. O nível de equipamentos é
similar ao de um carro de valor similar, algo que não de pode dizer das
grandes: paga-se 100 mil reais numa picape tão mal equipada quanto um carro de
metade do valor. O acabamento é coerente; seu tamanho faz muito mais sentido
para quem roda em cidades.
Se a dúvida for entre a 1.8 ou a 2.4 (que não
dirigimos), é uma questão de avaliar se a diferença de preço de 15 a 20 mil
reais vale a desempenho amplamente superior. Pode ser imprescindível para
alguns, porém em nossa visão a 1.8 atende perfeitamente, afinal de contas
trata-se de uma picape. Quer correr compre um esportivo.
Para uma marca se estabelecer, ou entrar num
novo segmento, é de suma importância que o produto oferecido seja AMPLAMENTE
superior aos concorrentes. Quem vem com carro metadinha acaba ficando com
participação de mercado metadinha. A própria Fiat cometeu erros, como o Linea e
o Bravo por exemplo. Com a Toro, marca um golaço: equipada, boa de dirigir,
excelente comportamento, bom custo-benefício.
Estilo
7 – A frente é estranha mesmo, mas dá pra se acostumar com o tempo. A lateral e
a traseira têm aquele estilo meio sem sal, mas que também não cansa. A Toro vai
muito bem com cores fortes.
Imagem
– Tem um quê de “agroboy”, mas é de forma geral bastante neutra.
Acabamento
6 – Plásticos rígidos, porém de bom aspecto. Acionamento dos botões e alavancas
é adequado.
Posição
de dirigir 7 – Um pouco mais alta que o normal, o que deixa o acionamento dos
pedais um pouco estranho. Porém é fácil de se acostumar, e tanto volante quanto
bancos apresentam amplas regulagens.
Instrumentos
10 – Apesar do cluster poluído, não tem como não dar 10 a um carro que informa
até temperatura da transmissão. Tanta informação mecânica que pode ser passada
e os selvagens do marketing colocando luz espia pra tudo.
Itens
de conveniência 9 – Tão ou mais equipada que um carro do mesmo valor.
Espaço
interno 7 – O aproveitamento de espaço é bom, levando quatro pessoas melhor até
do que algumas picapes grandes.
Porta-malas
8 – A abertura dupla da porta da caçamba é uma excelente ideia. Acomodar
objetos próximos à cabine requer um pouco mais de esforço, pois não há acesso
lateral.
Motor
6 – Já deu a Fiat empurrando esse 1.8 no Renegade e na Toro. Dito isso, é um
motor em estágio avançado de desenvolvimento, suave, ronco bacana, e beberrão.
Desempenho
5 – Não é a proposta. No entanto, responde bem se o motorista souber o que
fazer.
Câmbio
9 – Esse automático de seis marchas é dos melhores, suave, decidido nas trocas
e ágil na operação manual.
Freios
8 – O pedal pdoeria ter um pouco maios de pegada no início do curso. De resto,
funciona bem, mesmo com ela carregada.
Suspensão
10 – Conceito moderno, calibração excelente, melhor que de muito sedã médio por
aí.
Estabilidade
5 – O início de curso da suspensão é bem macio, somando-se os pneus de uso
misto e temos um carro não muito adepto a curvas velozes. Porém, sendo uma
picape, está bastante adequada.
Segurança
passiva 6 – Poderia vir com mais airbags.
Custo-benefício
10 – Excelente escolha. Só a relação preço x equipamentos já é favorável, ainda
mais se considerarmos a engenharia sólida em itens como suspensão e capacidade
de carga. No entanto, vale sempre lembrar: é uma picape – tem coisa melhor se
seu uso é exclusivamente urbano.
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