Em defesa do etanol

Somos mais uma vez obrigados a rechaçar algumas inverdades publicadas recentemente com relação ao etanol combustível, basicamente fundadas em preconceito.

Esse “antes” é a indústria sucroalcooleira elevar o preço do álcool etílico hidratado carburante, AEHC, ou simplesmente álcool — o AE não usa o termo etanol, como o leitor sabe — pela enésima vez em sua história de 40 anos sob a égide do Proálcool com a esfarrapadíssima desculpa da elevação dos preços do açúcar nos mercados internacionais.

A desculpa não é esfarrapada, obviamente. Usinas de processamento de cana de açúcar desde muito tempo podem produzir tanto etanol quanto açúcar, num mix que pode variar até no máximo 70/30 em prol de um produto ou outro. Como qualquer empresa, sua produção será maior para o produto que der mais lucro, que neste momento é o açúcar. Com a maior parte da produção indo para o açúcar, falta etanol no mercado e o preço sobe. O preço subindo, o produto volta a ficar atrativo, as usinas produzem mais e assim a vida segue.

Quando não é estratégia comercial, como agora, há a desculpa da “entressafra”, que baixa os níveis de álcool estocado, “justificando” seu preço mais alto.

Entressafra não precisa ser referida pejorativamente, com aspas. Ela é real. Cana-de-açúcar é uma planta anual, colhida em 4-5 meses do ano. No resto do ano, a usina planta e cuida do crescimento da cana. Não há cana para colher – logo, entressafra. Se não há cana para colher, o etanol vendido é o que está armazenado nos tanques das usinas, e se a demanda for alta não há produção para repor este estoque e o preço sobe.

Essa atitude dos produtores de álcool é vergonhosa e mostra total falta de comprometimento com a nação. Eles agem como se o álcool fosse commodity negociada em bolsas, como ocorre com o petróleo.

Não é negociado em bolsa, mas é commodity, inclusive com padrões definidos pela ANP para sua produção. Não entendemos a vergonha.

Para complicar, o “isperto” país chamado Brasil resolveu que gasolina tem de conter  álcool em 1/4 ou mais do seu volume, dessa forma o preço do álcool influindo pesadamente num combustível  que nada tem a ver com o produzido a partir da cana-de-açúcar. Nos países não tão “ispertos” a porcentagem de álcool é 10%, servindo apenas como aditivo antidetonante.

Mais uma vez uma reação estapafúrdia. A adição de etanol à gasolina vem da época das crises do petróleo, não precisamos revisitar essa decisão. Vários países “ispertos” têm adotado o E85, que é uma mistura de 85% etanol e 15% gasolina, que o autor convenientemente esquece.

Os noticiários informaram que o maior aumento ocorrido esses dias foi no município de Ribeirão Preto (SP). Adivinhe o leitor qual região é campeã na produção de álcool? Dou-lhe uma, dou-lhe duas, dou-lhe três… Ribeirão Preto!

O que também não faz sentido, sem sabermos o preço anterior. Poderia estar defasado, daí o maior aumento.

Isso me faz lembrar de uma reportagem-anedota num posto de combustíveis numa dessas altas de preço do álcool alguns anos atrás. O repórter perguntou a um consumidor ao volante qual combustível utilizava. “Uso álcool, é bom para o meio ambiente”. Mas o jornalista informou ao consumidor que o preço do álcool havia subido muito e perguntou se mesmo assim ele continuaria a abastecer com produto. “Nesse caso vou usar gasolina”, respondeu  o entrevistado com a mais dura das caras. Milhões devem ter visto essa reportagem da TV Globo.

O próprio autor levanta um ponto crucial. Etanol é talvez o único caso no qual o produto MENOS NOCIVO AO MEIO AMBIENTE custa MENOS do que o mais nocivo. É como se um produto agrícola cultivado sem agrotóxicos, ou orgânico, custasse menos do que seu equivalente produzido normalmente. Se todos tivéssemos mais consciência ambiental, só abasteceríamos com etanol.

Disso tudo, duas conclusões. Uma, a indústria sucroalcooleira forçou a barra para haver uma solução que livrasse sua cara quando resolvessem aumentar os preços: o carro flex. Tanto que a UNICA (União da Indústria da Cana de Açúcar) coassinou anúncio da Volkswagen quando do lançamento do Gol 1,6 Total Flex em 20 de março de 2003. Mas se comprometer com o mercado a variar preços em função apenas de custos, como faria uma entidade séria, nem pensar…

Engraçado. Porque o autor não comenta os aumentos de preços dos carros? Com certeza não foi somente variação nos custos. Aliás, em que lugar do capitalismo os preços variam SOMENTE em função dos custos? Nem o petróleo é assim, aliás.

O que lamentamos na utilização do etanol é somente a falta de critério do governo em determinar a adição de seu percentual à gasolina – como o aumento para 27% sem uma análise dos danos que isso poderia causar ao motor, e o fato que isso dificulta a adaptação de motores para o Brasil, aumentando custos e inviabilizando a importação de mais veículos. Sob esse aspecto, defendemos a disponibilização do E85 como alternativa, adaptação que não seria difícil.

De resto, o etanol vai muito bem, obrigado.

Comentários

Anônimo disse…
Parabéns, mais um ótimo comentário. Apenas seria interessante colocar que no interior do estado de S.P., aonde há plantação de cana, é a "perder de vista", ou seja, não há alternancia com outras culturas, daí não ser tão ecológico assim...
E que de fato, um grande absurdo daquele des governo que acabou com as finanças do Brasil, aumentar a quantidade de álcool na gasolina para além de 25%. Um graaande absurdo que vai demorar para ser desfeito :(

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