Corrigindo os abusos
O Fusion foi por um bom tempo uma
excelente escolha com base em custo-benefício. Um carro da categoria de Accord
e Camry, vendido no Brasil a preço de Corolla.
Não que o preço oficial fosse baixo;
sempre esteve no topo da tabela. Mas era nítido que, alguns meses após o
lançamento, as concessionárias Ford reduziram drasticamente o preço do carro
(por decisão da montadora, que de boazinhas elas não têm nada) e tornaram-no
altamente competitivo. Lembramos que o Fusion Mk1 saiu do mercado sendo
ofertado a menos de 70 mil reais, valor 10 mil reais abaixo do principal
concorrente, o Jetta 2.5, e semelhante ao do Civic de topo. Com o Fusion Mk1,5
aconteceu a mesma coisa.
O preço sugerido pelo Fusion estava
muito alto? Não, era coerente com o mercado. O que aconteceu foi a execução de
uma estratégia vitoriosa da Ford em posicionar o modelo como uma opção válida
no segmento de luxo, ao mesmo tempo em que mantinah um lucro razoável sobre o
produto – cujo custo de produção no México deve ser similar ao de um picolé de
limão. Hoje o Fusion continua um baluarte do custo-benefício, oferecendo
equipamentos e espaço de BMW série 5 por preço de série 3 – sim, já foi melhor.
Tudo isso para comentar que esta
discrepância entre os preços de tabela e os efetivamente praticados nas
concessionárias tem aparecido agora em vários modelos. Não como estratégia
corporativa como no caso da Ford, mas sim como tentativa de fazer girar o
estoque frente à queda de mais de 25% nas vendas. O que já vimos:
- Cruze com desconto de 7 mil
- Tracker com desconto de 8 mil
- Jetta 1.4 TSI com desconto de 11
mil
- Tiguan com desconto de 15 mil
- Fusion com desconto de 9 mil
As montadoras têm elevado de forma
absolutamente desproporcional os seus preços, com vistas a não perder margem de
lucro e lucratividade frente à queda no mercado. Não acreditamos no relato
recente de jornalista defendendo que a Ford passa pelo maior prejuízo de sua
história na América Latina (não duvidamos da parte América Latina; queremos
saber do Brasil). Existe uma estratégia oficial de manutenção de margem e
preço; só que na prática a coisa não é bem assim e aí os descontos que deveriam
vir de cima passam a ser “oficializados” pelas concessionárias.
Uma parte desse raciocínio é fácil de
entender. Uma desvalorização no preço oficial do carro é muito ruim para quem o
tem; imagine você comprando um Fusion Mk1 no lançamento pelo preço sugerido de
83 mil e um ano depois seu carro 0 km é vendido por 75 mil. Imagina o preço dos
usados! Hoje os Fusion Mk1 e Mk 1,5 4 cilindros valem bem menos que os Jetta
2.5 no mercado de usados, o que é reflexo ainda dessa precificação da Ford
versus a estratégia da Volkswagen de manter o preço elevado e amargar as vendas
baixas.
Então uma redução massiva de preços
por parte da montadora, de forma oficial, é um tiro no pé. Note que isso é
diferente de manter o preço nos patamares normais, ou mesmo não repassar
vorazmente o reajuste da inflação, do dólar, do câmbio, da energia, da
necessidade de encher o bolso do acionista de dinheiro para ele comprar o
terceiro iate.
Aí temos essa lógica bizarra que a
montadora mete o preço do carro nas alturas e para fazer descontos recorre às
concessionárias.
O poder continua com os compradores.
Negocie descontos agressivos, agressivos mesmo. Não fecharam? Vá a outra
concessionária. Adie a compra. Deixe esse pessoal pastando que eles merecem.
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