Teste: Jeep Renegade Sport 1.8 flex automático
Após bons meses de braçadas, o HR-V
(relembre nosso teste aqui)
finalmente precisa suar a camisa para manter-se à frente em vendas diante do
crescimento lento porém inegável do Renegade.
Acreditamos que esta convergência tem
dois fatores: o primeiro, mais importante, é que o HR-V vende tantos quantos a
Honda conseguir produzir, algo que hoje está na faixa de 5 mil por mês. Ano que
vem, com a nova fábrica da Honda funcionando, a coisa vai mudar de figura. O
segundo fator foi a lenta aceitação da Jeep como marca “acessível” e do
Renegade como opção ao HR-V. O nome Honda não só está cristalizado com os
brasileiros como ainda por cima é sinônimo de sucesso, até um certo status, de
carro que não dá dor de cabeça, então quando isso se juntou a um carro
desejável o que vimos foram vendas aos borbotões – o sucesso do HR-V hoje é
comparável ao do New Civic em seu lançamento, outro blockbuster.
Parte do aumento das vendas do
Renegade explica-se, portanto, com a aceitação por parte dos brasileiros de que
existe um Jeep sendo vendido a R$ 75 mil e que pode ser comprado. Outra
aceitação é a de que existe uma rede de concessionárias maior para atender as
vendas e o pós-venda. A terceira é que parte dos componentes é Fiat, portanto
já testados e aprovados no Brasil.
Outra parte explica-se com a
frustração dos compradores do HR-V em dois principais quesitos: o prazo de
entrega, que tem sido superior a 120 dias e para algumas versões nem encomendas
são possíveis; e a escassez absoluta de equipamentos. Comparar o recheio do Renegade
de entrada, o Sport, com o HR-V de entrada, o LX, ambos na faixa dos 75 mil, é
colocar o ruivinho da Vivo pra lutar com o Júnior Cigano.
Então fomos testar a oferta mais
interessante do Renegade, que é justamente a Sport 1.8 flex automática.
E começamos logo com o que é talvez o
principal atributo do Renegade. Que carro lindo! As referências à história da
Jeep são abundantes e generosas; a combinação da grade com sete vãos e os
faróis redondos mostra por que se tornou clássica (e faz perguntar porque
adotaram aquele arranjo medonho na Grand Cherokee). O aspecto quadrado traz
robustez e muita personalidade, algo que o estilo bonito porém genérico do HR-V
não tem. O Renegade diferencia-se na multidão, e a oferta de cores ajuda. O
Sport pode ser verde exército ou vermelho vivo, além das tradicionais preto,
branco (todos sólidos) e prata metálico. E os compradores têm adotado as cores
mais fortes, para alegria do nosso trânsito. Uma pena somente as rodas 16” de
série com desenho pouco inspirado – sem dúvida de propósito, para levar o
comprador a um upgrade.
Por dentro Renegade segue agradando,
principalmente pelo notável cuidado visual dos projetistas com o ambiente
interno. Não existem soluções cansadas como um painelzão preto sem graça na
frente do passageiro. Os plásticos são de boa qualidade, e queimamos
radicalmente nossa língua ao duvidar do padrão de montagem. Pelo visto a FCA
contratou os japoneses da Honda e da Toyota e colocou-os pra trabalhar na
fábrica de Goiana. Está tudo no lugar, sem rebarbas, dá gosto de ver. Detalhes
como os aros dos alto-falantes em bronze claro ajudam a arejar o interior – um
tanto preto demais –, e mostram o bom trabalho executado ali. Veja que mesmo na
versão Sport, de entrada, as maçanetas são cromadas (o Toyota Corolla XEi não
tem), o volante tem apliques em alumínio, e mesmo os comandos do ar manual têm
aros cromados. Detalhes que cativam quem sabe apreciar o projeto e entender
onde a solução “coloca o mais barato”, que tanto assola os carros brasileiros,
não foi utilizada.
Os bancos são de tecido simples, mas
com enxertos “Jeep” que os tornam visualmente agradáveis, e não incomodam no
uso. Existe ampla regulagem em altura e distância do banco e do volante, para
uma posição de dirigir agradável, embora alta – era de se esperar dada a
proposta. Uma pena somente o volante do Sport não ser revestido em couro como o
das demais versões.
O espaço interno atrás não é
magnífico, mas suficiente. Aqui a abordagem prática dos japoneses dá um banho.
O HR-V parece uma limusine atrás, tamanho o espaço, e tinda tem a versatilidade
do sistema ULT. Quem precisa de espaço atrás e está na dúvida entre os SUVs vai
precisar encarar a lista de espera da Honda mesmo. O Renegade é somente bom,
acomoda no limite dois adultos de 1,80m um atrás do outro. A largura é pouca,
incomodaria um quanto passageiro, mas o teto alto contribui para uma sensação
de amplitude.
O ponto crítico, muito crítico, é o
porta-malas. É equivalente ao do Up!. Nesse nível de pequeno. Daqueles que ao
fazer as compras de supermercado semanais você já precisa tomar cuidado pois
vai precisar acomodar uma sacola em cima da outra. A se pensar caso viagens
frequentes estejam na rotina, embora caso você pegue estrada tem outra coisa
que vai te incomodar muito mais.
O desempenho. Ou melhor, a falta
dele.
Está difícil lembrar a última vez nos
mais de 10 anos de M4R que dirigimos um carro com tamanha falta de potência. E
olha que já dirigimos encrencas tipo Corsa sedã (o 4300) 1.0 VHC, e Parati GII
1.0 16v.
A questão ficou clara num trecho do
nosso trajeto com ele que vale a pena descrever. Estamos parados num semáforo
para conversão à esquerda numa avenida. Abre, e entramos numa rua em subida,
level, longe das pirambeiras que vemos por aí. Renegade em segunda marcha, a
cerca de 3 mil giros. Para ACOMPANHAR O TRÁFEGO, colocamos o pé no final do
curso do acelerador. O câmbio não reduziu para primeira (ainda bem, pois o
tranco seria insuportável) e ficamos lá, reféns da potência entregue pelo motor
a essa rotação. Não atrapalhamos a ponto de incomodar quem vinha atrás, mas
também não deslanchamos. Simplesmente esperamos a subida acabar.
O que fizemos, e acreditamos que será
hábito do motorista mais engajado, será dirigir o Renegade um pouco como se
fosse um caminhão. Se é uma descida seguida de subida, é melhor pegar embalo.
Se vamos encarar uma subida do zero, ficamos na direita e aproveitamos a
paisagem. Se possível, apelar para o modo manual do câmbio de forma a tentar
manter os giros altos.
O motor é o conhecido 1.8 (na verdade
1.75) 16v flex em uso em Punto, Bravo e Linea. Em si, é um motor excelente, e
não nega sua origem como projeto Tritec com influência da BMW. Tem um dos
melhores roncos entre os 4 cilindros nacionais, e os números de potência e
torque estão em linha com o que se obtém no mundo inteiro com este
deslocamento. São 132 cv a 5.250 rpm e 19,1 m.kgf de torque a 3.750 rpm,
empurrando expressivos 1432 kg por meio de um câmbio automático convencional de
seis marchas.
A pressão por custos e pela
flexibilidade em combustível devem ter sido os motivos que levaram ao casamento
deste motor com este carro, algo que não acontece nos Estados Unidos. Lá, o
Renegade de entrada vem com o 1.4 turbo (similar ao T-Jet) e somente câmbio
manual. Quem optar pelo automático – de nove marchas e não seis – leva
obrigatoriamente o 2.4, mesmo motor da Freemont.
Então vamos colocar nosso chapéu de
estrategistas e analisar as várias opções à disposição da FCA.
Motor
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Câmbio
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Comentário
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1.8 16v flex
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AT 6 marchas
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Conjunto mais barato
Similar ao da concorrência (HR-V
com 1.8 e CVT)
Pior desempenho
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1.8 16v flex
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AT 9 marchas
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Mantém flex
Melhora desempenho pois permite
escalonamento mais fechado
Custo da caixa de câmbio
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1.4 Turbo
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AT 6 marchas
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Motor já existente no Brasil
Monocombustível
Alinhado com tendência de
downsizing
Precisaria de calibração para
torque máximo em baixa
Comprador aceitaria motor 1.4 neste
carro?
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1.4 Turbo
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AT 9 marchas
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Motor já existente no Brasil
Monocombustível
Alinhado com tendência de
downsizing
Precisaria de calibração para
torque máximo em baixa
Imagina o arregaço!
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2.4
|
AT 6 marchas
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Motor já existente no Brasil
Monocombustível
Maior peso e consumo de combustível
Reduz exclusividade da Freemont
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2.4
|
AT 9 marchas
|
Motor já existente no Brasil
Monocombustível
Maior peso e consumo de combustível
Reduz exclusividade da Freemont
Imagina o arregaço!
|
Tudo o que elogiamos no design
externo e interno do carro, no sentido de não apelar para o mais barato,
perdeu-se na escolha do powertrain. E só não é pior pois este câmbio automático
de 6 marchas é dos melhores do mercado, suave, preciso, bem escalonado, com
opção de mudanças manuais. O fato de não ter colocado primeira na situação que
descrevemos acima é altamente elogiável.
Mas note quão tentadoras são as
outras opções.
Um AT 9 marchas já ajudaria muito,
pois as quatro primeiras marchas poderiam ser curtíssimas para favorecer o
desmpenho. Não é o ideal, mas já seria melhor.
O 1.4 turbo, com sua característica
de elevado torque (21,1 m.kgf a 2.200 rpm, e poderia ser recalibrado para menor
giro ainda), já daria uma outra dinâmica ao Renegade, dentro do conceito do
downsizing.
O 2.4, como nos Estados Unidos,
também é uma ótima opção para o Renegade. Na Freemont são 22,4 m.kgf de torque
a 4.500 rpm.
Em ambos os motores, o câmbio de 6
macrhas já seria mais do que suficiente. O de 9 é desnecessário, embora
imaginemos que seria um arregaço.
Claramente a FCA pensou que ser
flexível em combustível e ser um motor feito no Brasil em larga escala fariam
do 1.8 a escolha ideal. Típico caso em que a isca foi para o pescador e não
para o peixe.
Como está, o desempenho do Jeep
Renegade 1.8 flex é INADMISSÍVEL.
Agora que já tiramos isso da frente,
e também o porta-malas, o Jeep volta a ganhar pontos. A lista de equipamentos é
muito boa e realmente não força o comprador a migrar para a versão Longitude,
superior. Vem com trio elétrico, direção elétrica (de ótima calibração), ar
manual, air-bag duplo, ABS, sensor de estacionamento traseiro, computador de
bordo, piloto automático, som com CD, mp3, conexão USB e Bluetooth, faróis dianteiros
e traseiros de neblina, controle eletrônico de tração
(HAHAHAHAHAHAHAHAHAHAHAHAHAHAHAHAHA como se com essa potência toda ele fosse
destracionar...), estabilidade, hill holder, limitador de velocidade e freio de
mão elétrico. O som poderia ser melhor, o display é muito simples.
O HR-V equivalente vem com quatro
rodas e volante.
A suspensão é moderna, com sistema
McPherson nas quatro rodas, e uma calibração mais para o firme. Andamos em
asfalto bem sofrido e não ficamos demasiadamente incomodados. O peso elevado
traduz-se em solidez da carroceria, então a sensação do Renegade é de estar em
um cofre, bem sólido. Os freios a disco nas quatro são bons, e o pedal está bem
regulado de forma a uma boa “mordida” incial que não deixa transparecer o peso
elevado.
Incomoda a baixa altura do solo, e
raspamos numa saída de garagem que, embora não das mais suaves, qualquer
jipinho tiraria de letra. É de se questionar o quanto o Renegade 4x4 seria
realmente bom numa trilha.
Tudo posto, somado e considerado,
comprar o Renegade vai do quanto o fraquíssimo desempenho incomodar. Obviamente
existe esse público: uso unicamente urbano, congestionamentos com frequência,
deslocamentos limitados nos finais de semana, pavor de velocidade.
O carro em si é muito bom. Bonito,
bem-feito, criativo, bem equipado, bom de suspensão, sólido, espaço suficiente
com exceção do porta-malas. Então quem valoriza mais esses itens sobre o
desempenho não está mal servido.
Agora, quem já teve oportunidade de
guiar um carro com mais de 130 cv, e portanto já tem a memória do que seria um
desempenho razoável, precisa pensar muitas vezes se um Renegade não seria muito
dissabor ao encarar uma subida ou uma estrada. Estamos falando de dificuldade
para manter 120 km/h em estradas planas; em dificuldade de subidas leves em
velocidades urbanas. A falta de desempenho é um assombro. Então quem adquirir
precisa realmente ter certeza de que não vai se frustrar.
Estilo
10 – Sensacional. Diferente, bonito e cativante. Ressaltado nas cores vivas
oferecidas.
Imagem
– Jovem, um tanto mais feminino que masculino, gente descolada.
Acabamento
10 – Plásticos de qualidade, cromados, apliques em alumínio, botões com
acionamento correto. Não parece um Fiat.
Posição
de dirigir 8 – Um pouco alta, mas é o que se espera de um SUV. Uma pena o
volante sem couro nesta versão.
Instrumentos
9 – Bonito o cluster com visor digital e ampla legibilidade.
Itens
de conveniência 9 – Já vem bem equipado mesmo nesta versão.
Espaço
interno 7 – Não que dois adultos atrás fiquem muito confortáveis, mas não
compromete.
Porta-malas
1 – Porta-mapas. Porta-sacolas. Porta-trecos (pequenos).
Motor
8 – Isoladamente, é bom. Ronco agradável, números de potência e torque
condizentes.
Desempenho
0 – Sofre em qualquer condição que não seja plano em baixas velocidades ou
descida.
Câmbio
9 – Trocas suaves, boa calibração, e ajuda a extrair o máximo do motor sem
causar muito incômodo ao motorista. Trocas manuais na alavanca.
Freios
10 – Discos nas quatro rodas, e uma mordida bem convincente.
Suspensão
9 – Independente nas quatro, com boa calibração.
Estabilidade
7 – É um carro alto e pesado, mas que dentro do conceito inspira confiança para
curvas em altas velocidades. Ainda mais considerando o tempo empregado para
chegar a essas altas velocidades...
Segurança
passiva 8 – Poderia ter mais airbags. Tem o suficiente e um ótimo desempenho
nos testes de colisão.
Custo-benefício
8 – É muito boa a equação design + acabamento + equipamentos + suspensão. Problema
é o motor.
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