Teste: Volkswagen Move Up! TSI
O Up! chamou nossa atenção desde o
lançamento pela proposta altamente interessante: carroceria compacta, motor
moderno, extrema economia de combustível e também prazer ao dirigir. Seria,
digamos, o city-car dos que curtem dirigir.
E aí a Volks resolve apimentar ainda
mais essa história oferecendo o Up! turbinado, ou Up! TSI, com um desempenho
surpreendente e mantendo todas as qualidades do carro original.
Só que quando estamos com as
expectativas muito altas, é fácil dar com a cara no chão. O tombo é grande. Não
podemos dizer que o Up! TSi foi uma decepção, longe disso, mas fato é que não
agradou como achamos que iria agradar.
Vejamos onde o TSI foi bem:
- Design. Gostamos dele, sempre
achamos simpático. E tem a vantagem de ser bastante distinto dos outros
compactos e também do restante da linha Volkswagen, que justamente peca pela
similaridade em excesso. A nossa ver, o Up! tem cara de compacto europeu
moderno, coisa chique, diferente de carros que você olha e tá na cara que só
existem no Brasil como Onix e Palio por exemplo.
- Acabamento. Aqui é preciso explicar
algumas coisas. Sujeito se revolta com o fato do Up! ter metal aparente no topo
das portas. Aí acha muito melhor o plástico do Celta, mais duro que uma pedra,
áspero, cheio de rebarbas que se você apoiar o antebraço sai com um corte
profundo de sangrar até a morte agonizante. Metal não é melhor do que um bom
plástico, mas é melhor do que o que se vê revestindo a porta na maioria dos
compactos. Isto posto, é importante dizer que nessa categoria o encaixe das
peças é mais importante que seu aspecto, e o Up! tem a típica solidez alemã.
Todos os comandos têm a resistência certa, percebe-se que ali tem engenharia de
verdade.
- Equipamentos: a versão testada é a
mais barata dos TSI, a Move Up! com o único pacote de opcionais disponível,
incluindo rodas de liga leve, sensor de estacionamento traseiro, faróis e
lanterna de neblina por mil reais. Honestamente, tudo dispensável – a não ser
que você pegue neblina com frequência. O preço sugerido de R$ 44 mil inclui os
obrigatórios ABS e air bag duplo, mais direção elétrica, computador de bordo
(com velocímetro digital, muito útil), controle de tração, ar-condicionado,
chave canivete, trio elétrico (menos nos vidros traseiros) e som com CD,
Bluetooth, USB. Ou seja, tudo que é realmente necessário. E não vem com aquela
trapizonga do Maps & More que além de não funcionar direito parece uma
adaptação porca. Fôssemos comprar um Up! TSI, ficaríamos exatamente com essa
versão. Ou com a Speed Up!, que será um futuro clássico.
- Porta-malas: você abre a porta
achando que vai caber uma caixa de fósforos e não é que dá pra levar bastante
coisa? Claro que não é um latifúndio, mas não faz feio diante de outros
compactos mesmo maiores.
- Desempenho: anda muito. É
impressionante o que anda. São 105 cv a 5 mil rpm e 16,8 m.kgf de torque a 1500
rpm. Isso no papel, pois nos dinamômetros esse motor está mais forte ainda.
Esse valor de torque é coisa de carro 2.0, tem motor conhecido como “torcudo”
que não gerava isso. E já está no máximo a 1500 rpm. O resultado é potência em
qualquer rotação, com o carro ganhando velocidade rapidamente em qualquer
situação. Não é um Golf GTI – é preciso entender isso –, mas dá canseira em
qualquer 1.8 aspirado por aí. E olha, se o cara do 2.0 der mole o upzinho leva.
- Suspensão: Já estamos acostumados
com os carros duros da Volks, e por isso mesmo esperávamos um verdadeiro
cabrito. Ledo engano. O Up! está longe de ser o ápice do conforto, mas não
sacolejamos mais que o esperado em nosso trajeto, e olha que pegamos asfalto
bem judiado. Ao mesmo tempo, o conjunto é sólido e inspira confiança mesmo em
velocidades mais altas.
Sobre economia não podemos afimar
categoricamente, mas acreditamos de verdade que seja um do carros mais
econômicos do país. Regularmente fazíamos 14 km/l no computador de bordo.
Legal, até agora foram trezentos
parágrafos falando bem do carro num texto que começou falando de decepção.
Vamos começar então com a decepção
mais “leve”.
Quem anda atrás é bastante mal
tratado. Fator importante, claro, é o pouco espaço. O Up não é um carro que
leve duas pessoas de 1,80m uma atrás da outra. Mas nem é esse o problema, pois
é algo esperado num compacto. O problema são os bancos dianteiros com encosto
integrado. Aquilo forma um muro, uma massa preta enorme na frente dos
passageiros. Tira a visibilidade para frente, impede que se veja quem está nos
bancos dianteiros direito, dá até uma certa sensação de prisão. Não estaríamos
falando disso se a Volks tivesse colocados bancos normais no Up, com o encosto
de cabeça ajustável. Como está, a altura fica “regulada” para pessoas com 1,90m
e forma um “paredão” para quem está atrás. Veja abaixo o "paredão" formado pelos bancos dianteiros.
Mesmo assim, muita gente mal usa o
banco traseiro, ainda mais num city car. Então vamos pro problema de verdade:
O Up é ruim de dirigir.
Pois é. Imagine uma receita com
muitos ingredientes bons, mas que juntos não combinaram. E porque dizemos isso?
- A posição de dirigir é estranha. O
volante não regula em distância, então você fica muito perto do painel.
- O curso da embreagem, como em todo
Volks, começa no Oiapoque e termina no Chuí. Fosse um país, seria a Rússia.
Teria 11 fusos horários. Não dá pra entender o porquê de um curso tão
absurdamente longo de embreagem. Aí não tem posição de dirigir que aguente,
porque o motorista precisa dobrar a perna em excesso para acionar a embreagem,
e depois chegar ao final de curso com a ponta do pé.
- O câmbio é uma delícia, sabemos
disso, mas como cada mudança de marchas vem acompanhada do desprazer total de
acionar a embreagem, acaba tirando a alegria.
- O conta-giros minúsculo não combina
com esportividade. Sim, entendemos a argumentação da Volks sobre o TSI não ser
esportivo, e sim mais desempenho, e tudo mais, só que aquilo ali não dá.
Honestamente, não seria mais barato adaptar o ótimo painel do Fox?
- O controle de tração mata as
acelerações. Não no uso normal claro, mas depois de vermos como ele funciona dá
pra entender porque a Quatro Rodas não baixa o 0 a 100 km/h para menos de 10
segundos. Primeira engatada, pisamos fundo no acelerador e soltamos a
embreagem. O carro sai com muito ímpeto até uns 30-40 km/h, aí o controle de
tração entra em ação e corta toda a potência do motor por 1-2 segundos, e
depois o carro segue. Engatou segunda, o controle entra de novo em ação para
evitar destração, desta vez por menos tempo. O resultado é uma broxada fora de
contexto, você tá lá dirigindo o carro todo animado, curtindo o desempenho, aí
vai mandar uma acelerada monstra e o controle de tração, que não pode ser
desligado, mata tudo.
- O Up! vem com pneus verdes, de
baixa resistência ao rolamento. São milésimos de micronésimos de pentelhésimos
de gotas de combustível economizadas em troca da perda total do prazer em
dirigir. Não tenha dúvidas que o controle de tração mencionado acima seria
muito menos invasivo caso os pneus tivessem mais tração. Nas curvas é a mesma
coisa, qualquer empolgação a mais vem acompanhada de pneus cantando e frente
desgarrando.
Tudo isso somado, e a verdade é que
curtimos mais dirigir o HB20 do que o Up! E tinha tudo para ser o inverso.
Continuamos achando o Up! uma ótima
compra, especialmente o TSI na versão Move, mas num contexto de city car com
bom desempenho. Para o entusiasta do prazer ao dirigir, existem opções até menos
potentes, porém mais prazerosas.
Estilo
9 – Gostamos, achamos o Up! bonito, moderno, city car europeu do século 21.
Imagem
– Jovem, gente moderna, antenada com as tendências, e que não precisa carregar
família a tiracolo.
Acabamento
7 – É bem montado, tudo encaixa bem e tem acionamento adequado, e a parte
interna em metal não incomoda em absoluto. Faltou criatividade em adotar um
prateado aqui, um black piano acolá.
Posição
de dirigir 3 – Tudo culpa dos pedais muito altos: se você regular para a
embreagem, o freio fica muito próximo. Se regular pelo freio, não consegue atravessar
as mil milhas até o final do curso da embreagem.
Instrumentos
7 – Lamentável o conta-giros. Todo o resto, no entanto, é bom e o repetidor
digital do velocímetro é altamente bem-vindo.
Itens
de conveniência 7 – Esta versão vem com o necessário, e é de se pensar o quanto
os outros gadgets realmente fazem falta.
Espaço
interno 5 – É surpreendentemente bom, especialmente em altura. O que mata é a
sensação de claustrofobia do banco traseiro.
Porta-malas
8 – Surpreende, e é espero nos compartimentos.
Motor
10 – Fantástico. Economia superior aos 1.0 aspirados, ronco agradável, suave,
torcudo. É simplesmente dos melhores do país.
Desempenho
10 – Anda muito. Sofre com o controle de tração, mas mesmo assim é um
capetinha.
Câmbio
10 – Se desconsiderarmos a embreagem, temos aqui mais uma vez o MQ-200,
referência total em câmbios no Brasil.
Freios
8 – Freia adequadamente, com feeling agradável do pedal. Os pneus ecológicos
desapontam.
Suspensão
9 – Arranjo tradicional e calibração que foge um pouco da dureza comum aos
Volkswagen, gostamos bastante.
Estabilidade
7 – Os pneus aqui também não ajudam, mas isso se resolve sapatando o bicho com
bons Michelin. Aí é só partir para devorar uma serra...
Segurança
passiva 10 – Tem o obrigatório, que é o esperado na faixa de preço, e adiciona
notas fantásticas nos testes de colisão. Coisa de projeto moderno. Mas nego
compra Onix.
Custo-benefício
8 – Como city car econômico e de ótimo desempenho, vale cada centavo. Como
esportivo em prol do prazer em dirigir, não.
Comentários
Como de costume, os comentários mais sensatos e pertinentes eu só encontro aqui. Tudo o mais que se lê na imprensa é a repetição do mesmo, de pessoas e jornalistas que provavelmente não andaram nem como passageiro nos carros. No sábado último fiz um "test drive" no Up Tsi, e ainda que uma volta em poucos quarteirões não seja tempo suficiente para analisar um veículo, deixo aqui as minhas ponderações acerca dos defeitos, além das já comentadas pelo Dub:
- Teclas dos vidros e retrovisores elétricos não são iluminados
- Falta regulagem de altura dos cintos de segurança dianteiros
- Regulagem não milimétrica da inclinação dos bancos dianteiros
- Volante obstrui a visão do painel quando abaixado
- Vidros não sobem ao se acionar o alarme
- Não me lembro de ver luzes no porta-malas e porta-luvas
- Com 3 pessoas no carro e ar ligado, faltava força para atravessar cruzamentos e para transpor lombadas
- Punta-taco inviável
- Embreagem dura e de curso extremamente longo
- Muuuuuuita vibração em baixa rotação. Repito: Não me refiro ao barulho do motor, mas sim, a uma vibração forte e incômoda que senti no banco, no volante e nos pedais.
- Se eu me lembrar de mais alguma coisa, acrescento depois :-)
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