Teste: Chevrolet Prisma LT 1.4
Quem
viveu a época não pode deixar de comparar a linha de carros GM dos anos 90 com
a atual. Vinte anos atrás uma concessionária GMB era algo de se orgulhar, com
Corsa, Astra e Vectra representando o que de mais atual havia na Europa, e o
Omega defendendo uma honrosa tradução de grandes sedãs com tração traseira. As
próprias S10 e Blazer estavam atualizadas e ofereciam motores V6, sempre algo
interessante para o entusiasta. Aliás, juntamente com o Omega, eram três opções
de carros com motores de seis cilindros.
E
aí a GM matriz entrou em crise e levou todas as subsidiárias com ela.
Espremeram a filial brasileira até o osso e o resultado foi uma oferta de
produtos deficiente e pouco competitivos em todos os segmentos. Celta, seu
derivado Prisma e o Astra mais do que defasado eram os mais vendidos.
Com
a GM americana voltando a caminhar graças às generosas injeções de dinheiro
público, as subsidiárias voltaram a desenvolver e receber produtos mais
interessantes. O problema é que, na nova divisão das coisas, o Brasil foi
rebaixado à série B. Na GM, isso significa não receber mais os projetos bacanas
dos EUA e Europa, mas sim os pensados para “países em desenvolvimento”. Então,
enquanto a Opel na Alemanha apresenta modelos competitivos, aqui ficamos com a “segunda
divisão”, de carros pensados para serem baratos compartilhando a plataforma
GSV, “Global Small Vehicle”.
Quem
leu nosso teste
da Spin viu isso claramente. A Zafira, projeto mais antigo porém europeu,
oferece soluções como o sistema de rebatimento dos bancos que a Spin substituiu
por uma cordinha!!!
Tudo
é desgraça então? Não. Primeiro vamos reconhecer que a GM traz o Camaro, a
maneira mais barata de andar de V8 0km no Brasil (não se pode dizer isso da
Ford, pelo menos por enquanto). Tem também o Cruze, vendido igualmente em
países desenvolvidos. Por muito tempo manteve importação do Omega, que mesmo
pouco acessível era um carro V6 de tração traseira.
No
entanto, comparar o que a GM oferece no Brasil com a GSV versus o que existe na
Europa é sacanagem. Não fizemos isso com a Spin e não faremos agora. Por isso,
nesse teste do Prisma, vamos ignorar a existência do Corsa alemão e focar no
Prisma pelo carro que ele é.
O
objetivo do Prisma na linha da GM é brigar num segmento de sedãs compactos que
no Brasil exibe vendas elevadas, ao contrário do resto do mundo que, exceção
feita a um ou outro mercado, prefere hatches quando se fala de carro pequeno.
Aqui o bicho pega e engalfinham-se Voyage, Siena, Ka+, HB20S e Etios, sendo que
Cobalt, Logan e Grand Siena brigam numa faixa parecida em preço, mas de maior
espaço.
Sempre
é difícil fazer um sedã pequeno bonito visualmente, mas dentro do que se espera
na categoria o Prisma é um dos mais agradáveis. A frente é proporcional e a
traseira tem até algum charme com os cromados das lanternas traseiras. O
terceiro volume surge como um prolongamento natural do veículo; tudo combinado
mostra o talento da GM em desenhar este tipo de carro, com Classic, Corsa Sedã
e o primeiro Prisma na linha de desenhos agradáveis.
Dentro,
o interior segue a filosofia GM de diversidade de cores para um interior
interessante, assim como na Spin. Então o contratste entre os tons de cinza e
preto no painel e nos bancos formam um conjunto agradável, que mascara o
material pobre utilizado – o
Gol testado recentemente usa o mesmo material pobre, mas a sobriedade do
interior faz com que ele pareça pior. A criatividade só foi excessiva nos
puxadores de porta, que ficam muito baixo e dificultam fechar as portas por
dentro.
O
cluster também é família GM na junção de informações digitais com um
conta-giros analógico. O velocímetro vem em tamanho king size, acompanhado de
um mostrador de nível de combustível por barras, além de hodômetro total e
parcial e hora. Versões superiores trazem computador de bordo, mas nenhuma
indica a temperatura da água! No M4R já somos contra a extinção do marcador de
ponteiro e sua substituição por um LED de aquecimento, mas não indicar a fase
fria, na qual devemos tomar cuidado em não acelerar a pleno, é um pouco ousado
demais.
A
posição de guiar requer adaptação, pois não é intuitiva. O banco do motorista é
muito alto, mesmo na regulagem de altura mais baixa, ao ponto em que pessoas
com mais de 1,90 não conseguem dirigir o carro. Essa posição alta faz com que
acionemos os pedais um pouco por cima, como numa Scénic das antigas, o que é
igualmente estranho. Some-se a isso uma posição de guiar ligeiramente enviesada
e temos um contorcionismo do motorista que não é agradável. Estranhamos muito
no começo, mas depois de uns 100 km acabamos acostumando. O banco em si é bom,
o tecido é um tanto áspero, mas a conformação da espuma é adequada.
Não
tem como fazer milagre com o espaço interno em sedãs pequenos e, embora o
Prisma não seja dos piores (o entre-eixos é de carro médio de alguns anos
atrás, com 2,53m), o espaço para pernas é limitado atrás e a largura só permite
dois ocupantes com relativo conforto no banco traseiro. Já o porta-malas é do
tipo gigante, com 500 litros de capacidade.
O
modelo testado era o LT 1.4, combinação pouco usual do maior motor com o nível
inferior de equipamentos. O nosso tinha os obrigatórios ABS e air bag duplo,
mais ar (elogios ao botão de acionamento para fechar o ar externo), direção
hidráulica de peso adequado, vidros dianteiros elétricos com um toque (a
sensibilidade deveria ser revista, pois não acionar o um toque de forma subir
ou descer o vidro apenas um pouco é muito difícil), travas elétricas, uma bela
chave canivete, comando interno de abertura do porta-malas, sensor de
estacionamento traseiro (não gostamos, pois é impreciso; parece adaptação feita
em concessionária) e a regulagem de altura do banco do motorista, que já
falamos. O que fez falta: ajuste de distância do volante, faróis de neblina,
retrovisores com ajuste elétrico, computador de bordo e rodas de liga, itens
encontrados na LTZ com exceção do primeiro. A LTZ traz ainda o MyLink que
avaliamos na Spin e gostamos.
Avaliamos
o motor 1.4 com etanol, explorando portanto seus 106 cv a 6000 rpm e os 13,9
m.kgf de torque a 4800 rpm. Existe boa potência disponível desde baixos giros,
e o peso comedido de 1079 kg ajuda a dar desenvoltura ao carro. Claro que o
máximo de performance só é extraído com a rotação lá em cima, mas ele gosta de
ser girado e isso acaba endo um prazer para o motorista empolgado. Vale notar
que não dirigimos o Prisma com capacidade máxima de pessoas e bagagem, isso
pode mudar esta referência. É também econômico, entregando valores superiores a
10 km/l de etanol em condução vigorosa na estrada.
Ponto
positivo é o silêncio a bordo, digno de carros superiores. Não se ouve o motor
em marcha-lenta e seu ronco só invade o habitáculo em altas rotações. Não se
pode dizer o mesmo do acabamento, pois na unidade testada (com 800 km rodados),
já havia ruídos de encaixes plásticos bem audíveis em piso irregular.
O
câmbio é bastante anatômico e as marchas entram com facilidade, inclusive a ré,
acionada via botão por estar próximo à primeira. O curso é um pouco longo
demais, característica comum nos GM. Os pedais têm acionamento correto,
inclusive a embreagem, mas o ABS nos causou estranheza: em simulação de
frenagem de emergência foi muito alto o barulho de pneu “cantando”, embora sem
fumaça e sem marcas no chão. A capacidade de frenagem, no entanto, e mesmo com
tambores atrás, é excelente.
A
suspensão, de receita tradicional, privilegia o conforto e com isso o Prisma é
muito composto em piso irregular, passando por ondulações com serenidade. Mesmo
assim a estabilidade é mais do que suficiente considerando-se a proposta e
potência do carro, e ele vai bem “plantado” no chão em velocidades de estrada.
Tudo
somado, o Prisma 1.4 LT mostrou-se bastante agradável e cumpre com dignidade a
função de ser o único carro de uma família. Traz soluções criativas, como o
acabamento interno, e mesmo na versão LTZ nenhum opcional muito importante
ficou de fora. É bastante agradável de guiar, uma vez que se acostume com a
posição de dirigir.
O
único senão fica realmente para a concorrência. A GM é especialista em lançar
carros do mesmo nível da concorrência – vide o
Vectra, espelhado no Corolla Brad Pitt -, e isso acaba deixando seus carros
sem grande diferencial competitivo. Quem estiver procurando um carro deste tipo
estará bem servido com o Prisma, mas só testando um HB20S para saber se fez a
melhor escolha.
Estilo
8 – Ficou bom e harmonioso; a traseira é ponto alto, algo raro em sedãs desse
porte.
Imagem
– Único carro da família.
Acabamento
7 – Gostamos da montagem e do uso de diversas cores; reduzimos a nota pelo
barulho interno.
Posição
de dirigir 4 – Estranha; tome tempo e teste bem antes de comprar o carro pois
pode ser que você não se acostume.
Instrumentos
2 – Sumiram com o marcador de temperatura!
Itens
de conveniência 7 – Tem o essencial e quase nenhuma firula; no dia-a-dia é o
que importa.
Espaço
interno 7 – O amplo entre-eixos garante um ambiente que, se não é espaçoso,
também não ofende.
Porta-malas
9 – Enorme com 500 litros. As dobradiças são pescoço de ganso, mas ficam bem
nas extremidades e atrapalham pouco.
Motor
9 – Encontramos torque em baixos giros e bom ronco e desempenho em alta. Gosta
de girar.
Desempenho
8 – Se o motorista não for preguiçoso, o Prisma não passa vergonha.
Câmbio
8 – Ótima manopla e relação de marchas bem pensada; engates poderiam ser mais
curtos.
Freios
8 – Tirando a atuação estranha do ABS que explicamos, a capacidade de frenagem
é ótima. A sensação do pedal é um tanto molenga.
Suspensão
10 – Gostamos do compromisso entre conforto e estabilidade; é postura de carro
médio.
Estabilidade
7 – Suficiente.
Segurança
passiva 8 – Traz o obrigatório. A LTZ deveria ter mais airbags como opcional.
Custo-benefício
7 – Essa versão sai por R$ 47.820 no site da GM. Entendemos que é a média do
mercado e as concessionárias GM aplicam descontos generosos, mas não podemos
deixar de achar um tanto exagerado quase R$ 50 mil num Prisma.
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