Teste: Nissan Livina S 1.8 automática
Faz
tempo que queríamos testar uma Livina, desde que ficamos muito bem
impressionados ao ser transportados por ela em diversas situações. Acabou só
acontecendo agora, mas ainda em tempo.
Olhando
de fora, a Livina parece ser saída da prancheta como uma espécie de resposta de
projetistas e engenheiros a uma pergunta simples: “se uma pessoa só pudesse ter
um carro, como ele seria?”. Note que não é uma pergunta direcionada ao público
de países desenvolvidos, que via de regra podem se dar ao luxo de terem mais
carros na família – é o Jeremy Clarkson que diz que “não gosta de peruas, elas
são para pessoas com poucos carros”.
Dentre
as escolhas que projetistas e engenheiros precisaram fazer na criação da
Livina, dentro da hipotética pergunta acima, está a de fazer um carro acessível
e, portanto, sem capacidade de fora-de-estrada, algo que sempre deve ser
considerado ao se desenhar carros “pau pra toda obra”. Mas fora isso, a Livian
cobre todos os outros pontos: tem desempenho suficiente para andar carregada,
com motores 1.6 e 1.8; tem espaço interno para cinco pessoas, sete na versão
Grand; porta-malas amplo; lista de equipamentos que, se não brilha, também não
deixa nada relevante de fora; e ainda por cima é barata em custos de
abastecimento e manutenção.
O
desenho já segue essa filosofia, sendo agradável e de lento envelhecimento ao
mesmo tempo em que segue a função do carro. Lembremos que a Livina já tem cinco
anos de Brasil sem nenhum face-lift e nem por isso parece antiga – o que não se
pode dizer de alguns Hyundais que já saem datados das pranchetas...
O
interior tem a mesma pegada. É muito funcional e se você é daqueles que gostam
de surpresas, este não é o seu lugar. O cluster, com iluminação em amarelo,
traz o conta-giros na esquerda e troca o ponteiro do termômetro da água por luzes-espia.
Uma pequena tela digital à direita mostra quilometragem e a marcha selecionada,
mas em “D” não indica a marcha em uso, somente “D”. Todo o resto está onde se
espera: controle dos vidros na porta, saídas de ar no topo no painel, com o
rádio logo abaixo no controle central, em seguida os (enormes) comandos do
ar-condicionado manual e depois porta-copos. Um lugar onde qualquer motorista
rapidamente se sente à vontade.
O
acabamento, como seria de se esperar, segue o padrão japonês de boa montagem completamente
sem luxos. Plásticos são rígidos mesmo no painel e agradável interior em dois
tons, mesclando preto e cinza claro – nossa combinação favorita no M4R – foi
substituído nos modelos mais recentes por um ambiente todo preto, que se por um
lado é mais fácil de limpar, por outro é bem sem graça. A unidade testada, com
pouco mais de 20 mil km, apresentava ruídos bem perceptíveis de acabamento
(conhecidos como “grilinhos”), o que é incomum em japoneses.
O
motorista se acomoda bem de imediato, o que mostra cuidado no projeto. O
volante é regulável em altura e mostra boa pega, auxiliado pelo acabamento em
couro perfurado presente nessa versão. Faz falta o ajuste de altura do cinto,
que pode incomodar os motoristas fora da “altura média” entre 1,75 e 1,80m. Também
não há ajuste de altura do banco ou de distância do volante (o que mereceria
ser revisto).
O
espaço interno em geral é excelente, bem amplo na frente e que não compromete o
espaço traseiro para pernas mesmo com motoristas mais altos. É carro para andar
com quatro pessoas por longos trajetos sem contorcionismos – o quinto ocupante
sempre sacrifica algo pois nenhum carro desse tamanho é largo o suficiente. O
porta-malas de 449 litros é cavernoso e, ao contrário do que acontece em sedãs,
a utilização em modelos como peruas e minivans é muito mais versátil em termos
de acomodação de itens de tamanho pouco convencional.
A
versão “S” da Livina, como a testada, foi criada em abril de 2010 como uma
versão intermediária entre a básica e a SL, e os equipamentos de série incluem
direção elétrica (ótima na cidade, bastante macia), ar manual, vidros, travas e
retrovisores elétricos, air bag duplo, ABS, trava das portas por controle
remoto, rádio CD/MP3 e rodas de 15”. Com o tempo, ganhou para-brisa degradê,
travamento automático das portas (!), alarme, iluminação no porta-malas e apoio
de braço central dianteiro.
A
Livina testada combina um motor 1.8 16v de 126 cv a 5.200 rpm com 17,5 m.kgf de
torque a 4.800 rpm. Nota-se de cara que não é girador, portanto com bons
números de desempenho já em baixa rotação, o que agrada bastante na condução
urbana. Não é o negócio dele ser levado ao limite de giros. Merece elogios a
estratégia da Nissan de dedicar este motor mais torcudo à Livina automática,
enquanto a manual fica com 1.6 muito mais girador. A Honda poderia aprender com
isso: seus motores são ótimos, mas essa característica de potência e torque a
nove mil rpm não combina com câmbio automático. Câmbio automático quer torque
em baixa.
Conhecida
pelos CVTs, a Nissan aplicou um simplório câmbio automático de quatro marchas à
Livina. Quatro marchas nunca são melhores do que cinco ou seis, mas a
calibração desta unidade merece ser estudada por todas as montadoras que ainda
oferecem este tipo de câmbio em seus carros. Uma primeira curta para grande
agilidade nas saídas, mas que não sente “buraco” para a segunda marcha devido
ao conversor de torque estar sempre de prontidão. As trocas são suaves, as
retomadas em baixa velocidade – situação crítica nesse tipo de câmbio – também,
e a quarta é longa para conforto em viagens. Seria melhor um cinco ou seis
marchas? Sem dúvida. Mas como está, não desaponta; ao contrário, surpreende.
A
suspensão de conceito simples, McPherson na frente e eixo de torção atrás, tem
padrão Ford de calibração e isso é um elogio dos bons: conforto em pisos
irregulares, ao mesmo tempo com estabilidade adequada e precisão de direção. Os
pneus 185/65 R15 são bem dimensionados, altos o suficiente para resistir a
buracos e largos o suficiente para dar segurança.
Os
freios são a tambor atrás, mereceriam ser a disco, mas a “mordida” do pedal de
freio é decidida e passa segurança ao motorista.
Tudo
isto posto, a Livina responde de forma competente ao desafio do início do
texto: “se uma pessoa só pudesse ter um carro, como ele seria?”. Pode
tranquilamente ser uma Livina, que leva toda a família com espaço, conforto e
competência, sem negar fogo em nenhum item. A versão automática então é
parceira de todos os momentos, do trânsito pesado às longas viagens em estradas.
Claro que existem ressalvas: a lista de equipamentos não é lá essas coisas
(aliás não costuma ser em nenhum carro japonês), faltam regulagens para
acomodação do motorista, temos dúvidas quanto à durabilidade do acabamento e,
cá entre nós, se você curte “pimenta” no carro a Livina não é a melhor opção.
Mas não encontramos nenhum outro carro nessa faixa de preço que responda tão
bem à pergunta acima.
Estilo
8 – Forma que segue a função. Não parece que já tem cinco anos de mercado.
Imagem
– Digamos que dificilmente o James Bond aparecerá de Livina no próximo filme.
Mas também mostra que o dono não se rende a modinhas idiotas tipo “escultura
fluida”.
Acabamento
5 – Materiais simples, mas bem montados. Aparentemente ruidosos.
Posição
de dirigir 6 – Em que pese a falta de regulagem de altura do cinto e do banco,
e de distância do volante, não é ruim.
Instrumentos
5 – Gostamos de painéis com termômetro de água e computador de bordo.
Itens
de conveniência 7 – Tem o que precisa ter. O que não inclui mimos.
Espaço
interno 9 – Leva todo mundo com conforto.
Porta-malas
8 – Amplo, quadrado, disposto a carregar tralhas variadas. Acabamento poderia
melhorar.
Motor
8 – Tem um ronco gostoso e torque em baixa, o mais importante nesse tipo de
carro.
Desempenho
7 – Dificilmente está no topo da prioridade do comprador de Livina. Mas se o
boy do Gol 1.0 estiver ouriçado, dá pra dar um espanco nele.
Câmbio
7 – Um dos melhores quatro marchas que já tocamos. Entre botão que desabilita a
quarta marcha e as posições “2” e “1” no câmbio, dá pra selecionar todas as
marchas em descidas de serra.
Freios
7 – Gostaríamos de disco atrás. Mas está bem.
Suspensão
9 – Ponto alto, confortável e estável.
Estabilidade
8 – Surpreendente para o carro.
Segurança
passiva 6 – Sempre fica no ar a questão se esses carros familiares não deveriam
vir com trocentos airbags de fábrica. Como está, cumpre o esperado.
Custo-benefício
9 – Uma das melhores opções quando se pensa em um carro multiuso.
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