Comparativo: Celta Life 1.0 VHC x Palio 1.0 Fire
Concordamos com quem diz que comprar o Uno é fogo. É um carro que eu admiro, gostoso de dirigir, espaçoso e de ótima visibilidade, mas anos de abuso por parte das prestadoras de serviço da Telefônica transformaram o carro num mero meio de transporte. Então é difícil não pensar em incluir mais dois mil reais na conta e levar um carrinho com mais cara de moderno.
Os números de vendas mostram que a escolha “do povo” tem ficado entre Palio e Celta nas versões de entrada. Quase todos os concorrentes são fáceis de tirar da equação: o Fiesta fica numa categoria superior em peso, em preço e sofre com o motor 1.0. O Clio pena igualmente com o 1.0 8v. O Ka é um carro de nicho e o Gol, que seria mais competitivo, tem sérios problemas de seguro e dirigibilidade. Ficamos então com Fiat e GM. Excluindo-se os jurássicos Mille e Classic, chegamos ao embate dos líderes Palio e Celta, no PRIMEIRO COMPARATIVO já realizado na história do Minhas quatro rodas. Curvai, que este momento é histórico.
Estilo
Ambos são modernos e agradáveis. O Celta ganhou a identidade do primo maior Vectra, enquanto o Palio básico adotou a cara do Palio atual (e que será remodelada em breve). Tendo em vista que a Fiat prepara o assassinato do Palio assim como a VW fez com o Gol G4, é bom guardarmos com carinho os apelos desta geração.
No total, o Palio agrada mais, embora o Celta seja mais harmonioso entre o desenho frontal e o lateral. Giugiaro foi muito feliz na frente da família Palio, que ganhou um certo diferencial com as molduras pretas. Além disso, a identidade externa com os carros superiores faz com que o Palio pareça mais requintado que o Celta aos olhos de quem está na rua. Dois senões vão para as posições dos piscas traseiros no Fiat e dos dianteiros no GM – ficam no lado interno dos conjuntos ópticos, dificultando a visão imediata de quem está ao lado.
Acabamento
Os painéis de plástico nas portas, solução para cortar custos e aumentar em mil por cento o barulho interno após 5 mil km, sem contar as superfícies ásperas ao toque, estão em todo lado na produção nacional: Fiesta, Ecosport, Gol, Fox, Celta, Prisma, Corsa, Clio e... nenhum Fiat. O Mille deixa à mostra o metal da carroceria, mas o Palio Fire tem tecido na porta toda, desde o vidro até o porta-mapas. Os plásticos (apoio de braço, painel, console) são de uma qualidade (?) tão ruim quanto os do Celta, mas ao menos o tecido é uma garantia de menos ruídos e melhor resposta ao toque.
O Celta ganha pontos, todavia, pelo seu painel inteiramente novo, de grafismo interessante e similar ao da linha SS. O Fiat usa o painel e o console da geração anterior, que por sua vez tem vários elementos da primeira geração. Por várias vezes eu me senti num Palio 2001, ao invés de um modelo 06/07 – o que não é de todo ruim; o volante da geração antiga tem empunhadura melhor e é feito de um material mais macio, assim como o pomo do câmbio é mais ergonômico.
Destaque para o conta-giros no Celta; o Palio contra-ataca com um inusitado espelho com tampa no pára-sol do motorista (coisa de carro médio) e com as pontas das alavancas de seta e do limpador do pára-brisa em material emborrachado e agradável ao toque. Ambos têm o encosto dos bancos dianteiros revestidos em vinil e um tecido bem pobre na parte superior.
No geral, apesar da aparência antiga, o Palio trata melhor os ocupantes e mostra algum esforço na Fiat em prol dos passageiros, enquanto o Celta é todo só redução de custos.
Posição de dirigir
Mais uma vantagem par o Fiat, beneficiado por um projeto muito bem bolado ainda nos anos 90. O volante tem boa pega, e está alinhado com os pedais, coisa que o Celta não faz – a ainda por cima seu volante é de um material mais rígido.
Ambos têm pedais e câmbio muito macios – neste caso, o que disfarça um pouco o fato de serem pouco precisos. A ergonomia também é correta nos dois, embora o Palio avaliado estivesse com os comandos ao lado do volante um tanto duros.
Instrumentos
Vantagem nítida do Celta: traz conta giros, hodômetro total e parcial que aparecem ao mesmo tempo (no Palio é preciso alternar entre eles através de um incômodo botão no painel) e um grafismo bem mais elegante. A solução do Palio (uma chapa plana com os gráficos e apenas os ponteiros se destacando) é notória pela simplicidade e pobreza - é usada também nos Corollas mais simples. Embora a iluminação alaranjada do Palio seja melhor, a amarelada do Celta não desagrada. Ambos trazem marcador analógico de temperatura, algo muito bem-vindo (até há pouco tempo, a norma na categoria eram luzes-espia).
Itens de conveniência
O Palio avaliado trazia o kit Celebration, composto por ar condicionado, direção hidráulica, limpador e lavador do vidro traseiro, travas e vidros dianteiros elétricos e rodas aro 14”, enquanto o Celta era básico. Descontadas as diferenças de preço, ambos ficam mais interessantes com a adição de alguns opcionais, o que por sua vez leva o preço do carro às alturas (o Palio com este kit Celebration sobe a mais de 31 mil reais). Ar-condicionado é importante, embora adicione peso e roube potência de carros que já não são especialistas em desempenho. Direção é dispensável, posto que os carros são leves.
Espaço interno
É difícil falar em transporte confortável de passageiros nessa categoria. Quem vai atrás tem de ser conformar com um espaço mínimo para as pernas e ombros, embora só os mais altos reclamem da altura do teto. Viagens longas, só com três pessoas no máximo (e não só pelo espaço, mas também pelo desempenho do motor). Uma vantagem do Palio são os bancos dianteiros mais largos e confortáveis que os do Celta, embora tenham apoio lombar em excesso.
Porta-malas
A vantagem do Palio não é significativa a ponto de fazer diferença. São carros compactos, nos quais até fazer supermercado é complicado. Levam bem a bagagem de duas pessoas econômicas nas malas (ou seja, uma cada um, mais uma sacola).
Motor
São unidades modernas e bem suaves, que sobem de giro rápido. O Fiat é um pouco menos áspero que o Celta. Ambos são incrivelmente econômicos na cidade, embora na estrada bebam mais do que deveriam por conta das relações de marcha muito curtas. O GM se sente mais à vontade com álcool, parecendo ser um motor desenvolvido para este combustível – já o Fiat mostra ser uma adaptação. A injeção de gasolina para partida a frio pareceu ser mais eficiente no Celta, já que o Palio demonstrou dificuldades para manter a marcha lenta logo após ligado (e não era um dia frio).
Desempenho
Um dos méritos dos 1.0 é fazer você desejar um 1.4. São muito fracos. Qualquer retomada a menos de 3 mil giros é um sufoco, fazendo com que as trocas de marchas sejam necessárias até mesmo para trocar de pista rapidamente numa avenida. Na estrada, não têm dificuldades em manter a velocidade em torno de 120 km/h, a não ser em caso de subidas mais fortes (nota aqui para a extrema perda de potência notada no Palio ao se acionar o ar-condicioinado, fazendo com que fosse necessário desligado antes de realizar uma ultrapassagem).
Trabalhando com o câmbio para manter as rotações altas, é possível extrair um desempenho adequado dos carros, com alguma reserva para sair antecipadamente num semáforo, por exemplo. Mas não há que se ter dó do motor: é preciso levá-los a giros altos mesmo.
Câmbio
Ergonomicamente, é melhor no Palio, com um curso mais curto da alavanca. O GM tem uma estranha inclinação à direita: ao se engatar a primeira marcha, o câmbio está nitidamente na posição vertical, enquanto engatar a quinta é uma boa desculpa pra se passar a mão nas pernas de uma passageira, de tão à direita que fica.
Em termos mecânicos, o fato de a caixa ter relações mais curtas no Celta não afeta em demasia o dia-a-dia – ambos pedem constantes mudanças. No entanto, a primeira mais curta do Celta lhe confere uma prontidão maior em subidas sem “embalo” de velocidade, situação que no Palio requer uma certa queima da embreagem.
Freios
Do jeito que são leves e pouco potentes, até uma sola de sapato no chão pararia esses carros. Assim, os conservadores conjuntos de disco e tambor dão conta do recado. Nota positiva ao Palio, que não apresentou o sistema binário de freios que caracterizava os 1.0 EX e ELX antigos: ou tudo ou nada.
Suspensão
Nitidamente mais macia no Palio, portanto mais confortável mais também com maior inclinação nas curvas e nas acelerações. Pode assustar quem não estiver acostumado ao body roll – ainda mais no caso dos Palios com direção hidráulica, que é muito leve e rápida, e portanto pode levar até a uma situação extrema de capotamento caso o motorista seja muito brusco. O Celta é mais bem postado no chão, e também mais duro com as irregularidades do piso. É difícil apontar um melhor, posto que nenhum dos dois é mais equilibrado que o outro. Minha preferência pessoal recai no Celta, menos propenso a sustos.
Estabilidade
Aqui sim o Celta dá um banho, e vale lembrar que o Palio avaliado tinha rodas maiores, aro 14”. Pegar curvas com o carrinho é uma delícia – faz lembrar um pocket rocket pelas relações fechadas do câmbio (só não vale checar o velocímetro nem reparar no Santana que acabou de ultrapassá-lo sem fazer força...).
Segurança passiva
Olha os dois se escondendo de vergonha. O Celta ao menos vem com encostos de cabeça traseiros de série, que no Palio vêm com o kit Celebration. De resto, cinto subabdominal para o terceiro passageiro do banco traseiro. É balela dar vantagem ao Palio aqui por oferecer airbag como opcional – provavelmente o único feito assim é o da frota da imprensa.
Custo-benefício
Os carros no Brasil passaram por um aumento muito abusivo de preços. Na faixa que estes compactos brigam, 12-14 mil dólares, é possível comprar um Civic nos Estados Unidos. Em que pese a valorização do real, ainda assim estão caros. Mais justo seria cobrar a metade, algo em torno de 15 mil reais.
Ambos têm preços parecidos e vêm básicos de série. A escolha de opcionais é prejudicada no Fiat, pela falta de opções desvinculadas a itens desinteressantes. Ainda assim, são a opção válida neste segmento de entrada, posto que os 1.0 mais completos já não têm sentido diante da nova gama de 1.4s.
Apenas 0,1 ponto na média, ou seja, apenas um ponto entre os 15 itens separou os dois competidores. São ambos carros muito equilibrados e a escolha entre eles depende muito do perfil do motorista. Na minha opinião, o esmero (!) no acabamento, a posição de dirigir e o conforto do Palio se sobressaem à esportividade e ao melhor desempenho do Celta (que deve muito ao câmbio mais curto).
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Com este comparativo, nos despedimos de 2006. Boas Festas e até o ano / modelo 2007!
Comentários
Acabei optando pelo Celta pois o atendimento de Vendas da Fiat foi péssimo em relação ao pessoal da GM. Espero ter feito uma boa escolha e fiqie feliz em saber que o desempenho do Celta é superior ao Palio!
Beta
PS: seu blog entra no meu rol de leituras diárias. :)
Muito obrigado pelos elogios e parabéns pela compra! Muita felicidade com seu carro novo!
Como já disse antes, seu blog é ótimo, mas tenho um sugestão: vc poderia colocar TAGS nos posts. Como agora sou leitor assíduo (rsrsr) fico lendo TUDO, mas confesso que fica meio complicado ler a postagens mês-a-mês. Com as TAGS vc pode agrupar os posts por categoria, que fica bem mais fácil de procurar. Pense nisso...
Abraço e continue postando!
Obrigado.
recomendo