Santa Ana


E o Santana se foi. Na verdade se vai, pois será produzido até o final de maio para atender à demanda deste ano. E aí, acabou. Você vai sentir falta? Nem eu, que sou usuário de táxi até com uma certa regularidade. E o seu Antônio, taxista? Eu acho que também não.

Taxistas do mundo todo, ou talvez quase, só pensam no próprio umbigo. É impressionante como o conforto do passageiro vem em segundo plano. Nada mais absurdo do que um Celta ou um Uno táxis, quando mais os Fuscas que permearam o Brasil – e ainda o fazem no México. Tudo em nome da economia e da durabilidade para o taxista, não o passageiro (que me perdoem aqui os que têm consciência dessa questão. Já andei em táxis novinhos em folha, com jornais, revistas e balas à disposição, e até DVD).

O Santana é um exemplo desses, ainda que melhorado. O banco é duro e desconfortável; a suspensão é molenga. O carro não tem saída de ar para os passageiros desfrutarem melhor do ar-condicionado (ok, acho que nenhum carro nacional tem). E, principalmente, aquele projeto antigo delega um espaço ridículo para a porta traseira. O acesso é horrível, e o espaço interno só se salva se o taxista colocar o banco dianteiro do passageiro todo para frente. Tudo em nome de confiabilidade e manutenção barata.

Para sorte dos usuários, a GM tem se movido com destreza nesse campo, e legiões de Merivas, Astras e Vectras têm tomado o lugar do velho guerreiro da Volkswagen. Ainda bem. Seu Antônio: venda esse Santana de bons serviços e invista num Astra. Há espaço na mala para seus cilindros de gás, há muito torque nos motores 1,8 e 2,0, e uma porta traseira decente, com um espaço interno idem.

(Ou então que coloquem em prática uma cobrança proporcional ao conforto, como aliá os Fuscas fazem no México. Carro pequeno sem ar, tanto. Carro pequeno com ar, mais um pouco. Carro grande com ar, mais tanto. E até transporte executivo - Zafiras, Vectras e Omegas com banco de couro e outras amenidades).

E daí vai outro ponto: como o carro top de linha da montadora que mais vendeu carros neste país por anos a fio, e que introduziu o ABS por aqui, termina sua carreira como carro de taxistas e seguranças?

Desinteresse e falta de percepção mercadológica. Até 91, o Santana acompanhava, ainda que defasado, o que saía na Europa. Então a VW decide separar as coisas e evoluir o carro localmente. Foi bem durante um tempo, até que, pouco a pouco, o Tempra e os importados mostrassem qual era a realidade para este veterano. Investir num carro de luxo, aparentemente, não era importante para a VW na época. A Fiat vinha com o já mencionado Tempra, e a Chevrolet rompeu ainda mais ao acabar com o Opala e produzir aqui o Omega, alvo de aplausos por pessoas que entendem muito de carro (embora eu particularmente não tenha um apreço). Será que daria trabalho? Com certeza sim: impossibilidade de se instalar air-bags, entreeixos muito curto, portas estreitas, “feel” de carro anos 80 (painel muito alto, maçanetas de gatilho).

Então o Santana foi se fossilizando como carro grande, numa faixa de preço débil, com concorrentes melhores até mesmo dentro da própria Volkswagen (Bora e Polo sedã). Uma pena mesmo, pois era um carro para ter uma despedida glamurosa, e não a última unidade ser um branco, 1,8 a álcool, com dois cilindros de gás no porta-malas.

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