Carro popular do governo

Tem muita bobagem sendo falada e escrita a respeito do novo carro popular como quer o governo.

 

A primeira é a especulação sobre quais equipamentos seriam retirados ou simplificados dos carros atuais para baixar seu preço. Essa conversa é absolutamente inútil. Um carro vendido a R$ 70 mil hoje não chegaria a reduzir R$ 10 mil no preço se fossem removidos itens como direção elétrica, ar-condicionado, conjunto elétrico e quetais. Lembrando que airbags e ABS são obrigatórios por lei. E não faça as contas pensando no valor que esses equipamentos têm para nós, pobres mortais, quando vamos adquiri-los como opcionais por exemplo. O custo para a fabricante é bem menor e é isso que ela quer com a redução.

 

A segunda é que os fabricantes não estão aqui para perder dinheiro ou fazer caridade. Se as regras do novo carro popular forem muito draconianas, elas simplesmente não entram no jogo. Obriga-se o carro a ter um teto de preço por lei e a fabricante simplesmente pula fora do barco se aquele carro não for representar lucro, preferencialmente por uma combinação de lucro na unidade vendida e redução geral de despesas ao manter uma fábrica mais cheia em termos de produção.

 

A grande alavanca para baixar o preço dos carros está em impostos. Que impostos o governo vai abrir mão? Lembrem que toda a história do carro 1.0 como carro popular se deve ao lobby da Fiat que conseguiu expressiva redução de impostos para essa categoria de carros, em seguida lançando o Uno Mille.

 

Só que o governo tenta aprivar um arcabouço fiscal que depende fortemente de aumento de arrecadação pra dar certo, porque neste país ninguém quer abrir mão dos seus privilégios e os outros que se fodam. Então seria necessária uma conta de redução de carga porém aumento de arrecadação com vendas, e isso não é fácil de fechar.

 

E fica ainda mais difícil com os juros nas alturas, prejudicando a capacidade das pessoas de obterem um financiamento pagável. E os juros estão nas alturas porque o governo não se compromete com um ajuste fiscal e acerto de contas. Não consegue convencer setor nenhum a abrir mão de privilégios e benesses.

 

Pode ser que seja possível configurar uma condição em que realmente existam carros mais acessíveis, ou menos caros. Mas do jeito que está hoje, a saída seria o governo abrir mão de arrecadação, o que parece improvável do ponto de vista racional, porém admissível numa atitude eleitoreira de um governo que já acenou aos mais pobres e agora precisa conquistar a classe média.

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