O caminho é uma Strada


Em 2021, o Brasil foi disparado o melhor mercado em vendas para a marca Fiat: 431.018 unidades vendidas, mais de 50% à frente do segundo melhor mercado que é a Itália, com 269.331 unidades. A partir dali as vendas despencam: pouco mais de 120k na Turquia, 95k na Alemanha, 55k na França.

Seria de se esperar então que a Fiat se dedicasse sobremaneira ao mercado brasileiro, oferecendo aqui produtos de alto nível, equiparados aos da Europa, atuando em todos os segmentos com um portfólio amplo, robusto e inovador.

Sabemos que não. O único produto de classe mundial vendido pela Fiat no Brasil é a Toro, um merecido sucesso de vendas. O resto do portfólio é dureza. Tem aquele Mobi horroroso, feio, mal ajambrado. Tem o Argo e o Cronos que, se não estão amplamente defasados em relação à concorrêmcia, também estão longe de representar a vanguarda tecnológica. Chegando agora, ainda não disponíveis em 2021, estão o Pulse, que é o Argo Adventure, tamanha a semelhança com o hatch, e o estranhíssimo Fastback cuja quantidade de metal entre o topo da caixa de roda traseira e o teto dá pra construir uma Torre Eiffel.

E aí tem a Strada. Na época do EcoSport, muito se falou de como a Ford navegou sozinha durante anos no segmento dos SUVs compactos que depois se tornaria a coqueluche do brasileiro. Enquanto isso a Strada ia somando vendas, vendas, vendas, eliminando a concorrência. Quando a VW decidiu atender o público jovem urbano com a Saveiro após o Gol G5, a Strada passou a reinar sozinha no segmento de picapes pequenas para trabalho. Nos grandes centros urbanos pode não parecer, mas é só se afastar um pouquinho de uma capital que aparece um enxame de Stradas de todos os anos fazendo todo o tipo de trabalho. Foi o carro mais vendido do Brasil em 2021 e sozinha representou 25% das vendas da Fiat no Brasil: 109.107 unidades.

Ou seja, enquanto a gente fica aqui se achando o rei da cocada preta, como consumidores ordinários pessoa física, valorizando o dinheiro suado e implicando com desempenho, economia, dirigibilidade, segurança, tecnologia, tem um monte de produtores rurais, e especialmente empresas, precisando de uma picapinha resistente e barata, que pode ter painel de Mobi, plásticos horrorosos, design estranho, que vai vender porque é capaz de fazer o serviço.

É também um retrato do Brasil de hoje. O consumo esmagado pela perda de renda, inflação, alta nos custos, tornaram o varejo desinteressante. Precisamos de muitos anos de crescimento do PIB e da renda para voltar a ter um mercado automotivo que faça sentido.

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