Teste: Volkswagen Fox Connect 1.6
O Fox foi lançado em 2003 numa época que a VW tomou várias
decisões bastante questionáveis. A principal talvez tenha sido “atualizar” o
Gol G3 – a melhor geração para nós – pelo tenebroso G4, aquele Fischer-Price
sobre rodas. Outras burradas se seguiriam, como o Golf 4,5, e a não sucessão do
Santana. Levou uns 5 anos para a Volks voltar a tomar decisões acertadas como a
importação do Jetta e o face lift do Polo.
Como saiu do forno, o Fox era a ideia certa com a execução errada. Apresentou-se como uma alternativa moderna ao Gol, que na época ainda trazia motor longitudinal, com amplo espaço interno. Algo a ser bem recebido no Brasil e no exterior, mas que sofreu devido ao interior absurdamente espartano (foi o primeiro carro nacional a vir somente com plástico no revestimento das portas? Possível) e a suspensão muito dura para compensar a altura mais elevada.
Ainda teve a questão dos dedos decepados para quem rebatia o banco traseiro, combinada a uma postura arrogante da VW à época, que não ajudou em nada.
Na Europa, a carreira do Fox acabou em 2011 após vendas
decepcionantes, e foi substituído pelo Up.
Em 2010, no Brasil, alguém resolveu dar dignidade ao Fox. O que se seguiu foi uma das mais incríveis transformações de um carro na mesma geração. O Fox ganhou o desenho externo do restante da família (foi o primeiro carro a usar o novo family face inclusive), que ficou harmonioso em relação às partes não alteradas nas laterais. E por dentro, parecia outro carro: revestimento de tecido nas portas, painel padrão Wolfsburg, console central redesenhado.
Esta dignidade foi melhorada em 2014, com um pequeno facelift na dianteira e volante multifuncional e central multimídia.
E com isso o Fox manteve números razoáveis de vendas em uma plataforma já amortizada, representando bom lucro para a VW, levando em conta que também não é veículo procurado pelas locadoras.
Hoje, 2021, consideraríamos fortemente um Fox como opção de carro 0km sem sua faixa de preço. Os menos de 60 mil reais pedidos trazem poucas opções na concorrência, como Argo, Sandero ou Onix Joy, e com motores 1.0. E o Fox entrega uma boa lista de equipamentos, com ar-condicionado, direção elétrica, retrovisores com ajuste elétrico, vidros e travas elétricas, volante multifuncional, coluna de direção com ajuste de altura e profundidade, controle de cruzeiro, sensor de estacionamento traseiro, rodas de liga leve de 15” e central multimídia Composition Touch, além dos obrigatórios air bag duplo, ABS e Isofix.
Continua um carro extremamente agradável de dirigir, bastante ergonômico, a direção tem o peso adequado, as respostas dos pedais são satisfatórias, e o câmbio manual MQ-200 segue sendo a referência do mercado. A suspensão foi suavizada, está mais agradável na cidade, sem prejudicar a estabilidade. O espaço interno segue sendo destaque, especialmente em altura. O porta-malas foi prejudicado pela decisão de ampliar o espaço interno, com somente 270 litros.
O motor 1.6 8v não é referência em economia nem em desempenho, mas conduz o Fox com dignidade e agilidade, sem também ser beberrão. E é um motor consagrado, com fácil reposição de peças e alta durabilidade.
Uma das opções menos caras desse mercado em que tudo custa um rim, o Fox faz bastante sentido para quem quer um carro 0km de bom custo-benefício.
Estilo
4 – Nota-se que é um projeto mais antigo, embora os face lifts tenham caído bem.
Imagem – Absolutamente neutro, decididamente urbano.
Acabamento 7 – Melhor que o da linha Polo. Os plásticos são adequados, há bom tecido nas portas e nos bancos, ainda que simples. O volante deveria vir com couro de série.
Posição de dirigir 7 – Ajustes de distância e altura do volante (ausentes na Ranger de 150 mil e no Tiggo 8, MELHOR CARRO... DO MUNDO). Poderia ser mais baixa e os pedais ficarem mais afastados.
Instrumentos 8 – Padrão Wolfsburg, ótima leitura, com termômetro inclusive. Um display central colorido seria matador.
Itens de conveniência 9 – Muito bem equipado pelo que custa. Itens como ar automático e mais air bags poderiam ser considerados.
Espaço interno 9 – Dos melhores da categoria, passageiros de trás andam com dignidade. Contribui os bancos dianteiros finos (porém confortáveis).
Porta-malas 4 – Foi sacrificado pelo espaço interno, mas é bem aproveitável.
Motor 7 – Um veterano que não se destaca em potência ou economia, porém em durabilidade.
Desempenho 8 – O Fox é agradável em cidade e estrada, sempre disposto graças ao bom torque. E vamos lembrar que pelo preço a concorrência vai de 1.0.
Câmbio 10 – O melhor manual disponível no Brasil hoje, no mesmo nível da Honda (ainda tem manual na Honda).
Freios 7 – Discos e tambores, resposta padrão e adequada para o carro.
Suspensão 7 – Evoluiu muito desde a dureza do Fox inicial. Para nós poderia ser ainda mais macia, o que implicaria em aumento de componentes e de custos.
Estabilidade 8 – Nota-se a altura do carro ao andar rápido, embora bem menos que um SUV. Os grandes pneus ajudam.
Segurança passiva 7 – Melhorou para 2021 com a adoção do Isofix e Top Tether. Air bags adicionais seriam bem-vindos.
Custo-benefício 10 – Difícil encontrar um carro tão equipado, espaçoso e com desempenho equivalente na faixa de preço. Aliás, é de se pensar se o valor a mais investido num HB20 1.6 ou Onix Turbo não estaria melhor empregado em um Fox e muitos anos de combustível e seguro pagos...
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