Montadoras: cavando a própria cova

Hoje passamos a pé por uma rua movimentada de São Paulo com várias oficinas. Dia útil, todo mundo trabalhando, portas abertas, e não pudemos deixar de reparar que em TODAS elas havia pelo menos um carro com mais de 20 anos de idade fazendo manutenção.

Em uma, que pertencia a uma rede grande dessas que recebem carros de locadora, havia uma Ford Explorer do final dos anos 90. Insólito, pois seria o último lugar no qual esperaríamos ver um carro mais antigo, já que essas oficinas ganham dinheiro na massa bruta mesmo, trocando óleo e filtro de carros quase novos.

Em outra, pequena, tinha um Fusca do final dos anos 60. Em outra, especializada em preparações (mas não em antigos), havia uma M5 quadrada e um Corvette C4. Por fim, em uma que abertamente recebe carros antigos, o chão estava cheio: Dois Opalas, dois Fuscas, um Polara, um Pontiac TransAm, uma Alfa 145 spider e um Karmann Ghia.

Não estávamos em um canto da cidade especializado em antigos, tampouco próximo de um local de encontro; nada disso. Todas, sem exceção, são oficinas instaladas há algum tempo e que passaram a aceitar carros antigos mais recentemente. Algumas como oportunidade de negócio, outras ainda como favores. Aliás, curioso contar um causo de um amigo que identificou um Fusca consertando em uma oficina nova na esquina de onde morava. Foi lá ver se poderiam fazer manutenção no Fusca dele, e ouviu que só estavam arrumando aquele Fusca por que “era do patrão”. Não deu muito certo, a oficina fechou pouco depois. Se tivessem aceitado antigos, talvez a história fosse outra.

Isso mostra o fracasso total da indústria automotiva em fazer carros interessantes e minimamente acessíveis. Se nos países desenvolvidos ainda se pode comprar Mazda Miata, Subaru BRZ, Toyota Supra, Golf GTI manual, entre outros modelos interessantes, aqui no Brasil para você ter um carro entusiasta vai pagar no mínimo 300 mil reais e isso se considerarmos a BMW 330 um carro entusiasta (gloriosa exceção feita ao Sandero RS).

Então o pessoal percebe que pra ter um carro diferente, com estilo, com experiência diferenciada vai precisar correr pros antigos mesmo. E gastam dinheiro na compra e na manutenção, dinheiro esse que não vai para as fabricantes.

Enquanto isso as fabricantes reclamam, sobem o preço, dizem que estão no prejuízo, sobem o preço, cortam funcionários, sobem o preço, reduzem modelos, sobem o preço, reclamam do dólar, sobem o preço, lançam mais um SUV compacto tração dianteira automático, sobem o preço.

Vão se foder fabricantes escrotas do caralho que acham que o Brasil é o cu do mundo. Se tratassem os países de origem como tratam o Brasil já teriam sido escorraçadas há muito.

E um salve a todos, proprietários, mecânicos e todos envolvidos na fabricação de peças e manutenção, que mantêm os antiguinhos esbanjando charme por aí.

Comentários

Anônimo disse…
Se as pessoas não comprassem os carros novos os preços iam cair...fica a dica...
Eduardo Henrique disse…
E aí.
Sempre leio as postagens. Adoro as colocações.
Faz um texto pequeno ou um comentário a respeito dos valores que as montadoras estão cobrando nos carros novos. Surreais. Será que logo não teremos carros abaixo dos 90.000 , 100.000

E isso refletindo no mercado de usados, com carros que não valem o preço, seguindo a tendência dos novos.

Até.
GDVO disse…
Acho que isto tem a haver com o fato de que de fato as concessionárias não são oficinas, não consertam nada apenas trocam peças que o escanner apontar. No meu fusion condenaram o sensor do airbag e me cobraram 6300 pela substituição. Não autorizai. Levei no meu mecãnico antigo de confiança e ele desmontou o sensor passou WD 40 e remontou e está funcionando....Dei R$ 100,00... Está resolvido. O da ford só passou o escanner que apontou falha no módulo...
ChAndré disse…
Por isto que a minha garagem já tem um antigo - Veraneio 1987 - e um semi antigo - Focus Ghia 2009 - e na luta para entrar outro Focus Mk1 Ghia da primeira geração.
Custam uma fração de um carro novo, são gostosos de dirigir e tem personalidade.
Outro dia fui ver o indefectível Corolla Cross, não consegui ficar 2 minutos naquela caverna preta com painel de Fox dos anos 2000. No Compass o vendedor não se deu ao trabalho de mostrar o carro...

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