Porque carro é tão caro no Brasil?
O Brasil é um país pobre. Paupérrimo, pobre de marré.
Porque a gente esquece disso quando fala sobre carros.
Em 1972, o Fusca atingiu o ápice de vendas. Foram 252.209
unidades comercializadas no ano, nas versões 1300 e 1500.
A família Dodge V8 (Dart, Gran Sedan, Magnum, Charger) ao
longo de DOZE ANOS, vendeu cerca de 100 mil carros. Os Ford Landau, menos de 78
mil ao longo de TREZE ANOS. O Maverick passou pouco de 100 mil.
Pega o Opala, paixão nacional. Um milhão de unidades, só que de
1968 a 1992, ou seja, VINTE E QUATRO ANOS.
Esse é o abismo.
Em janeiro de 1973, um Fuscão 1500 saía, em valores
atualizados, por R$ 86 mil. O 1300 deveria ser pouco menos que isso. Então
avançamos muito, porque esse valor hoje permite comprar um Onix LTZ 0km, com
motor turbo e uma série de equipamentos. Lembre que mesmo em 1973 o Fusca já
era defasado, sem ventilação interna, freios a tambor, itens que já apareciam
nos concorrentes.
Mas nós passamos por um período de bonança. Entre a abertura
das exportações em 1994, até talvez 2010, vivemos uma época de prosperidade com
o controle da inflação causado pelo Plano Real e o crescimento econômico que
veio depois disso (a sobressaltos nos anos 90 e depois mais consistente nos
anos 2000). Infelizmente o crescimento não veio acompanhado de reformas
importantes. A crise de 2008 tee um efeito nefasto (longe de ser “marolinha”),
que foi se agravando e cultimou no desastre de 2016, quanto tivemos 10% de inflação
e dois anos seguidos de queda no PIB.
Então não descostruímos tudo o que conquistamos, mas uma
parte se deteriorou sim. Quem não podia nem sonhar com carro, de repente podia pegar
um, ou o primeiro 0km. Quem apertava a família num Celta ou Gol podia sonhar
com um Meriva, Astra ou Golf e Polo. Quem estava bem de sedã médio podia pegar
um melhor? Quantas famílias não possuem lembranças maravilhosas de viagens em
Vectras, Corollas, Civics, Mareas? E quem beliscou Omegas e BMW 325?
Só que os últimos anos foram cruéis.
Começamos com a capacidade ociosa, das fabricantes que
investiram em novas plantas e de repente se viram vendendo muito menos e com
planta ociosa. Para compensar o custo fixo de uma planta ociosa, ou você enche
ela de produção (que seria o ideal), ou você encarece os produtos vendidos
existentes.
Aí tem o dólar, cruel, que encarece importações e exerce um
efeito nefasto nos balanços das empresas. A GM, a VW e a Toyota estão pouco se
lixando para o balanço em reais das filiais brasileiras. O que conta pra elas é
receita em dólar, em euro, em iene, em moeda forte. Aí acontece o fenômeno
absolutamente bizarro da empresa ter o melhor ano da história em faturamento em
reais e, pra matriz, ser um ano ruim por conta da taxa de câmbio horrorosa.
Aí temos também o fato de o Brasil ser uma enorme teta para
as montadoras sugarem. Porque o fator econômico explica muito, mas não tudo.
Não explica o Chile e Argentina terem mais opções de carros do que nós. Aqui é
um país de reciclagem de plataforma, de oferecer só um modelo pra cortar
custos, de usar motores defasados, e extrair o máximo. As montadoras não fazem
isso em seus países de origem, e nem em mercados grandes, que possuem alto
poder aquisitivo e também respeito por parte dos CEOs.
E fechamos com o fato de sermos um país pobre. As vendas de
carros minimamente luxuosos são risíveis, vende um por década, aí as montadoras
ficam brigando no segmento de entrada com margens baixas e necessidade de
inovação por conta de legislações mais rígidas e do LatiNCAP.
E não se enganem com o papinho de “não compra que baixa o
preço”. Não funciona assim. Veja a Ford. De quarta força é agora a sétima. Os
preços baixaram? A empresa não perde margem. Ela fecha fábrica, tira modelo de
linha, demite, demite, e quando não der mais ela fecha a porta e vai embora. O
consumidor QUE SE FODA.
Repare nos comentários das postagens das fabricantes nas redes
sociais. Não importa a marca, ou o carro. Acreditamos que mais de 90% dos
comentários são na linha de “muito caro”, “compro usado melhor por esse preço”,
“sonho, mas não consigo”. O brasileiro teve o gosto do poder de aquisição
automotiva e isso foi tirado dele por incompetência econômica em nível federal.
É triste ser entusiasta no Brasil.
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