TESTE: Audi A4 Ambiente 2.0 TSFI
“Quem tem carro premium não volta”.
É uma frase repetida à exaustão, e
combatida com inúmeros exemplos de pessoas que voltaram pelos mais variados
motivos, incluindo custos mas também preferências. Claro que existem exceções,
e opiniões das mais variadas possíveis. Para nós, a frase é verdadeira.
Toda vez que pegamos um carro premium
para dirigir notamos a superioridade dinâmica e construtiva. Existe um algo a
mais que é difícil de explicar, pois envolve sensações e percepções que
desafiam a lógica. O James May certa vez disse que carros realmente bons lhe
dão uma sensação que ele descreveu como “fizz”. Estamos falando de algo nessa
linha, não tão visceral, porém algo mais próximo de uma grande sensação de
satisfação e contentamento pelo dirigir e comportamento em geral do carro. Alguns
desconversam dizendo que é justificativa para quem gastou uma boa grana em um
carro que muitas vezes é menos potente e equipado que seus rivais de marcas
generalistas. Talvez para alguns seja, mas aqui só testamos os carros, não nos
preocupamos com valor de revenda (e nem com opinião de vizinhos) e concordamos
completamente com a sensação superior dos carros nessa linha.
Nossa concepção de carro premium aqui
é o de marcas não generalistas, com preços superiores a R$ 100 mil, como Audi,
BMW, Mercedes, Jaguar, Land Rover, Lexus, Volvo e quetais. Todos os carros
dessas marcas entregam essa sensação de satisfação que descrevemos acima? Não
necessariamente. Várias já cometeram carros terríveis. Porém, quando se trata
dos modelos mais importantes como A4, série 3, classe C, dificilmente sai algo
errado.
Também é preciso dizer que existem
poucos carros das fabricantes generalistas que parecem premium. A VW se
destaca, provavelmente pela integração com a Audi. Golf e Passat têm muitas das
qualidades intangíveis dos carros premium. O Civic 10 também.
Tudo isso veio à mente enquanto
admirávamos o A4 testado. A sensação de qualidade é brutal. Os vãos da
carroceria são mínimos. As portas fecham com uma sensação de solidez. O design
não é o forte; embora os Audis de hoje sejam ligeiramente menos parecidos entre
si do que eram há poucos anos, o “Family face” ainda é muito presente. Faltam à
Audi elementos com identidade mais forte, como o duplo rim e a curva
Hoffmeister na BMW e a grande com estrela da Mercedes. Dito isto, o carro é
imponente, não se confunde com o irmão menor A3, e muito agradável de se
admirar. É um desenho bastante atemporal, o que já não podemos dizer da classe
C.
Toda vez que entramos em um Audi
lembramos de Jeremy Clarkson: “Como já esperava, o interior é muito bonito. Os
Audis sempre são”. A Audi elevou a barra de design e principalmente qualidade
dos habitáculos, obrigando as concorrentes a melhorarem bastante nesse aspecto.
Hoje as três alemãs oferecem qualidades parecidas e elevadas em seus carros.
No A4, toda superfície é agradável ao
toque. Há elegância na escolha das formas e texturas. A nosso ver, é um dos
principais pontos da sensação premium que comentamos: é muito difícil parecer
premium quando se está imerso em um monte de plástico. Este Audi exala
qualidade até em momentos menos óbvios, como as fontes usadas no painel digital,
a qualidade de resolução dos displays e o movimento de botões e alavancas.
Uma vez sentado no banco do
motorista, a ergonomia chama a atenção: comandos à vista, de fácil utilização,
no lugar que se espera deles, tudo muito sólido e agradável. O cluster é tomado
por uma tela de alta resolução amplamente configurável, tendência que em breve
estará num carro perto de você. O banco é amplo e de espuma densa como sói nos
bons alemães.
Onde os carros premium podem deixar a
desejar se comparados com os exemplares de marcas generalistas vendidos por
preço equivalente é na lista de equipamentos. Fica clara, na Audi, a decisão de
deixar o A4 menos equipado que o Passat, compensando de certa maneira o status
da marca. Então no modelo encontramos absurdos como ar monozona, banco do
passageiro com ajustes manuais, e ausência de controle de velocidade adaptativo
e câmera de ré. São equipamentos que dá pra viver sem, porém será necessário
sublimar que o Passat ou Fusion parados ao lado têm esses recursos.
Dos equipamentos que ficaram,
destacamos retrovisor fotocrômico, entrada e partida sem chave, freio de mão
elétrico com auto hold, sensores de estacionamento dianteiro e traseiro, faróis
de xenônio, sensor de luz e chuva, banco do motorista elétrico, Audi Drive
Select, Audi Virtual Cockpit, ar-condicionado automático, sistema start-stop,
rodas de liga leva aro 17, retrovisores externos eletricamente rebatíveis,
sistema MMI com navegação, Bluetooth e Apple/Android e bancos em couro.
O espaço interno é muito bom para
quatro pessoas, com alguma limitação em largura para o quanto passageiro. O porta-malas
de 480 litros não é dos maiores (o Passat leva 100 litros a mais), porém dá
conta do recado.
Empurrando o A4 está um 2.0 turbo de
190 cv a 4.200-6.000 rpm, com 32,8 m.kgf de torque a 1.450 rpm, acoplado a um
câmbio de dupla embreagem e sete velocidades. A potência parece tímida,
considerando que este tipo de motor já supera os 200 cv com facilidade, porém o
torque elevado compensa e confere ao carro uma sensação muito agradável de
agilidade na cidade, sem que falte potência nas retomadas em alta velocidade na
estrada. Ainda mais agradável, no entanto, é ver o estágio avançado da
calibração do câmbio. Assim como na Tiguan, o DSG atual opera com suavidade,
lembrando um automático epicícilo porém mais preciso. Chega a ser covarde a
comparação com os DSGs anteriores da Audi e também que equiparam o Golf alemão,
com sua indecisão e dificuldade no tráfego lento da cidade. É um carro muito
agradável de conduzir, com ampla potência disponível, câmbio de respostas
rápidas, possibilidade de trocas de marcha pela alavanca ou por aletas, e que
recompensa o motorista com um tapa na nuca a cada aceleração mais voluntariosa.
A suspensão McPherson e multilink tem
calibração típica alemã, mais dura, e traz algum desconforto ao trafegarmos no
asfalto lamentável. É o preço a se pagar, no entanto, para um conjunto que lide
bem com um carro pesado e potente. Na estrada o A4 está em seu elemento:
estável, com muito chão, potência disponível e elevado conforto.
É melhor que uma BMW 320? Não.
O Audi ganha em pontos importantes: é
mais espaçoso atrás, o acabamento é melhor e, principalmente, é mais moderno em
equipamentos, funcionalidades e conectividade (lembrando que a 320 ainda é da
geração anterior das série 3). Mas a BMW tem uma “pegada” diferente. É
realmente um carro para quem gosta de dirigir. O Audi não é ruim, longe disso,
mas a BMW tem certas preocupações como distribuição de peso e tração traseira
que fazem a diferença na tocada. O A4 é mais interessante na belíssima versão
Avant, que não tem concorrentes BMW.
É melhor que uma C180? Sim.
A Mercedes comete alumas bobagens
nesse carro, suprimindo equipamentos simples, e o A4 vem mais equipado por um
preço mais convidativo. Achamos um desrespeito a nova geração da série C custar
190 mil reais e ser mal equipada e mal motorizada.
É melhor que qualquer SUV que custe o
dobro do preço? Sem dúvida.
Estilo
7 – Clássico, elegante, discreto, moderno. Poderia ter mais personalidade.
Imagem
– No Brasil já é carro de patrão, que chama a atenção, automaticamente promove
o dono a “doutor”. É masculino.
Acabamento
10 – Audi é foda. Impressionante como manjam de fazer interior de carro. Melhor
só Bentley.
Posição
de dirigir 9 – Belíssimo banco, ajustes elétricos, ergonomia perfeita. Gostaríamos
de um pouco mais de profundidade nos pedais.
Instrumentos
9 – O painel digital da Audi não tem bizarrices como o conta-giros ao contrário
da Peugeot e da BMW. É limpo, eficiente, fácil de ver e de operar. Gostaríamos
de ver mais indicadores sobre o carro, como bateria, voltagem, horas, etc.
Itens
de conveniência 5 – É onde os carros premium pecam na comparação com os de
marcas generalistas. Ter limitado equipamentos como ACC à versão de topo não
ajuda na competitividade do carro.
Espaço
interno 8 – Há algum tempo seria necessário migrar para as Classes E, 5 ou A6
para levar quatro adultos com conforto. Hoje os carros cresceram tanto que as
linhas “inferiores” já o fazem muito bem.
Porta-malas
8 – Poderia ser maior. Quanto a acabamento, perfeito.
Motor
8 – Suave, potente, silencioso. Não seria ruim se tivesse uns 30 cv a mais.
Desempenho
9 – Chega a empolgar nas acelerações, e em nenhum momento parece que “falta”
motor.
Câmbio
10 – Chegou-se a um consenso global em termos do que se espera de um câmbio, e
os DSGs e epicícilos estão ficando cada vez mais parecidos, o que é bom.
Freios
10 – Belas “panelas” na frente e atrás. Modulação do pedal é perfeita, com
sensação precisa de frenagem.
Suspensão
8 – A Audi adotou uma calibração no A3 1.4 que é excelente para o asfalto
tenebroso que temos. O A4 poderia ter um pouco mais desse comportamento.
Estabilidade
10 – Parece um trem.
Segurança
passiva 10 – Air bags e a tranquilidade de saber que é um carro que foi
aprovado pelas normas europeias de segurança.
Custo-benefício
5 – Carro premium nunca faz sentido nessa categoria, mas garantimos que o A4 dá
muitos motivos para o dono sorrir.
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