Teste: Peugeot 3008 1.6 THP
Já defendemos essa teoria outras
vezes nesse espaço: o HB20 é um dos maiores cases de sucesso do mercado
automotivo brasileiro. A Hyundai, até então uma marca limitada aos segmentos
superiores, entrou no concorrido segmento dos hatches de entrada e foi logo com
o pé na porta. O HB20 tornou-se um estrondoso sucesso de vendas – embora não o
seja mais, pois ficou defasado. Qual o segredo? Uma marca razoavelmente
estabelecida na mente do consumidor, chega ao mercado com um produto vastamente
(muita ênfase no vastamente) superior à concorrência. Hoje a Hyundai é mais
presente em nosso mercado do que muitas marcas veteranas.
Um carro na faixa de 150 mil
reais não fará o mesmo sucesso em termos de volume para a Peugeot. E nem é a
proposta. Mas o 3008 é carro para voltar a fazer o consumidor considerar a
Peugeot em sua próxima compra.
O design, por exemplo, é
moderno, atual e diferente da concorrência. O Jeep Compass, que é o maior
rival, é um carro bonito e moderno, porém de desenho conservador. O 3008 ousa
nos vincos e arestas, e em detalhes como a grade dianteira e as lanternas
traseiras, para um resultado final muito feliz. Existe uma certa indefinição, é
verdade, se é uma minivan alta ou um SUV. Está mais para um crossover entre os
estilos. É uma pena a Peugeot limitar a opção de cores para preto, prata,
branco e somente uma diferente, um marrom acobreado. Tons escuros de vermelho e
azul cairiam muito bem. As rodas aro 19” contribuem no visual arrojado, embora
a nosso ver sejam um tanto excessivas – pneus mais altos colaborariam mais com
o conforto.
O interior consegue superar o
exterior com uma bela combinação entre arrojo e funcionalidade, com uma
exceção. O habitáculo mescla plásticos macios ao toque, em tons diferentes, com
couro agradável no banco e uma surpreendente faixa de tecido tipo jeans que fica
muito bem. O 3008 não cai no erro muito comum atualmente de pecar pelo
conservadorismo em excesso, que faz com que diversos carros tenham interior
parecido. É no mínimo igual em qualidade em relação ao Compass, embora esteja muito
à frente em termos de desenho e inovação.
A exceção que comentamos é o
conceito i-cockpit, nome que a Peugeot dá à combinação de volante oval de
pequeno diâmetro e painel visto por cima deste. É a típica inovação
desnecessária. Se você alternar entre o 3008 e um carro de outra marca, toda
vez vai estranhar o volante pequeno e a posição diferente de guiar, com os
braços mais baixos. Caso dirija somente ele, o arranjo é simples de se
acostumar.
O painel traz uma tela de TFT configurável
de 12,3 polegadas, como tem sido cada vez mais frequente em lançamentos. São
três opções de visualização: uma minimalista, com somente o velocímetro
digital, ideal para longos trechos noturnos em estrada; uma mais convencional,
com velocímetro, conta-giros (Peugeot, favor demitir o estagiário que achou que
colocar o conta-giros no sentido anti-horário seria interessante), marcadores
de combustível e temperatura e computador de bordo; e uma diferentona, com o
conta-giros rodando em uma espécie de roleta. É bacana alternar entre os modos,
no mínimo para ter novidade no cluster após algum tempo usando somente um modo.
Em todos os casos a visibilidade das informações é excelente, em alta resolução.
A central multimídia com tela de
8 polegadas touch screen vem com integração total para os celulares Android,
que inclusive podem ser carregados por indução no espaço à frente da alavanca de
câmbio. Mas a integração com iOS também é boa, sendo a maior falta a
possibilidade de projetar o GPS na tela (que aliás não vem de série).
Os equipamentos incluem alarme
perimétrico e volumétrico, ar-condicionado automático de duas zonas com saídas
para os bancos traseiros, assistente de saída em rampa, bancos dianteiros com
ajustes elétricos e massageador (duas memórias no do motorista), câmera
traseira de manobras, carregador de celular por indução (sem fio, somente
Android), chave presencial para acesso e partida, controlador e limitador de
velocidade, controle eletrônico de estabilidade e tração, faróis de neblina de
leds com iluminação de curvas, faróis de leds com luzes diurnas e regulagem
automática de altura de facho, faróis e limpador de para-brisa automáticos,
fixação Isofix para cadeiras infantis, freios antitravamento (ABS) com
distribuição eletrônica de frenagem (EBD) e assistência adicional em emergência
(REF), quadro de instrumentos digital de 12,3 pol, revestimento de bancos em
couro, rodas de alumínio de 19 polegadas, seis bolsas infláveis (frontais,
laterais dianteiras e de cortina), sensores de estacionamento à frente e atrás,
sistema de áudio com tela de 8 pol, teto solar panorâmico com abertura
elétrica, volante com regulagem de altura e distância.
A posição de dirigir é um
meio-termo entre SUV e minivan, elevada e com o acionamento dos pedais feito um
tanto mais na vertical do que gostaríamos. O volante tem excelente pega,
revestido de couro macio, e o banco oferece bom suporte, embora um pouco mais de apoio lateral
estivesse mais para nosso gosto. Os bancos dianteiros oferecem seis tipos de
massagem diferentes, gerais ou focadas em uma região – lombar é uma delas – e a
sensação é bastante agradável. Existe ainda aquecimento, porém não ventilação.
Há bastante espaço para ombros e cabeça e a visibilidade é adequada, menos na
visão traseira. Os ajustes para o motorista são elétricos e há duas memórias –
a nosso ver a principal vantagem de ajustes elétricos é justamente permitir a
memorização. Infelizmente a amplitude do ajuste em distância e altura do
volante é pouca, mais um reflexo da bobagem do i-cockpit.
O espaço traseiro, embora bom,
não é um latifúndio como seria de se esperar – e aqui a própria Peugeot admite
perder para o Compass. Um ocupante de 1,80m viaja bem atrás de um motorista de
mesma estatura, mas não há muita folga de espaço. O ocupante central sofre com
a conformação do banco traseiro, que é desenhado para duas pessoas. O
porta-malas é cavernoso, com 520 litros, e um espaço quadrado que facilita a
plena utilização. Os bancos traseiros e o dianteiro direito podem ser rebatidos
e formar um assoalho plano. O estepe é acessado internamente e é de uso
temporário.
A parte mecânica talvez seja o
melhor representante da “filosofia HB20” do 3008. A Peugeot combinou seu motor
1.6 THP, de origem BMW e já utilizado por diversos carros do grupo PSA,
ganhando certa fama de confiabilidade, a um câmbio automático Aisin de seis
marchas que já vimos em diversos carros da VW e outras marcas. É, em teoria, um
powertrain à prova de bala que deve minimizar problemas para o dono, e é
justamente isso que a Peugeot precisa, ainda mais neste segmento.
O comportamento do 3008 em
movimento é muito bom. É um típico representante da filosofia do downsizing: o
motor turbo não está ali para esportividade, mas sim para um bom desempenho de
forma geral. O 3008 satisfaz em acelerações e retomadas, ajudado por um câmbio
excelente, que sabe usar o conversor de torque para minimizar o lag da turbina.
Com os giros mais elevados, o desempenho é muito bom, equivalente ao de um sedã
2.0. Existe uma única situação de desempenho abaixo da média, que é acelerar ao
passar por valetas em segunda marcha, algo aliás compartilhado por praticamente
todo carro turbo moderno. Existe um ou dois segundos de baixo desempenho até os
giros superarem 1500 rpm e o torque entrar com força. A situação é rara, pois o
câmbio evita rotações abaixo de 2 mil giros justamente para que o torque máximo
esteja sempre à disposição – em sexta são 2.100 rpm a 120 km/h. Importante
ressaltar que o isolamento acústico é excelente e mal se ouve o motor
trabalhando. O câmbio oferece ainda uma programação esportiva e opção de trocas
manuais por aletas atrás do volante.
O que não gostamos, e já ressaltamos
no teste da BMW 320, é a alavanca de câmbio elétrica que não muda de posição.
Parece mais uma daquelas inovações desnecessárias, e o motorista precisa ficar
atento à indicação da marcha no painel para se assegurar que acionou a
velocidade correta. É muito mais simples ter uma confirmação mecânica por meio
da posição da alavanca. Como compensação, há indicação da marcha em uso mesmo
em D, o que apreciamos.
O conjunto de suspensões destoa
da modernidade apresentada até agora: atrás temos um eixo de torção simples, ao
passo que nesta categoria o arranjo multilink é a norma. A calibração é boa,
firme porém sem ser desconfortável. Acreditamos que o rodar teria bastante a
ganhar se a Peugeot tivesse sido mais conservadora na escolha das rodas. Um aro
17 ou 18, ao invés de 19, traria ganhos em conforto em comprometer a
estabilidade. Mas entendemos a posição do marketing de “brasileiro adora
rodão.” Pode-se esperar também mais robustez de um eixo de torção, e sabemos
que quanto mais o 3008 puder se mostrar forte e ficar afastado de manutenções
não programadas, melhor será para a imagem da montadora francesa.
Embora o 3008 atual seja no
mínimo competitivo em relação ao Compass, se não melhor, a Peugeot poderia
tê-lo deixado imbatível – e talvez isso fosse necessário dada a surra que o
3008 leva do Compass em vendas. Primeiramente, o preço não precisava ter subido
10 mil reais desde o lançamento – não se justifica. Segundamente, alguns
pacotes de alta tecnologia disponíveis na Europa poderiam ter sido considerados,
como controlador da distância à frente, monitor frontal com frenagem
automática; alertas para desatenção do motorista, veículo em ponto cego e saída
da faixa da via; assistentes de faróis e de estacionamento, leitura de placas
de sinalização, ajustes do controle de tração (como no 2008 THP), sistema de
áudio Focal com 515 watts, câmera dianteira e acionamento elétrico da tampa
traseira, comandado pelo movimento do pé sob o para-choque. São itens que têm
começado a se popularizar no Brasil e poderiam fazer a diferença.
Como está, o 3008 é competitivo
e recopmendamos aos interessados em um Compass (ou Mitsubishi Outlander,
Hyundai New Tucson e Kia Sportage) que olhem o 3008 com carinho. É um excelente
carro. E se não tiver peça de reposição na concessionária, a culpa não é nossa.
Estilo 10 – Numa época de homogeneização severa dos
carros, é bonito e traz soluções estéticas diferenciadas.
Imagem – “Comprei um Peugeot caro, quem se preocupa
com valor de revenda é gestor de frota”.
Acabamento 10 – Couro agradável, plásticos macios
em abundância, tecido adequado, teclas com resistência ideal, é realmente bem
feito.
Posição de dirigir 7 – Não é a ideal, com pernas um
pouco verticais e o volante pequeno causa estranheza no começo.
Instrumentos 8 – Bela tela configurável, porém
sentimos falta de uma visualização padrão de conta-giros e mais informações do
computador de bordo.
Itens de conveniência 9 – É muito bem equipado,
porém na categoria já começamos a sentir falta de itens mais sofisticados como
controlador de distância e outros que citamos acima.
Espaço interno 7 – Dois adultos vão bem no banco
traseiro, porém não espere espaço de limusine.
Porta-malas 9 – Enorme, quadrado, aproveitável,
bem-acabado. Para levar 10 faltou o acionamento com o pé.
Motor 9 – O Prince é muito bom, um dos pioneiros do
downsizing, e não se saber de problemas de confiabilidade. Porém gostaríamos de
ver a Peugeot ampliando a gama com motores mais fortes: o Equinox de preço
similar bota quase 100 cv de vantagem.
Desempenho 8 – Não é esportivo, porém um carro que
se garante em acelerações e retomadas. O câmbio é muito feliz em manter o motor
“aceso”, para pronto desempenho, e o isolamento NVH não deixa que isso incomode
o motorista.
Câmbio 10 – O Aisin de seis marchas é bem conhecido
e está bem calibrado. Opção de trocas por aletas é sempre um diferencial.
Freios 9 – Bons, param o carro com firmeza, e a
ação do pedal é adequada.
Suspensão 6 – Boa calibração para um eixo de
torção, embora preferíssemos mais macio (as rodas 19” não ajudam). Porém a
categoria já é quase toda multilink.
Estabilidade 7 – Surpreendente, traz segurança,
embora não seja a proposta.
Segurança passiva 8 – Bom pacote, porém faz falta o
monitor de frenagem dianteiro.
Comentários