Por isso que não melhora
Acabamos de ler algumas bobagens numa coluna
que achamos que vale a pena comentar. Em itálico nossas considerações.
Já vimos o filme da proteção à indústria que só resultou em
prejuízo para o consumidor
Quando a imprensa noticiou, há cinco anos, um novo plano para a
indústria automobilística, muitos imaginaram ter chegado a hora de levar para a
garagem seu importado dos sonhos. Continuam sonhando até hoje, pois o plano
(Inovar-Auto) teve o mérito — sem dúvida — de trazer várias fábricas de carros
premium para o Brasil. Mas todas arrependidas de terem aderido ao plano e sem
condições de reduzir preços de seus modelos aqui “produzidos”.
Porque
não tiveram condições de reduzir os preços? Porque são umas coitadinhas?
Coitado, o presidente da BMW tá passando mal de tanta fome, não tem como
reduzir preços. Não reduziram porque não quiseram, porque o brasileiro é visto
como uma vaca leiteira de dinheiro.
O que fez o governo de D. Dilma? Submeteu-se ao poderoso lobby
dos fabricantes e quase inviabilizou a importação de automóveis, aumentando em
30 pontos percentuais o IPI da operação. Artifício que desrespeita todo os
acordos internacionais e que levou o Brasil a ser condenado pela Organização
Mundial do Comércio.
O Inovar-Auto concedeu vantagens fiscais aos importadores que se
estabelecessem com fábricas no Brasil. E às marcas já presentes que aumentassem
a eficiência de seus modelos, com redução de consumo e emissões.
Importadoras sem condições de aderir ao plano quase fecharam as
portas, pois o brutal aumento de impostos inviabilizou suas operações. Duas das
que mais sofreram foram a coreana Kia e a chinesa JAC. E, para quem acha que
cliente de Ferrari passa ao largo de crise econômica, vale lembrar que sua
importadora no Brasil, que trazia cerca de 50 unidades anualmente, vendeu
apenas 12 delas em 2016.
Mas
peraí, o assunto não era o Inovar-Auto? Aí de repente virou crise econômica?
Crise econômica reduzir a compra de Ferraris nós aceitamos; aumento de IPI,
não.
Quatro marcas premium decidiram construir fábricas, mas o
mercado brasileiro despencou durante as obras. Só como exemplo, em relação a
2016, que não fez sorrir importador nenhum, este ano as vendas da BMW caíram
19%, a Audi em 24% e as da Land Rover, em 19%. A Mercedes-Benz decidiu reduzir
margens e atrair clientes com promoções, conseguindo manter patamar semelhante
ao ano anterior.
OOOOOOHHHHHH!
AAAAAAAAAHHHHHHHHHH! Você está dizendo que a empresa que reduziu preços não
perdeu vendas! Puxa vida, porque será que as outras despencaram né? Deve ter
sido muita falta de sorte.
Estas fábricas foram projetadas para pequenos volumes de
produção, nada além de 25 ou 30 mil unidades anuais. O que encarece a unidade
produzida. Na verdade, pouco além de uma montagem CKD (ou SKD), com baixos
índices de nacionalização, que acaba onerando ainda mais a operação e tornando o
carro “Made in Brazil” mais caro que o importado. A BMW, por exemplo (foto),
para manter a fábrica em operação, acaba de exportar 10 mil unidades para os
EUA. O presidente da Mercedes no Brasil diz estar reconsiderando a produção
local de automóveis. A Jaguar Land Rover está com descomunal ociosidade em sua
fábrica brasileira. Na Audi, a história
pode se repetir e deixar (como em 2004) de produzir o A3 no Paraná.
Opção
das fabricantes. Poderiam ter construído uma fábrica mega para um milhão de
unidades. Exportar para outros países é uma excelente ideia e todas deveriam
fazer mais (e podemos abrir aqui outra discussão de quanto é vantagem econômica
de cada país e quanto é proteção dos empregos em seus países de origem ou
grandes consumidores). Outra coisa: o carro mais vendido do país emplacou
14.341 unidades em julho, o que por ano dá pouco mais de 170 mil unidades. Os
BMWs feitos no Brasil venderem 10% disso num país como o Brasil está bom, não?
No Primeiro Mundo, o mercado dos automóveis de luxo representa
um percentual de 10% das vendas. No Brasil, não passa de 2%, travado pela
elevada carga de impostos. Então um consumidor nos EUA pode até ficar em dúvida
entre a compra de um Chrysler 300 (US$ 40 mil) e um BMW Série 5 (US$ 60 mil),
uma diferença de cerca de 50%. No Brasil, o “pulo” entre o nacional e o
importado pode ser superior a 100%, inviabilizando a segunda opção.
O
mercado de luxo é travado pela elevada carga de impostos sem dúvida, porém não
somente os impostos no carro. Ele é travado pelos impostos em todos os lugares
que impedem que tenhamos mais pessoas com mais renda disponível para consumo.
Quer comparar vendas de carros de luxo do Brasil com o Primeiro Mundo? Ainda
temos muito arroz com feijão pra comer.
Como o Inovar-Auto expira em dezembro deste ano, o governo
estuda implantar outro plano, chamado de Rota 2030, um programa dito mais longo
e consistente, previsto para durar cerca de 15 anos, até o início da década de
2030.
Imagina-se que desta vez se estabeleça um programa que não seja
fatal para os importadores. Que perceba a importância de se ter no Brasil, como
em todo o mundo, uma saudável e estimulante competição entre marcas locais e
importadas. Proteção à indústria doméstica jamais funcionou em lugar nenhum do
mundo. Já vimos no Brasil o filme das barreiras alfandegárias num passado não
muito distante, obrigados que fomos, durante 14 anos, a pagar alto preço por
carros defasados, tão distantes da evolução tecnológica da indústria mundial.
Aqui
concordamos. Que o Rota 2030 resulte em estímulo à indústria estabelecida no
Brasil, sem impedir os importados, permita a competição livre, e que com isso
tenhamos carros mais baratos. E também boa vontade das fabricantes, como a
Mercedes mostrou ser possível.
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