Sensacional Renault Kwid
MARAVILHOSA reportagem
da Quatro Rodas. Bela ação de uma revista que quase se tornou insignificante
quando comandada pelo dublê de fotógrafo, mas que recuperou muito do brilho em
seguida. Vem fazendo comentários importantes, significativos, combativos, questionando
a postura da indústria automotiva. Por seu peso e tradição, é justamente quem
deve encabeçar essas discussões.
Essa reportagem rasga uma entranha da indústria
e expõe parte dos motivos pelos quais pagamos os preços absurdos cobrados em
carros zero. A nosso ver o melhor trecho é esse:
Foi o que disse Marc Suss, diretor de veículos de entrada da
Renault, ao site francês LesEchos. Segundo o executivo, houve quase que um esforço de guerra da
marca para garantir preço competitivo. O primeiro passo teria sido criar
uma equipe de gestão independente da subsidiária brasileira, para evitar
contaminação pelo ambiente tradicional.
Ou
seja, esses incompetentes que comandam a Renault no Brasil (mas que poderiam
ser os incompetentes de qualquer outra fabricante) já estavam todos se
lamentando dos custos, jogando o preço do carro lá em cima, preocupados em
manter o status quo, e com tudo isso encareceriam o Kwid a tal modo que seu impacto
no mercado seria zero.
Aí
teve que vir de fora uma equipe sangue no olho, que realmente entende de
competitividade, para poder lançar o carro no preço adequado. Isso se chama “pensar
fora da caixa”. Se fosse ficar na mão do povo no Brasil, teríamos mais um carro
de entrada a 50 mil reais gerando muito lucro, muitos bônus de final de ano, e
presença ínfima em volume de vendas.
Note
ainda que a entrevista foi dada por um executivo global – portanto sem conchavo
com os caciques locais – a um site francês, portanto sem repetir a pasmaceira e
o puxa-saquismo que são recorrentes na imprensa especializada brasileira.
No final das contas, 60% das peças do Kwid serão fabricadas
no Brasil. Isso significa que, mesmo com custo de transporte e com imposto
aduaneiro de 30%, os indianos conseguem entregar quase metade do carro mais
barato do que qualquer empresa brasileira – e se realmente uma boa parcela dos
componentes são distintos (mais reforçados) que os utilizados no Kwid indiano,
não se trata de economia de escala.
Não
dá pra jogar a culpa no fornecedor brasileiro. Sem dúvida, existem casos de
fornecedores que estão no mesmo jogo de “baixas vendas – alto lucro – alto bônus”
que os fabricantes. Mas também tem um custo elevado de mão-de-obra, de
infraestrutura precária, de preços elevados de insumos, energia elétrica, que
realmente minam a competitividade do produtor brasileiro. Embora a Índia também
tenha problemas sérios em infraestrutura, globalmente é muito mais competitiva
que o Brasil.
Aliás,
eis aqui um exemplo de como o alto custo da CLT impediu a criação de empregos
no Brasil e os levou para a Índia. Não é só isso, mas é também isso.
Para contornar os custos propostos por fornecedores
brasileiros, a Renault se dispôs a produzir peças plásticas, como partes do
painel e os para-choques, na fábrica de São José dos Pinhais.
Com
certeza mais um aspecto trazido por executivos de fora que têm coragem de
propor mudanças. Na pasmaceira brasileira, ninguém se atreveria a propor
mudanças do gênero pois “a matriz não aprova mesmo”, “dá muito trabalho” e
coisas do gênero.
Honestamente,
enxergávamos o Kwid como uma espécie de Mobi, carro um tanto sem sentido que
faria figuração nas vendas. Com este foco em preço, e uma marca renomada por
trás, pode ser que o panorama mude.
E
principalmente, agora torcemos por seu sucesso simplesmente por ter exposto
mais uma demonstração da incompetência generalizada que assola as montadoras
instaladas no Brasil.
Comentários