Teste: Audi A3 Sedan 1.4 Attraction
Alguns carros deixam sua marca, mesmo
não sendo particularmente raros, caros ou esportivos. Focus Mk1, Peugeot 206,
Civic 2006, Golf 7. O A3 Sedan junta-se a esse grupo seleto com duas grandes
qualidades: o acerto no design e a acessibilidade financeira, ao ser a primeira
proposta real de um carro de marca premium comprável por parte dos mortais.
Enquanto as primeiras ofertas de BMW e Mercedes superam os 130 mil reais, este
A3 pôde ser comprado em determinada época por 90 mil, uma diferença pra lá de
considerável.
Não que a imprensa especializada
tenha considerado isso na época do lançamento. Todos os testes foram com a
versão Ambition, topo de linha, que pode superar os 150 mil reais. Era a versão
disponibilizada pela Audi à época, e obviamente serviu para testar equipamentos
interessantes como o monitor de faixa e piloto automático adaptativo, porém
para o cidadão que está de olho na versão de entrada seria mais útil avaliar
este modelo. Foi o que fizemos, elegendo um A3 Sedan Attraction sem nenhum
opcional.
A Audi operou um certo milagre no
desenho do A3 Sedan, criando um sedã bastante compacto e ao mesmo tempo
atraente. É muito difícil fazer isso com sedãs pequenos, pois a obrigatoriedade
de colocar três volumes em poucos metros de comprimento tendem a levar a
soluções estranhas, com porta-malas truncados e tetos muito altos. Nada disso acontece neste Audi. Ele ostenta
proporções fluidas, combinadas à uma aparência sem dúvida de Audi mesmo, com
elementos típicos da marca – considere o teto em curva contínua e a grade
dianteira por exemplo. Chega a ser mais bonito que o irmão maior A4, pelo menos
no modelo antigo. Agrada ainda a sobriedade do desenho, indicador que se
manterá atual por muitos anos, diferentemente da tendência de múltiplos vincos
e dobras seguidos por Honda e Hyundai.
Por dentro é também um típico Audi,
com painéis de porta e a parte superior do painel em plástico macio ao toque,
apliques de couro e tecido nas portas, um agradável tecido acinzentado no teto
e nas colunas (tecido nas colunas é sempre indicador de bom acabamento). A
combinação de preto com apliques em prata é muito agradável e revela bem a
sobriedade germânica, porém alguma adição de cores cairia muito bem, talvez
algumas partes em cinza. Como está é muito elegante, porém um pouco monótono.
É muito bom notar que o padrão de
acabamento manteve-se do A3 importado, que
testamos, para o nacional. Não notamos diferença alguma, a não ser as
esperadas por se tratarem de versões bastante diferentes, esta a de entrada e
aquela a topo de linha. Destaque para o porta-luvas revestido em veludo e o
couro do volante, que dá vontade de arrancar e usar para forrar o travesseiro
de tão agradável.
(porta-luvas forrado em veludo)
Sendo muito, mas muito chatos, os
senões ficam para os porta-mapas nas portas sem revestimento – porém com a parte inferior emborrachada – e a iluminação simples, somente uma lâmpada
convencional à frente e outra no meio do carro. Uma luz de leitura não faria
mal.
A lista de equipamentos inclui alarme
antifurto, ar manual, bancos dianteiros com ajuste de altura, computador de
bordo, controle eletrônico de estabilidade e tração, faróis com lâmpadas de
xenônio em ambos os fachos, fixações Isofix para cadeiras infantis, freio de
estacionamento com controle elétrico, lanternas traseiras em leds, start-stop,
sistema multimídia MMI com interface Bluetooth para telefone celular, rodas de
alumínio de 16 polegadas com pneus 205/55, sensores de estacionamento
traseiros, sete bolsas infláveis (frontais, laterais dianteiras de tórax,
cortinas laterais e para os joelhos do motorista) e volante em couro.
Ao entrar no A3 Sedan uma
característica fica clara de imediato. É um carro baixo. Baixo como há muito
não vemos, significativamente mais baixo que todos os sedãs concorrentes por
exemplo. Note que não estamos falando da altura em relação ao solo, que foi
elevada na comparação com a versão importada e faz com que o A3 só raspe a
frente ans valetas mais imprudentes. Estamos falando da altura total mesmo. A
regulagem em altura do banco permite boa variação de ajuste, e se você optar
pela posição mais baixa – prática que temos com praticamente todos os carros
que testamos – você acaba “despencando” no banco de tão baixo que é. Não
incomoda, é mais uma questão de costume. Agora, uma vez instalado, desfrutar de
uma posição baixa e bastante esportiva é algo muito apreciável.
A regulagem de distância e altura do
volante é bem ampla, como já havíamos notado no A3 Ambition, o que permite
encontrar uma ótima posição de guiar, com as pernas mais esticadas do que é
comum nos VW. O banco é muito bem formatado, com apoio lateral intenso; se você
está com muitos quilos a mais, é prudente testar o carro antes pois pode
incomodar. É revestido de tecido, cujo aspecto poderia ser melhor; não é
áspero, porém não é aquele tipo veludo.
O A3 Ambition que testamos veio com
bancos “semi-esportivos”, de apoio lateral ainda mais intenso e também a parte
superior das costas mais larga. Honestamente, não notamos diferença
significativa de acomodação para os bancos mais simples desta versão. A nosso
ver estes são até mais vantajosos por serem mais estreitos e colaborarem para
aumentar um pouquinho que seja o espaço para pernas atrás.
A ergonomia é perfeita, como costuma
ser nos projetos alemães. Tudo à mão e fácil de mexer. O estilo extremamente
minimalista do A3, no entanto, concentra quase todos os comandos no console
central, composto por um mega botão giratório cercado por seis outros botões
convencionais que acionam os principais comandos. Sentimos falta de comandos
redundantes ao menos para funções básicas do som. Existe, aliás, um botão
redondo exclusivamente para ligar e desligar o sistema, mudar volume e faixas
de música, porém mal localizado à direita do conjunto. Seria melhor se fosse
mais acessível.
Este agrupamento de comandos no
console faz parte do que a Audi chama de MMI, ou MultiMedia Interface, e
comanda a parte de entretenimento. O sistema é visível por uma tela acima do
console central que se recolhe ao desligar o carro, e também ao toque de um
botão para um visual ainda mais limpo. É de longe a melhor solução para estes
aparelhos, especialmente se comparado à tela horrível da Mercedes. Outra
vantagem desse sistema está justamente na ausência da tela sensível ao toque.
É, de fato, mais complicado entender o MMI do que um sistema touch screen – como por exemplo o do
Jetta, do mesmo grupo, ou o Sync da Ford – porém tem a vantagem de manter a
tela sempre limpa, sem marcas de dedos.
Esta versão Ambiente, por ser mais
simples, é até mais fácil de mexer. Nas superiores o MMI controla oitocentas
funções, diferentemente daqui. Por isso a curva de aprendizado é rápida, e a
tarefa de parear um telefone via Bluetooth é rápida e indolor.
(Aliás, falando em oitocentas
funções, recomendamos ao comprador desta versão básica muita calma ao ler o
manual do carro. Sem exageros, ao menos metade dele é dedicada a explicar
equipamentos inexistentes aqui e e funcionamento de outras versões do A3,
inclusive a conversível e a híbrida e-tron.)
O cluster merece um parágrafo à
parte. Os leitores habituais do M4R sabem como gostamos de mostradores grandes,
e de escala variável no velocímetro priorizando as velocidades baixas
utilizadas nas cidades. Os mostradores do A3 são uma aula magna nesse aspecto,
com absolutamente tudo correto. O velocímetro é graduado de 5 em 5 km/h até 80
km/h, E de 10 em 10 até 280 km/h, de forma limpa e organizada. O conta-giros é
enorme e mostra claramente a diferença entre motor na marcha-lenta e motor
desligado devido ao start-stop – algo importante em carros com esse
equipamento. A legibilidade da fonte e dos caracteres em branco contrastando
com o fundo bem preto é perfeita. Os mostradores de nível de combustível e
temperatura do líquido de arrefecimento são digitais, com ótima leitura, embora
ainda nossa preferência seja pelos ponteiros. Ao centro está uma tela de alta
definição (porém não colorida) que reúne informações do computador de bordo e
replica algumas do MMI. Veja na foto como o arranjo é perfeito: acima, música e
fonte do som (no caso, Bluetooth). Abaixo, um belo velocímetro digital para
evitar multas. Depois, o computador de bordo, completo como de praxe nos
VW/Audi, na função de consumo médio (tem também autonomia, consumo instantâneo,
tempo de condução, data e hora). Ao final, indicador de marcha (que indica a
marcha em uso mesmo em D, ao nosso ver deveria ser obrigatório) e temperatura
externa. Tudo ali, fácil e rápido.
Bom, como estamos elogiando muito,
chegou a hora de falar de um problema sério. Espaço interno. Se você não se
preocupa com isso, por não ter filhos, ou família de baixa estatura, pode
pular. No entanto, se você pretende usar o banco de trás com algo diferente de
duas crianças, o A3 Sedan não é pra você.
Lembra como comentamos da beleza das
linhas no início? Pois aqui ela cobra seu preço. Primeiramente, o acesso.
Entrar no banco de trás é ainda mais difícil que na frente, devido ao caimento
do teto. Depois há que apertar as pernas no pouco espaço disponível – um
passageiro de 1,75m fica sem espaço atrás de outro motorista da mesma estatura.
Ainda pior é o espaço para as cabeças: uma pessoa mais alta que essa medida já
simplesmente não cabe. Nesse ponto o A3 Sedan é quase como um cupê, daqueles
que o banco traseiro está mais para decoração. É apertado mesmo. O porta-malas
é também pequeno com somente 425 litros, porém dá gosto de ver: totalmente
acarpetado, com lugar específico para as dobradiças, abertura mecânica pelo
telecomando da chave, e maçaneta interna para fechamento.
Chegou a hora de virar a chave (virar
mesmo, esta versão não tem botão de partida) e acordar o 4 cilindros turbo flex
de 1.395 cm3, que gera 150 cv de 4.500 a 5.000 rpm e 25,5 m.kgf de torque de
1.500 a 4.000 rpm independente do combustível. É uma versão evoluída do 1.4 de
140 cv monocombustível usada no Golf, com recursos modernos como injeção
direta, turbo, intercooler e variação do tempo de válvulas. Tem start-stop, que
pode ser desativado com um botão no painel, e cujo funcionamento é um tanto
abrupto; esperávamos mais suavidade desse sistema num Audi. Como está, nota-se
claramente o motor desligando e religando, até com um certo tranco.
O motor está acoplado a uma caixa
automática epicíclica convencional de seis marchas, fabricada pela japonesa
Aisin e que conhecemos bem no Grupo VW desde o antigo
Bora. É o único A3 do mundo com motor flex e câmbio epicíclico. E como
ficou o resultado?
Excepcional.
Os motores turbo, independente da
capacidade cúbica, têm uma pegada muito diferente dos aspirados. Na condição
cotidiana, o enorme torque a baixíssimas rpm faz com que o carro se desloque sem
esforço, trazendo uma boa sensação para o motorista de reserva de potência (e
essa sensação é tão boa que o Rolls Royce Phantom não tem conta-giros, mas sim
um indicador de reserva de potência) e também de economia de combustível. É
totalmente oposto de aspirados como Focus e Civic, nos quais para uma saída um
pouco mais animada já é preciso recorrer a altos giros e o consequente aumento
dos giros, barulho e consumo. É uma delícia curtir giros altos numa pista ou
numa estradinha B, nem tanto quando tudo que você precisa é sair na frente do
ônibus.
Então o A3 1.4T empurra com gosto, e
chega a altas velocidades muito rapidamente. Os números de desempenho falam por
si, com 0 a 100 em 8,8s e máxima de 215 km/h. Não caia no conto dos jornalistas
“especializados” que esse não é desempenho de esportivo. O cara sai de um 911 e
aí muda o padrão de referência. Tirando Golf GTI e Jetta 2.0 TSI, o que anda na
frente desse Audi? Muito pouca coisa, e o carro puxa muito bem. Em altíssimas
velocidades, superiores a 140 km/h, a o motor perde fôlego e o ganho de
velocidade é claramente mais fraco. Mas tá bom já, né?
E se alguém acha que o câmbio mata o
carro, muito pelo contrário. Esse Aisin é o melhor câmbio automático
convencional do lado de cá do ZF de oito marchas. As trocas são muito rápidas,
colaborando com o desempenho, e imperceptíveis na condução tranquila. O modo
Sport é bem calibrado, inclusive com reduções adequadas ao se tirar o pé rápido
do acelerador, e o modo manual controlado na alavanca conta com trocas bastante
rápidas.
Só não é melhor que o original de
dupla embreagem. Aí também é covardia. Os DSG são os melhores câmbios nessa
configuração e a luta seria injusta. O DSG original seria ainda mais rápido e
preciso. Então aqui sim, houve uma perda com relação ao A3 importado, porém
pequena.
E foi decepcionante constatar que a
Audi não aproveitou a existência de um conversor de torque para combater um
problema crítico de carros com motores pequenos e turbinados: a saída em
segunda marcha em cruzamentos. A sitação é a mesma: ou pisamos muito no
acelerador, o câmbio mete primeira e sai lixando os pneus, ou atravessamos o
cruzamento com o carro arrastando em segunda marcha. Aqui seria bem vindo um
deslizamento bem maior do conversor, de maneira a rapidamente elevaro o giro do
motor e aproveitar o torque de quando o turbo entra. Como está, ficou melhor
que o 1.4T com câmbio DSG de 7 marchas, porém longe de ser satisfatório.
A suspensão foi o outro ponto
polêmico da nacionalização do A3 Sedan, com a troca do esquema traseiro
multilink pelo simples e barato eixo de torção. E como ficou?
FICOU SENSACIONAL! BOM PRA VIDA TODA!
Porque, ao contrário do câmbio que
foi uma oportunidade perdida, aqui algum ser iluminado na Audi percebeu que
rodamos no Brasil e não na Alemanha, e calibrou uma suspensão macia de fazer
inveja ao Corolla. É maravilhoso como este A3 encara os piores asfaltos com uma
frieza incomum, sem sobressaltos, sem pancadas secas, como se tivesse pneus de
Hilux. Rodando em São Paulo, cujo asfalto está abandonado há anos, o A3 se
comporta como numa Autobahn, livrando os ocupantes do incômodo. Sólido. Impassível.
Espetacular.
É claro que esse acerto cobra seu
preço na estabilidade. O A3 ficou mais “frentudo”, com a dianteira desgarrando
antes do que seria comum em carros com esse desempenho, e também aderna um
pouco mais nas curvas de alta. E aí eu pergunto: qual a sua relação entre
curvas de alta e asfalto degradado? Se o negócio é máxima estabilidade,
realmente o A3 piorou. Se o negócio é usar o carro no dia-a-dia, em cidade,
como transporte, ficou anos-luz melhor.
A crítica é que uma nova calibração
de uma suspensão multilink permitiria o mesmo nível de conforto com melhores
respostas em alta. Seria a solução ganha-ganha.
Os freios são a disco nas quatro rodas,
porém não gostamos da modulação do pedal, esponjosa demais; requer muita
profundidade antes de uma potência de frenagem maior. Gostaríamos de freios
mais presentes, com mais frenagem em menos curso de pedal.
Não temos o costume de falar de
consumo aqui pois varia muito de motorista para motorista. Porém vale a nota
que este A3, sendo relativamente leve com 1.215 kg, motor compacto e sistema
start-stop, consegue médias absurdas de consumo, do tipo superiores a 10 km/l
com etanol em tráfego urbano.
Decidir se o A3 vale a pena é
perguntar o quanto você valoriza uma marca premium. Ele compete com os sedãs
médios topo de linha de marcas generalistas, e perde feio em equipamentos.
Comparando com o Jetta, que tem o mesmo conjunto mecânico, este traz teto solar,
sensores de chuva e luminosidade, retrovisor interno fotocrômico, externos
rebatíveis eletricamente, ar digital bizona, sensor de estacionamento
dianteiro, piloto automático, volante com comandos multifuncionais, sistema de
entrada e saída do carro e partida sem chave, na configuração Comfortline topo
de linha equivalente em preço. Nenhum desses equipamentos é fundamental, porém
ajudam bastante quando existentes. Em compensação, o Jetta não tem o mesmo
acabamento, nem precisão nos comandos, nem qualidade do habitáculo, e
obviamente não tem o mesmo status. O A3 também deve ter custo de manutenção e
seguro superiores.
Para nós, a sensação de estar num
carro com elevado padrão de qualidade, desempenho soberbo e uma suspensão preparada
para as atrocidades do nosso piso valem cada centavo.
Estilo
10 – Muito bonito, faz milagre em se considerando que é um sedã compacto.
Imagem
– Um pouco mais masculino que feminino, porém para todas as idades.
Acabamento
9 – O tecido dos bancos poderia ser melhor, e a parte de baixo das portas é em
plástico duro. Mas o resto é padrão Audi.
Posição
de dirigir 9 – Ajustes muito bons e uma posição baixa que há muito não se via.
Instrumentos
9 – Cluster maravilhoso. Para o 10 faltou tela colorida, mostradores de mais
itens (como temperatura de óleo) e ponteiros para combustível e temperatura.
Itens
de conveniência 5 – Não falta nada grave e tem até coisas surpreendentes como
faróis de xenônio, porém realmente não é uma lista farta de equipamentos.
Espaço
interno 3 – Na frente já é um pouco claustrofóbico devido à pouca distância do
teto. Atrás então...
Porta-malas
6 – Dos menores da categoria, porém com um acabamento que dá gosto.
Motor
10 – Uma pequena jóia, torque de V6 com mínimo consumo de combustível.
Desempenho
9 – Anda muito, porém o lag do turbo se faz sentir um pouco.
Câmbio
8 – É pior que o S-tronic anterior. Porém é melhor que muita coisa do mercado.
Freios
8 – Faltou pegada no pedal, mas é muito boa a frenagem quando exigido.
Suspensão
10 – Adoramos a calibração. Seria ainda melhor como multilink, mas mesmo assim
merece nosso 10.
Estabilidade
7 – Sai de frente mais cedo do que se imagina, até por ser muito rápido. Mas é
mais do que seguro.
Segurança
passiva 10 – A Audi não fez as cagadas como a Jeep que lançou o Compass com só
dois air bags nas versões de entrada. Esse vem com sete.
Custo-benefício
6 – Depende do que se vê como benefícios. Um monte de equipamentos? Não é o
caso. Mas qualidade de construção, dirigibilidade, suspensão confortável...
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