Teste: Audi TTS
Reclamamos recentemente que falta um
carro pro entusiasta se descabelar. Falta sim, mas para o entusiasta pobre. O
entusiasta endinheirado pode pegar 300 mil reais e investir num tesudo Audi
TTS.
O carro que nasceu bonito, porém um
tanto feminino foi ganhando arestas e pontas até se tornar um cupê bonito,
moderno e chamativo. Para alguns, o passado do TT condena, mas aí são os mesmos
que continuam condenando o Porsche Boxster e nenhum dos dois tem cabimento. O
TT ficou realmente bonito, e na versão TTS as espetaculares rodas de 19
polegadas e as quatro saídas de escape pouco discretas complementam o visual. O
que testamos vinha num Azul escuro metálico espetacular.
A versão TTS é a
“esportiva-intermediária da linha”. Além da TT com 220 cv, existira á TT-RS,
com portência estimada superior a 340 cv. O TTS fica no meio termo com 286 cv
extraídos de um quatro cilindros 2.0 16v turbo e injeção direta, potência
atingida a modestos 5.300 rpm, e 38,7 m.kgf de torque a 1.800 rpm. A
transmissão é a conhecida DSG de seis marchas e a tração é integral quattro,
transmitindo mais tração às rodas com mais aderência por meio de lima embreagem
multi-discos.
O interior é um espetáculo à parte. Faz
tempo já que a Audi vem fazendo os interiores mais bonitos e bem acabados entre
as grandes alemãs e chegando num nível quase Jaguar de refinamento. O TTS tem
plástico macio e alumínio escovado por onde se olhe, porta-objetos revestidos,
botões e alavancas de acionamento correto, ergonomia sensacional, bancos
esportivos com custura diagonal branca – poidem ser vermelhos, no nosso eram
pretos – e um couro no volante tão macio que dá vontade de dormir nele.
A posição de pilotagem é bem isso,
pois senta-se baixo e um tanto afundado. Algo muito bem-vindo em tempos de
posição de dirigir alta. É um carro que veste, cujo banco abraça e até mesmo
aperta as costas, deixa claro ali que é um esportivo. Os ajustes elétricos do
banco e manuais do volante são amplos e permitem sintonia total com a máquina.
Os equipamentos são o que se espera
de um carro desta categoria, como bancos elétricos, ar digital (monozona, porém
com o charme de ser ajustado por um botão nos próprios difusores de ar), seis
airbags, câmera de ré, sensores de estacionamento dianteiros e traseiros, chave
com sensor de presença, piloto automático, controle de estabilidade e tração,
sensor de luminosidade e chuva, faróis em LED com DRL, navegador, retrovisor
interno fotocrômico, sistema de aúdio Bang & Olufsen (não usamos, ficamos
ouvindo o motor o tempo todo da avaliação, nos desculpem), start-stop e três
itens que falaremos à parte.
Amortecedores com controle magnético
e seletor de modos de condução. O TTS pode ser conduzido no modo efficiency,
para economia, conforto, automático, esportivo e individual. Do mais
confortável para o mais esportivo, notamos respostas mais rápidas e um ronco
mais alto. De suspensão mesmo não notamos alterações significativas, falaremos
disso adiante.
Painel Virtual Cockpit. É uma tela de
altíssima definição com 12,3 polegadas colocada no lugar do cluster. Tem
diversos modos de operação, com destaque para o GPS, para o computador de bordo
ou, no modo esportivo, para um enorme conta-giros no centro aliado a um
velocímetro digital e um mostrador de marchas. Aqui no M4R ainda não decidimos
se gostamos. É útil ter a flexibilidade de uso, a definição das imagens é
altíssima, os recursos são vários, mas talvez ainda estamos apegados a
velocímetro e conta-giros analógicos. É um recurso que será cada vez mais
popular, imaginamos. É pelo menos muito melhor que a solução meia bomba do
Fusion de manter o velocímetro analógico e ladeá-lo com duas telinhas de nada.
Praticidade obviamente não é o forte.
O banco traseiro é na verdade um desperdício de couro, pois é limitado a
crianças de no máximo seis anos e mesmo assim o motorista não pode recuar
completamente o banco. O porta-malas não é tão ruim, com 305 litros que
acomodam bem a bagagem de um casal.
Em praticamente todos os carros que
testamos, com exceção dos superesportivos, existe alguma concessão ao uso
familiar. Não o TTS. Neste ponto segue a receita dos supercarros, que é mandar
a praticidade catar coquinhos. Não cabe gente atrás, a altura do solo é mínima,
a suspensão (McPherson na dianteira e multilink na traseira) é dura ao extremo,
e o controle magnético na prática não muda nada em termos de conforto na
cabine. Carro para o dia-a-dia só se você tiver o privilégio de encarar um
asfalto extremamente liso. Em qualquer ondulação ou irregularidade o TTS
balança, pula, quica, contorce e reclama. Não é à toa que o teste para
jornalistas foi no Autódromo de Interlagos.
Nós tivemos a sorte de encarar uma
subida de serra com um asfalto digno de autódromo. É a situação ideal, e honestamente
talvez a única em que estar num TTS vale a pena com exceção de Track Days. É um
daqueles carros cujo limite está brutalmente acima do seu, é necessário
reprogramar o cérebro para entender os limites de aderência, aceleração e
frenagem deste carro. Você acha que está entrando forte na curva e está a 50%
do limite. É impressionante a capacidade de devorar curvas, parece realmente
pronto para Track Days. Os números de desempenho são superlativos, com 0 a 100
km/h em 4,9s máxima limitada a 250 km/h e frenagem de 100 a 0 em 34,8 metros,
igualmente impressionante. Estar numa estrada de serra de asfalto bom com um
TTS é um dos pedacinhos do paraíso na terra para um entusiasta, algo para fazer
e repetir até acabar a gasolina.
A sonorização do passeio ficou por
conta dos quatro grandes escapes. O TTS parece um daqueles adolescentes que
fazem questão de esfregar na cara da sociedade as suas opiniões. O ronco do
quatro cilindros é maravilhoso, não achamos que fosse possível um motor dessa
configuração, ainda mais turbo, soar tão bem. As reduções são acompanhadas de
subida de giros e um “pipoco” claramente audível, e mesmo ele parado emana um
ronronar do escape que denota claramente a vocação esportiva. Realmente um
trabalho digno de aplausos a sonorização feita pela Audi no carro.
Nossa, quanta babação, já encomendou
o seu Dub? Não. Claro que é por falta de dinheiro, mas num mundo hipotético
onde dinheiro não fosse um problema, também provavelmente não compraríamos.
Claro, se tivéssemos uma garagem com 40 carros o TT teria espaço, mas fora isso
não.
Primeiro que não é um carro
utilizável. Trocaríamos com facilidade a rigidez toda por uma suspensão mais
permissiva. Seria muito mais agradável com pequena perda de desempenho na
pista, dado que o limite de aderência é altíssimo.
Segundo que o preço está
perigosamente próximo dos Porsches de entrada. E Porsche carrega muito mais
pedigree, status e dirigibilidade. Para um cheque de 300 mil, tem muito Audi A3
1,4 por aí, derruba a exclusividade.
Terceiro que peca na proposta de ser
esportivo. Legal, o carro então é um cupê, duro, mega esportivo. Aí vem com
câmbio manual né? Não, só o DSG. Nada contra, inclusive provavelmente é mais
rápido assim, mas se é pra curtir andar forte este estusiasta aqui quer um
câmbio MANUAL. E nem vamos falar da tração traseira (Alô Porsche! Alô BMW!),
pois não é a da Audi.
O que compraríamos? Porsche Boxster
ou Cayman. Ou BMW 435 cabrio, 535 3.0 Sport, ou M235i pra andar forte. Isso
entre os 0 km, claro.
Estilo
10 – O carro é lindo, e na cor certa fica mais lindo ainda.
Imagem
– Superou os anos femininos, embora não para todos. Parece que falta alguma
coisa para entrar de verdade no clube dos esportivos.
Acabamento
10 – Pode dar nota 140? É de interiores assim que a gente precisa. Tudo
preciso, pensado, elegante.
Posição
de dirigir 10 – Baixa, com boa visibilidade e sensação dos movimentos do carro.
Ergonomia perfeita.
Instrumentos
10 – A tela configurável permite mostrar diversas configurações do carro.
Itens
de conveniência 9 – Para o 10 faltaram o controle de cruzeiro adaptável e o
teto solar.
Espaço
interno 2 – Nem na frente é tão bom assim se você for alto. Atrás é para
sacolas.
Porta-malas
6 – Surpreendentemente bom. Leva as malas dos dois ocupantes que efetivamente
podem ser transportados.
Motor
9 – Impressionante a arte que a Audi fez com um quatro cilindros. É de pensar
como não ficaria com o cinco cilindros do irmão RS3.
Desempenho
10 – Tá louco, anda muito.
Câmbio
1 – Claro que não é a nota do DSG, que é rápido, preciso e cujas trocas manuais
podem ser feitas na alavanca ou nas borboletas. É que tinha que ter opção de
manual.
Freios
10 – Uma verdadeira âncora, impressionante. Boa modulação do pedal.
Suspensão
2 – Dura. Muito. A configuração é moderna, faltou refinamento na calibração.
Estabilidade
10 – Deve ser impossível de capotar.
Segurança
passiva 10 – Podemos ser realmente chatos e reclamar da ausência do airbag dos
joelhos do motorista, mas é desnecessário.
Custo-benefício
1 – É uma análise racional, o TTS não é um carro racional.
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