Entendendo o novo Jetta
Após realizarmos mestrado, doutorado,
livre docência, curso no exterior e ressuscitarmos o Einstein, achamos que
juntamos conhecimento suficiente para entender a complicadíssima nova linha do
Jetta e sua relação com Golf e A3.
Temos o Jetta em três versões:
1. Trendline 1.4, manual ou
automática, importada do México;
2. Comfortline 1.4, sempre
automática, feita em São Bernardo do Campo, na linha em que era montada a Kombi;
3. Highline 2.0, sempre automatizada
com DSG, importada do México.
Já o Golf passa a ser feito no Brasil
em todas as versões, inclusive a GTI.
Complicado entender a logística.
Então o motor 1.4 turbo será feito no Brasil, flex, mas o Jetta usa a unidade
importada do México, somente a gasolina. Que foi repotenciada para 150 cv, de
forma a ficar igual à outra. Obviamente é um repotenciamento no papel, já que o
motor rende muito mais que 150 cv de qualquer forma. É como o 2.0 TSI que foi
de 200 para 211 cv e a aceleração do Jetta ficou igual.
Parte da confusão podemos creditar ao
fato de Golf e Audi A3 já utilizarem a plataforma MQB, enquanto o Jetta ainda
está na PQ-35. Então têm bases diferentes, o que muda o processo de montagem.
Se o Jetta já fosse da MQB provavelmente a opção de montá-lo na fábrica do
Paraná faria mais sentido.
Isso explica também porque o Jetta
manteve o multilink e o Golf não. A PQ-35 não foi projetada para usar eixo de
torção, e aplicá-lo nesta base era uma espécie de gambiarra, o que inclusive
causou problemas no Brasil, com Jettas perdendo o eixo traseiro. Também devemos
considerar que o piso lamentável das ruas e estradas brasileiras causa estresse
adicional na suspensão. Na Alemanha provavelmente um Jetta com eixo de torção
rode 500 mil km e nem tchuns...
Já a MQB, mesmo sendo mais moderna,
considera a aplicação de eixo de torção desde a partida, algo que acontece
inclusive na Europa, nas versões mais baratas do Golf. Não tenha dúvidas de que
se o Jetta fosse MQB, somente a versão Highline manteria o multilink.
E então porque não importar todos os
Jettas do México?
Não encontramos uma razão clara, mas
provavelmente a verdade está em algum lugar entre esses fatores: a) redução do
volume de carros importados do México, para abrir cota para outras importações;
b) manter empregos e trabalho na fábrica de São Bernardo do Campo, para que o
custo de produção da planta mantenha-se razoável e não precise ser distribuído
por um número menor de produtos feitos lá, o que acarreta em aumento de preços;
c) impossibilidade de demitir em SBC devido a acordos com sindicato e/ou
governo; d) fabricar o Jetta é modo de dizer, dado que muitos componentes
seguem importados.
Ainda, na prática, é bem provável que
a oferta de Jetta Trendline seja mínima – o manual deve ser inexistente -, e as
concessionárias acabem equivalendo os preços e levando os clientes a comprarem
a Comfortline.
A questão de porquê não adotar a
motorização flex no Jetta é ainda mais difícil de entender. Deve ter a ver com
capacidade de produção da unidade flexível (não sabemos se será totalmente
feito no Brasil, ou somente as partes “flex”, ou algo no meio), e poder
importar o Jetta Trendline já “pronto”. Porque ia ficar estranho ter o Jetta
Trendline só gasolina e o Comfortline flex. Com certeza, nesta decisão pesou
ainda o fato de flexibilidade em combustível não ser tão importante para os
carros de categorias superiores.
E, no fundo, de forma inconsciente
até, a Volkswagen deve ter sido norteada por uma desistência de brigar para
valer com Corolla e Civic no Brasil.
No final, fica a certeza que o Jetta
legal continua sendo o Highline, desempenho de Golf GTI com 500 litros de
porta-malas.
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