Como foi 2015
Fechado o balanço de vendas do ano,
2015 fica marcado pela queda em vendas, 26,6% em relação a 2014. Vamos absorver
este número: um em cada quatro carros deixou de ser vendido de um ano para
outro. O total de vendas ficou em 2,57 milhões de carros, caminhões e ônibus,
contra um pico em 2012 de 3,8 milhões. Um terço a menos.
A indústria automotiva é um dos
expoentes mais visíveis de uma política econômica horrorosa, míope, de
curtíssimo prazo, que isolou o Brasil do mundo exterior e estimulou o consumo
loucamente por meio de isenções temporárias e locais de impostos. Mas não vamos
entrar nessa seara, não é sobre isso que falamos aqui.
Infelizmente a queda em vendas não
tem se refletido em queda nos preços, embora em muitos casos isto tenha
acontecido de forma ligeira pelos reajustes abaixo da inflação. Carro não é
algo que possa ser brutalmente desvalorizado, sob pena de alienação e mesmo
protestos das pessoas que acabaram de comprá-los. Assim a solução é pequenas
desvalorizações ou aumentos abaixo da inflação. Isso até tem acontecido nos
carros mais baratos, os mais afetados pela crise, enquanto que dos médios pra
cima os preços têm subido.
Ainda assim os fabricantes têm
avalizado planos de expansão, como os anunciados pela GM e pela Nissan. Que
isto signifique mais diversidade de carros à disposição e também preços mais
baixos.
Falando dos carros mais vendidos, o
destaque vai para o Onix, o mais vendido do ano. Dá para tirar algumas
conclusões:
1. A força da marca Chevrolet. Por
muitos anos o showroom das concessionárias da marca era um horror: Celta,
Classic, Corsa 4300 em final de vida, Agile, Monstrana, Astra e Zafira
defasados, S10 moribunda após quatrocentos facelifts. Foram os anos nos quais a
GM descolou da Fiat e da Volks em termos de vendas. Bastou voltar a oferecer
produtos minimamente competitivos – Onix, Prisma, Cobalt, Cruze, S10 – e a
Chevy renasceu das cinzas. É difícil explicar. Muito se deve à confiabilidade e
robustez mecânica aliados ao baixo custo de manutenção. Um pouco também por ter
abraçado de cara a conectividade, oferecendo o MyLink em toda a linha. E também
pelo esforço de vendas. Vendedor da Chevrolet é aguerrido, briga pelo negócio,
oferece condições, descontos, é difícil não fechar com eles. O que leva ao
segundo item.
2. Influência externa. O brasileiro
vai, pesquisa os carros, lê a imprensa especializada, decide qual é o melhor
carro e aí na hora do vamos ver fecha com outro porque “o primo recomendou” ou
“o vendedor ofereceu tapetes grátis”. Cansamos de ver isso por aqui. “Dub, qual
carro você recomenda assim e assado? Ah, recomendo o carro X. Então Dub,
comprei o Y porque tinha pronta entrega”. Ah vai se foder.
3. A Fiat parou no tempo. A FCA
centrou esforços na Jeep, e fez do Renegade um sucesso, abandonando os Fiats.
2016 deve ser o ano da retomada, começando pela Toro, mas hoje em dia entrar
numa concessionária Fiat é o mesmo cenário de terra arrasada que era o da GM há
alguns anos como falamos acima. Palio (Palio Fire!), Uno, Siena, Bravo, Punto,
Linea, todos já cansados e defasados.
4. O Gol perdeu a mágica.
Provavelmente uma combinação do seguro exorbitante, com o preço elevado, baixa
quantidade de equipamentos de série e um interior muito pouco inspirado, que
mostra claros sinais de idade. Em 2015 foi somente o sexto carro mais vendido,
atrás até da Strada e do Ka. O Fox também está no top 10, mostrando que um
interior mais moderno e um seguro mais barato fazem diferença, mesmo num carro
mais caro. É de se pensar ainda o quanto que o recall dos motores 1.0 VHT
machucou a imagem do Gol como carro robusto.
5. O HB20, terceiro mais vendido em
2015, mostra como é possível fazer um carro atraente, robusto, barato e bom de
dirigir tudo junto. A Ford já mostrou que aprendeu a lição com o Ka; esperamos
que as próximas gerações de Palio, Gol e Onix também bebam dessa fonte.
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ISM