Teste: Chevrolet Spark 1.2 GT
Teve uma época em que falou-se muito sobre mini carros no Brasil. Não como os kei japoneses e seus motores de 660 cm3, mas carros menores que Gol e Celta para abrir um novo nicho de mercado. Faz mais sentido ainda se pensarmos que via de regra todos os carros crescem em dimensões geração após geração e com isso o segmento dos carros pequenos fica sem atenção.
Quando
falamos em carros pequenos, queremos dizer Up. Automóveis cujo comprimento é
cerca de três metros e meio. O alemão tem 3,6m e o Spark 3,64m. Nossos outros
compactos, como March, Uno, Ka, superam os 3,80.
E
aliás o Up é um ótimo exemplo: os outros carros da VW cresceram e abriram o
nicho para um novo carro pequeno. O 500 é outro exemplo com 3,54m de
comprimento, embora sua proposta premium o afaste em termos de preço.
Falou-se
muito na vinda do Spark para o Brasil, como opção e substituição ao Celta, o
que nunca se concretizou mesmo quando a GM inundou a lista de compactos com
Celta, Classic, Sonic e Agile.
Comparando
o Spark com o Celta e os compactos de outras marcas podemos levantar alguns
elementos que levaram a essa tomada de decisão. Note, por exemplo, que o Fiat 500
atua num mercado de nicho, e o VW Up também, e mesmo assim neste último caso
ele foi alongado em relação ao primo alemão para mais espaço atrás e
principalmente mais porta-malas. Ou seja, Fiat e Volks oferecem outras opções
de carros maiores e mais baratos (Palio, Uno) ou quase no mesmo preço (Gol) que
os compactos.
Ou
seja, aparentemente existe uma associação entre carros pequenos e alto volume
de vendas ao ver das diretorias dos fabricantes. O 500 não passou por isso por
ser global e importado no Brasil. O Up já precisou sofrer cirurgia pois a Volks
não achou viável fabricar o carro no Brasil almejando volumes menores e
segmento de nicho.
A
diretoria da GM deve ter feito a mesma avaliação do Spark, com o problema de
que o design dele não permite aumento de comprimento, ao contrário do Up e seu
formato de pãozinho de forma. E aí engavetaram o projeto.
O
Spark no Chile, onde o dirigimos, é comercializado de acordo com sua proposta:
carro urbano para jovens, com design moderno, conectividade, fácil de manobrar
e estacionar e econômico. O Celta não é e nem nunca foi isso. O Celta é cavalo
de guerra, um pau para toda obra que funciona como único carro da família, leva
no trabalho, no supermercado, vai na estrada e segue o jogo. Então não pode ter
170 litros de porta-malas como é o caso do Spark.
No
Chile não há fábricas de automóveis, somente importação – o Spark testado foi
feito na Índia, e talvez por isso a flexibilidade seja maior. Fato é que o
tamanho do país, o uso de etanol na gasolina, a questão do carro flex, a carga
absurda de impostos e, principalmente, o extremo conservadorismo e busca pelo
máximo lucro das fabricantes instaladas no país impedem que a gente aproveite
essa diversidade. Nem falamos do Spark, mas porque não podemos ter um Scirocco?
Mustang? Focus SW? Explorer? Opel Insignia? Alfa Romeo?
Voltando
ao Spark, é um city car estiloso, para jovens urbanos. Imagina um Celta menor,
porém mais refinado.
O
design é claramente asiático e foi elaborado pela Daewoo na Coreia. Não temos
dúvidas que um estúdio italiano faria melhor, mas como está não é feio, e
inclusive faz um ótimo trabalho de passar modernidade numa embalagem compacta e
alta, o que é sempre difícil. Também não parece carro de brinquedo, como alguns
chineses.
Por
dentro é aquele festival de plástico duro e escuro, mas com um trabalho de
texturas que rejuvenesce o interior. O tecido dos bancos é áspero como seria de
se esperar. No entanto, fomos surpreendidos pela boa montagem, especialmente
por se tratar de um carro feito na Índia.
E
isto explica também a certa simetria do interior, no qual é muito fácil colocar
a direção na esquerda ou na direita. O painel de instrumentos é inspirado nas
motos, e conta com um grande velocímetro em ponteiro e uma pequena tela digital
que aglomera conta-giros, hodômetro e computador de bordo. Está fixado à coluna
de direção justamente pensando nessa fácil adaptação. E nesse ponto elogiamos a
GMB que faz um painel parecido, porém muito mais legível para Onix, Cobalt e
quetais.
O
espaço é suficiente na frente, mas motorista e passageiro da frente vão se
esbarrar mais do que o normal. Já atrás não podíamos esperar muita coisa,
embora o Spark nesse sentido seja melhor que o 500 e consiga levar quatro
adultos em distâncias curtas. Sacrificado foi o porta-malas, com 170 litros. Na
prática, isso significa uma mala grande. E só.
Empurrando
está um 1.2 de quatro cilindros, 16 válvulas e 81 cavalos a 6200 rpm, com 11
m.kgf de torque a 4.800 rpm. Interessante que são números parecidos com os 1.0
de três cilindros no Brasil, o que mostra o bom nível de desenvolvimento desses
motores. No entanto, é importante ressaltar que o carro roda com a gasolina
chilena, ou seja, sem etanol.
O
motor é bem suficiente para o carro, e permite um escalonamento amigável de marchas,
com cerca de 3 mil rpm a 100 km/h em quinta marcha. Na cidade, dificilmente se
sente falta de potência. Já na estrada as retomadas em alta ficam complicadas,
o que seria de se esperar.
A
economia de combustível é ponto alto, sendo que em nosso trajeto fizemos mais
de 14 km/l num misto de 70% estrada e 30% cidade. O tanque de combustível de 35
litros assim não incomoda, mas numa versão flex seria pequeno.
O
conjunto como um todo é muito bacana. O ronco do motor é bastante presente,
porém agradável. Os pedais têm peso correto, e a embreagem macia e de curso
bom, alinhada com o câmbio macio e de boa pega deixam o ato de dirigir o Spark
um prazer, até mesmo com um quê de esportividade que combina com a proposta. É
aquela história de ser preferível aproveitar mais a fundo um carro menos capaz
do que um carrão de 500 cavalos no qual nunca se pode despejar tudo no chão.
A
suspa é McPherson na frente e eixo de torção atrás, um pouco durinha pois o
carro é alto e precisa de estabilidade. Nas ruas de Santiago achamos excelente,
mesmo em trechos irregulares – que são poucos.
A
lista de equipamentos inclui o básico, como duplo airbag, ABS (os freios são
discos ventilados na frente e tambores atrás), ar condicionado, direção
hidráulica de bom peso, faróis de neblina dianteiros, rodas de liga leve,
computador de bordo com autonomia, tempo e distância percorrida, trio elétrico,
e um som com CD, MP3, entrada auxiliar, Bluetooth e USB.
Esta
experiência com o Spark foi tão interessante que realmente pensamos porque a GM
não o oferece no Brasil. Dá pra entender, pensando na razões acima, e também
considerando que o Up não decolou até agora. Uma pena, pois no M4R somos fãs de
carros pequenos e espertos para uso essencialmente urbano. Caber em qualquer
vaga, não passar aperto nas faixas de rolamento e agilidade sempre trazem um
sorriso ao motorista.
Estilo
8 – É muito difícil fazer um carro desse tamanho atraente. O 500 se deu bem
pegando a veia histórica. O Spark é talvez o melhor com desenho moderno.
Imagem
– Carro jovem, bem jovem.
Acabamento
7 – Não é ruim considerando a faixa de preço. Plásticos de texturas variadas e
bem encaixados, embora nada macio ao toque.
Posição
de dirigir 8 – Um pouco mais alto do que gostaríamos, mas de resto é bom.
Instrumentos
2 – O painel de moto não agradou. Velocímetro em ponteiro e conta giros
digital?
Itens
de conveniência 6 – Tem o básico da categoria dos compactos.
Espaço
interno 6 – Surpreende e é melhor que o 500 no banco traseiro. Claro que não
tem como ser o ponto forte de um mini carro.
Porta-malas
3 – Realmente 170 litros é só para compras de supermercado e mochilas.
Motor
6 – Tem um ronco agradável e bem presente na cabine, para quem gosta é um toque
de esportividade. Fora isso, cumpre seu papel, sem muita personalidade.
Desempenho
4 – Não dá pra sair ralando no farol.
Câmbio
8 – Uma delícia, melhor que os GM nacionais.
Freios
8 – Boa pegada do pedal, boas respostas, bem dimensionado.
Suspensão
7 – Um tanto dura para dar estabilidade a um carro alto. Em nosso trajeto foi
bem.
Estabilidade
5 – Pneus finos e carro alto.
Segurança
passiva 8 – Dois airbags, cintos, fixações para cadeiras de criança, nos
conformes.
Custo-benefício
8 – Pode-se argumentar que com a mesma grana compra-se carros maiores, mas em
termos de city car a baixo custo o Spark é bem interessante.
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