Três grandes
O
Joel Leite escancarou o que já acontece há algum tempo: é errado falarmos nas
quatro grandes brasileiras (multinacionais com atuação no Brasil, para ser mais
preciso). São três: Fiat, GM e Volkswagen.
Com
o final da Autolatina, a Ford elaborou um modelo de negócios no Brasil no qual
não é preciso ser grande para dar lucros – e aparentemente acomodou-se por aí
mesmo. Isso explica uma parte da equação: permite que a Ford não seja tão
agressiva em vendas, não se empenhe em abrir concessionárias loucamente por
todo o Brasil, e seja econômica nos esforços para ocupar mercado na faixa mais
disputada, a dos compactos.
Mas
tem uma parte da equação que não faz sentido. Porque não se vendem mais Fords
no Brasil? O Focus está entre os líderes de seu segmento, assim como o Fusion e
o EcoSport. O new Fiesta também ocupa bom destaque entre os compactos premium,
mas não são carros de volume. Hoje, dá pra entender porque os Fords mais
baratos vendem pouco – Fiesta e Ka estão ultrapassados. Mas quando esta geração
do Fiesta foi lançada em 2002, porque não arrebentou a boca do balão?
A
chamada do Best Cars à época resume bem: “Motor 1,0 com compressor, um grande
conjunto, preço atraente: o novo Fiesta é o que a Ford precisava”. Dos
concorrentes à época, o Palio já era o Palio; o Gol G3 era o melhor da geração
com motor longitudinal, porém caro e com seguro proibitivo; só a GM apresentava
algo interessante com o Corsa. Este Fiesta vendeu bem, mas não mudou o patamar
da Ford. Falta de interesse pois a empresa dá lucro assim mesmo? Ou o dano
causado pela Autolatina à imagem da Ford foi tão grande que serão décadas para
se recuperar? Ou a Ford sofre da fama de não fazer carros pequenos bons, assim
como diz-se que a Fiat não sabe fazer grandes (duas bobagens)?
Hoje,
com 9% do mercado, a Ford está distante das três grandes, que orbitam a faixa
acima de 17% (a Fiat se destaca om 21%), e com a Renault no seu encalço, com
7%. Os carros de origem Dacia foram a solução para a Renault ser vista como “a
francesa com confiabilidade”. Se já vendiam bem quando eram esquisitos, segurem
a nova linha Logan-Sandero com o novo design.
A
Hyundai vem encostada com 6,9%, basicamente todos HB20. Um case a ser estudado:
a CAOA conseguiu imprimir à marca uma imagem premium que ela não tem em nenhum
lugar do mundo e a montadora bancou a conta lançando um compacto que subiu a
barra do segmento. Fizeram em cinco anos o que as francesas não fizeram em 15.
A casa está caindo nos carros maiores – o público vem percebendo que Azera, Elantra,
Sonata, i30 e ix35 são no máximo equivalentes aos concorrentes, se não
inferiores, e atualmente não custam mais barato por isso. Mas o HB20 segue
firme.
Depois
vem a Toyota, ajudada pelo Etios, e a Honda, que não atua no segmento inferior
a 50 mil reais. Citroën e Peugeot sofrem, com menos de 2% e muita dificuldade
para virar o jogo, e a Nissan ainda atrás mais limitada pelas cotas de
importação do México do que pelos produtos; deve alcançar as outras japonesas
quando a produção em Rezende estiver a todo vapor.
É
válido ainda comentar a superioridade da Fiat, com 21,6% do mercado, cabeça e
ombros à frente de GM e Volks com 17,6% cada uma. Interessante que isto acontece
justamente no período em que a linha da Fiat está mais fraca, pois vultosos
recursos foram direcionados para a fábrica de Goiana em Pernambuco: o Linea
está ridículo, o Punto envelheceu, o Bravo nasceu inferior à concorrência, o
Grand Siena é mal ajambrado, o Palio não caiu no gosto e o Uno implora por uma
revitalização (o 500 é bacana, mas vende pouco). Quem banca a Fiat é mesmo o
Palio Fire, aquele da geração antiga, e a Strada com as suas múltiplas versões.
Carros de volume, e cuja plataforma antiga permite boas margens (sem contar o
preço extorsivo cobrado no Brasil, claro).
Se
quer mesmo ser a maior do mundo, é hora da Volks aproveitar esta fragilidade.
Mas não parece que este assunto está na pauta. Não faz sentido a Saveiro não
ter acompanhado a Strada nas soluções de cabine estendida e dupla, seguindo a
concorrente. Não faz sentido a Volks achar que um 1.6 8v serve para todos os
carros em todos os momentos – a Fiat oferece versões 1.4 8v, 1.4 16v, 1.6 16v e
1.8 16v. E o sedã grande e barato da Volks, competindo com Grand Siena e Cobalt,
cadê? E o Polo atualizado, para competir com o New Fiesta? Em muita coisa a
Volks já revolucionou o mercado, começando pelo Jetta TSI e ainda mais com o
Golf; o up! também foi um passo corajoso. Com essa lerdeza, a Fiat já terá
completado Goiana e aí vai ser difícil segurar.
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