Teste: Citroën DS4 1.6T "Prince"
História
interessante, a da Citroën. Até bem pouco tempo atrás, talvez final dos anos
90, uma marca atrevida e inovadora. Pareia-se ombro a ombro com a Lancia em
termos de carros revolucionários (e lembremos que a Lancia foi eleita pelo Top
Gear como a marca com o maior número de modelos avançados lançados em sua
história).
Na
Cit, não precisamos vasculhar muito. Basta lembrar do Traction Avant, primeiro
carro tração dianteira produzido em massa; o 2CV, carro simples, mas de
soluções técnicas de alto nível. Mais recentemente tivemos todos os carros com
a suspensão pneumática, aliando conforto de Crown Victoria a estabilidade de
Lotus Elise; vários modelos históricos como XM, Xantia e C5 foram equipados com
este recurso.
Esta
história é rica o suficiente; mas falta a cereja do bolo. É o Citroën DS, carro
lançado em 1955 e aposentado 20 anos depois. Veja bem: 1955. Neste ano, o
suprassumo era a Mercedes 300 SL asa de gaivota, com freios a tambor nas quatro
rodas e inovação mesmo somente no motor com injeção.
Aí
vem o DS com suspensão hidropneumática para comportamento irrepreensível em
retas e curvas; luzes direcionais (em 1967); controle hidráulico da embreagem,
dispensando o pedal; direção hidráulica; freios dianteiros a disco e teto de
fibra de vidro para redução da altura do centro de gravidade. Só o motor não
estava à altura.
Esse
carro é a inspiração para a linha DS da Citroën hoje em dia. Carros que retomem
a ousadia do DS original, produzido por 20 anos sem grandes alterações e ainda
muito moderno ao sair de linha.
Só
que ousadia custa caro.
Então
vamos dizer que, em nome do corte de custos, a ousadia e pioneirismo continuam
com o DS original. A linha DS da Citroën é, na verdade, uma pitada adicional de
design sobre plataformas conhecidas – e até conservadoras.
Concentrando
no DS4, testado por nós. É um carro inegavelmente bonito e que chama a atenção.
As linhas são belas, os detalhes são bem pensados, a frente parecendo uma cobra
naja. Não tem a personalidade de um MINI, mas até aí nenhum carro tem a
personalidade do MINI... E é sem dúvida mais interessante visualmente até que
carros que nem foram lançados no Brasil, como o Golf VII e o Focus Mk3.
Falando
em design, vamos direto ao ponto. O belo desenho das portas traseiras, que
inclui maçanetas embutidas na vigia traseira, impede que os vidros desçam. Não
tem nem comando. Só abrem os vidros da frente. Para alguns pode ser
inaceitável, para outros pode não fazer diferença.
Por
dentro, um interior que, se não inova, é muito bem executado. O acabamento é de
qualidade por toda parte, com especial boa impressão no couro dos bancos. A
mescla de cromados é elegante. Só não concordamos com a mistura de cores nos
bancos de acordo com a cor do veículo. O DS4 branco que testamos tinha partes
em branco no interior, que evidentemente estavam sujas. O vermelho vem com
estes detalhes em vermelho – solução melhor – e o preto vem com tudo em preto
mesmo. Seria melhor, no caso do branco, cor menos propensa à sujeira como cinza
ou azul.
A
tela sensível ao toque no painel tem ótima definição e agrega os comandos de
áudio e navegação. O ar bi-zona tem comando separado e segue a tradição de
ótimas unidades iniciada no Pug 307. O volante reúne comandos para tudo, o que
poderia ser revisto – muitos botões (e ausência do paddle shift). O tamanho do
volante também nos pareceu exagerado; fora isso, a posição de dirigir é muito
boa, em que pese a regulagem manual do banco, já difícil de engolir num modelo
dessa classe. Existe massagem para motorista e passageiro, feita inflando e
desinflando a bolsa de ajuste lombar.
O
para-brisa avança sobre o teto, em algo que pode ser regulado movimentando-se a
parte dianteira do forro de teto – preto, por sinal. Outras regulagens
interessantes são a cor do painel (entre tons de branco – o único que gostamos
– e azul) e o som da seta. Só que a leitura do velocímetro e do conta-giros não
é lá grande coisa.
A
lista de equipamentos é extensa, incluindo: controle de tração e estabilidade,
seis air bags, ABS com EBD, aviso de ponto cego dos espelhos, faróis de xenônio
e direcionais, controle e limitador de velocidade, hill holder, som com CD, MP3
e Bluetooth, retrovisor fotocrômico, ar bi-zona, sensores de estacionamento
dianteiros e traseiros, monitoramento de tamanho de vaga (avisa se o carro cabe
na vaga paralela, mas não faz a manobra. Deve ser bem divertido colocar o carro
numa vaga em que o sensor disse que não cabe e depois soltar um CHUPA!), trio
elétrico e computador de bordo. Os retrovisores rebatem eletricamente por
comando ou ao trancar o carro. No centro no painel há uma tela de 7 polegadas
que atende o sistema de som e ar-condicionado.
O
espaço é muito bom na frente e nem tanto atrás, especialmente em altura. O
porta-malas é do tamanho esperado para um hatch médio, com 359 litros.
Em
termos dinâmicos, este francês autêntico combina o melhor dos mundos: um motor
1.6 turbo de alto rendimento, 165 cv a 6 mil rpm e 24,5 m.kgf a 1.400 rpm, com
um câmbio automático de seis marchas de ótima operação, freios de boa resposta
e... suspensão de eixo de torção e ausência de borboletas atrás do volante.
O
resultado é exatamente o que se poderia esperar – bons momentos e outros nem
tanto. Mixed feelings. Acelerar o DS4 é uma delícia, com o torque sempre
presente, as boas respostas de câmbio e freios, e acelerações de dar tapa na
nuca (não é um carro muito pesado, com 1.363 kg). E aí falta aquele toque de
esportividade das borboletas. A decepção real, no entanto, vem com a suspensão
dura demais. Até ajuda numa condução esportiva, desde que em piso bom. Em piso
irregular, quica um pouco. E na tocada do dia-a-dia, incomoda.
A
Cit pede R$ 110 mil pelo DS4, valor que é amplamente negociável para até menos
de R$ 100 mil. O problema desse valor é que torna o carro completamente
irrelevante.
Vejamos:
o mesmo conjunto mecânico, equipamentos e bom acabamento são encontrados num
Pug 308 THP por R$ 30 mil a menos. Desempenho superior por menos também está à
mão, com um Jetta TSI. Ainda dá pra juntar o mundo do desempenho com
equipamentos de última geração com o Fusion, na versão SEL a R$ 100 mil ou a
Titanium a R$ 110 mil (embora os preços reais, com ágio, sejam bem diferentes).
E, se é um hatch de prestígio o procurado, existem opções como o MINI, de muito
mais destaque por menos preço (e menos equipamentos e desempenho, é verdade) e
os hatches de entrada das alemãs, como A1, Classe A e BMW 116/8. Então fica
difícil justificar a opção pelo DS4, a não ser que você queira especificamente
um Citroën DS4. Bem, se esse for o caso, nada de ler testes na web, vá e compre
o seu e seja feliz.
Estilo
10 – Bonito, inovador, diferente, inconfundível.
Imagem
– Carro bem exclusivo, para homens e mulheres jovens e de meia idade.
Acabamento
10 – Peças bem encaixadas e sem rebarbas, combinações elegantes e de bem gosto.
Qualidade de interior abaixo de 100 mil reais é com o grupo PSA mesmo.
Posição
de dirigir 9 – Frustrante a ausência de regulagem elétrica do banco do
motorista, mas é fácil encontrar boa posição.
Instrumentos
7 – Bacana a ideia de mudar a cor e o som da seta, mas no final das contas os
números de conta-giros e velocímetro são difíceis de ler.
Itens
de conveniência 9 – Sempre dá pra pensar num mimo adicional, mas o Cit é bem
completo.
Espaço
interno 7 – Na frente está tudo bem, já na traseira o teto é baixo e o carro
não é tão largo assim. O acesso atrás também não é lá essas coisas por causa do
desenho das portas.
Porta-malas
8 – Bem acabado e de tamanho similar aos hatches médios.
Motor
10 – Temos uma crítica ao Prince 1.6. Estamos enjoados dele. Sim, é bom,
econômico, faz um ruído gostoso, está adaptado à nossa gasolina... Mas vê-lo em
trezentos carros enjoa.
Desempenho
9 – É um carro de reações rápidas e dificilmente falta motor. Não é um
foguetinho como o DS3, mas cola as costas do motorista no banco durante as
acelerações com vigor.
Câmbio
9 – Automáticos de seis marchas não ficam muito melhores do que isso. Mas podia
ter comando de troca por borboletas...
Freios
9 – Disco nas 4, ABS, EBD, boa modulação de pedal, tudo certo aqui.
Suspensão
2 – Eixo de torção. E ainda por cima mal calibrado, o carrinho é um cabrito.
Deve ser uma delícia na pista, na vida real é transformar a lombar em pó de
osso.
Estabilidade
9 – Roda grande, carro largo, suspensão dura. O limite de estabilidade é maior
que a loucura da maioria dos motoristas.
Segurança
passiva 8 – Tem o mínimo de seis airbags que tornou-se padrão nesta categoria.
Um dia o Civic e o Corolla chegam lá.
Custo-benefício
3 – Existem concorrentes com mais carisma, mais desempenho, mais espaço, mais
status. Por uns R$ 20 mil a menos, quem sabe, Citroën?
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