O táchi tá rodando...

A 4R deste mês volta à tona com o assunto da embriaguez entre os jovens. E tome testes em Interlagos e tome infinitas provas que pessoas dentro do limite legal já não têm condições de dirigir.

Não quero discutir aqui com os números que mostram que metade das mortes que ocorrem no trânsito têm o envolvimento do álcool. Contra fatos não há argumentos, embora algumas das pessoas que fizeram o teste de bebedeira promovido pela revista tenham dirigido melhor quando bêbadas. Isso não discuto; mas todo o direcionamento “jovem não beba” está errado.

Há 50 anos tenta-se fazer o jovem que vai dirigir não beber. Há 50 anos não se consegue. E não é só aqui não; EUA e Europa têm o mesmo problema. Recentemente, o governo norte-americano descobriu o caminho no combate à maconha; não é dizendo que o jovem vai morrer se consumir maconha em excesso, mas sim dizendo que se ele fumar muito ele se tornará uma pessoa desinteressante e perderá pessoas queridas como amigos e namoradas. Terá uma vida solitária e fétida. Com o álcool é mais complicado: beber pouco é benéfico à saúde; beber é socialmente aceito e incentivado; e está ligado a uma libido muito forte nesta faixa etária.

Resumindo, toda e qualquer campanha cujo significado seja: “jovem, não beba”, está fadada ao fracasso. Beber está intimamente vinculado à cultura do jovem; é o mínimo de transgressão e de colocar-se num estado de torpor e alteração mental que o jovem pode permitir-se atualmente. Sem hipocrisia: pergunte a qualquer pai se ele prefere saber que o filho bebeu além da conta ou se ele consumiu um ecstasy.

Claro, há sempre que se reforçar que beber muito, e sempre, é outra coisa – alcoolismo causa dependência e cirrose, só para ser breve – mas mesmo uma latinha de cerveja pode impossibilitar a pessoa de dirigir.

Então a abordagem que funcionaria aqui não é não beba, e sim não dirija. E o jovem bêbado não se incomoda nem um pouco de não dirigir na volta pra casa – os que realmente curtem a adrenalina descarregada pelas altas velocidades aproveitam muito mais seus efeitos quando sóbrios. E os que gostam de correr bêbados... esses sim são um caso efetivamente mais complicado, embora a política que sugiro possa atingi-los também.

A Inglaterra já percebeu isto. Lá, existe um serviço centralizado; você liga e em minutos uma pessoa vai até o local onde você se encontra, pega seu carro e te leva de volta pra casa. Nova York concebeu uma solução simples: metrô 24 horas (com os sub-itens fundamentais de segurança e um metrô que efetivamente serve a cidade, não a piada que temos nas metrópoles brasileiras).

Dá pra pensar algo assim para São Paulo? A solução é dada por um dos jovens entrevistados pela 4R: “se eu voltasse de táxi toda semana, iria a falência”. UAU! Descobrimos a América. O táxi no Brasil é invariavelmente caro, e em São Paulo chega a níveis europeus (isso pra andar num Corsa Classic apertado). A solução pra isso é fácil de tomar e basta vontade política, pois é uma medida que funciona à base de canetada, como gostam nossos políticos. Abaixem as tarifas. Criem uma política de subsídio. Incentivem parcerias entre casas noturnas e companhias de táxi. Acabem com essa mentalidade estúpida dos nossos taxistas de querer fazer uma corrida de 500 reais pra jogar dominó o resto do dia. Dependendo de onde se mora, a corrida de táxi na volta pra casa sai mais caro que a balada em si – e isso sme considerar ida e volta.

É mais fácil esmurrar o prego e perder milhares de vidas todos os meses do que efetivamente tomar uma solução que talvez desagrade uma categoria que possui um sindicato forte. Nunca nestepaiz...

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