Teste: Volkswagen Nivus Highline 200 TSI


A última vez que aconteceu algo parecido conosco foi em 2007, quando a Fiat lançou o Punto. Era um daqueles carros que fazia você clicar nas fotos, ampliar, olhar várias vezes, mandar pros amigos. Carro bonito mesmo, e acessível, não é todo dia que aparece. Estamos acostumados a ver supercarros lindíssimos (olá Ferrari Roma), mas um assim que meio que dá pra comprar? Normalmente são esses desenhos genéricos que, se não são feios, também não dizem muita coisa.

O Nivus não. Este veio bonito desde o berço, com suas belas proporções de balanços dianteiro e traseiro, grade, lanternas traseiras, o vidro fortemente inclinado. Ajudado pelo porte pequeno e entre-eixos de Polo, ele não parece aqueles SUV cupê da BMW e Mercedes que são uma tremenda forçada de barra. Ele é bonito mesmo.

E carro bonito vende. Quando dizemos que só gente nó cega que odeia carros trabalha em montadora, é disso que nos referimos. Custa deixar os carros bonitos? Como que a mesma VW que faz um Nivus comete aquela coisa horrenda chamada T-Cross? E o Taos então, mais sem sal do que dançar com a irmã, tomar água com gás?

Também é interessante no Nivus que ele inaugura um segmento de SUVs compactos mas com algo de esportividade. Aliás chamar o Nivus de SUV é um exagero da VW; está mais para um hatchback anabolizado. Considerando que tudo hoje é SUV, até o Kwid, então o Nivus é o mais perto que se pode chegar de um hatch médio – e as dimensões muito parecidas com as do Golf 7 não deixam mentir, veja abaixo:

Golf

Altura:   1,48

Largura:  1,79

Comprimento: 4,27

Distância entre eixos: 2,63

 

Nivus

Altura:  1,49

Largura:  1,75

Comprimento:  4,26

Distância entre eixos: 2,56


Antes que vocês fiquem nervosos, o Nivus não é nem de longe um substituto para o Golf. Mas considerando que não temos mais Golf 0km no Brasil, quem optar por um Nivus ao invés de um Polo (“pode chamar de mini-Golf” segundo a propaganda escrota da época) não estará tão longe da realidade.

Como todo VW abaixo do Tiguan, o interior é de chorar de ruim. Gol G4 feelings. Plástico duro, sem textura, anguloso, não dá pra entender quem aprovou aquele acabamento. Uma faixa em black piano tenta melhorar as coisas mas só vai servir pra ficar com marca de dedo. É triste mesmo, vamos assumir. O couro dos bancos é horroroso, aquele sintético bem sintético, vagabundo mesmo, que antes era limitado à parte de trás dos bancos dos carros mais baratos, agora ocupou o banco todo. O que salva no interior é o volante, que este modelo novo ficou bem bonito e funcional, e a tradicional ergonomia da Volks, com todos os comandos à mão e bem posicionados. Em 2022 o Nivus ganhou ar com controle touch, que é pior pra acionar, mas pelo menos é bonito.

Tecnologia aliás é onde o carro começa a fazer bonito. Começa pelo painel digital configurável, inovação VW que ainda não foi superada pela concorrência – vide painel de Atari nos Jeep Compass e Commander. Depois temos o sistema VW Play com tela de dez polegadas, alta definição, alta responsibidade, realmente digno de carros mais caros até. E por fim a lista de equipamentos bem recheada, especialmente no que tange à segurança.

Vejamos: O Nivus Highline traz chave presencial, ar-condicionado automático, carregador de celular sem fio(*), câmera de ré, faróis de LED, rodas de 17", sensores de chuva e crepuscular, sensores de estacionamento dianteiro e traseiro, bancos com acabamento em couro, painel de instrumentos digital e multimídia com tela de 10 polegadas, controle de cruzeiro adaptativo, frenagem autônoma de emergência, 6 airbags, controle de estabilidade, monitor de atenção do motorista, frenagem pós colisão e bloqueio eletrônico do diferencial dianteiro, sistema que a VW chama de XDS. 

(*) Tivemos problemas com o carregador na unidade avaliada. Depois de usar com sucesso, recolocamos o celular no local e nada de carregar. Nenhuma instrução no painel, simplesmente não ia. Num contato mais aprofundado vamos avaliar este ponto.

As constantes comparações com o T-Cross e a distância entreeixos menor no Nivus fazem parecer que será um carro sofrível atrás, mas vamos lembrar que os 2,56m de distância são similares aos de um hatch médio de 10-15 anos atrás. Como os bancos e painéis de porta não são exagerados, isso resulta num espaço que se não é enorme, é digno para transporte de crianças. O teto mais baixo se faz sentir caso leve adultos atrás. O porta-malas é bem amplo, nivelado e fácil de usar, e com 415 litros oferece excelente espaço.

O motor é o conhecido 1.0T de 3 cilindros, 128cv a 5500 rpm e 20,4 m.kgf de 2000 a 3500 rpm, acoplado a um câmbio epicíclico de 6 marchas com programa esportivo e trocas manuais na alavanca e por borboletas. Leva o carro com dignidade, é muito agradável no uso urbano e na estrada permite manter boa velocidade sem esforço. Numa demanda de potência em velocidade alta, será sentido o pequeno deslocamento e será insatisfatório para quem está acostumado com motores maiores. Existe também aquela lacuna desagradável entre 1000 e 2000 giros, nos quais o turbo não entrou e o comportamento é de 1.0 aspirado. Sentido principalmente após lombadas e valetas, com o câmbio em segunda em rotação de marcha lenta. É parcialmente compensado pelo conversor, e infelizmente uma característica comum a vários carros com downsizing de motor.

Este conjunto tende a conseguir excelentes médias de economia em Polo e Virtus. Deve ser algo pior aqui, pelo maior tamanho e peso, mas ainda assim bastante bom e importante em tempos de combustível caro.

A suspensão tem a receita clássica de McPherson na dianteira e eixo de torção na traseira, com uma calibragem que nos agradou muito: não é tão macio quanto Polo e Virtus, mas está longe de representar a calibração dura típica de VW Fox e Polo antigos, por exemplo. Pareceu na medida para superar os obstáculos da cidade ao mesmo tempo em que passa confiança na estrada.

Considerados todos os pontos, o Nivus é um carro que tem conteúdo para sustentar o belo design, especialmente na parte de conectividade e tecnologia, que é o que atrai o consumidor hoje. Mecanicamente ele é digno, sem soluções de destaque, mas condizentes com a proposta, assim como o espaço interno. Onde fica a dever mesmo é no acabamento que parece um arrazoado de plásticos oriundos de uma cópia horrorosa de um brinquedo de 1,99 no marreteiro.

 

Estilo 10 – Talvez o carro mais bonito á venda no Brasil 0km por menos de 150 mil reais.

Imagem – Jovem, esportivo até, ligeiramente mais feminino.

Acabamento 2 – Vontade de vomitar naquele interior merda. O volante e o painel digital ajudam.

Posição de dirigir 9 – Você entra no “melhor carro do mundo” de acordo com a Caoa Chery e não tem ajuste de profundidade do volante. Aqui tem tudo, inclusive altura do banco, que é de boa espuma e conforma bem ao corpo. O volante tem excelente pega.

Instrumentos 10 – Mesmo não sendo novidade, ainda é um painel digital muito completo e bem executado. Pontos extras por permitir a visualização de várias métricas ao mesmo tempo no painel, bem como indicar a marcha em uso mesmo em D.

Itens de conveniência 9 – É caro, mas o pacote é completo e não fica devendo ao de carros ainda mais caros. Falta teto solar.

Espaço interno 7 – Digno pelo porte do carro, atrás não é um latifúndio, mas também nem se pode exigir isso.

Porta-malas 8 – Ótimo formato, bem plano e amplamente utilizável. Só tem alça interna na tampa do lado direito, uma daquelas economias que rende um centavo a mais pra montadora às custas de sua dignidade.

Motor 7 – Já amplamente utilizado no Brasil, muito econômico e com entrega similar aos 2.0 de antigamente.

Desempenho 5 – Não vai assustar ninguém, o objetivo aqui é levar de A a B.

Câmbio 9 – Câmbios epicíclicos são a melhor solução para motores downsizing pois o conversor pode cobrir as lacunas do turbo. Aqui o motor é muito pequeno mesmo e esses momentos se fazem sentir. Pontos adicionais pelo controle manual na alavanca e borboletas, coisas que carros muito mais caros (aloooo Equinox) não possuem.

Freios 9 – Disco nas quatro rodas com pedal de boa resposta, padrão VW.

Suspensão 9 – Receita tradicional, muito bem calibrada. Altura do solo na medida, trafega sem raspar a frente.

Estabilidade 7 – Carro bastante dianteiro, mas sem nenhuma pretensão esportiva. Sentimos falta de pneus melhores (Michelin ou Continental), só vimos Goodyear que são meio Zé.

Segurança passiva 10 – Tudo o que se exige de um carro moderno e mais um pouco, como os assistentes de frenagem, além da excelente plataforma MQB.

Custo-benefício 7 – Racionalmente existem carros que fazem mais com menos, como o próprio Virtus. Ou um Tracker ligeiramente maior. Mas há que se considerar o benefício de ter um dos carros mais bonitos do Brasil na garagem.

Comentários

J. O. D. F disse…
Dub, concordo 100% com a avaliação! Fiquei apaixonado pelo Nivus, fui conhecer em uma css, atendimento péssimo (estava com roupa de academia) - talvez tenham se confundido com a Audi.
Quando ao Nivus, que carro bonito! Um teto solar o levaria a perfeição. Mas o acabamento... ahhh, o acabamento... que coisa nojenta! Quantos centavos deve custar um pedaço de tecido para colocar nas portas? rsrs - curioso como a mídia não toca no assunto do acabamento porco da Volk$$$. Acho que é uma das coisas que admiro nos CAOA Chery: acabamento decente!
Anônimo disse…
Como eu tava com saudades das suas análises, Dub. Top demais.

Carro lindo. Acabamento vw…

Mas sua análise é f0$@. Top demais! André
GDVO disse…
Tenho em casa Jetta Confortline 2020 e Nivus 2021 e comparando eles percebo o Nivus como grosseiro, sem refinameno, os controles, o volante parecem àsperos, a direção meio dura... È como se na cruza entre golf e Gol ele puxasse mais ao último... Vcs corroboram esta minha percepção? Acho que faltou à volks dar uma calibrada melhor no acabamento dando melhor esta percepção de refinamento... De resto concordo com o destacado pelo DUB. Colocando um 1.4 turbo nele dava um CTS de respeito.

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