Ninguém vive pra sempre
Engraçado como algumas coisas têm sinergia.
Esses dias estávamos perdidos no YT navegando pelos vídeos antigos da coleção de Dodges do Badolato. Conteúdo maravilhoso, de primeira, mas não pudemos deixar de nos perguntar: o que será da coleção quando o Badola não estiver mais neste plano? E não é pra desejar mal, de modo algum, torcemos pela saúde de todos sempre, mas a questão é um fato.
Com isso em mente, lembramos deste link sobre o leilão dos carros da coleção do Neil Peart, lendário baterista do Rush que faleceu em janeiro de 2020 após três anos de luta contra um câncer – embora alguns acreditem que ele simplesmente fugiu da pandemia...
E os carros que ele juntou com tanto cuidado, carinho, investimento, e que curtia tanto, serão leiloados para integrarem outras coleções. Temos certeza que esse não era o destino que Peart queria pra coleção dele. Serão guardados, longe da vista de todos, em galpões ultra secretos nos quais mal verão a luz do dia, salvo se algum foi adquirido por um museu ou um dos poucos entusiastas que efetivamente colocam os carros pra rodar.
Também lembramos do Paulo Loco, o curador de uma coleção enorme de um proprietário de usina de cana-de-açúcar, e que apresentou brevemente seu cotidiano numa série do Discovery Turbo chamada “Clássicomaníaco”. Era de partir o coração ver aquela quantidade enorme de carros, mais de 200 talvez, praticamente um em cima do outro, tão socados que não dava nem pra andar entre eles, todos empoeirando em galpões no centro de São Paulo. E quando o Paulo saía com algum deles, vira e mexe dava problema, porque CARRO FOI FEITO PRA ANDAR.
Depois soubemos que o proprietário da coleção faleceu e os carros estão sem rumo, juntando poeira nos galpões. Uma parte da coleção foi para o interior e sofreu até um incêndio.
Não temos nada contra coleções e entendemos que, sem os colecionadores, a enorme maioria desses carros teria como destino o ferro-velho. Infelizmente temos no Brasil uma distribuição de renda horrorosa, na qual poucos têm muito, e conseguem manter vastas coleções, e uma maioria enorme não consegue nem sonhar com um carro popular. Se não fossem as coleções, os outros brasileiros não teriam condições de manter e reformar estes antigos.
Por isso afirmamos que é imperativo que os colecionadores invistam também no legado de suas coleções. Não há nada de errado em QUERER que os carros sejam leiloados postumamente; o que achamos um desperdício é dilipendiar uma coleção feita com tanto carinho ao longo de tantos anos.
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